Jony Torres
Cerca de cem pessoas participaram, ontem à noite, de uma manifestação na Praça Municipal para cobrar esclarecimentos sobre a morte de Clodoaldo da Silva Souza, 22 anos, morto a tiros na madrugada do dia 1º de março, na Estrada Velha do Aeroporto (EVA). Amigos e integrantes do Coletivo de Entidades Negras (CEN) foram veementes na contestação das informações passadas à imprensa de que ele seria usuário de drogas e estaria devendo a traficantes, supostos autores do homícidio. Na ação que deixou ainda dois feridos, teriam participado oito homens em dois carros sem placa.
Com cartazes e propagando sua revolta através de um carro de som, alugado com a contribuição dos amigos, os manifestantes denunciaram o que classificam de “extermínio indiscriminado de negros pobres”. O Negro Bull, como Clodoaldo era conhecido, participava do grupo de rap Etnia e muitos companheiros do movimento utilizaram o microfone para reclamar do pouco caso da sociedade e o desinteresse da polícia para investigar o caso. “É muito fácil dizer que foi troca de tiros, briga de gangues ou dívida de drogas. É a forma deles dizerem que a vida de um preto, pobre da periferia não vale nada”, afirmou o companheiro de rap, MC Jhô.
Além de Bull, o adolescente Cléber de Araújo Alves levou dois tiros e ainda permanece internado no Hospital Geral do Estado (HGE). Por enquanto, a 10ª Delegacia de Polícia Civil, onde o crime segue sendo investigado, não tem pistas sobre os assassinos. O envolvimento dele com o tráfico ou consumo de drogas foi negado pelas pessoas que o conheciam e participaram do protesto. “Não é comum e não pode ser o cotidiano um jovem preto e pobre amanhecer morto todos os dias”, afirmou Elton Freitas, rapper do grupo Ordem 387, conhecido como BW.
Testemunhas disseram que Clodoaldo, Cléber e um adolescente voltavam para casa quando surgiram dois veículos sem placa e de dentro dos carros um homem gritou: “Ninguém corre. Está todo o mundo devendo”. Clodoaldo foi o único que não correu e ainda suplicou de joelhos para não ser morto. A cabeleireira Negra Jhô, mãe de um dos integrantes do Etnia, conhecia de perto o comportamento do jovem e não acredita que ele estivesse envolvido com atividades ilícitas. “Ele era muito educado, um ótimo rapaz e nunca demonstrou qualquer indício de que estivesse envolvido com drogas”, revelou Jhô.
Duas irmãs de Clodoaldo moram na Alemanha. Dos familiares que vivem em Salvador, nenhum participou da manifestação temendo represárias dos assassinos. Era justamente para se mudar para a Europa e ir morar com as irmãs mais velhas que ele estaria realizando alguns bicos com o irmão. “Aqui negro na periferia com estilo é traficante. Temos que acabar com isso”, afirmou Negra Jhô, responsável pelos penteados afros de muitos turistas e centenas de moradores do Centro Histórico.
Aqui Salvador, Correio da Bahia, 06.03.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/
noticia_impressao.asp?codigo=123707
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment