Tuesday, October 31, 2006

Clodovil Racista

31/10/2006 15:50:00

Federação israelita entra com ação judicial por racismo contra Clodovil


A Federação Israelita do Rio de Janeiro acusa o deputado federal eleito de São Paulo Clodovil Hernandes (PTC) de racismo. Em entrevista à Rádio Tupi, na última sexta-feira, o apresentador de TV afirmou que os judeus manipularam o holocausto e que os americanos forjaram o atentado de 11 de setembro de 2001. Clodovil declarou ainda que da última vez em que visitou os Estado Unidos se sentiu ofendido ao ser abordado por um guarda negro na alfândega. O deputado eleito chamou o policial de "crioulo" durante a entrevista.

De acordo com o presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro, Osias Wurman, a instituição entrou com uma interpelação judicial para que Clodovil desminta ou confirme as declarações.

Wurman afirmou que Clodovil estaria se escondendo para não receber a notificação da Justiça. "A informação que temos é que ele esta num hotel, talvez para evitar a notificação, uma vez que é local ignorado", disse. O presidente da instituição destacou ainda que Clodovil não é réu primario, porque foi condenado em 2004 a pagar 80 salários mínimos por ter chamado uma vereadora paulista de "macaca".

As declarações de Clodovil já provocaram reações de políticos, entre eles o deputado federal eleito Walter Feldman (PSDB-SP) e o deputado estadual Carlos Minc (PT-RJ). Minc fará um discurso na assembléia legislativa fluminense repudiando as afirmações de Clodovil.

As informações são do Terra
O Dia Online
http://odia.terra.com.br/politica/htm/geral_65233.asp

Show de reggae comemora 20 anos de dedicação ao ritmo no Rio



"Modéstia a parte também sou um dos responsáveis por esses 20 anos do
Reggae no Rio de Janeiro. E nao devemos esquecer o grande articulador
do Reggae NEC, que foi Mauro Nemme... E também figuras como
Nego Beto, Makandal, Mariano, Repolho, Clori, Ivo Fotógrafo, Jane Ungaretti, Nabby Clifort, Alberto Santos, Jair Batera, Hermógenes, Luiz Jacaré, Serginho Meritti, e outros/as que elevaram a temperatura do Reggae e de Rastafari no
Rio de Janeiro..." Ras Adauto, de Berlin
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31/10/2006 12:39:00

Show de reggae comemora 20 anos de dedicação ao ritmo no Rio

Olívia Mendonça

Há 20 anos, soava pelas ruas do Catete, no prédio da UNE, um swing, uma vibração diferente. Era o reggae, que fazia ali sua sede carioca e revelou bandas como Lumiar, que mais tarde se chamaria Cidade Negra, e KMD-5, que se desdobrou em O Rappa e Negril.

O movimento foi batizado de Reggae NEC (Núcleo Experimental de Cultura). Pois bem: essa galera, comandada por Da Gama, do Cidade, vai se reunir para fazer a festa 20 anos de Reggae no Rio, nesta terça-feira, no Circo Voador.

Além dos ilustres já citados, o evento conta com a participação de Edu Ribeiro, Banda Suburbanda, Armandinho, Dom Luis Rasta, Evandro Mesquita, Vell Rangel, AfroReggae, Helio (vocalista do Ponto de Equilíbrio), Junior do Natiruts, Rio Reggae Banda, Didon (da Banda Negril), Zeider (Banda Planta e Raiz), Rás Bernardo (ex-vocalista do Cidade Negra) e por aí vai.

Quem explica a idéia é Dom Luiz Rasta, mestre da galera dos dreads e precurssor da invasão do reggae na cidade. “Eu comecei o reggae nos anos 70, mas era da Baixada e a coisa não descia para a Zona Sul. Foi no fim de 85 que tive a idéia de fazer um show no Centro e tudo começou a dar certo. O Reggae NEC virou point”, lembra Dom, que, aos 55 anos e com sua fala arrastada, mantém-se fiel às raízes: mora no Sana, tem uma banda por lá e quase nunca sai de casa. “Pra quê? Tenho tudo. Meu CD vende à beça por aqui”, desdenha.

Tekko, ex-vendedor de camiseta, DJ e um dos fundadores do Afroreggae, tenta explicar melhor. “A luta tem um pouquinho mais de tempo, mas como o Reggae NEC foi o primeiro espaço que conquistamos, virou um marco”, conta.

Da Gama dá o veredito: “Já tinha essa idéia há 15 anos, mas não tinha muito motivo fazer o show. Aí o Dom Luiz me ligou e botou pressão. Esperamos virar 20 anos para ficar redondo e este ano conseguimos”, revela, desvedando, enfim, o motivo da data.

“O show também vai servir para explicar para a nova geração como surgiu o reggae por aqui. Como dizia Bob Marley, ‘é preciso conhecer suas raízes’. O Armandinho, Vell Rangel, Ponto de Equilibrio só existem porque abrimos espaço”, diz.

A ‘velha guarda’ abençoa os novos artistas. Mas as novas vertentes de ritmo jamaicano também são vistas com bons olhos. “Acho muito legal a galera que faz dub, dancehall. Adoro o Digitaldubs. Se a gente não renova a casa cai. Se o Bob Marley estivesse vivo, estaria fazendo reggae com eletrônico”, acredita Ras Bernardo.

Seguidores acreditam em um novo "boom"

O DJ Fernando Costa, parceiro de Da Gama em programa de rádio e um dos responsáveis por levar o reggae da Jamaica para a Barra da Tijuca, acredita que o reggae vem aos poucos tomando o lugar que o rock deixou.

“O rock vem deixando a desejar. Não tem mais ideais nem mensagens e o reggae vem ocupar este espaço. Estamos vivendo um momento histórico de evolução”, exagera.

Para ele o ritmo perpetuado por Bob Marley vem se diversificando e tomando o mundo numa grande onda verde, amarela, vermelha e preta. “É só você ir aos Estados Unidos e ver que lá está tocando direto. São várias boates dedicadas ao dub, ragga, dancehall e reggae raiz.

O próprio sucesso em torno de Matisyahu (o judeu americano que prega através das leis de Jah) é um sinal disso. Sem falar dos soundsystems que estão surgindo por aí”, enumera Costa. “O que queremos com esse show de hoje é mostrar para os moleques que gostam do ritmo atualmente que dá para fazer dar certo. É só seguir o exemplo e se organizar”, ensina.

O evento contará com jam sessions dos artistas intercaladas com sets dos DJs Fernando Costa e Tekko. É entrar na onda.

O Dia Online, 31.10.2006
http://odia.terra.com.br/cultura/htm/geral_65176.asp

Monday, October 30, 2006

Ilê Aiyê: Patrimônio afro


Foto: Ras Adauto Berlin
http://www.fotothing.com/rasadauto/photo/9f772cceb29d40b56f487ed0019a2a7d/start=140


Patrimônio afro
Ilê Aiyê comemora 33 anos de história com uma extensa programação cultural

Camila Vieira
O Ilê Aiyê comemora, amanhã, 33 anos de existência e os três anos de fundação da sede do grupo, a Senzala do Barro Preto. Mas a festa não se restringirá a só um dia. Durante este mês, haverá uma programação cultural extensa, com apresentações de artistas da música baiana, como Margareth Menezes, Tribahia, Mariene de Castro, além do samba-de-roda de dona Nicinha de Santo Amaro. Também acontecerá o lançamento do livro de fotografias do Ilê, caminhadas e a esperada Noite do Wa Jeum (festival de comidas africanas). É o Novembro de Azeviche.


Primeiro bloco afro da Bahia, o Ilê Aiyê iniciou sua trajetória em 1º de novembro de 1974, no Curuzu, Liberdade, bairro de maior população negra do país, com 600 mil habitantes. O presidente e criador do Ilê Aiyê, Antônio Carlos dos Santos, o Vovô, lembra o quanto foi difícil conquistar a confiança das pessoas. “A idéia de montar um bloco afro surgiu há 33 anos, quando voltava de Itapuã e sentei com meu amigo Apolônio num bar da esquina, aqui mesmo no Curuzu. No primeiro ano, naquela época da ditadura, tivemos cerca de cem pessoas no bloco. Sequer tínhamos instrumento – era só um tambor fazendo a percussão”, lembra Vovô.


O movimento rítmico musical inventado na década de 70 foi responsável por uma revolução no Carnaval baiano. A partir deste movimento, a musicalidade da folia ganhou força com os ritmos oriundos da tradição africana, favorecendo o reconhecimento de uma identidade peculiar baiana, marcadamente negra.


Hoje, o espetáculo rítmico-musical e plástico que o bloco exibe no Carnaval emociona baianos e turistas e arranca aplausos da população. O Ilê tem cerca de três mil associados e é considerado um patrimônio da cultura baiana, um marco no processo de reafricanização do Carnaval da Bahia.


Vovô recorda que muitos nomes foram selecionados antes da escolha do título Ilê Aiyê. “Pensamos em Poder Negro, Loku-du (negro forte) e Obadu (rei negro), mas as pessoas logo se apaixonaram pelo Ilê Aiyê, que significa ‘casa grande’, mundo negro”, explica.


Embora exista há 33 anos, o Ilê tem sede própria há apenas três. Quando surgiu, em 1974, funcionava na casa de mãe Hilda dos Santos, mãe de Vovô e uma das mais respeitadas ialorixás da Bahia. Depois, a banda passou a fazer os ensaios em um posto médico do bairro. A carência de um espaço adequado no Curuzu fez com que a banda realizasse seus ensaios no bairro do Santo Antônio, onde o Ilê permaneceu durante 16 anos.


