História reconstruída
Criação do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira é discutida
Carmen Azevêdo
“Averdadeira história é aquela em que não há interesses sociopolíticos e econômicos. Sobre os negros, ainda não se fez a verdadeira história”. A afirmação de monsenhor Gaspar Sadock mostra um dos objetivos, senão o principal, da criação do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab). Desde a manhã de ontem, artistas, intelectuais, religiosos, negros e brancos, estiveram reunidos no auditório das Faculdades Jorge Amado para discutir o projeto de implantação do acervo histórico-cultural.
O projeto demanda recursos na ordem de R$6 milhões, dos quais já foram obtidos R$1,7 milhão para os primeiros passos da criação. A meta é inaugurar pelo menos a primeira ala de visitação em novembro deste ano.
Os prédios que sediarão o museu são do Tesouro do Estado e da Assistência Pública da Bahia, no Centro Histórico, cedidos pelo governo estadual. Com recursos da esfera federal, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ambas as edificações estão sendo recuperadas, sob responsabilidade da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder). Na abertura do evento, o poeta José Carlos Capinan, à frente da Amafro – Sociedade Amigos da Cultura Afro-Brasileira, entidade responsável pela execução do projeto, ressaltou que o objetivo é reunir representantes dos mais diferentes segmentos interessados na história e cultura afro. “É interessante que seja formulada uma proposta ampla e diversificada na concepção do museu”, afirmou.
“Queremos que seja implementado de forma democrática e não arbitrariamente como a maioria deles”, emendou o professor Emanuel Araújo, diretor do Museu Afro-Brasil, em São Paulo. A idéia é reunir discussões acerca da música, dança, história, culinária, religiosidade, mitologia e medicina afrodescendentes, entre outras áreas. Segundo o projeto de criação do Muncab, elaborado por Capinan, Salvador constitui o local ideal para a realização do projeto. “O Muncab deve ser concebido, para nele abrigar diversas ‘mídias’, escolas e outros instrumentos de difusão cultural, transformação e reconhecimento de tradições ancestrais, que sustentaram diante de condições adversas conhecimentos valiosos para nosso patrimônio como civilização”, ressalta a proposta.
Espaços - Nos prédios da rua do Tesouro, com área aproximada de 4.500 metros quadrados, os visitantes terão acesso a salas de exposição, arquivos, oficinas, salas de recital e de aula, lojas e cafés, lan house e acervo de bens tangíveis e intangíveis. O projeto, em fase de esboço, passará por inúmeras discussões até a concepção final. Os preços a serem cobrados pela visita ainda são desconhecidos, mas sabe-se que o visitante poderá conhecer o Memorial da Diáspora – uma espécie de navio no qual será mostrada a história do nascimento do continente africano.
“O importante desta idéia é que o museu saia da condição de centro antropológico, que tem o negro como estudo. O negro não tem que ser estudado”, enfatiza Emanuel Araújo. Para ele, é importante valorizar os negros que foram importantes para o Brasil. “Muitos deles produziram muito e nada receberam em troca, apenas a exclusão social. É preciso reconstruir a história que foi construída de maneira errônea e cheia de vazios”, emenda. Ele defende ainda que o próximo desafio é ligar Salvador à África. “É extraordinário como o Benin está ligado ao Brasil, o oposto tem que acontecer e esta é uma das funções do museu”, concluiu.
O projeto conta com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Caixa Econômica Federal, Grupo Votorantin e Programa Monumenta (Iphan). O grupo estará reunido até sábado, das 8h às 17h.
Aqui Salvador, Correio da Bahia, 27.04.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador
/noticia_impressao.asp?codigo=127070
Thursday, April 26, 2007
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