Tuesday, May 08, 2007

Encontro Nacional da Juventude negra


Salve parceiros e parceiras de palco! De asfalto!

Estamos no corre da construção do Encontro Nacional de Juventude Negra. Uma correria que vem sendo feita a mais de um ano e que estamos em previas de sua realização (27, 28 E 29 DE Julho / 2007) Será muito importante poder contar com jovens negros e negras nesse processo, pois independente da região onde estamos e de suas diferenças, o genocídio dessa parcela da juventude brasileira vem se dando de forma alarmante e nós, que estamos no topo da cadeia alimentar desse sistema racista, machista e capitalista, precisamos criar formas de responder nacionalmente, das bases para cima, a toda violência racial a qual estamos submetidos. Por isso venho mais uma vez nessa lista, chamar nossos irmãos e irmãs para correrem por esse objetivo. Nos anos 90, o Hip-Hop Brasileiro teve o grande papel de levar as favelas brasileiras, as comunidades periféricas, nossa auto estima fazendo com que negros e negras assumissem sua cor e seu papel na sociedade, levou a conhecimento de todos sobre nossas lideranças, nacionais e internacionais (Malcolm X, Stive Biko, Angela Davis, Dandara, Zumbi, Abdias do Nascimento, Clementina de Jesus, etc) Lançou nacionalmente nomes que direta ou indiretamente influenciou na vida de nossa juventude como Racionais MC`S, DMN, Sistema Negro, Comando DMC, Charylaine, Lady RAP, MV BILL, Nega Gizza, GOG, Cambio Negro, Pose Mente Zulu, ParteUm, Clan Nordestino, etc., principalmente os anônimos que sempre estiveram segurando os alicerces do movimento sendo linha de frente desse processo todo. As Posses e fóruns de Hip-Hop espalhados pelo Brasil que mantiveram e continua mantendo o movimento vivo resgatando esses valores e repassando a nova escola a importância de preservar nossa história, O Hip-Hop fez de seus elementos a válvula de escape para nossa juventude se expressar e resistir a tudo isso. Na minha visão está na hora do Hip-Hop Nacional mais uma vez cumprir seu papel que a conjuntura nos coloca:

PRECISAMOS REAJIR A VIOLENCIA RACIAL!

POR TODOS OS MEIOS NECESSÁRIOS!

Mostra a nossa sociedade que não é coincidência ser barrado em locais onde invisivelmente consta a placa PROIBIDO A ENTRADA DE NEGROS / NEGRAS, ver irmãs morrendo por abortos mau feitos ou ainda induzidas a praticar a esterilização em plena idade fértil, estarmos no topo das estatísticas relacionadas ao genocídio institucionalizado, desemprego, assistência a saúde, moradia, educação, cultura, falado em cultura, vocês mesmos virão que, quando o estado viabiliza algo a nossa categoria artística, os boys gelam, ficando estéricos na mídia e nos ataca pois não estão acostumados a ver o povo tomando de assalto o que é seu por direito. Precisamos nos organizar nos espaços onde nossa juventude se encontra e deixar de vez por todas a idéia de que um irmão preto morto, na proporção que isso vem ocorrendo, é uma coincidência do destino! É GENOCIDIO MESMO! A resistência de garantir nossa entrada nos espaços de formação garantidos pelo estado como universidades, cursos profissionalizantes, etc., Não é por incapacidade nossa não! É O MEDO DA ASCENSÃO DOS PRETOS E PRETAS NOS ESPAÇOS DE PODER!

Por essas e tantas outras questões que influenciam diretamente nosso dia a dia, peço a todos os guerreiros e guerreiras de plantão para assumirem essa demanda! Fazer mais uma vez dos palcos, nosso mecanismo de mobilização em massa de todos que não toleram mais essa situação vivida nas periferias brasileiras. De se organizar nos seus espaços convocando nossa juventude ao ENJUNE trazendo sua reflexão sobre os temas que o encontro se propõe a discutir, produzindo pré-encontros regionais e estaduais, formando fóruns de juventude negra para por em prática as resoluções vindas da própria juventude... É desse jeito!

Eixos de debate do encontro:

I - Cultura
II – Violência, vulnerabilidade e risco social
III – Educação
IV - Saúde
V - Terra e Moradia
VI – Comunicação e Tecnologia
VII - Religião do povo negro
VIII - Meio ambiente e desenvolvimento sustentável
IX - Trabalho
X – Intervenção social nos espaços políticos
XI - Reparações e ações afirmativas
XII - Gênero e feminismo
XIII – Identidade de gênero e orientação sexual
XIV – Integração social de portadores de necessidades especiais

Temas discutidos separadamente com uma perspectiva juvenil para nossa sociedade.

Posterior aos debates e aos direcionamentos feitos ao Poder Publico, 3º setor e para a própria juventude executar, estaremos formando os fórum permanentes de juventude negra para por em prática nossas resoluções e cobranças junto a esses setores governamentais e não governamentais.

Não existe um modelo de construção de uma articulação grandiosa como essa. Principalmente se é pautada e administrada pela própria juventude marginalizada, Por isso, dia após dia, vamos aprendendo com os erros e acertos do processo. E a cada dia também vamos vendo, percebendo e confirmando como é necessário esse tipo de mobilização para estancar essa sangria descarada promovida por várias frentes racistas, de todos os lados contra nossa juventude. Percebemos como é importante e urgente dar uma resposta a tudo isso! Independente da sigla que carregamos em nossa militância diária, precisamos responder de prontidão e de forma coletiva à toda violência racial a qual estamos submetidos. Como nossa gente diz nas letras, aqui não é cinema nem novela, não tem maquiagem! O bicho pega! De viela a viela, em cada canto da cidade!

Por isso trutas, venham conosco construir essa nova trincheira de resistência!

Maiores informações:

Lista de discussão

http://br.groups.yahoo.com/group/ENJUNE/

EM BREVE - WEBSITE

Honerê Al-amin Oadq
Posse Hausa Minha família Minha Base
MNU – Minha centralização Política
ENJUNE – Uma resposta coletiva a violência Racial!
011 9832-1582

oadq@hotmail.com

www.possehausa.blogspot.com

Encontro do Interior Paulista
Campinas, 28 de abril de 2007
8:00 hs - Sindicato dos Metalúrgicos
Rua Dr. Quirino, 560 – Centro Campinas

PRÉ ENJUNE ABC - 5 E 6 DE MAIO 2007

PROJETO MENINOS E MENINAS DE RUA – SÃO BERNARDO

Rua Jurubatuba, 1610 centro - São Bernardo -
Parada Lauro Gomes de Troleibus sentido Ferrazopolis.

PASSEATA EM REPUDIO AO GENOCIDIO DA JUVENTUDE NEGRA 05 DE MAIO

CONCENTRAÇÃO AS 15:30 NO PROJETO MM DE RUA

TAMBÉM PREVISTAS MANIFESTAÇÕES AFRO-CULTURAIS

PROCESSO ESTADUAL - SÃO PAULO
1,2 E 3 DE JUNHO DE 2007
GINÁSIO DO ANHEMBI SP - CAPITAL

ENCONTRO NACIONAL DE JUVENTUDE NEGRA ENJUNE
27, 28 E 29 DE JULHO
LAURO DE FREITAS BAHIA

INFORME-SE SOBRE SEU ESTADO
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Carta aberta à sociedade Pela liberdade de manifestação da juventude negra
Carta aberta à sociedade brasileira e internacional
Em repúdio à violência policial:
“Reaja ou será morto! Reaja ou será morta!”
Pela liberdade de manifestação da juventude negra

Nos dias 05 e 06 de maio aconteceu em São Bernardo do Campo o Encontro Regional de Juventude Negra do ABC, preparatório para o Encontro Estadual e o Encontro Nacional de Juventude Negra (ENJUNE). O evento foi aberto com o Ato Público em Repúdio ao Genocídio da Juventude Negra, como parte da campanha “Reaja ou será morto! Reaja ou será morta!”, que já é impulsionada há dois anos na Bahia. Nossas principais bandeiras no ato foram: contra a redução da maioridade penal, contra a violência policial que tem a juventude negra como principal alvo e por emprego para a população negra.
Para a realização do ato, informamos a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), mas tivemos que alterar nosso trajeto já que a Igreja da Matriz não aceitou nossa solicitação, feita com antecedência, para que o encerramento do ato acontecesse na Praça da Matriz – local utilizado historicamente para as manifestações públicas da região do ABC.
Quando chegamos a uma rua menos movimentada, o carro de som (que foi cedido pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) foi parado pela polícia militar, que arrancou alguns dos nossos cartazes e exigiu que o ato fosse encerrado naquele momento. Quando os manifestantes já estavam na calçada, a polícia levou quatro manifestantes ao 1º Distrito Policial de São Bernardo sem dizer por qual motivo. Quando Mara do Hip Hop, uma das manifestantes, perguntou ao policial por qual motivo tinha que ir para a delegacia, o policial disse que se ela não fosse, ele a arrastaria pelos cabelos. Na delegacia foi registrado Boletim de Ocorrência contra Gilson Negão e Mara do Hip Hop, por “desacato”.
Durante as várias horas que ficamos em frente à delegacia aguardando a liberação dos quatro manifestantes (Eduardo, militante do coletivo Rosas Negra de Mauá; Gilson Negão, assessor do deputado federal Vicentinho; Luciana do coletivo de resgate afro-indígena Quilomboca de Ribeirão Pires; e Mara do Hip Hop, da Corrente Operária do PSOL e da Casa de Cultura e Política do ABC), recebemos a solidariedade ativa de parlamentares, organizações, militantes e estudantes. Estiveram no local: o deputado federal Vicentinho, Paulo Dias do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, MNU - Movimento Negro Unificado, Melão da Comissão de Fábrica da Volkswagen, Anderson Mangolin do PSOL, Espaço Socialista, Liga Estratégia Revolucionária, Projeto Meninos e Meninas de Rua, Coletivo Rosas Negra, Posse Kilombagem, Coletivo Quilomboca, Posse Hausa, Corrente Operária do PSOL, Casa de Cultura e Política do ABC, Movimento Tendência Sindical Classista e Socialista, CEUPES-USP (centro acadêmico de ciências sociais), estudantes que estão ocupando a reitoria da USP (contra os ataques do governo Serra à educação), DCE-USP, CMP-SP, Núcleo Cultural Força Ativa , Centro Acadêmico de Ciências Sociais da PUC, Juventude e Revolução e um militante do PSTU. Recebemos ainda a solidariedade dos deputados estaduais José Cândido (PT), Raul Marcelo (PSOL) e da vereadora Elzinha (PT) de Ribeirão Pires.
No estado de São Paulo está explícita a linha dura do governo de José Serra com uma repressão policial brutal. Somente nesse fim de semana, além do que aconteceu no ABC, vimos a repressão policial na Favela da Bela Vista, na zona norte de São Paulo, e na Praça da Sé, durante o show do Racionais (momento da Virada Cultural em que havia maior concentração de jovens negros) com bombas e cassetetes. Seguimos denunciando a violência policial que tem a juventude negra como o principal alvo.


