A notícia a seguir foi publicada no jornal Diário de Cuiabá em 15/março, no endereço http://www.diariode MATA CAVALO Anterior | Índice | Próxima
Novas ordens de despejo dos quilombolas
Incra tenta negociar com fazendeiros na área, que conseguiram liminares para reintegração de posse, para evitar conflito. PF cumprirá retirada
KEKA WERNECKApesar do Incra reconhecer a área como de remanescentes de escravos, luta histórica ainda é desfavorável ao grupo
Da Reportagem
A iminência do cumprimento de duas liminares que dão reintegração de posse a fazendeiros e posseiros do quilombo Mata Cavalo e contra os afro-descendentes levou uma equipe do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) terça-feira até a área onde há risco de conflito.
Na última sexta-feira, um oficial de justiça começou a notificar as famílias, avisando-as do possível despejo.
O superintendente do Incra, Leonel Wolfahrt, afirma ter tentado negociar com dois dos nove autores das ações, diz ter oferecido indenizações, fala que pediu que retirassem as ações.
O despejo, que deve ser cumprido pela Polícia Federal, vai mexer com a vida de cerca de mais 100 famílias. Algumas, aproximadamente 50, já saíram em fevereiro. O ato resultou em uma prisão.
As liminares foram concedidas pelo juiz Jefferson Schneider, da 2ª vara da Justiça Federal em Mato Grosso.
O ouvidor substituto do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Marco Aurélio, que está no Estado para resolver um conflito em Marcelândia, a 712 quilômetros ao norte de Cuiabá, também foi acionado a intervir. Ele não quis falar com a imprensa.
Haveria ontem uma reunião emergencial entre o superintendente do Incra, o ouvidor e o delegado federal Washington Clark, que acabou não se realizando, conforme informado. O delegado disse que teria de sair para um compromisso.
A reportagem tentou falar com alguém da área, para saber sobre o clima. Mas os celulares disponíveis dos quilombolas não foram atendidos.
A disputa de terras em Mata Cavalo é questão histórica. A antropóloga do Incra, Renata Bostoletto Silva, explica que a área foi concedida em 1874 pelo dono de engenho Ricardo José Alves Bastos, antes da libertação oficial dos escravos (1888). A doação foi endossada, anos depois, pela esposa dele, dona Anna da Silva Tavares. Por quase um século, viveram ali os remanescentes “sem muita noção de propriedade, de capitalismo”, como explica a historiadora do Incra, Simone Gianotti. Por conta disso, principalmente na década de 70, com o advento do ouro no local, as invasões começaram e a expulsão intermitente das famílias, feita inclusive por métodos violentos. Muitos, no entanto, resistiram. Outros resolveram, na década de 80, voltar às origens, reaver o que é seu.
Conforme informações da procuradoria do Incra, a causa aparece em 20 ações em trâmite.
O governo Dante Oliveira reconheceu a propriedade dos negros e a Fundação Palmares expediu títulos que hoje não são reconhecidos pela Justiça. “Daí estão sendo dadas essas liminares de reintegração de posse”, explica Wolfahrt.
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