Imagine-se convidado para uma grande festa, uma festa onde você é tratado como um convidado de honra e recebe todo tipo de atenção de seu anfitrião. Junto a você amigos de ontem e de hoje dispostos a curtir a festa que foi preparada para todos. Reunidos em volta do banquete todos comem e bebem descontraídos, desarmados e sem se preocupar com o que pode acontecer afinal todos ali possuem seus convites, quando inesperadamente surge o segurança da festa, sem saber muito de onde partiu uma ordem, mas agindo impensadamente arrastando você e todos os demais convidados pelo cabelo e colocando-os para fora da festa sem deixar você ao menos abrir a bolsa para mostrar o convite. Imaginou? O que passou pela sua cabeça? Dor, indignação, revolta, ódio e repulsa contra toda arbitrariedade existente naquelas ações? Pois se esse exemplo simplório gerou em sua mente esses sentimentos, você conseguiu sentir um terço do que eu sinto após ter participado de um show durante a 3ª virada cultural
São Paulo, 05 de maio de
Passando por diversos palcos se podia ver de tudo, todo tipo de festa as legais e as ilegais, moços e velhos todos em festa comemorando a noite da cultura.
Pouco mais de uma hora da manhã me dirigi ao palco Praça da Sé onde iria acontecer o show pelo qual eu ansiava, fã da banda há mais de dez anos, mal podia esperar para acompanhar um show tão grande como aquele e o que era melhor acessível a todos.
Entre a multidão, homens, mulheres, crianças, de etnias variadas, posição financeira diversificada. Ali ninguém pediu extrato bancário ou verificaria a cor da pele, fazia parte da alma do show.
Quando após longa espera o grupo entra no palco, a adrenalina se manifesta em meu corpo, cantar cada uma das letras que tanto se repetiu em meu rádio em diferentes ambientes e em diversas fases da vida, não era suficiente para expressar minha emoção.
Infelizmente após três canções a polícia militar do estado de São Paulo resolveu que o meu sonho e o da maioria que estava ali presente deveria ser encerrado antes da hora.
Bombas de efeito moral começaram a ecoar, todos se perguntavam o que poderia estar acontecendo para justificar a ação policial. Ao olhar para o lado a expressão de dúvida pairava entre todos, nada havia acontecido.
Em algumas horas a cena que presenciei ali, me lembrou e muito partes de filmes sobre a ditadura militar no país. Fato cruel e que nunca mais deveria ser repetido, mas que se fez presente naquele que era para ser um marco de cultura e diversão.
A polícia acuou toda a população em um canto, balas de borracha zuniam em nossos ouvidos, enquanto bombas de efeito moral explodiam ensurdecendo a população ainda estagnada.
NO palco, o vocalista da banda, pedia para a população se acalmar e não revidar o confronto da polícia continuar curtindo o show sem deixar que meros preconceitos estragassem a festa.
Mas quem poderia continuar cantando enquanto apanhava com cassetete? A multidão ainda tentou, mas foi impossível continuar, o corre corre, as bombas, as balas, o choro, o desespero, todos se solidarizavam rapidamente e erguiam aqueles que caíam no chão no meio da corrida. Mas não havia mais para onde correr.
O centro de São Paulo e todas as suas ruas históricas voltaram ao passado ao se tornar um campo de guerra, poucos tentavam ainda protestar contra o ocorrido, mas afinal o que são algumas palavras contra bombas e tiros? Não havia mais o que falar o mais seguro era correr até quando as pernas agüentassem
NO trajeto, paro com outras pessoas para descansar, um policial da guarda metropolitana pede para não descansarmos, pois os militares estão vindo logo atrás dando borrachada em qualquer coisa que esteja se movimentando por ali.
Tentamos ainda achar um lugar seguro para ir, porém nada mais era seguro, aquela não era mais a festa para a qual eu e também aqueles cantores tínhamos sido convidados.
A fuga persistia talvez entrar no metrô fosse à solução. Doce ilusão a minha, nesse momento o gás lacrimogêneo já ardia meus olhos e fazia com que eu não conseguisse falar e respirar direito. Dentro da estação mais movimentada da cidade o caos imperava, milhares de pessoas que não esperavam ir embora naquele momento tentavam desesperadamente conseguir retornar seguros para casa. Outros poucos vândalos, aproveitavam-
Utilizei a passagem subterrânea apenas para ir pro outro lado do confronto, já que seria impossível naquele momento subir em um vagão. Na saída encontro com o senador Eduardo Suplicy, um senhor de mais de 60 anos que como muitos outros senhores de idade estava ali apreciando o show da virada. Em meio à correria consegui trocar algumas palavras com ele e mostrar a minha indignação. Afinal talvez a voz dele seja mais sonora do que a minha.