Nenhuma punição aos manifestantes do ato do dia 05!
Basta de violência policial contra a juventude negra!
Contra a criminalização do movimento negro!
REAJA OU SERÁ MORTO! REAJA OU SERÁ MORTA!


Assinam:
Fórum de Juventude Negra do ABC, Comissão de Combate ao Racismo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Coletivo Rosas Negra, Posse Hausa, Coletivo de Resgate Afro-Indígena Quilomboca, Posse Kilombagem, Corrente Operária do PSOL, Casa de Cultura e Política do ABC, Organização Manos de Paz, Liga Estratégia Revolucionária, Movimento negro Unificado - MNU.

Monday, May 07, 2007


Sent: Sunday, May 06, 2007 12:29 PM
Subject: jornalista indignada com a confusão no show do racionais

Imagine-se convidado para uma grande festa, uma festa onde você é tratado como um convidado de honra e recebe todo tipo de atenção de seu anfitrião. Junto a você amigos de ontem e de hoje dispostos a curtir a festa que foi preparada para todos. Reunidos em volta do banquete todos comem e bebem descontraídos, desarmados e sem se preocupar com o que pode acontecer afinal todos ali possuem seus convites, quando inesperadamente surge o segurança da festa, sem saber muito de onde partiu uma ordem, mas agindo impensadamente arrastando você e todos os demais convidados pelo cabelo e colocando-os para fora da festa sem deixar você ao menos abrir a bolsa para mostrar o convite. Imaginou? O que passou pela sua cabeça? Dor, indignação, revolta, ódio e repulsa contra toda arbitrariedade existente naquelas ações? Pois se esse exemplo simplório gerou em sua mente esses sentimentos, você conseguiu sentir um terço do que eu sinto após ter participado de um show durante a 3ª virada cultural em São Paulo.

São Paulo, 05 de maio de 2007. A cidade estava em festa, o centro lotado por todas as tribos, povos e raças que conviviam em harmonia ouvindo e vendo as mais diversas manifestações.

Passando por diversos palcos se podia ver de tudo, todo tipo de festa as legais e as ilegais, moços e velhos todos em festa comemorando a noite da cultura.

Pouco mais de uma hora da manhã me dirigi ao palco Praça da Sé onde iria acontecer o show pelo qual eu ansiava, fã da banda há mais de dez anos, mal podia esperar para acompanhar um show tão grande como aquele e o que era melhor acessível a todos.

Entre a multidão, homens, mulheres, crianças, de etnias variadas, posição financeira diversificada. Ali ninguém pediu extrato bancário ou verificaria a cor da pele, fazia parte da alma do show.

Quando após longa espera o grupo entra no palco, a adrenalina se manifesta em meu corpo, cantar cada uma das letras que tanto se repetiu em meu rádio em diferentes ambientes e em diversas fases da vida, não era suficiente para expressar minha emoção.

Infelizmente após três canções a polícia militar do estado de São Paulo resolveu que o meu sonho e o da maioria que estava ali presente deveria ser encerrado antes da hora.

Bombas de efeito moral começaram a ecoar, todos se perguntavam o que poderia estar acontecendo para justificar a ação policial. Ao olhar para o lado a expressão de dúvida pairava entre todos, nada havia acontecido.

Em algumas horas a cena que presenciei ali, me lembrou e muito partes de filmes sobre a ditadura militar no país. Fato cruel e que nunca mais deveria ser repetido, mas que se fez presente naquele que era para ser um marco de cultura e diversão.

A polícia acuou toda a população em um canto, balas de borracha zuniam em nossos ouvidos, enquanto bombas de efeito moral explodiam ensurdecendo a população ainda estagnada.

NO palco, o vocalista da banda, pedia para a população se acalmar e não revidar o confronto da polícia continuar curtindo o show sem deixar que meros preconceitos estragassem a festa.

Mas quem poderia continuar cantando enquanto apanhava com cassetete? A multidão ainda tentou, mas foi impossível continuar, o corre corre, as bombas, as balas, o choro, o desespero, todos se solidarizavam rapidamente e erguiam aqueles que caíam no chão no meio da corrida. Mas não havia mais para onde correr.

O centro de São Paulo e todas as suas ruas históricas voltaram ao passado ao se tornar um campo de guerra, poucos tentavam ainda protestar contra o ocorrido, mas afinal o que são algumas palavras contra bombas e tiros? Não havia mais o que falar o mais seguro era correr até quando as pernas agüentassem

NO trajeto, paro com outras pessoas para descansar, um policial da guarda metropolitana pede para não descansarmos, pois os militares estão vindo logo atrás dando borrachada em qualquer coisa que esteja se movimentando por ali.

Tentamos ainda achar um lugar seguro para ir, porém nada mais era seguro, aquela não era mais a festa para a qual eu e também aqueles cantores tínhamos sido convidados.

A fuga persistia talvez entrar no metrô fosse à solução. Doce ilusão a minha, nesse momento o gás lacrimogêneo já ardia meus olhos e fazia com que eu não conseguisse falar e respirar direito. Dentro da estação mais movimentada da cidade o caos imperava, milhares de pessoas que não esperavam ir embora naquele momento tentavam desesperadamente conseguir retornar seguros para casa. Outros poucos vândalos, aproveitavam-se do tumulto para saquear lojas existentes ali, mesmo assim a polícia não deu trégua.

Utilizei a passagem subterrânea apenas para ir pro outro lado do confronto, já que seria impossível naquele momento subir em um vagão. Na saída encontro com o senador Eduardo Suplicy, um senhor de mais de 60 anos que como muitos outros senhores de idade estava ali apreciando o show da virada. Em meio à correria consegui trocar algumas palavras com ele e mostrar a minha indignação. Afinal talvez a voz dele seja mais sonora do que a minha.

Ao chegar em casa após pegar mais de três conduções todas com o objetivo único de sair da mira da polícia a revolta e a indignação me fizeram pensar em escrever este texto e tentar retransmiti-lo para que o que quer que seja dito pela mídia do país, ao menos eu possa dizer que falei a verdade.

Esse show do grupo Racionais Mc’s foi um dos mais tranqüilos que eu já fui em toda a minha vida. Não houve nenhum incidente no local, que não tivesse acontecendo em todos os outros palcos da virada cultural que justificasse uma ação agressiva por parte da polícia.

Em nenhum momento Mano Brown o rapper vocalista ou qualquer um dos integrantes do grupo que subiu ao palco incitou a população a se voltar contra a polícia e em nenhum momento essa revolta aconteceu.

Ao contrário, durante todo o tempo em que conseguiu se manter em cima do palco o vocalista da banda pediu para as pessoas se acalmarem, não revidarem as atitudes dos policiais e continuarem curtindo o show sem problemas.

Toda e qualquer atitude hostil ocorrida durante essa madrugada na praça da sé em São Paulo aconteceu por parte dos membros da polícia militar do estado que envergonharam as suas fardas, manchando-as com a lama do preconceito e da discriminação.

Pergunto-me porque só nesse show houve esse tipo de atitude? Afinal haviam dezenas espalhados nos palcos da cidade. Será que a população negra e periférica que se concentrava ali não tinha direito de participar daquela manifestação cultural? Eu não sei dizer, mas acredito que sim afinal todos os cerca de 11 milhões de paulistanos foram convidados a comparecer.

Qual a diferença daquele show especificamente? O que motivou a fúria dos policiais, já que não foi a ação do público e nem do grupo.

O que justificaria aquele retrocesso na polícia brasileira? Tanta arbitrariedade para quê? Onde está a liberdade de expressão, o direito de ir e vir e o fim da repressão?

Outra dúvida o que será noticiado por nós profissionais da imprensa e pela grande mídia hoje? Passado algumas horas do show quem será que irá relatar o que realmente aconteceu ali. Será que alguém dará voz a população ali presente ou serão apenas mais manchetes preconceituosas sobre tumulto generalizado em um show de rap.

Seja o que for eu como cidadã brasileira e como jornalista resolvi não me calar. Estou passando uma cópia desta carta para todos os meus amigos e outra bem parecida para a imprensa e peço gentilmente que se você por algum motivo discorda das atitudes da corporação militar durante esse evento me ajude a repassar em todas as comunidades pela internet e em todos os meios possíveis de comunicação. Utilizemos essa globalização propiciada pela rede.

Peço aos colegas jornalistas que nessa hora honrem o compromisso com a verdade e apurem as informações ao invés de simplesmente passar aquilo que lhes parece verdade.

Gostaria muito que esse manifesto não se fizesse calar, mas fosse uma voz contra toda a arbitrariedade e o cale-se imposto à população nessa madrugada de domingo.


Daniela Gomes

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06/05/2007 - 14h52 - Atualizado em 06/05/2007 - 17h27

Secretaria de Segurança diz que grupo em platéia iniciou confusão na Praça da Sé

Um carro foi incendiado e lojas foram arrombadas na Região Central de SP.
Secretaria de Segurança diz que foram 11 detidos por polícia após apresentação.
Ardilhes Moreira Do G1, em São Paulo

Foto: Keiny Andrade
Briga começa logo início do show dos Racionais MCs na Praça da Sé (Foto: Keiny Andrade/Ag. Estado)

A Secretaria de Segurança Pública divulgou uma nota na tarde deste domingo (6) na qual informa que um grupo de pessoas que assistia ao show dos Racionais MC´s começou o tumulto na Praça da Sé, no Centro de São Paulo. Onze pessoas foram detidas e encaminhadas ao 1º Distrito Policial (DP) para averiguações.

O G1 entrou em contato com o DJ KL Jay, integrante dos Racionais. O músico disse que "sobre a noite de ontem, não tinha nada para comentar".

Foto: Keiny Andrade
Polícia passa por pessoa ferida caída na rua (Foto: Keiny Andrade/Ag. Estado)

De acordo com a Secretaria de Segurança, parte da platéia atacou os policiais militares com pedras e garrafas e depredou uma banca de jornal. As mesmas pessoas teriam se separado e saqueado lojas nas ruas próximas ao local do show, entre elas as Lojas Americanas e o Rei do Mate. Oito veículos da PM e um da Guarda Civil Metropolitana foram depredados. Além disso, um carro particular foi incendiado e outro, danificado. No meio da confusão, um policial teve roubado um "carregador de munição".