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Princípios do candomblé


Ilê Axé Jitolu é nome do terreiro de candomblé de Nação Gegê-nagô comandado por mãe Hilda, que reside no bairro desde 1938. Neste espaço sagrado, em 1974, nasceu o Ilê Aiyê, que, apesar de profano, herdou os fundamentos e princípios do candomblé, como a compreensão da convivência social, o respeito aos mais velhos e o aproveitamento da simbologia para suas canções, toques, adereços e figurinos, sem ferir os fundamentos religiosos.


Como uma agremiação da comunidade negra, o Ilê firmou-se como um dos principais agentes no resgate da auto-estima e elevação da consciência da população negra na capital da Bahia, fortalecendo a cultura brasileira por meio da manutenção e difusão das raízes afro-baianas. Diferentemente de outros blocos tradicionais da Bahia, abertos a quem possa adquirir suas fantasias, o Ilê tem como objetivo a valorização do negro na formação nacional e a busca de recursos que mantenham seus projetos sociais.


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PROGRAMAÇÃO


DIA 01 (hoje)
20h - 33º Aniversário do Ilê Aiyê
Caminhada do Plano Inclinado da Liberdade ao Curuzu
22h - Show da Band’Aiyê & Tribahia
Local: Centro Cultural Senzala do Barro Preto (Curuzu)


DIA 04
22h - Ensaio especial
Atrações: Band’Aiyê, Banda Afro Men & Sorri Pra Mim


DIA 11
22h - Ensaio especial comemorativo a independência de Angola e Zimbabwe
Atrações: Band’Aiyê & Convidados


DIA 14
21h - Noite do Wa Jeum
Jantar Africano – Mais de 50 pratos (bebida inclusa)
Atrações: Band’Aiyê & Samba de Roda de Nicinha (Santo Amaro)


DIA 18
22h - Ensaio do Afro Pop Brasileiro
Atrações: Band’Aiyê, Malê Debalê, Muzenza, Olodum, Cortejo Afro & Margareth Menezes


DIA 20
Dia Nacional da Consciência Negra
Caminhada da Liberdade ao Pelourinho
311 anos de Imortalidade de Zumbi dos Palmares


DIA 25
22h - Ensaio Especial
Atrações: Band’Aiyê, Negros de Fé & Mariene de Castro
Lançamento do Livro de fotografias do Ilê Aiyê


DIA 26
I Corrida Baiana Zumbi dos Palmares
Saída : Conceição da Praia, às 9h da manhã
Chegada: Largo da Boa Viagem

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 31.10.2006
www.correiodabahia.com.br

Índios do Parque do Xingu protestam divulgando carta

"Sobre esta carta, este "Grito do Xingu", escrita por jovens lideranças do Parque Indígena do Xingu na qual expressam indignação, perplexidade e
preocupação ante a recente decisão da Justiça que autoriza o (re)início das obras da PCH Paranatinga II, no rio Kuluene, vale fazer algumas considerações.

1.) Meses atrás essas jovens lideranças indígenas organizaram um protesto diante das obras da PCH - feitas em local considerado sagrado - e agora
estão sendo indiciados pela Polícia Federal.

2.) Julgo oportuno, no momento em que estamos prestes a eleger nosso novo (ou não tão novo) presidente, que esta carta seja divulgada de modo a promover uma importante reflexão. Os dois candidatos que aí estão têm se comprometido a dar continuidade aos projetos de infra-estrutura apoiados pela atual matriz energética, dentre os quais está a citada PCH.
Att.,
Júlio César Borges
Antropólogo
ACT Brasil

Grito do Xingu

Parque do Xingu, 18 de outubro de 2006.

Nós, povo Indígena do Xingu, vimos por meio deste, manifestar toda nossa indignação e angústia diante de decisão liminar proveniente do Tribunal, na qual foi permitida a continuidade da obra da Pequena Central Hidrelétrica de Paranatinga II até a produção de decisão de mérito sobre a questão.

A comunidade indígena se vê ameaçada por esta realidade alarmante que reflete uma política governamental focada em interesses da elite econômica, a qual vai flagrantemente de encontro aos direitos sócio-ambientais constitucionalmente assegurados.

É desesperadora a perspectiva dos graves impactos que serão gerados se a PCH Paranatinga II vier a se efetivar. Somos Povos da Floresta e a relação de respeito que mantemos com meio ambiente propicia a manutenção da vida e da biodiversidade. A tão falada sustentabilidade, que os não-índios colocam como fundamental à sobrevivência e a existência das próximas gerações, mas poucos fazem para efetivar, foi por nossos antepassados, e é por nós, naturalmente buscada, pois nossos modos e cultura não se pautam por práticas degradantes, visando interesses utilitaristas de uma classe, e sim ações que atendam aos interesses do coletivo e que não ocasionem danos ao meio natural que nos envolve e nós fornece toda a riqueza que necessitamos para viver.

