Friday, March 30, 2007

ATENTADO NA UNB
Medo de nova agressão

Africanos que tiveram quartos incendiados são levados para local não revelado, mas continuam com sensação de insegurança


Luciene Cruz


As chamas do fogo se apagaram, mas as marcas da crueldade humana ainda não foram esquecidas pelos 14 estudantes africanos que foram vítimas de atentado e tiveram as portas de seus quartos incendiadas, na madrugada de quarta-feira, na Casa do Estudante Universitário (CEU).

Apesar de terem sido transferidos pela própria Universidade de Brasília (UnB) para um hotel da cidade, o temor de que algo mais grave venha a acontecer predomina nos pensamentos de todos. O local para onde foram levados não é divulgado por questão de segurança. Os estudantes temem ser vítimas de novos atentados.

A reportagem do Jornal de Brasília teve acesso exclusividade ao local. Dos 20 estudantes africanos residentes na CEU, apenas 17 foram transferidos. Os outros três optaram por permanecer no mesmo local, até que a UnB disponibilize um lugar definitivo para transferência. Esses que ficaram dividem quartos com universitários brasileiros e não tiveram as portas dos dormitórios incendiadas.

A equipe do JBr conversou com a senegalesa Wolette Tharam, 27 anos, que estuda Arquitetura. A aluna não compareceu à aula por se sentir intimidada com o ocorrido.

"Estou muito assustada para assistir aula. Não estamos tranqüilos. Os suspeitos estão lá do mesmo jeito, podem nos atacar a qualquer momento. E se eles fizerem alguma coisa pior?", questionou. Apesar da sensação de insegurança, os demais estudantes optaram por não abandonar a rotina de estudos.

Wolette Tharam mora na CEU há dois anos e meio. Depois do atentado, ela cogita a possibilidade de não terminar os estudos. "Nunca pensei ter que passar por um motivo como esse. Foi uma tentativa de assassinato", desabafou. "Minha mãe pediu que eu voltasse e eu prefiro ficar viva, mesmo que sem diploma. A cicatriz ninguém vai curar. Perdi o ânimo de estudar, estou com medo".

"Os suspeitos estão lá do mesmo jeito, podem nos atacar a qualquer momento. E se eles fizerem alguma coisa pior?"

Wolette Tharam,
estudante senegalesa




"Nós sabemos quem fez isso"

O estudante de Administração Quebá Carimo, 28 anos, da Guiné Bissau, retornou ao local do incêndio criminoso, na manhã de ontem. com sentimento de revolta. "Nós sabemos quem fez isso", garante ele. "Sempre sofremos ameaças desse grupo e agora eles mostraram que estão dispostos a cumprir o que falam. Nós estamos escondidos e eles estão livres".

Na CEU, a rotina foi alterada. Dois seguranças se revezam por andar e um porteiro faz a identificação de quem sobe no prédio. A imprensa foi proibida de entrar nas dependências internas.

Para outro estudante da Guiné Bissau, Samory Guilherme Gomes, 26 anos, o ato foi puro preconceito. "Racismo, sim. Só os quartos dos africanos foram incendiados. Foi vandalismo também, pois danificaram um prédio público federal ", enfatizou.

Samory está dividido entre o sentimento de medo e o de derrota. "Ao mesmo tempo em que me sinto intimidado de continuar aqui, se saírmos eles vão se sentir vitoriosos. A nossa transferência daqui foi tudo que eles sempre quiseram. Não acho que o certo seja nos mudarmos daqui, mas sim que ofereçam segurança para estudarmos", acrescentou.
Inquérito

Ontem, a Polícia Federal convocou alunos, funcionários e seguranças da UnB para depor. O órgão tem até 30 dias para concluir o inquérito. As vítimas forneceram os nomes de oito estudantes brasileiros à PF, apontados como os possíveis autores do crime.

A UnB também criou uma Comissão Disciplinar formada para apurar o desvio de conduta por parte de alguns alunos. Mas nenhuma medida punitiva será adotada antes da conclusão das investigações da Polícia Federal. "Não trabalhamos com suspeitos, precisamos de provas", definiu o vice-reitor Edgar Mamya.

A 2ª DP (Asa Norte) também ajudará nas investigações, apurando duas ocorrências que foram registradas há cerca de um mês. "São pichações nas portas, com ameaças, e a queixa de um grupo que acusou os africanos de perturbação do sossego", esclareceu o delegado Antônio Romeiro.

Disque-denúncia
Na tentativa de evitar que mais atos criminosos dessa natureza ocorram, a reitoria anunciou o Programa Institucional de Combate ao Racismo e à Xenofobia na UnB.

Na prática será criado um disque-denúncia contra práticas de racismo e xenofobia. A idéia é ter um canal em que as vítimas desse tipo de preconceito possam reverter o quadro e os autores sejam punidos. Outra medida é a adoção da disciplina História e Cultura Afro-Brasileira, dentro da pasta de Pedagogia, como matéria obrigatória para conclusão do curso.

http://www.clicabrasilia.com.br/impresso/noticia.php?IdNoticia=290262

Jornal de Brasília
Publicado em: 30/03/2007

Racismo na UNB

Na madrugada de quarta-feira, dia 28.03.2007, neonazistas camuflados de estudantes universitários tentaram assassinar estudantes africanos em seus alojamentos na Universidade Nacional de Brasília. Há algum tempo esses estudantes africanos vinham sofrendo xingamentos e todo tipo de provocacao. As portas de seus apartamentos foram pintadas com cruzes vermelhas. Isso nao é um fato isolado, mas o resultado do racismo cínico que agora se torna evidente, num país que tenta esconder sua alta carga de intolerancia e xenofobismo contra negros, índios e pobres... O vídeo abaixo é a manifestacao que estudantes fizeram na Universaidade exigindo resultados da reitoria para tao grave ato, que desmacara para sempre a farsa da "democracia racial brasileira".


Tuesday, March 27, 2007

Não é racismo se insurgir contra branco, diz ministra

Não é racismo se insurgir contra branco, diz ministra

ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial
Para a ministra, desigualdade ainda vai demorar para acabar
A ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir), diz que considera natural a discriminação dos negros contra os brancos.

Em entrevista à BBC Brasil para lembrar os 200 anos da proibição do comércio de escravos pelo Império Britânico, tido como o ponto de partida para o fim da escravidão em todo o mundo, ela disse que "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco".

"A reação de um negro de não querer conviver com um branco, eu acho uma reação natural. Quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou”, afirmou.

Ribeiro disse que ainda vai demorar até que as políticas públicas implantadas nos últimos anos comecem a dar resultados concretos e diminuam a diferença econômica e social entre as populações branca e negra do país.

“Ainda temos muito o que fazer”, afirma, enumerando ações que já começaram, como na área de educação e saúde.

Ela diz que, embora a abolição da escravatura tenha chegado atrasada ao Brasil, hoje o país tem uma das legislações mais avançadas do mundo em relação a direitos iguais, mas ainda falta uma mudança de postura da sociedade.

BBC Brasil - De acordo com as estatísticas, a proporção de negros abaixo da linha da pobreza na população brasileira é de 50%, enquanto entre os brancos é de 25%. Quando isso vai começar a mudar?

Matilde Ribeiro - As ações neste momento ainda são na ordem da estruturação das políticas. Por exemplo, no Ministério da Saúde estamos incluindo o quesito cor nos formulários. Precisamos ter referência do que adoece e morre a população brasileira, para poder ter programas específicos.

BBC Brasil - A secretaria já tem quatro anos, o que se pode perceber de resultado prático neste período?

Matilde Ribeiro - Na educação, uma lei de 2003 obriga o ensino da história e cultura afro-brasileiras para as crianças, desde o início. O processo de implementação está em curso. É muito difícil ter números, resultados concretos. Mas já tem alguns resultados. Por exemplo, o (programa) Prouni, de bolsas de estudos para alunos carentes de escolas, já concedeu em menos de três anos mais de 200 mil bolsas no Brasil, dos quais 63 mil negros e 3 mil indígenas.

BBC Brasil - E em quanto tempo a senhora acha que poderemos ter uma situação de igualdade, onde as pessoas sejam julgadas pelo mérito, independentemente da raça?