Orelhões e banheiros químicos da praça também foram destruídos. O grupo entrou na Estação Sé do Metrô, destruiu seis bloqueios e depredou 12 lojas. Os onze detidos foram acusados de praticar furtos e depredações, além de desacato e dano ao patrimônio público e privado.


Foto: Keiny Andrade
Show dos Racionais durante Virada Cultural em SP. Mano Brown comanda som. (Foto: Keiny Andrade)

No incidente ocorrido por volta das 5h, pelo menos seis pessoas ficaram feridas. Um homem de 21 anos e uma mulher de 22 anos tiveram ferimentos na cabeça e foram levados para o pronto-socorro Vergueiro. Segundo a secretaria, quatro policiais militares também ficaram feridos.

A Virada Cultural contou com um efetivo de 3.223 homens da Polícia Militar, 1.089 veículos e 97 bases comunitárias móveis.

Veja imagens da destruição causada por tumulto durante show de Racionais MC's

Choque de quem chega

Na manhã deste domingo, paulistanos que se deslocavam para atividades da Virada Cultural se depararam com a depredação de lojas, de lixeiras, de banheiros químicos e até mesmo de dois carros nas ruas da região central de São Paulo.

Foto: Ardilhes Moreira
Banheiros químcos destruídos na Praça da Sé nesta manhã de domingo (Foto: Ardilhes Moreira)

Na Praça da Sé, onde o tumulto começou por volta das 5h, funcionários desmontavam o palco instalado na frente da catedral. Ao lado da entrada do Metrô, uma fila de banheiros químicos destruídos ainda aguardava remoção em meio às garrafas quebradas e o olhar espantado de turistas que fotografavam o resultado do vandalismo.

Mas o tumulto deixou maior prejuízo na esquina das Ruas Senador Feijó e

Foto: Ardilhes Moreira
Carros queimados e com os vidros quebrados (Foto: Ardilhes Moreira/G1)

Quintino Bocaiúva. Dois Celtas foram depredados. Um dos carros foi incendiado após a passagem dos vândalos. Uma franquia da loja Rei do Mate teve a porta arrombada. Objetos de valor, cigarros e bebidas foram roubados.

A proprietária do estabelecimento, que preferiu não se identificar, disse que só foi avisada da invasão às 9 horas. Segundo a proprietária, a demora foi culpa do sumiço do vigilante que presta serviço para

Foto: Keiny Andrade
Confusao no palco (Foto: Keiny Andrade/Ag. Estado)

comerciantes do local, que tinha o número de telefone da empresária mas não foi encontrado pela polícia no local após o tumulto.

Ela estima que o prejuízo no local tenha superado os R$ 20 mil. Além de roubar o dinheiro que estava no caixa, o grupo ainda arremessou o computador contra a parede. “Estou esperando o Kassab passar aqui amanhã para me dizer o que a Prefeitura vai fazer”, disse.

Enquanto a comerciante aguardava a perícia, do outro lado da esquina a professora de inglês Camila Ferraro tomava conta do Celta da amiga, que teve o vidro quebrado e lataria amassada durante o tumulto. “Estávamos na Vieira de Carvalho. Eram 6 horas quando voltamos e no caminho já sentimos o cheiro forte de gás”, contou a professora.

Foto: Keiny Andrade
Polícia atira bombas de gás lacrimogêneo durante tumulto no Centro. (Foto: Keiny Andrade)

Ao lado do carro das amigas que participavam da Virada Cultural, o que sobrou de um outro Celta permanece na esquina, vigiado por policiais. O carro foi totalmente queimado na madrugada.

Sono interrompido

Moradores da Rua Tabatinguera, a cerca de 200 metros da Praça da Sé, foram acordados por volta das 5h, quando jovens que acompanhavam o show dos Racionais fugiram do confronto com a polícia. Pelo menos dois condomínios tiveram vidraças quebradas com pedras. Pedaços de retrovisores na sarjeta agora servem como testemunho do susto vivido pelos moradores.

“Quando acordei, parecia uma guerra. Olhei pela janela e vi pouca polícia e a rua tomada por jovens, ate o transito foi interrompido. Quebraram lixeiras, vidraças e sobrou até para os carros estacionados”, disse o morador Airton Oliveira dos Santos, de 55 anos. Nesta manhã, ele percorreu a rua com a câmera em punho para fotografar os estragos, incluindo a vidraça quebrada do edifício onde mora.

No Largo de São Francisco, o tumulto foi concentrado em uma banca de revistas. Mesmo posicionada a cerca de 100 metros do prédio da Secretaria da Segurança Publica, a banca foi invadida. “O que eles não puderam roubar, destruíram”, contou o proprietário do local, Danilo Menezes, de 24 anos.

Baseado nos primeiros cálculos, ele estima um prejuízo superior a R$ 15 mil. “Simplesmente destruíram, está em um estado lastimável, nem sei por onde começar”, disse o comerciante.

Como foi a briga

A apresentação começou às 4h30, com uma hora e meia de atraso, e durou menos de meia hora. Um tumulto na platéia, logo no início do show, foi reprimido com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Na segunda música, parte da platéia começou a insultar policiais que reagiram com bombas de efeito moral. Durante o confronto, houve pânico entre as pessoas presentes no local, que se dirigiram à estação Sé do Metrô tentando fugir do confronto entre polícia e fãs do grupo.

http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL32147-5605,00.html

Friday, May 04, 2007

A última viagem de Cruz e Sousa


A última viagem de Cruz e Sousa

Escritor traz à tona uma suspeita histórica, que todos têm e que ninguém comenta: o sumiço do cadáver do maior poeta catarinense

Raul Arruda Filho, poeta de Lages

Especial para o Anexo

Lages ­ O escritor lageano Márcio Camargo Costa escreveu um poema que ainda vai dar muito o que falar. Composto inicialmente como letra de música para o grupo de Kako Xavier, de Porto Alegre, que trabalha com músicas de raiz africana, o texto coloca em xeque um dos mais significativos episódios da literatura catarinense, apesar de pouco lembrado pelas instituições "culturais": o destino do cadáver do poeta Cruz e Sousa.
Oficialmente não há nenhum mistério. Para Raimundo Magalhães Júnior, que escreveu uma das mais famosas biografias do poeta, Cruz e Sousa estava com tuberculose pulmonar e, por recomendação médica, foi passar algum tempo em um lugar chamado Sítio, no interior de Minas Gerais. Negro, sem dinheiro e tísico, acabou sendo despejado do hotel onde estava hospedado por não poder pagar a diária. Morreu nos braços de sua esposa, Gavita, em 19 de março de 1898. O corpo, dentro de um caixão simplório, foi transladado para o Rio de Janeiro dentro de um vagão ferroviário destinado ao transporte de animais (um horse-box).
Na então capital federal foi improvisada uma câmara-ardente na secretaria de administração da estrada de ferro, onde Cruz e Sousa era funcionário menor. O velório contou com a presença de alguns dos mais importantes intelectuais da época. Maurício Jubim fez um retrato do poeta, a crayon, em seu caixão mortuário. O enterro, realizado no início da tarde do dia 21, foi quase tão simples quanto a vida do poeta. A exceção foi o discurso emocionado de Nestor Vítor, um de seus melhores amigos. Os principais jornais da época destacaram a morte e a importância da obra de Cruz e Sousa.
A novidade proposta pelo poema de Camargo Costa se refere ao período em que o cadáver ficou dentro do horse-box e aos fatos que se seguiram. Utilizando diversas referências literárias ("Broquéis", "Últimos Sonetos", "Faróis", "Livro Derradeiro", "Simbolismo"), o escritor lageano destaca a hipótese de o corpo de Cruz e Sousa ter desaparecido enquanto era transportado para o Rio de Janeiro. Camargo Costa se fundamenta em várias observações lógicas, sendo que a principal é a decomposição do cadáver, o que impediria que o caixão fosse aberto quando chegou ao Rio de Janeiro. "Depois de dois dias, sem ter sido embalsamado, ou seja, em condições precárias de conservação, a putrefação foi inevitável", garante. Durante a viagem é possível que alguém, se sentindo desconfortável com o mau cheiro, tenha jogado o cadáver em campo aberto. Em seguida, para tentar esconder o que havia feito, encheu o caixão com pedras.
Outro detalhe que chama atenção do escritor é a ausência de fotografias do corpo. Na época, a fotografia era a grande novidade. Existem excelentes documentos iconográficos da Guerra do Paraguai, do imperador dom Pedro 2º e de diversos acontecimentos no Rio de Janeiro, além de diversos retratos do próprio Cruz e Sousa. "É muito estranho que não tenham aproveitado a oportunidade para retratar o poeta em seu último momento", declara.
Camargo Costa também não entende porque, até o momento, não houve um movimento para trazer o corpo de Cruz e Sousa para Santa Catarina. Na sua ótica esse é mais um indício de que o cadáver desapareceu. "Essa tese não é minha. Há suspeitas desde a época, inclusive da própria família. A literatura oral é rica em variações do episódio. O problema é que as instituições culturais e os donos do assunto costumam adotar como discurso oficial a versão menos amarga", afirma. E complementa: "A dúvida é mais instigante que a certeza. Só saberemos a verdade quando o corpo for exumado, se é que existe corpo, e realizarem um teste de DNA".
O poema
Cruz e Lousa
Márcio Camargo Costa

Somente cruz e lousa
Broquéis de tumba vaga, simbolismo
Ali, sepultaram pedras
Ao invés do gênio Cruz e Sousa
Últimos Sonetos, foi s'imbora
Indigente, tísico, morre na praça
Ai, Mama África chora
Cruz e Sousa, poeta-mor da raça
O livro derradeiro foi a infâmia
Os restos, no vagão de gado
Faróis na noite escura
"Joguem este negro fora
Encham o caixão de pedras
Que, do segredo, cuidará a sepultura"
Ai, Mama África chora
Somente cruz e lousa
Ali, enterraram pedras
No lugar do gênio Cruz e Sousa
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Cruz e Souza

Cruz e Sousa (1861 - 1898) João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis. Filho de escravos alforriados pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa, seria acolhido pelo Marechal e sua esposa como o filho que não tinham. Foi educado na melhor escola secundária da região, mas com a morte dos protetores foi obrigado a largar os estudos e trabalhar. Sofre uma série de perseguições raciais, culminando com a proibição de assumir o cargo de promotor público em Laguna, por ser negro. Em 1890 vai para o Rio de Janeiro, onde entra em contato com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas. Colabora em alguns jornais e, mesmo já bastante conhecido após a publicação de Missal e Broquéis (1893), só consegue arrumar um emprego miserável na Estrada de Ferro Central. Casa-se com Gavita, também negra, com quem tem quatro filhos, dois dos quais vêm a falecer. Sua mulher enlouquece e passa vários períodos em hospitais psiquiátricos. O poeta contrai tuberculose e vai para a cidade mineira de Sítio se tratar. Morre aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão.


http://www.cruzesousa.com.br/

Sunday, April 29, 2007

Personalidades Negras: A Artista de temperamento forte


Artista de temperamento forte

A trajetória de Yêdamaria inspira livro com lançamento hoje, no Instituto Feminino da Bahia


Ana Cristina Pereira

Atuante nas artes plásticas baianas há cinco décadas, a artista plástica e professora Yêdamaria tem uma presença discreta, mas marcada pela constância e coerência. Sua trajetória, desconhecida de muitos baianos, ganhou um belo registro no livro Yêdamaria, publicação luxuosa do Museu Afro Brasil e da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. O trabalho será lançado hoje, às 19h, no Instituto Feminino da Bahia (Politeama), com a presença da criadora e exposição de alguns de seus trabalhos. Na ocasião, também será lançado o livro Meninos Deus - Os meninos do Recolhimento dos Humildes e outros Meninos Deus, iniciativa das mesmas instituições.

O projeto do livro, uma espécie de biografia artística, era acalentado por Yêdamaria há cerca de 12 anos. Queria registrar um pouco de sua história, reunir seus principais trabalhos. “Já estava perdendo as esperanças. A Bahia me deu régua e compasso, mas as coisas aqui são difíceis”, afirma Yêda Maria Corrêa de Oliveira, 75 anos. O tom não é de lamúria. Ao contrário, diz a artista, sente-se privilegiada. “Fiz muita coisa, viajei bastante, fui à África representar meu país. Morrerei sem mágoas da vida”.

Terceira geração de uma família de educadores, ela lembra que seu avô, negro, lecionou ainda no tempo da escravidão. Yêdamaria integrava uma elite negra, tendo recebido uma educação esmerada de sua mãe, a professora Theonila. Mais, incentivo materno e familiar para furar o bloqueio masculino e branco e seguir carreira nas artes plásticas, formando-se na Escola de Belas Artes da Ufba nos anos 50, onde viria a ensinar anos depois.

Na apresentação do livro, Emanoel Araújo, diretor do Museu África Brasil, afirma que Yêda sempre o impressionou “pelo temperamento forte e por seu absoluto silêncio em relação à sua carreira profissional”. As primeiras telas de Yêdamaria datam de meados da década de 50, dando início à fase em que ela pintava barcos e que durou cerca de 12 anos. À esta seguiram-se sereias e de Iemanjás, e a absorção de técnicas como litografia, colagens e gravuras. Neste período, final dos anos 70, Yêda fez mestrado em Arte Estúdio na Illinois State University, apontado pelos críticos como fundamental em sua carreira.

Ainda nos Estados Unidos ela inicia sua longa, colorida e delicada fase de natureza morta, com destaque para a gastronomia e para as mesas postas, que perdura até hoje. Num belo texto incluído na publicação, o escritor Ildásio Tavares destaca que Yêdamaria “devolve-nos o prazer prazeiroso de olhar um quadro e se apaixonar por ele, pois sua arte explora o que o artista sempre teve de melhor, o poder da sedução, da sedução direta”, anota. O livro traz, ainda, uma seleta de artigos biográficos e analíticos, assinados por nomes como Wilson Rocha, Carlos Eduardo da Rocha, Rai Santana Trindade, Mário Cravo Júnior e Consuelo Pondé de Sena.

A seleção de imagens, com vários exemplos de pinturas (guaches, óleo sobre tela) e trabalhos com colagens, litografia, gravura e desenho, é primorosa. “Acho que meu trabalho fala da Bahia, do povo daqui, da minha raça, as flores, as frutas, o colorido, ainda acho que não há festa mais bonita do que a de Iemanjá. Até mesmo as mesas, já vi algumas maravilhosas nas casas baianas”, observa a artista.

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FICHA

Livro: Yêdamaria
Edição: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Museu Afro Brasil
Direção de arte: Paulo Otávio Gonçalves
Coordenação editorial: Cecília Scharlach
Preço: R$100 (240 páginas)

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Devoção ao Menino Jesus

O livro - Meninos Deus – Os meninos do recolhimento dos Humildes e outros Meninos Deus é um projeto conjunto de Emanuel Araújo e da museóloga e pesquisadora Lúcia Bittencourt Marques (1919-2000). O objetivo, explica Emanuel, foi resgatar uma tradição da criação artística tipicamente baiana. Em dois textos ilustrativos, ele e Lúcia explicam que o culto ao Deus Menino veio para o Brasil juntamente com as variadas ordens religiosas que aqui desembarcaram como as Beneditinas, Franciscana e Carmelita.

Cultivada em muitas instituições, a tradição ganhou destaque, por exemplo, junto às freiras do Convento do Recolhimento de Nossa Senhora dos Humildes, em Santo Amaro da Purificação, alimentada pela riqueza açucareira. Parte da rica seleção de imagens do livro vem justamente desse convento, e impressiona pelo delírio barroco de brocados, pedrarias, rendas, sedas e fios de ouro. Outras imagens são do Museu do Carmo, Convento do Desterro, Lar Fransciscano Santax Isabel e Instituto Feminino. As religiosas cuidavam, pessoalmente, de enfeitar as esculturas, inventando detalhes como sandálias de ouro e doando-lhes suas jóias.

No ensaio Natividade de Jesus Cristo e o Deus Menino da Bahia, Lúcia Bittencourt trata da adoração popular do Deus Menino. Diretamente ligados à comemoração natalina, o santo nenê tinha, e ainda tem, espaço de honra nos presépios caseiros, mesmo nas versões mais simplezinhas, nu e deitado na manjedoura. A estudiosa, que durante anos respondeu pela Comissão de Arte Sacra de Salvador, resume sua opinião sobre a tradição religiosa: “Uma das mais alegres do Brasil”.

O livro também traz algumas imagens de Recife e exemplares do Menino Deus em terracota criados pelos santeiros contemporâneos Dinorá Oliveira e Osmundo Teixeira, que mantêm viva a tradição na Bahia. Hoje, no lançamento, parte da coleção de Meninos Deus do Instituto Feminino poderá ser conferida pelo público.

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FICHA

Livro: Meninos Deus - Os meninos do recolhimento dos Humildes e outros Meninos Deus
Autora: Lúcia Marques
Organização: Emanuel Araújo
Fotografia: Sérgio Benuti e Claudionor Gonçalves
Edição: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Museu Afro Brasil
Preço: R$90 (160 páginas)

Fonte: Aqui Salvador, Correio da Bahia, 30.04.2007
http://www.correiodabahia.com.br/folhadabahia
/noticia_impressao.asp?codigo=127249

A herança africana registrada no genoma dos brasileiros

A análise genética da população brasileira revelou dados inéditos sobre a vinda de escravos africanos para o país. Entre as descobertas estão as de que o trecho da África Ocidental, do Senegal à Nigéria, forneceu muito mais escravos do que se pensava e que a herança feminina é mais presente que a masculina nos genes da nossa população.

Até agora a teoria mais aceita era a dos estudiosos americanos do tráfico negreiro no Atlântico Herbert Klein e David Eltis, que estimaram que apenas 10% dos 5 milhões de escravos vindos para o Brasil haviam chegado do Oeste da África. A região Sudeste do continente teria enviado 17% e a Centro-Oeste 73%.

O estudo do material genético compartilhado por brasileiros e africanos revelou que a proporção de escravos oriundos do Oeste pode ter sido até quatro vezes maior que esta previsão.

- Analisamos o material dos brasileiros e comparamos as informações com as dos bancos de dados das regiões da África, estabelecidos pelo estudo de centenas de pessoas - explica Sérgio Pena, da UFMG.

Dos 120 paulistas que classificavam a si mesmos e a seus avós como negros, segundo dados fornecidos pelo IBGE, 40% apresentavam material genético típico do Oeste africano e o restante das regiões Centro-Oeste e Sudeste. A participação do Oeste nos genes dos 94 cariocas analisados é de 31% e nos 107 negros gaúchos é de 18%.

O material analisado foi o DNA mitocondrial, transmitido pelas mães aos filhos, e o cromossomo Y, passado pelos pais. Segundo os estudos, 85% dos negros paulistas têm DNA mitocondrial africano, enquanto 48% tinham cromossomo Y característico da África. No Rio, a proporção é de 90% para 56% e em Porto Alegre, 79% para 36%.

- As mulheres exerceram um encanto especial, de cunho sexual, nos senhores de engenho - explica Maria Cátira, da UFRGS. - Por isso, o preto brasileiro guarda hoje na herança genética uma contribuição maior das mulheres, embora o tráfico de homens tenha sido maior.

O DNA mitocondrial e o cromossomo Y são bons para determinar a composição de uma população porque não se misturam com outros genes e passam inalterados de uma geração a outra. Mas o material tem pouca informação sobre as características físicas de alguém. A pessoa pode ter DNA africano e ser loira de olhos azuis.

Para Maria, a pesquisa também mostra a extensão da mestiçagem no Brasil. Muitos são identificados como negros e têm uma proporção de cromossomos de origem européia majoritárias.

- Este conceito é muito mais profundo do que imaginamos. O mestiço não é só o que aparenta sinais na pele - diz Maria. - O branco pode ter sido descendente de escravos e o negro pode ter vindo de senhores de engenho, por exemplo.

Para os estudiosos, a proporção de negros vindos da África Ocidental é maior em São Paulo porque a decadência da economia açucareira levou ao deslocamento da mão-de-obra escrava para as plantações de café no Estado. A maioria dos escravos do Nordeste vinham do Oeste da África. Já no Rio Grande do Sul, 80% dos escravos vieram do Rio, onde a presença de pessoas vindas da região era menor.

- O estudo também mostra que as migrações internas têm um papel muito mais importante do que pensamos na distribuição dos africanos, sobretudo com o fim do tráfico - conta Maria. (C.G)

Fonte: JB Online, 29.04.2007 - www.jb.com.br

Africanos de Paris questionam nova diplomacia

Africanos de Paris questionam nova diplomacia

As novas gerações de africanos na França estimam que a ex-metrópole tem o dever de ajudar no desenvolvimento da África. Com a globalização, o crescimento da China e da Índia que fizeram crescer os interesses na África, a França não é mais a única tutora. Hoje, mais do que antes, a África sabe que não é pobre, ressaltam os africanos que vivem na França. Para eles, uma nova relação Françáfrica é possível, mas improvável.

- Desde De Gaule, a relação entre franceses e africanos é de chefe e empregados - compara Edouard Guershon, secretário-geral do Conselho Representativo das Associações de Negros (Cran). - Não é a nova geração que vai mudar essa relação, mas a vontade política. Demos o primeiro passo com os poucos votos do extremista Le Pen. Mas seus 11% mostram que ainda há racismo e discriminação neste país.