Logo, contraditório nos parece, que o Estado Brasileiro, do qual fazemos parte, realize ou legitime práticas que atentam contra a existência de nossa coletividade. Nossa diversidade e sua contribuição para a vida no Planeta não é reconhecida e respeitada. Apesar do ordenamento jurídico nacional e internacional determinar o dever estatal de proteção das comunidades indígenas o modo de vida do homem branco é colocado como referencial e a as diferenças são vistas como ameaças a serem, aos poucos, eliminadas.

Lutamos contra este estado de coisas. Os gritos do Xingu devem ser ouvidos! Temos o direito de participar e decidir sobre projetos que interfiram em nossas terras, em nossas culturas, em nossas crenças, em nosso modo de vida.

Não queremos que o Rio Kuluene seja poluído com o óleo eliminado pelas turbinas.

Não queremos que os peixes desapareçam devido à barreira artificial que está sendo construída e que impedirá a subida de inúmeras espécies, que fazem parte da dieta alimentar do povo Xinguano;

Não queremos ter nosso regime alimentar fique comprometido pela falta dos peixes;

Não queremos o restante da fauna terrestre desapareça;

Não queremos que espécies da flora desapareçam;

Não queremos que o local ‘sagrado’ do primeiro surgimento de Kuarup seja inundado;

Não queremos uma obra que está voltada para os interesses de um empresariado que somente objetiva acumular riquezas às custas da morte.

NÃO QUEREMOS A PCH PARANATINGA II!

E sim queremos que a Constituição Federal, a Convenção n° 169 da OIT e a Carta da Terra, com seu conjunto de Princípios – entre eles, Princípio do Direito à Vida Saudável, Princípio da Dignidade, Princípio da Participação social, Princípio do Respeito à Diversidade, Princípio da Proteção do Meio ambiente-, sejam efetivadas!

Somos povos resistentes! São mais de cinco séculos de opressão, fruto da estupidez do homem branco que desconsidera que diversidade é evolução.

Continuaremos na luta!

Finalizamos esta carta atentando para a responsabilidade e o compromisso do Poder Judiciário com a Justiça Social, a fim de que práticas abusivas e desumanas não se tornem lugar comum em nosso País.

Amigos e amigas autoridades do País, defensores da Natureza, solicitamos apoio de todos para preservamos juntos a nossa grande riqueza: rios, matas, peixes e flora do nosso país que resta de pouco em nossa reserva do Parque do Xingu.

Por favor, nos ajude!

COMISSÃO INDÍGENA DO MOVIMENTO DO PARQUE DO XINGU agradece desde pelo apoio de todos e solidariedade.

Por favor, divulguem esta carta."
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E para quem gosta de fotos, vejam no site abaixo as fotos
belíssimas dos índios Kuikuro, no Xingu.

"Kuikuro (peixinho bicudo), uma das catorze aldeias que integram o Parque Nacional do Xingu, fundado em 1961 por iniciativa dos irmãos Villas Boas. Falam o dialeto Karib, somam-se 400 indígenas e habitam o Alto Xingu, às margens do rio Kuluene."

http://www.pbase.com/wcmaguiar/indios_kuikuro

Sunday, October 29, 2006

Reeleição de Lula representa a derrota da Casa-Grande

Além do fato - LEONARDO BOFF, teólogo

JB, 30.10.2006

Reeleição de Lula representa a derrota da Casa-Grande

O livro Casa-Grande & Senzala(1933), de Gilberto Freyre, representa mais que um dos textos fundadores da moderna interpretação do Brasil. Os dois termos dão corpo a um paradigma e a uma forma de habitar o mundo. Habitar na forma da Casa-Grande significa estabelecer uma relação patriarcal de dominação social, de criação de privilégios e hierarquias. Habitar na forma da Senzala é ser espoliado como ser humano, seja na forma do escravo negro, feito "peça" a ser vendida e comprada no mercado, seja do trabalhador, usado como "carvão a ser consumido" (Darcy Ribeiro) na máquina produtiva.

Estas duas figuras sociais superadas historicamente ainda perduram introjetadas nas mentes e nos hábitos, especialmente de nossas oligarquias e elites dominantes. Elas ainda se consideram as donas do Brasil com exígua sensibilidade pelo drama dos pobres. A Casa-Grande se transformou em poderosa realidade virtual que se manifesta na forma como age o grande capital nacional, como se fazem alianças entre donos da imprensa empresarial, como se manejam os fatos e se cria o imaginário pela televisão para que a Senzala continue Senzala, seu lugar na sub-história.