Ao chegar em casa após pegar mais de três conduções todas com o objetivo único de sair da mira da polícia a revolta e a indignação me fizeram pensar em escrever este texto e tentar retransmiti-
Esse show do grupo Racionais Mc’s foi um dos mais tranqüilos que eu já fui em toda a minha vida. Não houve nenhum incidente no local, que não tivesse acontecendo em todos os outros palcos da virada cultural que justificasse uma ação agressiva por parte da polícia.
Em nenhum momento Mano Brown o rapper vocalista ou qualquer um dos integrantes do grupo que subiu ao palco incitou a população a se voltar contra a polícia e em nenhum momento essa revolta aconteceu.
Ao contrário, durante todo o tempo em que conseguiu se manter em cima do palco o vocalista da banda pediu para as pessoas se acalmarem, não revidarem as atitudes dos policiais e continuarem curtindo o show sem problemas.
Toda e qualquer atitude hostil ocorrida durante essa madrugada na praça da sé
Pergunto-me porque só nesse show houve esse tipo de atitude? Afinal haviam dezenas espalhados nos palcos da cidade. Será que a população negra e periférica que se concentrava ali não tinha direito de participar daquela manifestação cultural? Eu não sei dizer, mas acredito que sim afinal todos os cerca de 11 milhões de paulistanos foram convidados a comparecer.
Qual a diferença daquele show especificamente? O que motivou a fúria dos policiais, já que não foi a ação do público e nem do grupo.
O que justificaria aquele retrocesso na polícia brasileira? Tanta arbitrariedade para quê? Onde está a liberdade de expressão, o direito de ir e vir e o fim da repressão?
Outra dúvida o que será noticiado por nós profissionais da imprensa e pela grande mídia hoje? Passado algumas horas do show quem será que irá relatar o que realmente aconteceu ali. Será que alguém dará voz a população ali presente ou serão apenas mais manchetes preconceituosas sobre tumulto generalizado em um show de rap.
Seja o que for eu como cidadã brasileira e como jornalista resolvi não me calar. Estou passando uma cópia desta carta para todos os meus amigos e outra bem parecida para a imprensa e peço gentilmente que se você por algum motivo discorda das atitudes da corporação militar durante esse evento me ajude a repassar em todas as comunidades pela internet e em todos os meios possíveis de comunicação. Utilizemos essa globalização propiciada pela rede.
Peço aos colegas jornalistas que nessa hora honrem o compromisso com a verdade e apurem as informações ao invés de simplesmente passar aquilo que lhes parece verdade.
Gostaria muito que esse manifesto não se fizesse calar, mas fosse uma voz contra toda a arbitrariedade e o cale-se imposto à população nessa madrugada de domingo.
Daniela Gomes
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06/05/2007 - 14h52 - Atualizado em 06/05/2007 - 17h27
Secretaria de Segurança diz que grupo em platéia iniciou confusão na Praça da Sé
Um carro foi incendiado e lojas foram arrombadas na Região Central de SP.
Secretaria de Segurança diz que foram 11 detidos por polícia após apresentação.
A Secretaria de Segurança Pública divulgou uma nota na tarde deste domingo (6) na qual informa que um grupo de pessoas que assistia ao show dos Racionais MC´s começou o tumulto na Praça da Sé, no Centro de São Paulo. Onze pessoas foram detidas e encaminhadas ao 1º Distrito Policial (DP) para averiguações.
O G1 entrou em contato com o DJ KL Jay, integrante dos Racionais. O músico disse que "sobre a noite de ontem, não tinha nada para comentar".
De acordo com a Secretaria de Segurança, parte da platéia atacou os policiais militares com pedras e garrafas e depredou uma banca de jornal. As mesmas pessoas teriam se separado e saqueado lojas nas ruas próximas ao local do show, entre elas as Lojas Americanas e o Rei do Mate. Oito veículos da PM e um da Guarda Civil Metropolitana foram depredados. Além disso, um carro particular foi incendiado e outro, danificado. No meio da confusão, um policial teve roubado um "carregador de munição".
Orelhões e banheiros químicos da praça também foram destruídos. O grupo entrou na Estação Sé do Metrô, destruiu seis bloqueios e depredou 12 lojas. Os onze detidos foram acusados de praticar furtos e depredações, além de desacato e dano ao patrimônio público e privado.
No incidente ocorrido por volta das 5h, pelo menos seis pessoas ficaram feridas. Um homem de 21 anos e uma mulher de 22 anos tiveram ferimentos na cabeça e foram levados para o pronto-socorro Vergueiro. Segundo a secretaria, quatro policiais militares também ficaram feridos.
A Virada Cultural contou com um efetivo de 3.223 homens da Polícia Militar, 1.089 veículos e 97 bases comunitárias móveis.
Veja imagens da destruição causada por tumulto durante show de Racionais MC's
Na manhã deste domingo, paulistanos que se deslocavam para atividades da Virada Cultural se depararam com a depredação de lojas, de lixeiras, de banheiros químicos e até mesmo de dois carros nas ruas da região central de São Paulo.
Na Praça da Sé, onde o tumulto começou por volta das 5h, funcionários desmontavam o palco instalado na frente da catedral. Ao lado da entrada do Metrô, uma fila de banheiros químicos destruídos ainda aguardava remoção em meio às garrafas quebradas e o olhar espantado de turistas que fotografavam o resultado do vandalismo.
Mas o tumulto deixou maior prejuízo na esquina das Ruas Senador Feijó e
Quintino Bocaiúva. Dois Celtas foram depredados. Um dos carros foi incendiado após a passagem dos vândalos. Uma franquia da loja Rei do Mate teve a porta arrombada. Objetos de valor, cigarros e bebidas foram roubados.
A proprietária do estabelecimento, que preferiu não se identificar, disse que só foi avisada da invasão às 9 horas. Segundo a proprietária, a demora foi culpa do sumiço do vigilante que presta serviço para
comerciantes do local, que tinha o número de telefone da empresária mas não foi encontrado pela polícia no local após o tumulto.
Ela estima que o prejuízo no local tenha superado os R$ 20 mil. Além de roubar o dinheiro que estava no caixa, o grupo ainda arremessou o computador contra a parede. “Estou esperando o Kassab passar aqui amanhã para me dizer o que a Prefeitura vai fazer”, disse.
Enquanto a comerciante aguardava a perícia, do outro lado da esquina a professora de inglês Camila Ferraro tomava conta do Celta da amiga, que teve o vidro quebrado e lataria amassada durante o tumulto. “Estávamos na Vieira de Carvalho. Eram 6 horas quando voltamos e no caminho já sentimos o cheiro forte de gás”, contou a professora.
Ao lado do carro das amigas que participavam da Virada Cultural, o que sobrou de um outro Celta permanece na esquina, vigiado por policiais. O carro foi totalmente queimado na madrugada.
Moradores da Rua Tabatinguera, a cerca de 200 metros da Praça da Sé, foram acordados por volta das 5h, quando jovens que acompanhavam o show dos Racionais fugiram do confronto com a polícia. Pelo menos dois condomínios tiveram vidraças quebradas com pedras. Pedaços de retrovisores na sarjeta agora servem como testemunho do susto vivido pelos moradores.
“Quando acordei, parecia uma guerra. Olhei pela janela e vi pouca polícia e a rua tomada por jovens, ate o transito foi interrompido. Quebraram lixeiras, vidraças e sobrou até para os carros estacionados”, disse o morador Airton Oliveira dos Santos, de 55 anos. Nesta manhã, ele percorreu a rua com a câmera em punho para fotografar os estragos, incluindo a vidraça quebrada do edifício onde mora.
No Largo de São Francisco, o tumulto foi concentrado em uma banca de revistas. Mesmo posicionada a cerca de 100 metros do prédio da Secretaria da Segurança Publica, a banca foi invadida. “O que eles não puderam roubar, destruíram”, contou o proprietário do local, Danilo Menezes, de 24 anos.
Baseado nos primeiros cálculos, ele estima um prejuízo superior a R$ 15 mil. “Simplesmente destruíram, está em um estado lastimável, nem sei por onde começar”, disse o comerciante.
Como foi a briga
http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL32147-5605,00.html
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