Nos campos de batalha, os africanos lutaram pela honra e glória francesa, lembram os jovens negros em Paris. Nos campos de futebol e nas pistas de atletismo, oferecemos campeões, orgulham-se.

- Acho que a França não fez muito pela Argélia. Temos história em comum, falamos francês, seguimos seus programas políticos, métodos de ensino - lamenta o argelino Nomandi Muhad, 22 anos, estudante de Literatura na Paris 8. - Mas a França não investe porque quer a Argélia como país de exportação.

Muhad está na França para também explorar o que o país tem de melhor: o ensino.

- É a reconquista - brinca o jovem, que não pode votar, mas gosta de Ségolène porque a candidata defende a legalização dos imigrantes.

E insiste:

- A Europa precisa investir na África para diminuir a imigração. O dinheiro gasto com o bem-estar social dos imigrantes devia ser aplicado no continente.

Para Thierno Iliassa Balde, secretário-geral dos Jovens Guineos na França, a colonização foi dura e mal terminada:

- Logo nas primeiras insurreições, a França nos abandonou. Ficamos sem funcionários, sem peças, as máquinas pararam e acabamos nos aliando à União Soviética, nos aproximando do comunismo.

Fonte: JB Online, 29.07.2007, www.jb.com.br

Eleição (na Franca) muda relação com a África

Eleição muda relação com a África

Camila Arêas

Depois de mais de um século de exploração, completam-se agora 50 anos de descolonização. O segundo capítulo da influência francesa sobre a África ainda está sendo escrito. Mas as eleições presidenciais na França - com segundo turno no próximo domingo - marcam "o fim de uma certa História", ressaltam jornais e intelectuais africanos.

Toda uma geração de políticos franceses e africanos ligados por obscuras relações de conivência e escândalos se vai. Outra chega, mais jovem, independente e pronta para fazer a própria História. É tempo para um novo contrato social, contrato de gerações, romanceia a mídia.

Leia matéria completa em no link

JB Online, 29.04.2007

Thursday, April 26, 2007

História reconstruída

História reconstruída

Criação do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira é discutida


Carmen Azevêdo

“Averdadeira história é aquela em que não há interesses sociopolíticos e econômicos. Sobre os negros, ainda não se fez a verdadeira história”. A afirmação de monsenhor Gaspar Sadock mostra um dos objetivos, senão o principal, da criação do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab). Desde a manhã de ontem, artistas, intelectuais, religiosos, negros e brancos, estiveram reunidos no auditório das Faculdades Jorge Amado para discutir o projeto de implantação do acervo histórico-cultural.
O projeto demanda recursos na ordem de R$6 milhões, dos quais já foram obtidos R$1,7 milhão para os primeiros passos da criação. A meta é inaugurar pelo menos a primeira ala de visitação em novembro deste ano.

Os prédios que sediarão o museu são do Tesouro do Estado e da Assistência Pública da Bahia, no Centro Histórico, cedidos pelo governo estadual. Com recursos da esfera federal, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ambas as edificações estão sendo recuperadas, sob responsabilidade da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder). Na abertura do evento, o poeta José Carlos Capinan, à frente da Amafro – Sociedade Amigos da Cultura Afro-Brasileira, entidade responsável pela execução do projeto, ressaltou que o objetivo é reunir representantes dos mais diferentes segmentos interessados na história e cultura afro. “É interessante que seja formulada uma proposta ampla e diversificada na concepção do museu”, afirmou.

“Queremos que seja implementado de forma democrática e não arbitrariamente como a maioria deles”, emendou o professor Emanuel Araújo, diretor do Museu Afro-Brasil, em São Paulo. A idéia é reunir discussões acerca da música, dança, história, culinária, religiosidade, mitologia e medicina afrodescendentes, entre outras áreas. Segundo o projeto de criação do Muncab, elaborado por Capinan, Salvador constitui o local ideal para a realização do projeto. “O Muncab deve ser concebido, para nele abrigar diversas ‘mídias’, escolas e outros instrumentos de difusão cultural, transformação e reconhecimento de tradições ancestrais, que sustentaram diante de condições adversas conhecimentos valiosos para nosso patrimônio como civilização”, ressalta a proposta.

Espaços - Nos prédios da rua do Tesouro, com área aproximada de 4.500 metros quadrados, os visitantes terão acesso a salas de exposição, arquivos, oficinas, salas de recital e de aula, lojas e cafés, lan house e acervo de bens tangíveis e intangíveis. O projeto, em fase de esboço, passará por inúmeras discussões até a concepção final. Os preços a serem cobrados pela visita ainda são desconhecidos, mas sabe-se que o visitante poderá conhecer o Memorial da Diáspora – uma espécie de navio no qual será mostrada a história do nascimento do continente africano.

“O importante desta idéia é que o museu saia da condição de centro antropológico, que tem o negro como estudo. O negro não tem que ser estudado”, enfatiza Emanuel Araújo. Para ele, é importante valorizar os negros que foram importantes para o Brasil. “Muitos deles produziram muito e nada receberam em troca, apenas a exclusão social. É preciso reconstruir a história que foi construída de maneira errônea e cheia de vazios”, emenda. Ele defende ainda que o próximo desafio é ligar Salvador à África. “É extraordinário como o Benin está ligado ao Brasil, o oposto tem que acontecer e esta é uma das funções do museu”, concluiu.

O projeto conta com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Caixa Econômica Federal, Grupo Votorantin e Programa Monumenta (Iphan). O grupo estará reunido até sábado, das 8h às 17h.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 27.04.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador
/noticia_impressao.asp?codigo=127070

Friday, April 20, 2007

Lula acena com maior atenção aos índios


Índia Pataxó
http://www.sitecurupira.com.br/indios/imagens/dusek/pataxo01.jpg
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0/4/2007 01:06:00 -O Dia Online
http://odia.terra.com.br/brasil/htm/geral_93938.asp

Lula acena com maior atenção aos índios

Presidente reconhece que não fez muito por nativos no 1º mandato. E reclama da falta de civilidade da sociedade

BRASÍLIA - No Dia do Índio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu que não fez uma boa gestão para os povos indígenas no seu primeiro mandato. Na presença do cacique txucarramãe Raoni e outros 19 líderes nativos, o presidente participou ontem de solenidade no Palácio do Planalto em comemoração à data.

“Tudo o que não aconteceu de 2003 a 2006, a gente fará acontecer até 2010”, declarou o presidente em discurso, para, em seguida, prometer: “Neste novo mandato, vamos fazer as coisas que não fizemos”. O reconhecimento chega após o petista passar boa temporada atribuindo aos movimentos indígenas e ambientais culpa por atrasos nas licenças de construção de hidrelétricas e estradas na Amazônia.

Na presença dos índios, Lula chegou a reclamar da falta de “civilidade” da sociedade nacional em relação aos povos nativos. “Temos de tornar a relação entre brancos e índios mais democrática e civilizada”, afirmou, completando: “O índio é um cidadão brasileiro, tem o direito de entrar no palácio do governo e ser atendido”, ressaltou.

Demonstrando estar afinado com os desejos dos caciques, o petista prometeu trabalhar em benefício dos povos indígenas. “Vocês terão no segundo mandato muito mais atenção do governo. Não queremos transformar vocês em brancos, mas transformar a sociedade”, destacou o presidente, que ontem assinou a homologação das reservas Apyterewa (Pará),

Entre Serras (PE), Itixi-Mitari (Amazonas), Palmas (Paraná e Santa Catarina), Pankararu (Pernambuco) e Wassu Cocal (Alagoas). A área total homologada é de 978 mil hectares.

Também ontem, foi criada a Comissão Nacional de Política Indigenista. Composta por 20 representantes indígenas, a comissão abre a discussão aos índios sobre as políticas indigenistas do governo. A fundação também será composta por dois representantes de organizações de índios e 13 membros do governo federal. Um representante da Fundação Nacional do Índio (Funai) será o presidente.

A comissão vai elaborar anteprojeto de lei para criação do Conselho Nacional de Política Indigenista. Os representantes de comunidades indígenas que estão acampados em Brasília conversaram com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie, sobre processos que tramitam na corte envolvendo questões de de interesse de tribos.

Família de Galdino: pena leve para crime

A família do índio pataxó Galdino José dos Santos — morto incendiado por jovens há 10 anos, em Brasília — afirmou ontem que não foi feita justiça no caso. Para Wilson Jesus de Souza, de 42 anos, sobrinho de Galdino, a pena foi branda. “Não ficamos satisfeitos. Foram muito curtas as penas. É bem capaz que eles (os assassinos) estejam em suas casas neste momento. Para nós, é como se eles nunca tivessem sido condenados”.

A família de Galdino preparou manifestações. Será realizada uma cerimônia na aldeia Caramuru Catarina Paraguassu, no Sul da Bahia. No local, que fica entre os municípios de Pau Brasil, Itaju Colônia e Camaçã, moram 3.020 índios pataxós. “Faremos uma manifestação no dia 21 de abril, que foi quando o corpo dele chegou aqui na aldeia para ser enterrado”. Segundo Wilson, o conflito por terras é constante na região.

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O pai e a mae de Galdino

Thursday, April 19, 2007

Agrotóxicos de plantações de soja estão matando índios da Amazônia

Agrotóxicos de plantações de soja estão matando índios da Amazônia
(Fonte: 24 Horas News - publicado no site
Amazônia.org.br )

O avanço da fronteira agrícola no norte do Mato Grosso e em Rondônia, além da atuação ilegal de madeireiras, já atinge o sul do Amazonas e vem assustando as comunidades indígenas da região. A denúncia é feita pelo líder indígena Walmir Parintintin, cujo povo vive nas proximidades das Brs 230 e 319 da Transamazônica.
Segundo ele, forasteiros tomam conta da região, levando o desmatamento e ao surgimento de pastagens, ao mesmo tempo que trazem doenças com a contaminação das águas dos rios com agrotóxicos.
Esse avanço sobre a floresta e as áreas indígenas, afirma Walmir, vem ocorrendo desde o início da década, quando surgiram os primeiros problemas com o plantio da soja. As cabeceiras de rios e igarapés foram contaminadas, atingindo as aldeias.
Agora, prossegue ele, a principal preocupação é com a ação de madeireiros, que "agem ilegalmente"
. "As terras indígenas correm o risco de serem atingidas, porque a madeira que existe nas fazendas está acabando. O governo não enxerga o problema."
Segundo Parintintin, a doença provocada pelo uso de agrotóxicos nas plantações de soja chega às aldeias por meio da água dos rios e pelo consumo de peixes contaminados, o que está levando à morte de crianças e idosos. "Tem também muito índio morrendo com câncer. É resultado do problema dos agrotóxicos. Estamos sofrendo com isso", resume. "Temos consciência de preservação da natureza. Hoje, são os povos indígenas que seguram as terras e mantêm o meio ambiente para o governo. Nossas produções de artesanato não degradam o meio ambiente."Os Parintintin estão finalizando um trabalho de diagnóstico cultural e de preservação de suas raízes, que deve ficar pronto ainda este ano. "Nós temos língua, cultura e danças tradicionais que não esquecemos, apesar do avanço das máquinas sobre nossas terras. Com esse estudo, vamos conduzir e preservar a nossa cultura", conclui.
O rápido avanço das fronteiras agrícolas nos últimos anos, em direção aos territórios indígenas, especialmente na região onde habita Walmir, foi tema abordado também pelo coordenador da campanha 'YIkatu Xingu pelo Instituto Socioambiental, Márcio Santilli, em artigo para o décimo volume da publicação Povos Indígenas no Brasil - 2001-2005.