No Brasil, o racismo não se dá por lei, como foi na África do Sul. Isso nos levou a uma mistura. Aparentemente todos podem usufruir de tudo, mas na prática há lugares onde os negros não vão. Há um debate se aqui a questão é racial ou social. Eu diria que é as duas coisas.
Matilde Ribeiro

Matilde Ribeiro - O Brasil tem 507 anos. Há quase 120 anos, em 1888, foi assinado um decreto como este que o presidente assinou dizendo que não havia mais escravidão no Brasil. Só que não houve uma seqüência. Hoje, o fato de os negros e os indígenas serem os mais pobres entre os pobres é resultado de um descaso histórico. Então fica muito difícil hoje afirmar quanto tempo.

BBC Brasil - Como o Brasil se coloca no contexto internacional? O Brasil gosta de pensar que não tem discriminação e gosta de se citar como exemplo de integração. É assim que a senhora vê a situação?

Matilde Ribeiro - É o seguinte: chegaram os europeus numa terra de índios, aí chegaram os africanos que não escolheram estar aqui, foram capturados e chegaram aqui como coisa. Os indígenas e os negros não eram os donos das armas, não eram os donos das leis, não eram os donos dos bens de consumo. A forma que eles encontraram para sobreviver não foi pelo conflito explícito. No Brasil, o racismo não se dá por lei, como foi na África do Sul. Isso nos levou a uma mistura. Aparentemente todos podem usufruir de tudo, mas na prática há lugares onde os negros não vão. Há um debate se aqui a questão é racial ou social. Eu diria que é as duas coisas.

BBC Brasil - E no Brasil tem racismo também de negro contra branco, como nos Estados Unidos?

Matilde Ribeiro - Eu acho natural que tenha. Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou.

BBC Brasil - Neste mês, a Grã-Bretanha comemora os 200 anos da proibição do comércio de escravos, coisa que no Brasil só aconteceu muito tempo depois. O Brasil ainda continua atrasado nesta área?

Matilde Ribeiro - Não, nós temos acompanhado os fóruns internacionais. O Brasil é um dos países mais progressistas neste aspecto de legislação e de ação efetiva. A legislação no Brasil é extremamente avançada. Não é pela via legal que o racismo acontece. O que falta é mudança de postura das pessoas. Não adianta só o governo fazer. Muito já foi feito, mas como você disse no início: alterou os índices? Ainda não, portanto temos muito a fazer.

Fonte: BBCBrasil.com
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/
story/2007/03/070326_ministramatildedb.shtml

Monday, March 26, 2007

´New York Times` elogia Gil e pontos de cultura do hip-hop

14 DE MARÇO DE 2007 - 15h25

´New York Times` elogia Gil e pontos de cultura do hip-hop


Governo brasileiro investe em cultura hip-hop, anuncia o The New York Times desta quarta-feira (14). O artigo é do correspondente do jornal, Larry Rohter, que em 2004 se envolveu num episódio polêmico ao acusar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de beber demais. Desta vez, Rother defende o programa do governo e o "reverenciado" ministro Gilberto Gil (Cultura), ouve o antropólogo musical Hermano Vianna, o rapper Aliado G, da Nação Hip-Hop, e Toni C., do ponto de cultura Hip-Hop a Lápis, hospedado no Vermelho. Só elogios. Veja a íntegra.


Rappers com favela ao fundo, na foto do NYT

Em uma sala de aula de um centro comunitário próximo a uma favela de São Paulo, um professor tarimbado na vida desta cidade fornece a doze jovens alunos dicas para que eles aperfeiçoem as suas técnicas de grafite. Um andar abaixo, em um pequeno estúdio a prova de som, um outro instrutor ensina um grupo de jovens aspirantes a rappers a operarem equipamentos de vídeo e de gravação digital.


Latente criatividade dos pobres

Este é um dos Pontos de Cultura do Brasil, o fruto de um programa oficial do governo que está ajudando a disseminar a cultura do hip-hop em uma vasta nação de 185 milhões de habitantes. Com a concessão de pequenas doações de cerca de US$ 60 mil a vários grupos comunitários dos entornos das cidades brasileiras, o Ministério da Cultura espera canalizar para novas formas de expressão aquilo que vê como a latente criatividade dos pobres do país.


O programa, concebido em 2003, é uma iniciativa do ministro brasileiro da Cultura, Gilberto Gil, que falará sobre cultura digital e tópicos correlatos nesta quarta-feira, na Conferência Sul/Sudoeste de Música e Mídia, em Austin, no Texas. Embora seja atualmente um dos astros mais reverenciados da música popular do país, Gil, 64, foi muitas vezes boicotado no início da sua própria carreira, de forma que sente certa afinidade pela emergente cultura hip-hop local.


"Conexão com o mundo maior"

"Esses fenômenos não podem ser encarados negativamente, já que eles envolvem grandes contingentes da população para os quais tais fenômenos se constituem na única conexão com o mundo maior", disse o ministro em uma entrevista em fevereiro. "Um governo que for incapaz de perceber tal coisa não terá a capacidade de formular políticas suficientemente inclusivas para manter os jovens afastados da criminalidade ou impedir que fiquem socialmente isolados".


"Como resultado dos Pontos de Cultura e outros programas similares, atualmente vemos jovens que estão se tornando designers, que ingressam na mídia, que são cada vez mais utilizados pela televisão e escolas de samba e que revitalizam bairros degradados", afirmou Gil. "Esta é uma visão diferente do papel do governo, um novo papel".


Para o ministro, a cultura hip-hop consiste de quatro elementos: MCs (rappers), DJs, dançarinos de break e artistas do grafite. No Projeto Casulo, um centro comunitário daqui, que fica em uma rua estreita e sinuosa ao pé de uma favela, todas as quatro formas artísticas são ensinadas a dezenas de jovens moradores.


"Em nome do rap, do funk ou do brega"

"Este programa democratizou realmente a cultura", disse Guine Silva, um rapper de 32 anos que é diretor do centro, durante uma visita a esta construção simples de concreto. "Nós nos transformamos em um laboratório multimídia. A obtenção da verba e do equipamento de estúdio permitiu que nos tornássemos uma espécie de fábrica de hip-hop".


Embora os vínculos com a música sejam fortes e profundos na cultura brasileira, a idéia de usar o dinheiro do contribuinte para encorajar o rap e a arte do grafite não é universalmente aceita. Mas como a capacidade de avaliação musical de Gil é altamente respeitada, o grau de ceticismo e de resistência em relação a essa idéia é menor do que poderia se esperar.


"Gil ainda tem que lutar contra outros setores do governo para defender coisas que esses setores consideram lixo alienante, mas ele está disposto a fazer tal coisa, sejam em nome do rap, do funk ou do brega", um outro estilo de música considerado vulgar e típico das classes baixas, afirma Hermano Vianna, escritor e antropólogo que trabalha com programas de cultura digital. "Ele olha para esse tipo de coisas não com preconceito, mas sim como se elas fossem oportunidades de negócios."


Rap brasileiro, altamente politizado

Por outro lado, alguns importantes expoentes da cultura hip-hop no Brasil, como o rapper Mano Brown e o escritor Ferrez, demonstram ceticismo e preferiram se manter distantes do programa do governo. Outros estão participando, mas reclamam da burocracia envolvida. "A idéia é ótima porque ela proporcionou um grau de reconhecimento que não tínhamos antes", diz o rapper Aliado G., presidente de uma entidade chamada Nação Hip-Hop Brasil. "Mas as pessoas se frustram quando um projeto delas é aprovado e elas não conseguem o dinheiro porque não sabem como lidar com toda a papelada burocrática".


O rap brasileiro, pelo menos na forma como se desenvolveu nos bairros pobres desta que é a maior cidade do país, tende a ser altamente politizado e a desdenhar as letras que contem vantagens sobre riqueza e conquistas sexuais. Em contraste com isso, o movimento funk no Brasil, também importado dos Estados Unidos, mas centralizado no Rio de Janeiro, não tem pudores em enaltecer o sexo, a ostentação e a violência.


"Quando os grupos de rap dos Estados Unidos vêm para cá e procuram ser ostentosos ou fazer encenações de gangues, são vaiados no palco", diz Silva. "Nós sentimos uma afinidade por Chuck D e o Public Enemy" - conhecidos pelos seus comentários políticos - "mas não admiramos nem um pouco pessoas como Snoop Dogg e Puff Daddy".


Uma indústria da cultura no setor informal

Como as estações de rádio comerciais tradicionais e editoras têm manifestado pouquíssimo interesse pela música e pela poesia produzidas pelos novos artistas de hip-hop - ou então procuram impor cláusulas contratuais muito severas - os rappers criaram os seus próprios canais para distribuir o seu trabalho. Isso envolve a venda pessoal de discos e livros nas ruas, bem como a divulgação de shows e a apresentação dos trabalhos em redes de estações de rádio comunitária de baixa potência, mas conectadas entre si.