Leia artigo completo em:

http://jbonline.terra.com.br/editorias/pais/papel/2006/10/30/pais20061030017.html

Friday, October 27, 2006

Agentes falam sobre racismo e saúde

Mariana Rios

Teatro, música e informação marcaram o Dia de Mobilização Nacional Pró-Saúde da População Negra, comemorado ontem em mais de 20 estados brasileiros. Em Salvador, o Parque de Pituaçu sediou uma parte da movimentada agenda, e agentes de saúde do distrito sanitário da Boca do Rio esclareceram a população sobre racismo e saúde. Os índices do Ministério da Saúde apontam maior dificuldade de acesso por parte da população negra aos serviços de saúde. O risco de morte, por exemplo, por doenças infecciosas e parasitarias é 60% maior para as crianças negras e pardas com menos de 5 anos quando comparadas às brancas.

Esta semana, o ministro da Saúde, Agenor Álvares, colocou em discussão as bases para a Política Nacional de Saúde da População Negra. No texto, o governo federal reconhece a existência do racismo institucional e a desigualdade étnico-racial no Sistema Único de Saúde (SUS). Depois de admitida a falha, o ministério pretende investir em capacitação de profissionais e campanhas de conscientização. Segundo estimativas do órgão federal, 90% da população que se autodeclara negra depende do SUS.

Para a coordenadora do grupo de trabalho de saúde da população negra da Secretaria Municipal de Saúde, Denise de Almeida, o SUS, em si, não é racista, apenas reproduz os preconceitos da sociedade brasileira. “O racismo na educação, no acesso ao emprego ou à terra impacta na saúde. É necessário dar uma atenção maior para este grupo, de uma forma geral”, afirmou Almeida. No centro de saúde, muitas vezes, o profissional não está capacitado para lidar com doenças de prevalência na população negra, seja por deficiência na formação ou por falta de capacitação. “Isto é reflexo do racismo também”, explicou Almeida.

Ela pontuou que anemia falciforme, hipertensão arterial, mortalidade materna são as ocorrências mais comuns entre a população negra. “Falta à mulher negra orientações sobre planejamento familiar e atendimentos pré-natal”, declarou. De acordo com o Ministério da Saúde, 40% das mães dos nascidos vivos afirmaram ter comparecido a sete ou mais consultas de pré-natal. Os menores percentuais foram observados para mães pretas, pardas ou indígenas.

A intenção é levantar a discussão, identificar causas sobre os motivos de a população negra ainda sofrer para ter acesso a um serviço de saúde precário. Além das doenças do aparelho circulatório, mortes por causa externa, que vitimizam, em 90% das ocorrências, negros, jovens e pessoas de bairros periféricos, são outra preocupação que deve ser colocada na ordem das discussões.

Cultura - Para Almeida, o maior desafio é “trabalhar o profissional para que ele compreenda o papel importante que desempenha, sem nunca esquecer a abordagem adequada, já que 45% dos maiores de 15 anos são analfabetos funcionais”, ou seja, lêem, mas não compreendem o conteúdo da informação. Em Salvador, com a população majoritariamente negra, o desafio é reverter os indicadores e fazer do conceito de equidade não só uma meta para saúde.

Outra bandeira levantada ontem, no Dia de Mobilização Nacional Pró-Saúde da População Negra, foi a ampliação no SUS da adoção de práticas tradicionais da cultura negra, como a utilização de plantas medicinais em tratamentos médicos. Em alguns terreiros de candomblé e na Botica da Terra, no Pelourinho, através do programa de extensão da Ufba Farmácia da Terra, foram distribuídos panfletos e orientações.

A professora da Faculdade de Farmácia da Ufba, Mara Zélia de Almeida, explicou que, em junho, o Ministério da Saúde aprovou a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que traça diretrizes da saúde da população dentro do respeito às tradições de cada etnia. “É necessário e importante que seja implantado o mais rápido possível práticas integrativas e complementares ao tratamento. Uma forma de humanizar e individualizar o tratamento”, afirmou Mara Zélia. Assim, chás serão receitados concomitantemente ao medicamento.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 28.10.2006 www.correiodabahia.com.br

Thursday, October 26, 2006

Salve, Saravá, Axé, Aranauam, Salihed, Maná, Mucuiú



Blog foi criado para divulgar acervo extenso de discos raros de cultos
de matriz Afro-Indígena... Quilombos News informa:
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Salve, Saravá, Axé, Aranauam, Salihed, Maná, Mucuiú,

Segue mais uma iniciativa da FTU (Faculdade de Teologia Umbandista) que o CONUB tem imensa satisfação de apoiar.

Trata-se de um blog construído pelo corpo docente onde iremos encontrar um acervo extenso de discos de cultos de matriz Afro-Indígena do Brasil, conforme explicação existente no mesmo. Para acessar o blog é só clicar em
<http://acervoftu.blogspot.com/>
e deixar seus comentários.

Parabéns aos criadores do blog por permitir que o contato com os
visitantes possa existir de fato.

Um saravá fraternal,
Fárida Lopes Pires
Assessora de Comunicação do CONUB
www.conub.org.br <http://www.conub.org.br>

"O Acervo da Faculdade de Teologia Umbandista foi criado como resgate das tradições musicais dos templos brasileiros,conhecidos como Umbandas,Encantarias e Nações. Inclui a recuperação de fonogramas antigos, que são salvos em arquivos digitais e o registro de todo tipo de manifestação musical desta origem. Aqui postamos comentários dos discos já catalogados. Doações:FTU – Av. Santa Catarina, 400–Vila Santa Catarina.Tel:5031-8852/obashanan@bol.com.br"

ACERVO FTU - www.ftu.org.br

"Jesus Cristo era Negro!...



Um filme polêmico deve levantar muitas discussões, não só nos Estados Unidos como em outras partes do mundo, principalmente entre católicos. Estréia nesta semana “Color of the Cross” (A Cor da Cruz), primeiro filme na história do cinema norte-americano a retratar Jesus Cristo como um homem negro.

Escrito, dirigido e estrelado pelo ator negro Jean Claude LaMarre, o filme aponta que a crucificação de Jesus Cristo na Galiléia foi motivada antes de tudo por racismo.

Em entrevista à revista Variety, o reverendo Cecil ´Chip` Murray acredita que o filme possa ajudar a reverter a visão negativa que a população americana possui dos negros, denunciando e combatendo o racismo e a discriminação que a população negra sofre nos Estados Unidos.
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This powerful, epic film vividly portrays the last 48 hours of the life of Jesus Christ and challenges commonly held assumptions about Him. With moving performances from Jean-Claude LaMarre (Malcolm X) and Debbi Morgan (Woman Thou Art Loosed), this stirring film is a triumph!

The first depiction of Jesus as a black man, Color Of The Cross is also the first to suggest that the Crucifixion could have been racially motivated. A compelling script and astounding interpretations of The Bible make this daring masterpiece an achievement not to be missed. With its inspiring, unconventional approach to an emotionally volatile issue, Color of the Cross presents a fresh perspective on the history of Christianity and delivers as moving a portrait of His life as has ever been put to film!

By portraying Jesus as a black Jew, this movie may appear controversial to some. However, it stands to be the single most positive image of a black lead character in a film to date. This film will undeniably resonate in the hearts and minds of the black community and strike a cord of inspiration in the hearts of Christians of all ethnicities around the world.

Color of the Cross tells a story that is familiar to most. The movie addresses four areas: Jesus and his disciples, the state of mind of the Romans occupying Judea, the issues facing the Rabbis in the Sanhedrin, and the family life of Joseph, Mary and their remaining children as they were affected by Jesus' persecution.

The movie opens with Jesus and the disciples approaching Jerusalem for the Last Supper and the film unfolds with the events leading up to Jesus’ capture and crucifixion. This extensively researched film remains true to Biblical and historical facts.

Shot on 35mm anamorphic film, Color of the Cross theatrical release is due in October 2006, distribution rights held by 20th Century Fox Entertainment and followed by the DVD release by 20th Century Fox Home Video Division who also released Mel Gibson’s “The Passion of the Christ” on home video.

Color of the Cross is a Nu-Lite Entertainment production, and producers are Rev. Cecil "Chip" Murray, Kenneth Halsband, Jean Claude LaMarre, Executive Producers Lila Aviv, Marc Porterfield, and Jessie Levostre.

Veja o site do filme com informacoes completas

http://www.colorofthecross.com/

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Ras Adauto Berlin, 26.10.2006
para o Blog: http://quilombosnews.blogspot.com


Fotos: Divulgacao

Tuesday, October 24, 2006

Jovens acusados de racismo são presos em SP

Os ataques aos direitos dos negros e negras, descendentes dos/as
que construiram o país, vão desde a pressão de contra-informação
do sr. Ali Kamel, diretor-executivo de Jornalismo da Rede Globo,
com o seu livro "Não somos Racistas", apoiado e elogiado por

figuras como Caetano Veloso e Arnaldo Jabor, aos manifestos
e manifestações de contra-cotas de acadêmicos e intelectuais, muitos deles/as
estudiosos/as de negros/negras, até aos fatos abaixo relatados na prisão
de um grupo pertencente à facção "neonazis tupiniquim".

O que tem tudo isso a ver com a luta dos afrodescendentes no Brasil?

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Jovens acusados de racismo são presos em SP

Os três rapazes colavam panfletos na Zona Sul contra a cota para negros nas universidades

Gio Mendes* e Luisa Alcalde* SÃO PAULO. Três rapazes foram presos em flagrante quando colavam cartazes contendo ataques contra negros nas imediações da Estação Vila Mariana do Metrô, na Zona Sul de São Paulo, ontem de madrugada.

Um estudante negro viu o conteúdo do cartaz e avisou à Polícia Militar. O trio de panfletários seria integrante do movimento White Power, uma subdivisão racista dos skinheads. A polícia autuou os acusados por racismo, crime inafiançável. Caso sejam condenados, os rapazes podem cumprir pena de dois a cinco anos de prisão.

O Ministério Público Estadual (MPE) designou um promotor para acompanhar o inquérito.

Ontem à tarde, os três rapazes foram transferidos da carceragem do 36oDistrito Policial para o Centro de Detenção Provisória (CDP) Independência.

Os cartazes traziam mensagens preconceituosas para criticar o sistema de cotas para negros nas universidades, mostrando um jovem negro segurando uma prova, com respostas desrespeitosas e erros grosseiros. O panfleto é assinado pela organização White Power São Paulo, que tem site na Internet, hospedado num servidor dos Estados Unidos.

Um aluno negro do curso de Letras da Universidade de São Paulo (USP), E.B., de 25 anos, que pediu para não ser identificado, viu os três rapazes pregando os cartazes. Ao ler o conteúdo, ficou revoltado e ligou para Polícia Militar.

— É um contra-senso ter um grupo racista desses numa cidade como São Paulo, conhecida por sua diversidade de raças e culturas.

Foram presos em flagrante Emerson de Almeida Chieri COM OS três rapazes foram apreendidos mais de cem cartazes e potes de cola, além de um soco-inglês (24 anos), Eduardo Brandão Jarussi (26) e Rogério Costa Andrade (27). Eles estavam com centenas de cartazes, potes de cola e um soco-inglês.

Os três têm diversas tatuagens pelo corpo e, dois deles, cabeças raspadas, um visual comumente usado por s ki nheads.

Em depoimento no 36° Distrito Policial (Paraíso), os rapazes negaram ser racistas e alegaram que estavam protestando apenas contra as cotas para negros.

O diretor da Organização Não Governamental (ONG) Educafro, frei Davi, afirma que somente a prisão dos três jovens envolvidos na panfletagem não encerra a discussão sobre atitudes preconceituosas .

— Há mais de 15 grupos antinegros atuando no Brasil que pregam a superioridade da raça branca. Eles sofrem de uma doença chamada racismo.

Além de punição, precisam de tratamento, porque a cadeia só não resolve.

Para o frei, esses grupos precisam aceitar e aprender a conviver com a diversidade de raças existentes no país.

A presidente da Comissão do Negro e de Assuntos Antidiscriminação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Carmen Dora, concorda com o diretor da Educafro.

— É muito bom saber que a polícia agiu com rapidez e de forma eficiente. [1] *Do Diário de S.Paulo

O Globo Online, O País , 24.10.2006 - www.oglobo.com.br

UAFRO faz 10 anos


Novembro 2006
{MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA}

Dia 1 de novembro, quarta-feira de 2006, estaremos dando início
as atividades do Mês da Consciência Negra.

Local: Saguão do Teatro Municipal de Santo Adré. A partir das 19h.

COMPAREÇAM.
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Uafro é o encontro de jovens artistas com trajetórias pessoais de luta e ativismo social, que somaram suas habilidades e saberes para fazer da arte, da musicalidade, da fala e da ponta da caneta um arsenal em defesa da cultura, da tradição, da ancestralidade, continuidade e da identidade negra.

MRB - Música revolucionária brasileira é a proposta da Uafro, de reunir diversas formas de expressão cultural como teatro, dança, música e imagem a uma intervenção política nos espaços urbanos e rurais. É a conjunção entre artista, público, ambiente e transformação social.

Em suas composições a Uafro procura relatar o descaso com a população periférica e com a comunidade negra, usando e abusando da africanidade na melodia de suas músicas.
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Fundada em 1996 como “atividade negra”, a banda muda o nome para Uafro em 1997. em 1998 participa da coletânea “Revolução com a nossa cara”, produzido pela União da Juventude Socialista. No ano seguinte é a vez do CD “Nós na fita”, que conta com a participação de vários grupos do ABC Paulista, coletânea produzida pela União de Artistas Cidadãos. Em 2000, a Uafro faz uma participação no álbum “Santo André Canta”, que reuniu além de outros a banda
K-Ram-K, o Projeto Nave e o músico Vasco Fae.

Outros estilos musicais são acrescentados a sonoridade do grupo, como funk, samba, ritmos nordestinos e a criatividade de Djs nos shows. Nessa fase, a Uafro participou de mais duas coletâneas: “Projeto viajar”, em 2001, e o CD “Tributo ao prefeito Celso Daniel”, em 2002 (assassinado no mês de janeiro daquele ano).

