ATENTADO NA UNB Medo de nova agressão Africanos que tiveram quartos incendiados são levados para local não revelado, mas continuam com sensação de insegurança Luciene Cruz As chamas do fogo se apagaram, mas as marcas da crueldade humana ainda não foram esquecidas pelos 14 estudantes africanos que foram vítimas de atentado e tiveram as portas de seus quartos incendiadas, na madrugada de quarta-feira, na Casa do Estudante Universitário (CEU). Apesar de terem sido transferidos pela própria Universidade de Brasília (UnB) para um hotel da cidade, o temor de que algo mais grave venha a acontecer predomina nos pensamentos de todos. O local para onde foram levados não é divulgado por questão de segurança. Os estudantes temem ser vítimas de novos atentados. A reportagem do Jornal de Brasília teve acesso exclusividade ao local. Dos 20 estudantes africanos residentes na CEU, apenas 17 foram transferidos. Os outros três optaram por permanecer no mesmo local, até que a UnB disponibilize um lugar definitivo para transferência. Esses que ficaram dividem quartos com universitários brasileiros e não tiveram as portas dos dormitórios incendiadas. A equipe do JBr conversou com a senegalesa Wolette Tharam, 27 anos, que estuda Arquitetura. A aluna não compareceu à aula por se sentir intimidada com o ocorrido. "Estou muito assustada para assistir aula. Não estamos tranqüilos. Os suspeitos estão lá do mesmo jeito, podem nos atacar a qualquer momento. E se eles fizerem alguma coisa pior?", questionou. Apesar da sensação de insegurança, os demais estudantes optaram por não abandonar a rotina de estudos. Wolette Tharam mora na CEU há dois anos e meio. Depois do atentado, ela cogita a possibilidade de não terminar os estudos. "Nunca pensei ter que passar por um motivo como esse. Foi uma tentativa de assassinato", desabafou. "Minha mãe pediu que eu voltasse e eu prefiro ficar viva, mesmo que sem diploma. A cicatriz ninguém vai curar. Perdi o ânimo de estudar, estou com medo".
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"Nós sabemos quem fez isso" O estudante de Administração Quebá Carimo, 28 anos, da Guiné Bissau, retornou ao local do incêndio criminoso, na manhã de ontem. com sentimento de revolta. "Nós sabemos quem fez isso", garante ele. "Sempre sofremos ameaças desse grupo e agora eles mostraram que estão dispostos a cumprir o que falam. Nós estamos escondidos e eles estão livres". Na CEU, a rotina foi alterada. Dois seguranças se revezam por andar e um porteiro faz a identificação de quem sobe no prédio. A imprensa foi proibida de entrar nas dependências internas. Para outro estudante da Guiné Bissau, Samory Guilherme Gomes, 26 anos, o ato foi puro preconceito. "Racismo, sim. Só os quartos dos africanos foram incendiados. Foi vandalismo também, pois danificaram um prédio público federal ", enfatizou. Samory está dividido entre o sentimento de medo e o de derrota. "Ao mesmo tempo em que me sinto intimidado de continuar aqui, se saírmos eles vão se sentir vitoriosos. A nossa transferência daqui foi tudo que eles sempre quiseram. Não acho que o certo seja nos mudarmos daqui, mas sim que ofereçam segurança para estudarmos", acrescentou. Ontem, a Polícia Federal convocou alunos, funcionários e seguranças da UnB para depor. O órgão tem até 30 dias para concluir o inquérito. As vítimas forneceram os nomes de oito estudantes brasileiros à PF, apontados como os possíveis autores do crime. A UnB também criou uma Comissão Disciplinar formada para apurar o desvio de conduta por parte de alguns alunos. Mas nenhuma medida punitiva será adotada antes da conclusão das investigações da Polícia Federal. "Não trabalhamos com suspeitos, precisamos de provas", definiu o vice-reitor Edgar Mamya. A 2ª DP (Asa Norte) também ajudará nas investigações, apurando duas ocorrências que foram registradas há cerca de um mês. "São pichações nas portas, com ameaças, e a queixa de um grupo que acusou os africanos de perturbação do sossego", esclareceu o delegado Antônio Romeiro. Disque-denúncia Na prática será criado um disque-denúncia contra práticas de racismo e xenofobia. A idéia é ter um canal em que as vítimas desse tipo de preconceito possam reverter o quadro e os autores sejam punidos. Outra medida é a adoção da disciplina História e Cultura Afro-Brasileira, dentro da pasta de Pedagogia, como matéria obrigatória para conclusão do curso. http://www.clicabrasilia.com.br/impresso/noticia.php?IdNoticia=290262 | ||
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Friday, March 30, 2007
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