Postado por Angela SP
angcb04@gmail.com

Monday, April 16, 2007

Brasil/Índice de morte entre menores é maior que em zonas de guerra

Brasil/Índice de morte entre menores é maior que em zonas de guerra

SÃO PAULO - Uma reportagem publicada ontem pelo jornal americano Washington Post (www.washingtonpost.com) mostra que o índice de mortes de menores de idade nas favelas do Rio de Janeiro é maior que o verificado em zonas de guerra. De 2002 a 2006, 729 crianças palestinas ou israelenses morreram, de acordo com o grupo israelense de diretos humanos B’Tselem. “No mesmo período no Rio de Janeiro foram relatadas 1.857 mortes de menores de acordo com o Instituto de Segurança Pública, um centro de pesquisas estatal”, compara o correspondente do jornal no Rio de Janeiro Monte Reel e o colaborador Fred Alves, que assinam a reportagem No Rio, a morte vem cedo.

Com o aumento da violência entre jovens, como o caso do menino João Hélio, no Rio de Janeiro, a matéria discute também o projeto de reduzir a maioridade penal. O texto relata o medo de mães em perderem seus filhos em meio à guerra entre traficantes, polícia e milicianos, ou também pelo risco de serem cooptados pelo tráfico. O temor é exemplificado até pela necessidade de os moradores conseguirem distinguir entre o barulho de fogos de artifício e o de tiros.

“Madeira (Maiza Madeira, moradora de favela) disse que aprendeu há três anos a identificar o som de fogos de artifício de forma tão apurada. Na primeira noite da celebração do Carnaval seu filho de 16 anos saíra com amigos. Fogos de artifício foram lançados a noite toda, mas um som em particular a deixou preocupada”. Eram os tiros que mataram seu filho em frente à sua casa, e foram disparados por uma patrulha da Polícia Militar, relatam os jornalistas do Post. (AE)

Fonte: Poder, Correio da Bahia, 17.04.2007
http://www.correiodabahia.com.br/poder/
noticia_impressao.asp?codigo=126402

Sunday, April 15, 2007

Comércio transatlântico: venda de roupas aliada a transformações culturais


Comércio transatlântico: venda de roupas aliada a transformações culturais

Angolanas que chegam ao Brasil para comprar roupas, revendidas em seus países de origem, entram em contato com realidade política, social e econômica bastante diferente da vivenciada em seu país, que ficou 40 anos em guerra civil

Texto e fotos por Juliana Borges

Bairro central da capital paulista, o Brás é um lugar de migrantes, uma mistura de bolivianos, paraguaios, nordestinos, paulistanos, guinenses, libaneses e, também, de angolanos. Por onde quer que se ande, nas lojas, nas ruas, entre os camelôs, nos mercados, na feira da madrugada - um mercado aberto que começa às 3h30 da manhã -, nos hotéis ou nos restaurantes, a presença desses últimos é quase sempre notável, seja pelo colorido das roupas e o primor dos penteados das mulheres, nas vozes com sotaque que estão quase sempre a falar alto e, principalmente, comemorada pelos dólares que trazem do seu país natal. Alguns, geralmente estudantes, vivem em São Paulo. Mas a maioria está apenas de passagem.

Centenas de sacoleiras angolanas que quase diariamente atravessam o Atlântico e desembarcam em São Paulo à procura de produtos para serem revendidos em seu país de origem. Elas compram quantidades enormes, despachadas por transportadoras. O lucro obtido com a transação paga a passagem de avião, que custa mais de mil dólares, e ainda garante o sustento dessas mulheres.

Voltar a Angola para vender roupas brasileiras é uma das saídas para driblar a falta de emprego
O trajeto que as sacoleiras angolanas atualmente percorrem várias vezes por ano é uma rota histórica. Cinco séculos atrás, seus ancestrais fizeram o mesmo caminho a bordo de navios portugueses e chegaram ao Brasil na condição de escravos. Vinham oprimidos, maltratados, maltrapilhos. Bem diferente das sacoleiras hoje. Os recepcionistas dos hotéis as chamam pelos nomes, conhecem seus parentes que também já estiveram aqui a fazer compras e fazem de tudo para agradar. Os taxistas as esperam muito tempo na porta sem reclamar enquanto as angolanas se arrumam para sair. Os lojistas mandam seus vendedores buscarem as clientes na porta dos hotéis e lhes oferecem descontos a que brasileiros não têm direito. A dona de um hotel faz questão de hospedar suas melhores clientes na sua própria casa. O africano, que no passado veio ao Brasil na condição de escravo e historicamente sempre ocupou a incômoda condição de inferior e assistido, hoje é visto com outros olhos. Ele recebe toda a atenção.

Essa mudança começa por uma motivação econômica, mas tem resultados muito mais abrangentes. "Diferentemente do negro brasileiro, a angolana chega aqui sem conhecer seu passado como escrava, sem nunca ouvir que tem cabelo ruim, sem saber que está num país em que existe a idéia de ser feio por ser negro", afirma Abdu Ferraz, fundador da organização Liga dos Amigos e Estudantes Africanos (LAEA), que tem por objetivo assegurar a inclusão do negro na sociedade brasileira. "Ela não tem vergonha de ser negra, não precisa olhar para baixo ou arquear os ombros. Isso gera um impacto grande em quem lhe recebe", completa. "O brasileiro não está acostumado a enxergar o africano em condições iguais ou até superiores a ele. A presença das angolanas em São Paulo está começando a mudar esse cenário."

Do outro lado do oceano, as mudanças perpetuadas pela presença das sacoleiras no Brasil estão sendo igualmente profundas. Essas mulheres estão tendo contato constante com uma realidade completamente nova. Acostumadas ao comércio nas ruas, elas começam ver uma nova forma de organização econômica. Vivendo em um país que tem o mesmo presidente há 26 anos, elas entram em contato com debates políticos na televisão. Até pouco tempo atrás dependentes financeiramente de seus maridos, elas começam e ter seu próprio sustento e, com isso, podem atender melhor às suas próprias vontades. "O contato constante como Brasil faz com que elas, aos poucos, deixem de vender nas ruas e comecem a vender em suas casas. Depois, passarão a comprar manequins e montar pequenas vitrines e, um dia, montarão lojas. É um processo de aprendizado", opina Ferraz.

Algumas sacoleiras, apesar de terem um certo poder econômico para virem ao Brasil várias vezes por ano, não têm acesso a infra-estrutura básica. "A pobreza é muito relativa. Elas movimentam um dinheiro que permite comprar um chuveiro ou um gerador, mas elas não têm esses aparelhos em suas casas. E, quando vem ao Brasil, não levam, porque não têm essa lógica, essa cultura", afirma Ferraz. Mas, aos poucos, elas vão incorporando novos hábitos. "Quando elas vêm e ficam num quarto com chuveiro e ar condicionado, algum tempo depois ela também vai querer ter isso lá. E o vizinho dela vai ver o chuveiro e também vai desejar ter um chuveiro também. E, assim, devagar, a mudança vai se perpetuando", completa.

Para facilitar o contato entre as duas partes - as sacoleiras e as lojistas - há entre elas uma figura importante, cuja função é fazer o meio de campo: os guias. Eles geralmente também são estudantes angolanos que moram no Brasil e conhecem melhor os hábitos daqui. Os guias estão sempre atentos às novidades. Eles se encarregam de acertar a entrega das mercadorias no hotel, conhecem as lojas em que as suas conterrâneas preferem comprar e sabe negociar com os vendedores. "Mesmo as que vêm sempre ao Brasil gostam de pegar um guia porque estão num país estranho", diz o estudante de administração angolano Roni, de 26 anos, que está no Brasil há seis anos. "Atualmente, o que está mais vendendo é cabelo, que é usado para fazer penteados", Apesar de contar com auxílio financeiro da família, ele precisa encontrar maneiras de engordar o orçamento e o trabalho de guia é uma saída para isso.

Aqui no Brasil, Roni fez amizades com muitos libaneses e acabou se convertendo ao islamismo. A religião o ajuda a driblar a falta que seu país lhe faz. Seus olhos ensaiam ficar marejados quando ele fala da saudade da família, mas ele sabe que é melhor ficar até terminar a faculdade. Seu sonho é montar uma academia de ginástica em Angola, nos moldes das unidades das grandes redes brasileiras. "Estou tentando arrumar um sócio. Agora é a hora certa para investir. Com o fim da guerra, o país está crescendo demais", diz.

Com o fim da guerra civil, Angola voltou a receber investimentos estrangeiros, inclusive brasileiros, impulsionando sua economia
Roni está coberto de razão. Há quatro anos vivendo em paz, Angola voltou a receber altos investimentos estrangeiros e sua economia está se reaquecendo rapidamente. Luanda hoje se parece um canteiro de obras, de tantos empreendimentos que estão sendo erguidos. Um dos maiores está sendo feito pela a construtora brasileira Odebrecht - ainda em 2007, ela vai inaugurar o primeiro shopping center do país.

Angola oferece ótimas oportunidades de negócio e aqueles que souberem explorá-las agora serão beneficiados. São pessoas com uma mente mais empreendedora, como Roni, que ajudarão a promover uma profunda transformação no país. "A classe média angolana é formada por meninos que estudaram no exterior, tem graduação e mestrado e que estão hoje na faixa de 40 anos de idade. Eles têm acesso ao orçamento do estado, a linhas de financiamento e estão começando a instalar as primeiras fábricas angolanas próprias", analisa Ferraz. Depois que esse processo já estiver mais consolidado, ele provavelmente irá ameaçar uma atividade que, há séculos, se perpetua na África: o trabalho das sacoleiras.

Clique abaixo para ler outras partes da reportagem:

Parte I - A saga de mulheres africanas que cruzam o oceano para comprar roupas no Brasil
Parte II - Das novelas brasileiras aos mercados populares da África

* Esta reportagem foi publicada em parceria com a revista Problemas Brasileiros
Reporter Brasil
http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=981

Saturday, April 14, 2007

Índios fazem protesto contra transposição do São Francisco

Representantes de 41 tribos param tráfego em Paulo Afonso




A rejeição do projeto de transposição do Rio São Francisco se juntará à tradicional revindicação pela terra no acampamento indigenista Terra Livre, entre os próximos dias 16 a 19. A posição dos índios das 41 tribos que habitam a Bacia do Velho Chico foi reafirmada publicamente ontem, numa manifestação em Paulo Afonso que reuniu cerca de 300 índios. Na próxima semana, protestos serão realizados por toda a Bahia no chamado Abril Vermelho, promovido pelo MST.

De acordo com Roberto Saraíva, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os índios são contrários à transposição – um projeto do Ministério da Integração Nacional – porque a obra vai gerar danos ambientais, sociais e culturais aos indígenas, como a inundação de terras trukás em Pernambuco. Há um entendimento nas etnias da bacia que o projeto prejudica as demarcações de terra em andamento.

“É um momento crucial. Enquanto o governo insiste com a truculência de fazer a transposição, as etnias se únem contra o projeto”, avaliou Alzeni Thomaz, da Comissão Pastoral dos Pescadores (CPP). Participante da manifestação em Paulo Afonso, ela disse que o ato foi pacífico, ao contrário do que aconteceu no final de fevereiro, em Jauzeiro, quando parte dos manifestantes tiveram que seguir a pé por cerca de cinco quilômetros.

“Estava acontecendo uma troca de comando”, brinca Alzeni Thomaz. “Não queríamos mesmo conflitos. Quando a polícia apareceu, fomos embora”. Vindos do Terra Toré – ato indígena preparatório para grandes manifestações – os 300 índios ocuparam uma ponte em Paulo Afonso. Após a mobilização na Bahia, a comitiva de seis ônibus seguiu viagem para o Distrito Federal. O Terra Toré foi sediado em Carnaúba da Penha (PE), nas terras dos pankararés.

Paulo Afonso (BA) foi escolhida para a manifestação por causa do complexo de quatro hidrelétrica da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) instalado na cidade. Além de contrários à transposição, os povos indígenas não aceitam negociar compensações com o governo federal e desconfiam das recentes investidas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na região. Segundo Roberto Saraiva, como os canais do projeto atravessam tribos, os índios atingidos ou serão removidos ou terão que abrir mão de parte dos seus territórios. Na última quarta-feira, representantes do Ibama procuraram as lideranças dos pipipãs e foram levados a Carnaubeira da Penha para dar maiores explicações.

“A transposição tem projetos paralelos, como duas hidrelétricas, que também vão trazer impactos, principalmente aos trukás e aos tumbalalás, na Bahia”, disse o representante da Cimi, que confirmou a disposição dos índios de aderir a protestos que o conjunto de entidades e movimentos antitransposição pretendem fazer nos canteiros, caso as obras sejam iniciadas.

Fonte, Poder, Correio da Bahia, 14.04.2007
http://www.correiodabahia.com.br/poder/
noticia_impressao.asp?codigo=126271

Monday, April 09, 2007

Brasil dominou tráfico de escravos no mundo


Imagem publicada no Harper's Weekly em 2/6/1860 mostra o navio Wildfire, capturado enquanto ia para Cuba. Cortesia da New York Public Library.
Jornal de 1860 ilustra navio capturado quando ia para Cuba (Imagem New York Public Library)
O mais completo banco de dados já organizado sobre o tráfico de escravos no mundo confirma que o Brasil e os portugueses tiveram um papel central no comércio negreiro durante séculos.

Organizado por historiadores da Universidade de Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, e de Hull, na Inglaterra, o banco de dados reúne quase 35 mil viagens de navios negreiros realizadas entre 1501, quando há registro da primeira leva de escravos, e 1867, quando o tráfico foi abolido.

O site, a que a BBC Brasil teve acesso, será lançado junto com um volume de ensaios cuja previsão é chegar às livrarias em janeiro de 2008.

O banco de dados é uma volumosa atualização de um CD-Rom lançado em 1999 por Richardson e o historiador David Eltis, de Emory, que continha informações sobre 27 mil viagens de navios negreiros.

Hegemonia

Para pesquisadores brasileiros, a nova edição online é ainda mais importante porque o grosso das informações adicionadas no banco trata de expedições à América Latina, em especial ao Brasil.

Mais de 5,2 mil jornadas de navios brasileiros e portugueses foram mapeadas pela primeira vez. Levando em conta todas as nacionalidades, quase 20 mil viagens que já estavam incluídas na primeira edição ganharam novos dados.

Eltis e Richardson sublinham que os novos dados mostram uma hegemonia de portugueses e brasileiros no comércio de escravos "bem maior do que pensávamos há cinco anos".

Embarcações brasileiras e portuguesas carregaram quase 5,8 milhões de escravos, cerca de 95% deles para o Brasil. Navios britânicos, que o senso comum julga serem os mais ativos no comércio negreiro, levaram cerca de 3,1 milhões.

"Os ingleses, na verdade, não foram os maiores mercadores de escravos, como muitos supõem. Agora, parece que a dominância britânica do tráfico de escravos se resumiu a apenas oito de treze décadas entre 1681 e 1807, entre dois longos períodos de hegemonia brasileira e portuguesa em que a participação britânica foi trivial", escrevem os pesquisadores.

'Chutômetro'

Os novos dados conferem nova dimensão a fatos já conhecidos de historiadores brasileiros, como o de que o comércio de escravos era dominado por agentes baseados no Brasil e não em Portugal – ou seja, na colônia, e não na metrópole.

Estudos conduzidos pelo historiador da UFRJ Manolo Florentino mostraram que três quartos dos mercadores que controlavam o tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro entre 1790 e 1830 eram sediados no Brasil.

Outra informação que o banco de dados contesta é a de que um contingente igual ao dos mais de 10 milhões de escravos que chegaram às Américas morreu na travessia.

O mapeamento indica que 12,5 milhões deixaram a costa africana durante o período da escravatura, ou seja, o número de mortos ficaria em torno de 2,5 milhões.

"Estas estimativas foram feitas em uma época em que se trabalhava com o 'chutômetro'", diz Florentino. "O trabalho de Eltis e Richardson tem o mérito de criar uma padronização, e de aproximar da realidade as estatísticas."

Mar de informação

Usuários poderão examinar de onde saiu e onde chegou cada uma das embarcações, a duração da viagem, quantos escravos foram comprados e vendidos (e a que preço), a nacionalidade do navio e até o nome do capitão.

Na introdução da obra, a ser publicada pela imprensa da Universidade de Yale, os organizadores esperam oferecer subsídios para o que chamam "uma nova era de estudos sobre o comércio escravagista".

Os artigos, assinados inclusive por pesquisadores brasileiros, como o historiador Manolo Florentino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, oferecerão uma primeira interpretação da mais completa base de dados sobre o tráfico negreiro disponível no mundo.

O professor David Richardson, da Universidade de Hull, explica que a idéia por trás do banco de dados é prover informações para que pesquisadores se debrucem sobre aspectos menos conhecidos do tráfico negreiro.

"Existe uma mudança em relação à pesquisa sobre o tráfico negreiro. Já temos o quadro geral de como a atividade funcionava, agora precisamos desconstruir essas viagens e analisar o que realmente acontecia nos navios", diz Richardson.

"O estudo do dia-a-dia do tráfico negreiro é que vai trazer seres humanos para dentro da História, fazer com que os escravos deixem de ser apenas números."
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No ápice do tráfico, Brasil recebeu 775 mil crianças escravas

Imagem publicada no Illustrated London News em 20 de junho de 1857 - Cortesia da New York Public Library
Crianças escravas aparecem em imagem de 1857 (Cortesia New York Public Library)
Pelo menos 775 mil crianças africanas foram escravizadas e levadas para o Brasil nos primeiros cinqüenta anos do século 19, em um período em que o tráfico negreiro atingiu o ápice de sua sofisticação, indicam dados cruzados a partir de novas informações sobre a era da escravidão.

Crianças foram ganhando a preferência dos traficantes porque, entre outros aspectos, eram mais "maleáveis" que adultos, indicam novas pesquisas publicadas duzentos anos após a lei britânica que proibiu o comércio de escravos.

No fim da era escravagista, um em cada três africanos escravizados era criança, nas estimativas do historiador David Eltis, da Universidade de Emory, em Atlanta, um dos maiores especialistas mundiais no tema.

Segundo Eltis, cerca de 12,5 milhões de escravos deixaram a costa da África entre 1500 e 1867, quando se tem registro do último carregamento. Em torno de 10 milhões chegaram aos seus destinos nas Américas.

Nos cálculos do pesquisador, dos 5,5 milhões de pessoas que tinham como destino o Brasil, apenas 4,9 milhões desembarcaram em portos brasileiros.

'Maleáveis'

Os dados de Eltis indicam que quase 2,3 milhões de escravos foram enviados ao Brasil entre 1800 e 1850 – destes, ele acredita que 775 mil eram crianças.

A alta proporção de menores de 15 anos entre os escravos já era conhecida dos pesquisadores – há estimativas que a colocam em até metade do total –, mas novos dados oferecem novas explicações para este fato.

Um estudo de caso publicado na última edição do Journal of Economic History pelos pesquisadores David Richardson, da Universidade britânica de Hull, e Simon Hogerzeil, do Centro Psicomédico Parnassia holandês, mostrou que crianças reagiam melhor à travessia que os adultos.

Richardson disse à BBC Brasil que, além disso, "no fim da era escrava havia uma percepção geral, por parte dos mercadores, de que as crianças eram mais maleáveis que os adultos, que poderiam ser treinadas em habilidades específicas".

Analisando 49 viagens de navios negreiros holandeses entre 1751 e 1797, os pesquisadores observaram que crianças eram compradas antes, porque reagiam melhor à experiência traumática.

Comparada à de um adulto, sua taxa de mortalidade era a metade, calcularam os pesquisadores.

Rugendas retratou o sofrimento dos negros em Nègres à Fond de Cale - Cortesia da New York Public Library
No fim da era escrava havia uma percepção geral, por parte dos mercadores, de que as crianças eram mais maleáveis que os adultos, que poderiam ser treinadas em habilidades específicas.
David Richardson, historiador

Assim, uma criança tinha mais chance que um adulto de passar longos períodos – até um ano, no caso estudado – dentro de um navio negreiro, entre todas as fases do tráfico.

Antes que o navio zarpasse para a viagem transatlântica propriamente dita, uma criança passava em média quatro meses dentro da embarcação – um prazo mais de 40 dias superior ao passado por homens.

"Em outras palavras, as estratégias de compra dos mercadores expunham crianças a riscos por mais longos períodos de tempo que os adultos", disse Richardson.

Em uma viagem típica, os navios da Middelburgsche Commercie Compagnie, que operava no oeste africano, zarpariam com 253 escravos, perderiam 33 ao longo do trajeto e venderiam 220 nas Américas.

Sobrevivência

As observações dos pesquisadores não eliminam a validade de explicações levantadas anteriormente, que atribuíam a forte escravização de crianças à escassez de adultos em determinadas áreas da África.

Outra razão, levantada em entrevista à BBC Brasil pelo historiador Manolo Florentino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destaca que senhores brasileiros podem ter sentido necessidade de "importar" mais mulheres e crianças para garantir mão-de-obra futura caso o tráfico negreiro fosse proibido.

Richardson e Hogerzeil destacaram, no entanto, que as condições de aprisionamento dos homens adultos podem estar relacionadas às taxas de mortalidade menores de crianças.

Os homens, comprados aos poucos durante a "fase de carregamento" do navio, entravam em grande quantidade no final da etapa, a menos de um mês ou até a menos de uma semana da partida, verificaram os pesquisadores.

"As condições dos escravos no momento da embarcação é criticamente importante para determinar por que eles sucumbiam mais durante a travessia", diz o estudo.

"Isto pode estar associado a pressões sobre os capitães para levar homens adultos para satisfazer as expectativas dos compradores, o que os encorajava a ser menos rigorosos na seleção."

"Os homens também eram tipicamente vistos como instigadores de rebeliões dentro dos navios, e sofriam mais fatalidades durante esses incidentes."

"Além disso", justificam os pesquisadores, "os homens eram normalmente encarcerados em celas separadas de mulheres e crianças, e normalmente ficavam presos por ferros, sobretudo quando o navio ainda estava próximo da África".

* Colaborou Sílvia Salek, de Londres.



BBCBrasil.com, 09.04.2004
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/
2007/04/070405_escravos_database_pu.shtml

Saturday, April 07, 2007

Entidades repudiam atentado e apóiam UnB


05/ 04/ 2007 - casa do estudante
Assessoria de Comunicacao - Universidade de Brasília


Entidades repudiam atentado e apóiam UnB

OAB, CNBB, Unesco, parlamentares e governo se solidarizam com universidade e condenam incêndio criminoso contra estrangeiros

DA REDAÇÃO
Da UnB Agência

O fogo criminoso ateado nas portas dos quartos de estudantes africanos da Universidade de Brasília (UnB), no último dia 28, despertou perplexidade na sociedade brasileira. Instituições, entidades e pessoas historicamente ligadas às questões de direitos humanos repudiam o crime, esperam o resultado das investigações policiais e elogiam as ações tomadas pela UnB, como a proteção aos alunos estrangeiros, a abertura de sindicância interna, a criação de um programa para discutir o racismo e a xenofobia e o acionamento imediato das polícias Civil e Federal.

Confira abaixo opiniões de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco); o Itamaraty, além de deputados e senadores.
Divulgação

“O atentado, por sua barbárie que é um crime de preconceito, tem de ser repelido. O Brasil não pode aceitar passivamente a violência racial ou a perpetuação do sistema de discriminação que afasta os negros dos bens sociais. O atentado é a prova cabal de que o Brasil ainda tem preconceito, racismo, e, portanto, merece ações positivas de combate e ações afirmativas no que se refere à inclusão racial. A UnB agiu corretamente quando entendeu o caráter racista do episódio, com medidas punitivas, procurando descobrir os agentes, mas não desprezando a questão daqueles cidadãos vítimas da barbárie. Esse é um episódio que não deve se repetir na história do país”.
Cezar Britto
Presidente Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
Daiane Souza/UnB Agência

“A Unesco lamenta o episódio ocorrido na UnB, no dia 28 de março de 2007, no qual estudantes negros africanos tiveram incendiadas as portas de suas moradias. O fato é profundamente preocupante e indica a urgência de uma educação voltada para o respeito à diversidade e à compreensão mútua das diferentes culturas. Sob esse aspecto, a universidade não pode abrir mão de uma de suas mais elevadas missões, que é a de formar mentes verdadeiramente democráticas e éticas, consolidando-se como um espaço privilegiado de não-violência e de construção de uma cultura de paz. Nessa linha de pensamento, a Unesco tem procurado convergir, em escala mundial, o melhor de seus esforços no sentido de construir sociedades onde atos dessa natureza não mais se repitam”
Vincent Defourny
Representante Interino da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil
Cláudio Reis/UnB Agência

“Não tenho dúvida de que os acontecimentos na UnB, no dia 28 de março, que vitimaram estudantes africanos, constituem um ato de racismo e de xenofobia. Se pudéssemos, utilizaríamos a expressão ‘dupla rejeição da pessoa humana’, pois foi uma prática contra a etnia negra e contra estrangeiros. Louvo a atitude do reitor da UnB, que adotou de imediato as medidas cabíveis junto a Polícia Federal, Polícia Civil, Ministério Público da União, Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Ressalto que do episódio podemos extrair várias lições, como a necessidade e precisão da política de cotas para negros não só na UnB, mas em todas as universidades federais do país. Também destaco as medidas já adotadas pelo Decanato de Extensão (DEX) da UnB, por intermédio da decana Leila Chalub, que são no sentido de valorizar e difundir ainda mais a cultura afro-brasileira e aumentar os espaços de pesquisa e ensino sobre o estudo da realidade africana e cultura afro-brasileira”.
Carlos Moura
Secretário Executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Cláudio Reis/UnB Agência

“O que foi cometido por esses jovens tem o repúdio de todo o povo brasileiro. Queria que as vítimas aceitassem as desculpas do Senado Federal. Se um dia eu tiver que morrer por uma causa, que seja a causa do racismo. Vamos acompanhar o caso e esperamos punição exemplar para quem cometeu esse ato de racismo. O que aconteceu e as tentativas de tratarem o caso como um crime comum e não de racismo e xenofobia nos envergonha e nos mostra que, a cada dia, devemos ter mais e mais forças para lutar pela igualdade e o fim dos preconceitos”.
Paulo Paim
Senador pelo PT (RS)
Cláudio Reis/UnB Agência

“Esse país ainda não conseguiu superar 400 anos de escravidão. Não é de hoje que as cotas tomam tanto tempo na mídia, que age para desqualificar a tentativa de eliminar o racismo e integrar o negro de maneira plena. Sei o significado de ser diferente na elite. A presença dos africanos na UnB é uma forma de mostrar a gratidão depois da ‘importação’ de quase cinco milhões de pessoas daquele continente para serem tratadas como animais por quase 400 anos. Eu me solidarizo com os estudantes africanos, mas também com a UnB. É na UnB onde temos o melhor programa de cotas do Brasil e por isso ela foi muito criticada”
Zulu Araújo
Presidente da Fundação Cultural Palmares
Divulgação

“O que aconteceu foi um crime que precisa ser apurado. Não há como deixar de reconhecer que há racismo e xenofobia por trás desse crime inaceitável. Deve doer para uma pessoa se deparar com racismo em outro país. Quero pedir desculpas em nome do povo brasileiro. A humanidade deve desculpas à África por toda a discriminação. Temos uma reparação a fazer. Eu vejo no Brasil uma cadeia sinistra de falta de educação, desemprego por desqualificação e violência como resultado. Cabe parabenizar a UnB pela inclusão dos estudantes africanos a e expansão das disciplinas Pensamento Negro e História da África”.
César Borges
Senador pelo DEM-BA
Daiane Souza/UnB Agência

“Com a gravidade do fato, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) da Presidência da República instaurou procedimento administrativo para acompanhar o caso e encaminhou ao Ministério Público da União as providências necessárias. Vemos com apreensão a possibilidade de problemas de xenofobia e racismo no ambiente universitário. Entendemos que até o presente momento a postura da UnB vai ao encontro de seu pioneirismo na adoção de projetos de igualdade racial, com a abertura de investigação acadêmica, criação do Dia da Igualdade Racial para marcar o fato e consolidação de uma comissão de combate ao racismo na instituição. O posicionamento firme da universidade e alerta da comunidade nos colocam tranqüilos ao papel que cabe a instituição nesse momento”.
Luiz Fernando Martins da Silva
Ouvidor da Seppir
Cláudio Reis/UnB Agência

“Em que pese estarmos tratando de um fato lamentável, de uma luta que por vezes parece não acabar mais, há um lado positivo. De uma forma ou de outra, o fato mobilizou a opinião pública brasileira. No Brasil, a renda dos pobres é de R$ 900,00. Dos negros, R$ 400,00. Não podemos deixar esse assunto de lado. Não podemos deixar que aconteça um apagão ético”.
Geraldo Mesquita Júnior
Senador pelo PMDB-AC

“O Governo brasileiro tomou conhecimento, com indignação, dos atos perpetrados contra alojamentos de estudantes da Guiné Bissau na Universidade de Brasília. O Governo brasileiro acompanha com atenção a apuração do incidente, já iniciada pela Universidade de Brasília e pelas Polícias Civil e Federal. O Governo brasileiro reitera seu repúdio a quaisquer atos de violência, que não se coadunam com o espírito aberto, tolerante e acolhedor do povo brasileiro”
Nota oficial do Ministério das Relações Exteriores
Cláudio Reis/UnB Agência

“O reitor da UnB veio ao Senado para mostrar a posição da universidade na apuração da questão. Quero dizer que estamos juntos para pedir desculpas. É inacreditável que ainda exista racismo no Brasil. Todos que já sofreram violências sabem que isso leva muito tempo para esquecer. É absurdo um fato como esse acontecer em uma universidade pioneira na implementação do sistema de cotas para negros. Lembro que foi instituído na UnB o dia de combate ao racismo e elogio a iniciativa”
Janete Rocha
Deputada pelo PT-SP
Cláudio Reis/UnB Agência

“Quero reiterar toda a solidariedade prestada aos estudantes. Fomos à UnB e estamos acompanhando o caso. A ação e a resposta da universidade foram rápidas e queremos que os responsáveis sejam punidos. Quanto mais penso no fato, mais fico chocado. O Timothy Mulholland (reitor da UnB) é nosso aliado na implantação de cotas e o país inteiro nos criticou. Tive a oportunidade de ir à Universidade Federal de São Carlos e os africanos de lá também estão preocupados com a situação”
Ivair dos Santos
Assessor da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República



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Coletâneas
Luta contra o racismo


Todos os textos e fotos podem ser utilizados e reproduzidos desde que a fonte seja citada. Textos: UnB Agência. Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência.
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