"Existe toda uma indústria sendo construída no setor informal", explica Vianna. "Se fosse para aplicar todas as leis existentes hoje em dia, nenhum produtor seria capaz de lançar uma gravação vinda de uma favela. Assim, é preciso criar um novo modelo, e Gil está disposto a fazer isso".


No Projeto Casulo, o programa Pontos de Cultura produziu dois documentários sobre problemas de moradia, com trilha musical de rap, que são transmitidos pelas redes comerciais de televisão. O centro também gerou uma radionovela, um fanzine e um jornal comunitário, e pretende a seguir criar uma estação de rádio online para divulgar as obras de rap que os seus músicos e aqueles de centros comunitários similares compuseram e gravaram.


Hip-Hop a Lápis, o livro e o ponto de cultura

Além disso, a doação do Ministério da Cultura permitiu que a Nação Hip-Hop Brasil lançasse um livro chamado Hip-Hop a Lápis, uma coletânea de letras de rap. Depois que a primeira edição, composta de 2.000 cópias, foi vendida rapidamente em 2005, tendo sido indicada para um prêmio literário, uma editora convencional manifestou interesse suficiente para negociar um acordo para a publicação das edições subseqüentes.


"Nunca antes tínhamos visto a nossa história ser narrada em um livro, e no início as editoras não nos levaram a sério", conta Toni C., um dos editores e autores da coletânea. "Os livros sempre foram usados como uma arma contra nós, e as pessoas não sabiam que existia algo como a literatura hip-hop. Agora elas sabem".
A lei brasileira oferece isenções fiscais às companhias que contribuem para empreendimentos culturais como filmes, balés e mostras de arte. Agora a música rap alcançou um status similar, e, como resultado disso, algumas das maiores corporações do país passaram a subscrever gravações e shows de hip-hop.


Em um evento recente em Campinas, uma cidade de um milhão de habitantes que fica a uma hora de carro de São Paulo, entre os patrocinadores estavam uma empresa de energia elétrica, um banco, uma empresa de construção civil e um conglomerado industrial. Enquanto um grupo de dançarinos de break exibia os seus movimentos mais ousados, DJs e MCs protestavam contra a desigualdade social, econômica e racial com letras como: "A realidade é sempre dura/para aqueles que têm a pele escura/se você não tiver atenção/acabará no camburão".


"Demorou um pouco até que as companhias despertassem para o potencial oferecido pelo hip-hop", afirma Augusto Rodrigues, executivo da companhia de energia elétrica e diretor do centro cultural onde ocorreu o show. "Mas existe uma fome por programas culturais como esse, no qual pela primeira vez em 20 anos a ideologia da periferia pode se expressar".


Fonte: The New York Times; intertítulos do Vermelho

http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=14787



Sunday, March 25, 2007

A gravidez na infância

26/3/2007 01:25:00 - O Dia Online

A gravidez na infância

Fecundidade em mães até 19 anos é única que cresce. No Rio, 1.755 são menores de 14 anos

Rio - Aos 10 anos, mãe. Em vez das brincadeiras naturais de sua idade, Stephane enfrentou depressão pós-parto, situação difícil até para uma mulher adulta. Precisou superá-la, amamentar e cuidar de um bebê, aprendeu a trocar fraldas e abandonou os estudos. Hoje, sua filha tem 2, e ela, grávida mais uma vez, completou 13. Na cidade do Rio, uma a cada oito adolescentes de 15 e 19 anos é mãe. O atendimento custa à rede pública R$ 14 milhões por ano no estado. É um problema que não se pode mais empurrar com a barriga.

Assim como o número de filhos cresce ao diminuir a renda — situação revelada ontem por O DIA na série sobre planejamento familiar —, a gravidez precoce atinge principalmente comunidades pobres. Stephane mora em favela da Zona Sul, não estuda nem trabalha. O pai de sua filha tem 18 anos e renda que mal chega a um mínimo (R$ 350). Ao todo, o Estado do Rio tem 230.195 mães adolescentes.

Apesar de as taxas de fecundidade terem caído quase pela metade desde 1980, as estatísticas mostram que o único índice que cresceu foi o de mães adolescentes. “As meninas menstruam e entram na vida sexual cada vez mais cedo”, analisa o economista Marcelo Néri, autor da pesquisa ‘Perfil das Mães Brasileiras’. Casos tão precoces quanto o de Stephane já não são incomuns. A experiência de ser mãe faz parte da infância de 1.755 meninas de 10 a 14 anos no Rio.

Chefe do Pré-Natal do Instituto Fernandes Figueira (IFF), no Flamengo, Maria Célia de Freitas Leite Costa afirma que a maioria engravida sem desejar. “Muitas escondem da família, que só descobre no quarto ou quinto mês. Ou seja, têm pré-natal tardio”.

O serviço da Fiocruz na unidade também oferece às mães orientação para o planejamento familiar, na consulta de um mês após o parto. “Demoram tanto a vir que quando vêm muitas vezes já estão grávidas de novo”, lamenta Maria Célia.

Não é por falta de informação. Para a chefe do Pré-Natal do IFF, a maior parte das meninas conhece os métodos contraceptivos. “A maioria pensa: ‘Não vai acontecer comigo’. É como os jovens que dirigem em alta velocidade”.

Orientação. Esse é o foco do projeto Ana e Maria, do Viva Rio, em comunidades cariocas. Meninas atendidas pelo programa recebem aconselhamento aos estudos, incentivo à auto-estima, preparo para o nascimento do bebê e apoio psicológico.

No Jacarezinho, uma grávida em cada cinco

Rio - Em nenhum outro lugar do Rio é tão comum ouvir uma adolescente ser chamada de mãe como na Favela do Jacarezinho. Uma em cada cinco meninas entre os 15 e 19 anos na comunidade já deu à luz — ou 20% das jovens. No Rio, as cinco áreas de maior incidência de gravidez precoce ficam em comunidades carentes.

Mas o que favorece tanta fertilidade juvenil? O bolo populacional cresce à base de ingredientes fartos na comunidade: baixa escolaridade, renda pífia e famílias desestruturadas.

“O índice de gravidez é alto. É o resultado do meio em que vivem. Há programa para atender o adolescente. Marcamos com o grupo, mas a maioria falta às palestras”, observa a enfermeira Luzia Garcia Moraes, 62 anos, há oito no posto Renato Rocco, na entrada principal do Jacarezinho.

A distribuição de preservativos enviados pelo Ministério da Saúde é insuficiente para atender a comunidade. Quem se cadastra no planejamento familiar recebe 20 camisinhas, contra as 30 recomendadas. Para adolescentes não inscritos, a cota é entre 10 e 15, dependendo do estoque. O trabalho de prevenção fica comprometido.

Uma realidade que se alastra por outras comunidades. A assistente social Samantha Olivetti, 31, com atuação pela ONG Renascer, rodou por quase todas as favelas: “O número de preservativos nos postos de saúde é deficiente. Cansei de distribuir no Cantagalo e no Pavão-Pavãozinho. O material demora e quando chega é pouco. Em vez de 20 camisinhas, distribuía quatro”.

MÃE-CRIANÇA: AOS 10 ANOS

“Ela menstruou com 8 anos e ficou grávida aos 10. Na festa de 11 anos, estava com bebê no colo”, conta a mãe de Stephane, Rita de Cássia de Lima, 30 anos. “Desde que tinha uns 6, vi que ela poderia entender e comecei a orientar, mas nunca imaginei que menina dessa idade fosse gostar desse tipo de coisa”, completa, ainda surpresa em ter sido avó aos 28 anos.

Rita passou a comprar anticoncepcional para a filha, que é casada. “Eu falava: ‘Tem que tomar todos os dias’. Aconteceu de novo por irresponsabilidade”, completa. “Eu esqueço de tomar”, admite Stephane, no quarto mês de gestação. Para Rita, T. é como uma filha. “Tenho que explicar que ela é pequena, que não adianta brigar, tem é que ensinar”, conta Rita, que fez laqueadura após o quarto filho.

http://odia.terra.com.br/rio/htm/geral_89436.asp

Saturday, March 24, 2007

PMs espancam músico até a morte no Maranhão

Repentista foi confundido com assaltante; entidades de direitos humanos protestam contra tortura e racismo

Raimundo Garrone

SÃO LUÍS. Dois policiais militares espancaram até morte, anteontem à noite, o repentista e compositor Geremias Pereira da Silva, conhecido como Gerô. Ele foi confundido com um assaltante pelos soldados José Expedito Ribeiro Farias e José Waldinar Carvalho, que foram chamados a São Francisco, bairro próximo ao Centro da capital, depois de uma denúncia de assalto a uma senhora, não identificada.

Os PMs deram voz de prisão ao repentista, que teria reagido e provocado a violenta reação dos policiais. Imobilizado e algemado, ele foi levado ao plantão da polícia civil, que se recusou a recebê-lo devido aos graves ferimentos que apresentava.

Gerô foi enterrado ontem em clima de protesto promovido por entidades do movimento negro, que classificaram o crime de tortura seguido de morte, movido por questões raciais.

— Foi um ato brutal de descriminação de uma polícia treinada para bater em negro — protestou Amélia Bandeira, coordenadora do Centro de Cultura Negra do Maranhão.

Os dois policiais, presos em flagrante, vão responder a inquéritos civil e militar. O delegado geral da Polícia Civil Jefferson Portela disse que somente após o inquérito será decidido se serão enquadrados em crime de homicídio qualificado ou de tortura seguida de morte.

O delegado de Costumes, Francisco Castelo Branco, que chegava à delegacia, presenciou quando os policiais tentavam, à base de estocadas de cassetetes, colocar Gerô dentro de um porta-mala do carro da PM: — Vi e fiquei impressionado.

Pedi que parassem, mas não fui atendido. O rapaz estava desacordado, parecia morto, e mesmo assim continuava a ser espancado pelos policiais. Ele estava algemado, com as mãos para trás. Foi quando gritei e chegou uma viatura da Policia Civil e o levamos para o hospital.

Gerô já chegou ao hospital sem vida. O laudo do IML constatou que ele teve quatro costelas quebradas, os rins dilacerados, e vários hematomas na cabeça e braços, inclusive com as marcas das algemas. O secretário de Direitos Humanos, Sálvio Dino, disse que foi tortura: — Todas as circunstâncias levam a crer que se trata efetivamente de um caso de tortura, de um crime hediondo, que precisa ser punido severamente.

A esposa de Geremias, Marilene Silva, de 38 anos, em prantos só pedia justiça.

— Foi uma maldade que fizeram com ele, ele não merecia morrer desse jeito.

O governador Jackson Lago, que esteve no velório do artista, afirmou que não vai tolerar a impunidade: — Antes, crimes iguais a este eram abafados; agora é diferente.

Se comete crime, o policial é preso, julgado e expulso da corporação e nós vamos limpando e melhorando o sistema de segurança do estado.

O Globo Online, O País. 24.03.2007

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Artista negro maranhense é cruelmente assassinado por policiai

Luciana Candido
da redação




• Na tarde da última quinta-feira, 22 de março, o compositor e repentista Geremias Pereira da Silva, mais conhecido como Gero, foi espancado até a morte pelos policiais militares José Expedito Ribeiro Farias e José Waldimar Carvalho, do 9º Batalhão da Polícia Militar. Os dois PMs foram presos em flagrante e estão detidos no Plantão Central da RFFSA, mas há indícios que existem outros envolvidos por negligência e por tentativa de proteger os assassinos.

Gerô foi abordado por volta das 13h no terminal de ônibus Integração, na Praia Grande. A entrada no hospital público Djalma Marque, conhecido como “Socorrão I”, entretanto, só foi registrada às 16h30. Nestas três horas e meia, Gerô foi vítima da brutalidade dos dois policiais e da omissão de outros que assistiram às cenas de violência. O pretexto para o crime foi que Gerô teria sido apontado por uma senhora – que até o momento não foi identificada – como possível assaltante.

Crueldade deliberada
O Jornal Pequeno, órgão da imprensa local que cobriu o caso, informou que, diante do grave estado de Gerô, já quase morto, os policiais o levaram até o Plantão Central, cujo delegado não quis receber o cantor e sequer tomou providências contra a brutalidade que presenciara. Os dois PMs foram, então, ao Primeiro Distrito e relataram ao delegado Eduardo Jansen que Gerô era um doente mental que deveria ser encaminhado ao hospital. O delegado acreditou na versão dos criminosos e concedeu o encaminhamento mesmo sem ver a vítima.

No Primeiro distrito, o delegado Castelo Branco, da Delegacia de Costumes e Diversões Públicas, assistiu ao espancamento. Os policiais tentaram colocar Gerô no porta-malas da viatura. Ao não conseguirem, deram seqüência ao espancamento, com Gerô já desacordado. Castelo Branco, que observava a cena, diz que “pediu” que eles parassem e não foi atendido. Nenhuma atitude de fato foi tomada para que cessasse a agressão.

Já morto, uma viatura levou Gerô ao hospital numa viatura. Os policiais envolvidos – nesse caso, todos e não apenas os dois que golpearam o cantor – ainda tentaram atenuar ou abafar o crime, dizendo que a vítima havia “passado mal”.

No laudo preliminar do IML, consta quatro costelas fraturadas e hemorragia interna num rim. No corpo, Gerô carregava múltiplas escoriações, os punhos feridos pelas algemas – ele esteve o tempo todo algemado, sem nenhuma possibilidade de defesa – e a marca impossível de apagar do racismo e da repressão policial.

Indignação e protesto
O crime aconteceu um dia depois do Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, em memória do Massacre de Shaperville, em 1960, quando 69 sul-africanos foram mortos. No Maranhão, a barbaridade da PM chocou a população e causou a revolta de militantes do movimento negro e da esquerda do estado. Está marcado para às 15h30 desta sexta-feira, 23, um ato de protesto na praça Deodoro, no centro de São Luís.

Gerô era negro, artista, tinha 46 anos e morava na vila Cidade Operária, na capital do Maranhão. Atualmente, ele respondia a um processo movido pelo presidente da Fundação Municipal de Cultura, o arquiteto Adirson Veloso. A razão do processo foi um cordel composto por Gerô, em que ele denunciava Veloso. Segundo informou o site Badauê, ele teria sido condenado a prestar serviços de faxineiro.

O repentista tinha atuação política e era muito conhecido no meio artístico da cidade. Ao velório, compareceram diversos artistas e militantes de várias organizações, indignados com o ato explicitamente racista.

Um crime como esse deveria ter repercussão nacional, chocar e levantar revolta na população brasileira. Gerô, entretanto, não era morador da Zona Sul carioca, não era branco.

Infelizmente, esse não é um caso isolado: acontece todos os dias, às centenas, no pobre Nordeste ou nos morros cariocas; nas favelas paulistas ou nos subúrbios do sul. As vítimas, em sua maioria, são sempre as mesmas: pobres, negros, oprimidos, tão distantes das campanhas de combate à violência encampadas pelas ONGs e pela mídia.

A morte de Gerô traz uma reflexão: estamos, infelizmente, muito distantes da igualdade racial. Ela só virá com o fim do capitalismo, quando os negros deixarão de ser mão-de-obra barata superexplorada e não mais servirão apenas para engordar os lucros dos empresários.

http://www.pstu.org.br/opressao_materia.asp?id=6381&ida=40

[ 23/3/2007 18:35:00 ]

Cinema: Bom baiano


Cinema: Bom baiano

Lázaro Ramos é a estrela de ‘Ó, Paí, Ó’, filme de Monique Gardenberg que adapta para telas espetáculo do Bando de Teatro Olodum, seu antigo grupo

Ana Lúcia do Vale


Rio - Lázaro Ramos enfrentou a multidão do Carnaval de Salvador, ano passado, cantando pela primeira vez de cima do trio elétrico do Araketu. Ao lado do vocalista Tatau, mandou ver em ‘Araketu Bom Demais’. Ficou nervoso porque não teria uma segunda chance para a cena do filme ‘Ó Paí, Ó’, que estréia dia 30. Só conseguiu gritar ‘E aí, Salvador?’. “Nessa hora tem que falar o mais óbvio. Era uma loucura, não dá pra pedir silêncio no Carnaval. Meu CD vai sair mês que vem pela ‘Som Preso’”, brinca Lázaro, que faz um pintor de carros que sonha virar cantor no filme.

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O Dia Online, 24.03.2207

Thursday, March 22, 2007

Gil leva uma dura nos EUA

Gil leva uma dura nos EUA

Pedro Landim


Foto: Reuters

Dallas (EUA) - Licenciado de suas funções como Ministro da Cultura, e viajando pelos EUA em turnê musical, Gilberto Gil passou por constrangimento ao ser interrogado em sala particular pelas autoridades americanas de imigração, dia 13, chegando ao aeroporto Fort Worth, em Dallas. De acordo com a assessoria do músico, o problema de Gil com a imigração dos EUA é antigo, e acompanha a sua carreira desde que ele foi preso com maconha em Florianópolis, há 31 anos, episódio que rodou o mundo no documentário cinematográfico ‘Os Doces Bárbaros’.

Segundo Preta Gil, que esteve nesta quarta com o pai em Nova Iorque, onde Gil tocou terça-feira para um Carnegie Hall lotado, ele não se abalou com o episódio. “Meu pai não ficou chateado. Os EUA são rigorosos e temos que respeitar suas leis. Ele não mistura as coisas e não se utiliza de sua condição de ministro quando não viaja pelo Governo”, disse Preta.

A Embaixada dos EUA, em Brasília, informou através de sua assessoria que vai investigar o ocorrido. E a assessoria do Ministério da Cultura informou que não cabe providências ao ministério, porque Gil está licenciado, sem vencimentos, e não viaja representando o governo brasileiro.

Em 2001, Gil atrasou uma viagem à Jamaica, para a gravação de seu disco ‘Kaya N’gan Daya’, porque teve problema semelhante na escala do vôo em Miami. Na ocasião, o músico disse que sempre tem que dar satisfações às autoridades americanas quando precisa tirar visto para os EUA. O problema teria se originado com a prisão de Gil, em 1976, em Florianópolis, com pequena quantidade de maconha, em turnê do grupo ‘Doces Bárbaros’. Na época, como pena, Gil foi internado num instituto psiquiátrico.

Apresentando nos EUA o show de seu último CD, ‘Gil Luminoso’, de voz e violão, o músico viaja de ônibus hoje para Los Angeles, onde toca sábado, e retorna ao Brasil no dia 1º de abril.

O Dia Online, 23.03.2007

http://odia.terra.com.br/cultura/htm/geral_88836.asp

Música: Cavaleiros de Jorge





21/3/2007 01:52:00

Música: Cavaleiros de Jorge

Seis músicos que carregam o nome do Santo Guerreiro se unem em show que promete transformar Copacabana numa grande festa dia 23 de abril

Pedro Landim


Rio - São Mautner foi aplaudido por todos em sua fala sobre o santo de nome Jorge, com passagens da história do Cristianismo e dos Cavaleiros Templários, mas foi São Ben Jor que trouxe o cavaleiro e sua lança para perto de Copacabana: “São Jorge é guerreiro, machão e galã. Totalmente brasileiro”, definiu. E a disposição da turma ficou clara quando Jorge Aragão batucou na lixeira e Jorge Vercilo tocou no violão música inédita que fez para o ‘santo-xará’.

No dia 23 de abril, seis músicos de nome Jorge cantarão juntos na Praia de Copacabana, e o show ‘Coisa de Jorge’ vai virar DVD , incluindo um documentário sobre a adoração brasileira a São Jorge. Ausentes na entrevista coletiva, Jorge du Peixe, do Nação Zumbi, e Seu Jorge, completam o time. O segundo, que deixou de freqüentar o Rio faz tempo, ficou de aparecer.

O Dia Online, 22.03.2007
http://odia.terra.com.br/cultura/htm/geral_88514.asp

Saturday, March 17, 2007

Índios mantêm funcionários da Funasa como reféns


Rio - Após mais de 48 horas de impasse, dois funcionários da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) são mantidos como reféns de uma tribo de índios Pataxós, em Carmésia, região Central de Minas Gerais. Os índios reivindicam melhores condições de saúde para os seus membros.

Uma equipe da Funasa deverá ser deslocada de Brasília, ainda neste sábado para o local, para negociar a libertação dos colegas. Os índios reclamam do rompimento de convênios, antes mantidos pela Funasa, com hospitais da cidade vizinha de Guanhães.

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O Dia Online, 17.03.2007

Friday, March 16, 2007

Novas ordens de despejo dos quilombolas

A notícia a seguir foi publicada no jornal Diário de Cuiabá em 15/março, no endereço http://www.diariodecuiaba.com.br/

MATA CAVALOAnterior | Índice | Próxima

Novas ordens de despejo dos quilombolas

Incra tenta negociar com fazendeiros na área, que conseguiram liminares para reintegração de posse, para evitar conflito. PF cumprirá retirada


Apesar do Incra reconhecer a área como de remanescentes de escravos, luta histórica ainda é desfavorável ao grupo
KEKA WERNECK
Da Reportagem

A iminência do cumprimento de duas liminares que dão reintegração de posse a fazendeiros e posseiros do quilombo Mata Cavalo e contra os afro-descendentes levou uma equipe do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) terça-feira até a área onde há risco de conflito.

Na última sexta-feira, um oficial de justiça começou a notificar as famílias, avisando-as do possível despejo.

O superintendente do Incra, Leonel Wolfahrt, afirma ter tentado negociar com dois dos nove autores das ações, diz ter oferecido indenizações, fala que pediu que retirassem as ações.

O despejo, que deve ser cumprido pela Polícia Federal, vai mexer com a vida de cerca de mais 100 famílias. Algumas, aproximadamente 50, já saíram em fevereiro. O ato resultou em uma prisão.

As liminares foram concedidas pelo juiz Jefferson Schneider, da 2ª vara da Justiça Federal em Mato Grosso.

O ouvidor substituto do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Marco Aurélio, que está no Estado para resolver um conflito em Marcelândia, a 712 quilômetros ao norte de Cuiabá, também foi acionado a intervir. Ele não quis falar com a imprensa.

Haveria ontem uma reunião emergencial entre o superintendente do Incra, o ouvidor e o delegado federal Washington Clark, que acabou não se realizando, conforme informado. O delegado disse que teria de sair para um compromisso.

A reportagem tentou falar com alguém da área, para saber sobre o clima. Mas os celulares disponíveis dos quilombolas não foram atendidos.

A disputa de terras em Mata Cavalo é questão histórica. A antropóloga do Incra, Renata Bostoletto Silva, explica que a área foi concedida em 1874 pelo dono de engenho Ricardo José Alves Bastos, antes da libertação oficial dos escravos (1888). A doação foi endossada, anos depois, pela esposa dele, dona Anna da Silva Tavares. Por quase um século, viveram ali os remanescentes “sem muita noção de propriedade, de capitalismo”, como explica a historiadora do Incra, Simone Gianotti. Por conta disso, principalmente na década de 70, com o advento do ouro no local, as invasões começaram e a expulsão intermitente das famílias, feita inclusive por métodos violentos. Muitos, no entanto, resistiram. Outros resolveram, na década de 80, voltar às origens, reaver o que é seu.

Conforme informações da procuradoria do Incra, a causa aparece em 20 ações em trâmite.

O governo Dante Oliveira reconheceu a propriedade dos negros e a Fundação Palmares expediu títulos que hoje não são reconhecidos pela Justiça. “Daí estão sendo dadas essas liminares de reintegração de posse”, explica Wolfahrt.


Sunday, March 11, 2007

Opinião: "Quem mora no morro não tem sonho"

Opinião: "Quem mora no morro não tem sonho"

Fritz Utzeri, jornalista

Eu acuso o governo do Estado de assassinar a menina Alana Ezequiel, baleada segunda-feira, no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, durante tiroteio entre a polícia militar e os traficantes. A menina, de 12 anos, tinha acabado de deixar o irmão menor, de dois anos, numa creche, antes de voltar para casa e preparar-se para ir à escola. Alana era filha de Edna Ezequiel, diarista, que aos 29 anos tem ainda outros dois filhos, um total de quatro, de três pais diferentes, nenhum dos quais a ajuda. Ela é considerada uma boa mãe, todos os filhos estudam.

A polícia afirma que a bala assassina partiu dos traficantes e é possível que isso tenha acontecido, mas por que o Estado é responsável? Há anos que denuncio, em vão, a política homicida do governo do Rio. Moro no Parque Guinle, local privilegiado, bem em frente ao Palácio Laranjeiras, e não muito longe da sede do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope). Essa polícia é treinada e condicionada para atuar como um grupo de extermínio.

No tempo em que Rosinha & Rosadinho moravam no Palácio, era impossível que eles não ouvissem os cantos diários de instrução dessa "polícia", que entre outras coisas proclama a altos brados coisas como "eu faço coisas que assustam satanás", ou "sou treinado para matar" ou ainda "homem de preto, qual é a tua missão? É entrar lá na favela e deixar corpo no chão" ou, se não bastasse, "o interrogatório é muito fácil de fazer, pega o vagabundo e dá porrada até morrer", músicas que formam um songbook do terror, tortura, abuso e extermínio. Trata-se de uma verdadeira SS, a começar por seu emblema, um crânio atravessado por um sabre, símbolo que caracteriza certos grupos de "ações especiais", geralmente sujas, e movimentos neonazistas.

É uma polícia de classe que recruta pobres, inculca-lhes um ódio aos membros de seu extrato social, ensinando-lhes que a favela é território de "vagabundos" que devem ser tratados a bala ou a "porrada". O maior indicador de presença dessa entidade criminosa é o chamado Caveirão, um blindado que ao chegar à zona de conflito vai logo anunciando: "Vim buscar a tua alma!", através de alto-falantes, semeando terror entre a imensa maioria de trabalhadores que vivem nessas comunidades e que se vêm colhidos pelo fogo cruzado dos bandidos declarados, de um lado, e dos que vestem farda, do outro.

A morte de Alana é tão séria quanto a do menino João Hélio, que chocou a cidade por dois motivos, pela natureza cruel de sua morte, arrastado pela rua, preso ao cinto de um carro, mas igualmente, pelo fato de ser uma criança de classe média. Os pobres morrem como moscas e aparentemente ninguém se incomoda mais com isso.

A polícia só tem um modo de ação: o confronto. Vale observar como muitas vezes já chegam às favelas atirando, enquanto os moradores não envolvidos no conflito correm para abrigar-se em meio a gritos de desespero e estampidos. Na ação em que Alana perdeu a vida, a polícia apreendeu 30 gramas de maconha e 45 de cocaína. Esse é o valor da vida de Alana, uma menina alegre, apesar de viver num barraco miserável, exatos 75 gramas de droga, apreendidas nessa guerra insensata.

O governador Sérgio Cabral já manifestou publicamente sua discordância desse modo de ação. É uma proposta corajosa e é imperativo que dê seqüência às suas intenções e revolucione o meio de agir da polícia, sob pena de endossar, como o fizeram os seus antecessores, as ações de uma polícia que se ufana de seus crimes, cantando-os em plena rua. Até quando?

JB Online, 11.03.2007

http://jbonline.terra.com.br/editorias/pais/papel

/2007/03/11/pais20070311015.html

Saturday, March 10, 2007

'Escravos' sustentam 'boom' do etanol no Brasil, diz 'The Guardian'

Plantação de cana
Jornal diz que cortadores têm condição similar à de escravos
A indústria brasileira do etanol está apoiada sobre um exército de 200 mil migrantes pobres que trabalham como cortadores de cana em condições que muitos classificam como similar à escravidão, segundo afirma reportagem publicada nesta sexta-feira pelo diário britânico The Guardian.

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BBC Brasil, 10.03.2007

Friday, March 09, 2007

Empossado, Zulu Araújo promete maior integração com países africanos

Empossado, Zulu Araújo promete maior integração com países africanos
(07/03/2007 - 13:12)

Brasília, 07/03/2007, Marcada por aplausos e momentos de emoção, a posse do novo presidente da Fundação Cultural Palmares/MinC, Zulu Araújo, serviu para mostrar a toda a comunidade afro-brasileira o início de uma nova gestão, comprometida com a integração e interatividade. Mais de 300 convidados, entre representantes do Sistema MinC, órgãos governamentais, embaixadas e instituições do movimento negro lotaram o auditório da Fundação Cultural Palmares, em Brasília. O ministro de Estado da Cultura, Gilberto Gil, compareceu a cerimônia, acompanhado pelo secretário-executivo do MinC, Juca Ferreira. Também estiveram na posse os presidentes do Iphan, Biblioteca Nacional e Casa de Rui Barbosa.

A importância do trabalho de Zulu Araújo a frente da promoção da cultura e do combate ao racismo na Bahia e também em outras partes do Brasil e do mundo foi lembrada pelo ministro Gilberto Gil. Segundo ele, a Fundação Cultural Palmares ganhou na atual gestão do presidente Lula o status de incrementar o intercâmbio entre o Brasil e os países africanos de língua portuguesa. Gilberto Gil reconheceu também as iniciativas de produção editorial e audiovisual e salientou a necessidade de se garantir a instituição recursos financeiros e humanos.
Em sua fala, o presidente Zulu Araújo também ressaltou o papel fundamental da FCP como um braço do governo brasileiro voltado a realizar políticas de produção cultural. Ressaltou também que em suas metas de trabalho estarão presentes o incremento do intercâmbio com o continente africano, valorização dos recursos humanos e o reforço em ações de Comunicação Social, para dar maior visibilidade a cultura afro na grande mídia ( rádio, TV e Internet).

Leia na íntegra o discurso de posse do presidente Zulu Araújo

A Fundação Cultural Palmares completou no ano de 2006, dezoito anos de existência. Muita energia, muito esforço e muita luta foram despendidas ao longo destes anos para que este importante instrumento da comunidade negra brasileira alcançasse sua maioridade cumprindo a contento sua missão institucional. Conquistas valiosas foram alcançadas, avanços significativos foram obtidos, mas, ainda resta muito a fazer. E, é sobre o que fazer e como fazer de que trataremos neste momento.

Na gestão do Ministro Gilberto Gil, a Palmares reencontrou sua vocação natural, ou seja, fazer da cultura o principal instrumento de convencimento, sensibilização e difusão na sociedade brasileira da necessidade de superação da gritante desigualdade racial existente em nosso país. Para tanto, partimos de um olhar positivo sobre a contribuição africana para o Brasil. Sem negar ou esconder a dor e o sofrimento pelo qual passou e passa milhões de brasileiros de origem africana, fruto da tragédia histórica que foi a escravidão, fincamos o nosso ponto de partida no caráter civilizatório que a presença negra trouxe para o Brasil, bem como nas inúmeras experiências positivas do desenvolvimento humano que o continente africano legou para o mundo. E neste sentido, a cultura tem sido sua marca mais relevante. Cultura enquanto valor abrangente, que se expressa no modo de falar, cantar, dançar e trançar os cabelos, no ritmo dos seus tambores, no sabor e criatividade da sua culinária, no jeito de corpo para driblar os dissabores da vida, mas que caminha sem percalços pelos versos dos seus poetas e a prosa dos seus escritores. Cultura que está na sonoridade dos cantos - sagrados ou profanos - mas que também se manifesta na firme convicção de que a liberdade e a igualdade são valores universais e não propriedade de um pequeno grupo, etnia, nação ou região do mundo.

Foi, com este referencial, com esta guia de Xangô, que traçamos os nossos caminhos para o quadriênio que ora se encerra. Para tanto, o diálogo permanente com todos os segmentos da comunidade negra brasileira foi imprescindível.

A articulação com variados setores do Ministério da Cultura, e ministérios como o da Educação, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário, Justiça, Direitos Humanos, Seppir foi mais que uma opção, foi uma necessidade.

Neste particular, a parceria com o Ministério das Relações Exteriores foi das mais frutíferas. Percorremos inúmeros países com o apoio e a orientação fraterna e solidária do Departamento Cultural do MRE, culminando com a realização do maior evento da história das relações político/cultural entre o Brasil e o continente africano que foi a II Conferência dos Intelectuais da África e da Diáspora, na Bahia, em julho de 2006, presidida pelo Ministro Gil e que contou com a presença de 10 chefes de Estados, dentre eles o nosso Presidente da República Luiz Ignácio Lula da Silva.

A forte presença da Fundação Cultural Palmares, na área quilombola, articulada com o Ministério Público Federal, a Advocacia Geral da União e o Ministério do Desenvolvimento Social na defesa dos interesses dos remanescentes de quilombos, possibilitou o reconhecimento de mais 1.000 comunidades e o apoio a dezenas de demandas judiciais, oriundas da insensibilidade e conservadorismo que ainda permeia grande parte do campo brasileiro.

Também estivemos presentes na discussão e reflexão de temas abrangentes da sociedade brasileira, como a democratização do acesso ao ensino superior (cotas para negros nas universidades) e o combate à intolerância religiosa, que lamentavelmente ainda se faz presente em nosso país.

O Brasil, vive um momento particular na história do seu desenvolvimento. Poucas vezes, nestes 500 anos, tivemos uma chance tão poderosa para fincar raízes fortes e profundas na estrutura do nosso país rumo a um período sólido e duradouro de desenvolvimento sustentável. Por isto mesmo, temos que ter (todos) sensibilidade e clareza, para a um só tempo, afirmar os nossos interesses particulares, consolidar as nossas conquistas, mas também sermos parceiros e solidários dos demais segmentos sociais, na construção de um Brasil verdadeiramente democrático.

No seu Programa Cultural para o Desenvolvimento do Brasil, O Ministro Gil, afirma - "O fato é que a cultura brasileira impacta tanto o crescimento material de emprego e renda como a qualidade de vida", deixando claro o valor inestimável que a cultura possui para a consecução dos nossos objetivos, enquanto nação. Se esta afirmação vale para o Brasil, para a comunidade negra, no particular é como um mantra, pois não houve, até hoje, instrumento mais eficaz para a nossa própria sobrevivência que não a nossa cultura. Mais adiante, no mesmo documento, o Secretário Executivo, Juca Ferreira, complementa - "Trata-se de uma compreensão da cultura como dimensão simbólica da vida social, como direito de cidadania, direito de todos os brasileiros e como uma economia poderosa, geradora de ocupação e renda". Nada mais apropriado para a importância e a força da cultura no processo de inclusão racial do nosso país.

Integrar-se a este esforço que vem sendo desenvolvido pelo Ministério da Cultura será algo imprescindível para que a Palmares continue sendo a implementadora líder da política de fortalecimento da cultura afro-brasileira. Outro elemento importante, neste novo momento da Palmares, é a necessidade premente de ampliação do diálogo com os demais segmentos da sociedade brasileira, em particular com os poderes legislativo e judiciário, mas sobretudo, com as organizações, entidades e instituições que compõe o campo democrático da nossa sociedade e que possuem demandas assemelhadas às nossas, para que juntos possamos não apenas enfrentar as resistências aos avanços democráticos na área cultural, mas, para, primordialmente, ampliar os espaços de negociação, consolidar conquistas e garantir o tratamento digno e igualitário para a cultura afro-brasileira.

Neste sentido, embora tenhamos construído um bom trabalho, há muito por fazer. Para darmos continuidade a este processo de avanços e conquistas, será preciso ousar mais. E, para tanto, teremos em primeiro lugar que dar seqüência aos trabalhos que deram certo, ampliando-os de tal forma que os mesmos tornem-se irreversíveis. Um bom exemplo neste sentido, é o intercâmbio internacional. A Palmares precisa e deve ampliar o contato com os países africanos, particularmente os de língua portuguesa, bem como consolidar instrumentos e mecanismos que viabilizem a troca permanente de experiências culturais neste terreno.

A II Conferência dos Intelectuais da África e da Diáspora, realizada no Brasil, em 2006, foi uma semente e o sinal de que podemos ser a referência maior no processo de reflexão e elaboração de propostas para o fortalecimento da cultura negra nos países da diáspora. Mais que isto, podemos ser um elemento poderoso na articulação de políticas internacionais para o tão desejado "renascimento africano" desde que cumpramos com o nosso dever de casa, que é a implementação de políticas públicas abrangentes e inclusivas, e neste sentido, a Fundação Cultural Palmares é um "lócus" privilegiado para consecução destes objetivos. Há, evidentemente outras ações que podem e devem ser desenvolvidas neste campo, pois deram ótimos resultados, tais como:

a. Realização do II Festival África/Brasil.
b. Realização da II Mostra Pan Africana de Arte Contemporânea.
c. Realização da II CIAD Cultural.
d. Realização da I Conferência Mundial de Doadores para a viabilização do Portifolium de Projetos da CPLP.

No plano nacional, a carência existente no fomento as manifestações culturais afro-brasileira é um fato. Como também é um fato a escassez de recursos da Palmares para atender a demanda tão extensa. Portanto, construir parcerias deixa de ser uma opção e passa a ser uma obrigação. Articular-se interna e externamente será uma tarefa prioritária para a próxima gestão. Discutir e refletir com os demais organismos do MinC sobre as sugestões e contribuições que os mesmos podem aportar para o fortalecimento da cultura afro brasileira, será um imperativo. Do mesmo modo, a interlocução permanente com empresas estatais, agências de desenvolvimento e outros ministérios que tenham interface direta com o nosso trabalho, será uma ação permanente. Por isto mesmo, a criatividade aliada à determinação deverão ser instrumentos importantes para que as ações da Palmares ganhem escala e amplitude.

Um dos grandes desafios postos hoje à sociedade brasileira, é encontrar caminhos que estimulem a plena participação da juventude no processo de desenvolvimento do país e o reconhecimento dos mesmos enquanto cidadãos. No caso particular da juventude negra, este é um tema crucial. Habitando, em sua grande maioria, as periferias das grandes cidades, ela está sujeita a toda sorte de violência: física, emocional, social, racial, etc., além da exclusão dos direitos mais elementares como o de ir e vir. Elaborar e implementar uma política pública que amplie o acesso dos jovens afro-brasileiros aos bens culturais, que valorize e estimule sua organização através das atividades culturais e que seja um forte mecanismo de articulação com área educacional, concretizando assim o sonho da inclusão desta juventude na sociedade brasileira, deverá ser uma importante tarefa a ser também desenvolvida pela Palmares. Considerando que já existem inúmeras experiências em andamento e com relativo sucesso, como o Movimento Hip Hop, os Pontos de Cultura, Blocos Afros, etc., caberá a Palmares incentivar e apoiar estas experiências, articulando-as com as demais ações do MinC nesta área, bem como com as ações da Secretaria Nacional da Juventude do Governo Federal.

No campo da reflexão crítica sobre a produção cultural, qualificar a discussão sobre a cultura negra é uma das missões mais relevantes que a Palmares tem a seu alcance. Identificar e acolher sugestões de temas importantes para o debate, como o Estatuto da Igualdade Racial ou a avaliação do Sistema de Cotas nas Universidades Públicas brasileira, serão essenciais. Promover e estimular o estudo e a pesquisa, além de apoiar e lançar publicações sobre a temática afro-brasileira, será de grande importância.

No que diz respeito à comunicação, teremos que de um lado dar prosseguimento às ações que a Palmares vem desenvolvendo e de outro buscar espaço nos grandes meios de comunicação (Rádio, Internet e Televisão), tendo em vista sua enorme capilaridade, para que a imensa e criativa produção cultural de origem negra tenham a visibilidade que merece. Sensibilizar e convencer os dirigentes destes veículos será o grande desafio, mas não impossível de se realizar, haja vista o campo favorável existente hoje, na sociedade brasileira, para ações deste porte. Neste sentido, a articulação com as TVs Públicas e em especial com a Radiobrás servirá de grande estímulo para que tenhamos resultados positivos.

A proteção ao patrimônio afro-brasileiro tem sido um dos trabalhos mais difíceis que a Palmares tem enfrentado, por envolver a um só tempo a velha questão agrária brasileira, a discriminação racial e a intolerância no seu grau mais concentrado. Embora representem pouco mais de 3% da população afro-brasileira, a situação dos quilombolas no Brasil é tão dramática que transformou-se numa questão de honra para a superação do racismo em nosso país. Portanto, ampliar este atendimento, consolidar as vitórias alcançadas e em articulação com o INCRA e a SEPPIR intensificar a titulação das terras quilombolas deverá ser o passo adiante nesta caminhada.

Ainda neste terreno, outro patrimônio afro brasileiro precisa de cuidado todo especial: a religiosidade de matriz africana no Brasil. Vítima das mais odiosas e permanentes campanhas de difamação e discriminação, as religiões de matrizes africanas tem resistido bravamente aos seus detratores e dado ao nosso país grandes lições de compreensão, tolerância e generosidade. Proteger e apoiar ações que levem ao pleno reconhecimento da enorme contribuição que estas manifestações tem ofertado ao nosso povo e o direito inalienável que os seus adeptos possuem de professá-las, é uma obrigação não apenas da Fundação Cultural Palmares, mas de todo e qualquer cidadão brasileiro. Estabelecer uma política especial para o tratamento deste segmento, aliado a ações com outros ministérios, como o de Desenvolvimento Social e da Justiça, será fundamental.

Enfim, este será mais um desafio na minha vida pública, que espero poder enfrentá-lo com a mesma determinação com que conduzi minha vida até o momento, mas sobretudo com a parceria, compreensão e solidariedade dos servidores da Palmares e do Ministério da Cultura.

Toca a zabumba que a terra é nossa !

