Opinião: 20 de Novembro, o despertar de Palmares
Dahas Zarur, escritor, jornalista e advogado
A história ainda busca reconstruir a trajetória do ex-coroinha Zumbi, nascido Francisco. É difícil uma exata compreensão do mito sem o entendimento da questão histórica e política desse período do Brasil colônia.
Zumbi, pertencente a uma classe onde cor e gênero eram desrespeitados, foi morto qual uma fera, em 20 de novembro de 1695. Como se chegou ao reconhecimento dessa data histórica ainda é uma curiosa indagação para muitos.
As notícias sobre sua vida são originárias de documentos escritos, na maioria, pelos que o combateram. O material colhido foi bastante para elevar essa figura, que faz despertar a cada ano o sentimento da negritude brasileira, hoje, em certa medida, privilegiada em poucos degraus da cultura.
Dificuldades por vezes notadas na ascensão do negro é reflexo do comportamento da época. O intuito é anular o mito como raça, considerada inferior e desqualificada. Cabe acrescentar que ainda não se conseguiu formular uma política que assegure ao negro subir na escala social em igualdade de direitos. Procura-se ainda alcançar a idéia emancipadora, fulcro de toda a luta de Zumbi.
A escravidão não é um fato de origem racial. Escravos não são necessariamente negros, apesar da sinonímia que se estabeleceu no povo por muito tempo. A história registra população cativa na maior parte das civilizações.
À medida que avança o tempo, humaniza-se mais a figura de Zumbi, distanciando-se da imagem inicial do negro perverso, inculto, que levou horror à Serra da Barriga, Alagoas, local da mais importante frente de combate às agruras do negro.
A resistência era um crime. O espírito de brasilidade do momento não admitia reação dos negros. O desejo de liberdade conflitava com os ideais de desenvolvimento do país. A agricultura, a plantação de café, o trabalho nos engenhos de açúcar eram impulsos para a economia, e os senhores não aceitavam abrir mão da produção escrava.
O tráfico prosseguia, prejudicado, entretanto, nos sertões, pelas caravanas de libertadores, que arrancavam os escravos das carruagens e os libertavam. O desejo de liberdade fez aumentar as organizações constituídas, e a resistência se consolidava.
Uma voz dentre poucas procurava desfazer a cruenta imagem de Zumbi: a do historiador português Oliveira Martins, que afirmava ser Zumbi "o mais heróico de todos os exemplos históricos de protesto de escravo".
O grito de Palmares foi um marco histórico inserido no contexto político. O 20 de Novembro é parte da História do Brasil. É uma exaltação ao líder negro que acordou seus irmãos e fez com que se impusessem como raça, expondo a negritude sem vergonha de ser gente.
Os negros procuram viver em harmonia com irmãos de todas as raças. Estão conscientes de que tanto melhor será a convivência se estiverem econômica e culturalmente preparados, embora não se visualizem a curto prazo todas as conquistas de que o ser humano, em igualdade de condições, é merecedor. Mesmo com a abolição da escravatura, o preconceito escravagista sobrevive.
Neste 20 de Novembro, dia da Consciência Negra, o nosso reconhecimento ao líder Zumbi dos Palmares, uma saudação ao símbolo da luta pela liberdade dos negros.
Fonte: JB On line, 20.11.2006
http://jbonline.terra.com.br/editorias/pais/papel
/2006/11/20/pais20061120017.html
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment