Tuesday, December 05, 2006

Brasil resiste à integração racial, diz ministra

Terça, 5 de dezembro de 2006, 20h58 Atualizada às 22h00

A enorme população negra do Brasil está encurralada na pobreza por um apartheid não-escrito, e a sociedade resiste a medidas que promovam a igualdade racial, disse na terça-feira a ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro.

Para ela, o mito de que o Brasil é um "paraíso racial" na verdade prejudica a integração, porque muita gente acha que o racismo não é uma questão importante. "Nós fomos educados a crer que vivemos num paraíso racial, e que as desigualdades não são raciais, elas são sociais, são econômicas", afirmou Ribeiro à Reuters.

Na opinião dela, embora a discriminação não seja nem violenta nem institucionalizada, o resultado é simplesmente devastador para os negros. "Existe um apartheid não legitimado por lei", disse ela, citando casos de discriminação e baixa renda entre os negros, que formam quase metade dos 185 milhões de brasileiros.

Logo depois de tomar posse, em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou o primeiro ministro negro do Supremo Tribunal Federal, ordenou a inclusão da história e da cultura africanas no currículo escolar e criou a pasta de Ribeiro. Além disso, seu governo começou a conceder direitos de posse às comunidades quilombolas.

Mas desde então, segundo críticos, muitas iniciativas do governo, inclusive de ação afirmativa, perderam fôlego. "Lula ampliou a consciência racial e é bem-intencionado, mas muitas medidas são simbólicas e continuam no papel", disse Edson Cardoso, editor da Irohin, revista voltada para questões dos negros.

Ribeiro acusa a elite econômica, a mídia, os políticos e os acadêmicos de bloquearem medidas como o sistema de cotas raciais. "Um dos condutos da reação contrária é não querer dividir o bolo, não querer dividir a riqueza do país. A verdade é que estamos indo contra a lógica da visão elitista da política brasileira."

A lei que prevê cotas raciais em universidades, na mídia e no mercado de trabalho está parada há quase dez anos no Congresso. Ribeiro disse que Lula tem várias outras prioridades no Congresso antes de tentar reverter a oposição de vários aliados do governo, entre os quais o presidente da Câmara, Aldo Rebelo.

Ela queixou-se do fato de a imprensa ter chamado as medidas de promoção racial de "demagógicas e inconstitucionais", e de as redes de TV não mostrarem negros, segundo ela, por razões econômicas.

"O meio de comunicação é um reflexo do que pensa a sociedade. Nós fomos educados a acreditar que o belo é o branco. A feiúra não é para ser mostrada. Na concepção tradicional dos meios de comunicação e do comércio, negro não vende, negro não dá ibope."

Na sede do seu ministério, cartazes de Bob Marley e citações de Martin Luther King enfeitam os corredores. Duas fotos em frente ao seu gabinete mostram imagens quase idênticas de mulheres negras carregando latas d''água na cabeça: uma em Moçambique, outra no Ceará.

Em resposta às críticas de que a ação afirmativa poderia provocar o ódio racial ao invés da integração, ela disse que "ninguém abre mão de direitos voluntariamente, precisamos de leis".

Se for mantida no cargo no segundo mandato de Lula, ela pretende se voltar para a criação de oportunidades de empregos para os negros que estão se formando graças a bolsas concedidas pelo governo Lula. "Precisamos de mais acesso à educação, precisamos permitir a mobilidade social."

Reuters
fonte: http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1285681-EI306,00.html

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