Zulu Araújo
Presidente da Fundação Cultural Palmares


Oscar Henrique Cardoso, ACS/FCP/MinC

http://www.palmares.gov.br/


Wednesday, March 07, 2007

Benon, o Treme Terra

Índios morrendo...

Índios - Povos Resistentes

MV Bill e Sandra de Sá

New Black Panther Party

Black Power - Alí Primera

Tuesday, March 06, 2007

Descendentes esquecidos

Reconhecimento oficial é apenas o primeiro passo para melhorar a vida das comunidades quilombolas

Flávio Costa

O líder do quilombo Boitaraca, Aldo Souza Rosário, 25 anos, vive da extração da piaçaba e do artesanato, mas quer ter a oportunidade de freqüentar uma faculdade. Os desejos do agricultor Cristóvão de Jesus dos Santos são bem mais modestos: ele apenas quer que a comunidade de Ingazeira tenha acesso a energia elétrica e rede de esgoto. Para os descendentes de comunidades quilombolas, o reconhecimento oficial do governo federal é apenas o primeiro passo para o acesso às políticas públicas e manter suas tradições. Aberto ontem, o seminário Reconstruindo Quilombos discute melhorias da qualidade de vida desta população, que vive em 700 comunidades apenas no estado da Bahia. Organizado pela Sociedade Amigos da Cultura Afro-Brasileira, o evento terá, até sexta-feira, palestras, oficinas e apresentações de ritmos tradicionais do quilombo.

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Aqui Salvador, Correio da Bahia, 07.03.2007

Tribo Kiriri é expulsa pela cheia do Rio São Francisco

Indígenas abandonam aldeia e ocupam posto desativado da Sefaz

Alexandre Lyrio

Aágua deu na cintura para que os índios se convencessem em deixar a aldeia. Com a subida do rio, os kiriris que vivem numa pequena comunidade pertencente ao município de Muquém do São Francisco, a 70km de Ibotirama, tiveram que abandoar a aldeia às pressas. As 35 famílias, com 120 pessoas, instalaram-se num posto de fiscalização desativado da Secretaria da Fazenda do estado da Bahia (Sefaz). Em instalações precárias, vivem apenas do peixe que o próprio Rio São Francisco oferece com fartura.

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Correio da Bahia, 07.03.2007

EUA condenam 'caveirão' e retaliação policial ao PCC


Presos rebelados em São Paulo
Relatório diz que polícia usou 'força excessiva' contra suspeitos
O Departamento de Estado americano divulgou o seu relatório anual sobre direitos humanos nesta terça-feira em que afirma que forças policiais do Brasil "cometeram uma série de abusos de direitos humanos" em 2006.

Entre eles, o relatório registra "abusos, espancamentos e torturas de pessoas presas ou detidas por forças policiais". O documento comenta também que houve "um elevado número de pessoas mortas pela polícia".


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Fonte BBCBrasil.com

Monday, March 05, 2007

Morto no lugar onde tentava estudar de novo


O Dia Online
06/03/2007 01:35:00

Vítima mais jovem da chacina de 5 rapazes em Nova Iguaçu foi ex-aluno da unidade de ensino

Alex Martins

Rio - Um Ciep, lugar planejado por Darcy Ribeiro e Leonel Brizola para que os jovens tivessem boa educação e escapassem do crime, foi palco do assassinato de um ex-aluno. Wilson Araújo de Andrade, 17 anos, a vítima mais jovem da chacina de cinco rapazes, estudou no Ciep Cacilda Becker, em Miguel Couto, Nova Iguaçu, onde foi ocorreu o crime domingo. A família tentava fazer a rematrícula para ele voltar a estudar na unidade. O jovem freqüentou as salas de aula do Ciep até 2004, quando foi reprovado na 5ª série do Ensino Fundamental.

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Bala perdida mata menina

O Dia Online, 06.03.2007


Garota de 12 anos foi atingida por tiro de fuzil nas costas após deixar irmã em creche de morro

Bartolomeu Brito

Rio - A estudante Alana Ezequiel, 12 anos, morreu ontem de manhã atingida nas costas por tiro de fuzil durante confronto entre policiais do 6º BPM (Tijuca) e traficantes do Morro dos Macacos, em Vila Isabel. Ela foi baleada logo após deixar a irmã mais nova, Jennifer, 2, na creche. No tiroteio, dois homens que seriam bandidos morreram e um terceiro ficou ferido na cabeça.

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Manifestação contra morte de jovem reúne cem pessoas

Jony Torres

Cerca de cem pessoas participaram, ontem à noite, de uma manifestação na Praça Municipal para cobrar esclarecimentos sobre a morte de Clodoaldo da Silva Souza, 22 anos, morto a tiros na madrugada do dia 1º de março, na Estrada Velha do Aeroporto (EVA). Amigos e integrantes do Coletivo de Entidades Negras (CEN) foram veementes na contestação das informações passadas à imprensa de que ele seria usuário de drogas e estaria devendo a traficantes, supostos autores do homícidio. Na ação que deixou ainda dois feridos, teriam participado oito homens em dois carros sem placa.

Com cartazes e propagando sua revolta através de um carro de som, alugado com a contribuição dos amigos, os manifestantes denunciaram o que classificam de “extermínio indiscriminado de negros pobres”. O Negro Bull, como Clodoaldo era conhecido, participava do grupo de rap Etnia e muitos companheiros do movimento utilizaram o microfone para reclamar do pouco caso da sociedade e o desinteresse da polícia para investigar o caso. “É muito fácil dizer que foi troca de tiros, briga de gangues ou dívida de drogas. É a forma deles dizerem que a vida de um preto, pobre da periferia não vale nada”, afirmou o companheiro de rap, MC Jhô.

Além de Bull, o adolescente Cléber de Araújo Alves levou dois tiros e ainda permanece internado no Hospital Geral do Estado (HGE). Por enquanto, a 10ª Delegacia de Polícia Civil, onde o crime segue sendo investigado, não tem pistas sobre os assassinos. O envolvimento dele com o tráfico ou consumo de drogas foi negado pelas pessoas que o conheciam e participaram do protesto. “Não é comum e não pode ser o cotidiano um jovem preto e pobre amanhecer morto todos os dias”, afirmou Elton Freitas, rapper do grupo Ordem 387, conhecido como BW.

Testemunhas disseram que Clodoaldo, Cléber e um adolescente voltavam para casa quando surgiram dois veículos sem placa e de dentro dos carros um homem gritou: “Ninguém corre. Está todo o mundo devendo”. Clodoaldo foi o único que não correu e ainda suplicou de joelhos para não ser morto. A cabeleireira Negra Jhô, mãe de um dos integrantes do Etnia, conhecia de perto o comportamento do jovem e não acredita que ele estivesse envolvido com atividades ilícitas. “Ele era muito educado, um ótimo rapaz e nunca demonstrou qualquer indício de que estivesse envolvido com drogas”, revelou Jhô.

Duas irmãs de Clodoaldo moram na Alemanha. Dos familiares que vivem em Salvador, nenhum participou da manifestação temendo represárias dos assassinos. Era justamente para se mudar para a Europa e ir morar com as irmãs mais velhas que ele estaria realizando alguns bicos com o irmão. “Aqui negro na periferia com estilo é traficante. Temos que acabar com isso”, afirmou Negra Jhô, responsável pelos penteados afros de muitos turistas e centenas de moradores do Centro Histórico.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 06.03.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/
noticia_impressao.asp?codigo=123707

Sunday, March 04, 2007

Jovens negros sao os que mais morrem!

Violência policial contra jovens “excede os limites legais", mostra estudo

Brasília - Estudo sobre direitos humanos no Brasil revela que os agentes do Estado, “responsáveis pelo cuidado da vida e dos direitos humanos dos cidadãos”, são os que mais têm transgredido as leis de proteção de crianças e adolescentes no país. E a violência policial, considerada a mais visível dentre as praticadas por agentes públicos, “excede os limites legais, denominando-se claramente como abuso de poder”.

Leia matéria completa em:

O Dia Online, Agencia Brasil, 05.03.2007

Combatentes africanas querem se vingar de abusos

Combatentes africanas querem se vingar de abusos

Corte e costura à parte, é grande o número de mulheres que ingressa nas forças governamentais ou rebeldes pela auto-proteção. Quatorze anos de guerra civil foi tempo suficiente para inundar a Libéria de armas e banalizar a violência.

Constantemente sob ameaça de violência sexual, a possibilidade de se tornar uma soldado e carregar armas é vista como a melhor maneira para garantir a proteção do medo intermitente.

Leia matéria completa em:

JB Online, 04.03.2007