Visite o site da banda:
http://www.uafro.com/

Monday, October 23, 2006

2 anos do Museu Afro Brasil


Clique na Foto para ver o poster em tamanho grande

Paula Lima abraça o samba


Paula Lima abraça o samba
A cantora paulista acerta no terceiro CD solo,
"Sinceramente"

Hagamenon Brito-hbn@correiodabahia.com.br
Discomania, Correio da Bahia, 23.10.2006

Negras e novas melodias no ar


Negras e novas melodias no ar

Li e Leilah Moreno lançam CDs e estrelam o filme ‘Antonia’ e a série ‘Brasilândia’



Hagamenon Brito-hbn@correiodabahia.com.br

Negra Li, 27, e Leilah Moreno, 24, têm algumas coisas em comum além do fato de serem cantoras, paulistas, bonitas e negras. Elas gostam de black music (hip hop, R&B, soul), pertencem ao elenco da major Universal Music, querem um lugar ao sol na cena pop nacional e protagonizam o filme Antonia.

Dirigido por Tata Amaral (Através da janela), o filme conta a
história do grupo de hip hop Antonia, formado por Preta (Negra Li), Bárbara (Leilah Moreno), Lena (MC Cindy) e Mayah (Quelynah). As garotas lutam contra o machismo e o preconceito em meio à cultura do rap na periferia de São Paulo.

Veja matéria completa em:
http://www.correiodabahia.com.br
Correio da Bahia, Discomania, 23.10.2006

Sunday, October 22, 2006

Índios Guarani em situacao dramática!





Veja: Fotos da situação dos Índios Kaiowá no Mato Grosso do Sul
by Por voluntári@s do CMI-Goiânia em MS Thursday, Jan 12 2006, 11:49pm
brazil/guyana/suriname/fguiana / indigenous struggles / news report
http://www.anarkismo.net/newswire.php?story_id=2146
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Prezados,
Queremos fazer uma breve análise sobre a grave situação dos aproximadamente 40.000 indivíduos guarani-kaiowa e guarani-ñandéva do extremo sul de Mato Grosso do Sul.
O sinistro episódio do dia 01.04.2006 no Passo Piraju (Dourados, MS), além de se apresentar com toda sua dramaticidade, permitiu que determinados preconceitos e estigmas sobre os índios se manifestassem com extrema virulência. A imediata caracterização do evento por parte da Polícia Civil de que os Guarani-Kaiowa teriam tecido uma emboscada aos seus três agentes foi rapidamente divulgada pela mídia local como sendo “a verdade”, e não simplesmente uma hipótese preliminar, como de fato é.
A imprensa e a rádio não perderam a oportunidade de desenhar uma imagem dos índios como selvagens e truculentos, beirando os limites da desumanidade; as manchetes apontam que estes armam emboscadas e matam por motivo vil. Há aqui, antes de tudo, incitação ao preconceito e ao ódio – o que acaba por colocar em risco indistintamente toda a população guarani, inclusive as que não têm qualquer ligação com o episódio.
Cabe ressaltar aqui o modo de proceder dos kaiowa e dos ñandéva contemporaneamente. Estes têm demonstrado que priorizam a via diplomática a arroubos belicosos diante das muitas ocasiões em que são agredidos pelo “branco” – o que se manifesta em espectro amplo, que vai do racismo cotidiano (em ônibus intermunicipais, nos supermercados, nas lojas dascidades) até a freqüente presença de jagunços e seguranças particulares (que, observe-se, muitas vezes são policiais atuando em “bicos” fora do emprego oficial), os quais atuam rondando e atirando para o ar nas proximidades de áreas de conflito.
Uma variável importante deve ser considerada na análise do episódio.
Recentemente, em reunião no Gabinete do Chefe de Governo da Prefeitura de Dourados, com a presença das autoridades de segurança locais (inclusive a Polícia Civil e a FUNAI), foi encaminhada a decisão de que qualquer intervenção policial em comunidades indígenas não ocorreria sem se acionar prioritariamente a FUNAI. A iniciativa policial no Passo Piraju se furtou a esta determinação. A Polícia Federal, por sua vez, teve sua atuação marcada pela falta de empenho. Por fim, o argumento da Polícia Civil de que não estava em questão uma terra indígena oficial visa ofuscar o fato notório da presença no local de uma comunidade indígena, em área de conflito, com permanência autorizada (através da intervenção do Ministério Público Federal) pelo 3º Tribunal Federal de São Paulo, desde 2004.
Embora se espere da prática de um jornalismo democrático que investigue com acuidade os fatos para divulgá-los com responsabilidade, contrapondo fielmente versões das partes envolvidas de modo a que a opinião pública possa construir pensamento isento, não é o que se constata na mídia local diante do caso da morte dos dois policiais. Paradoxalmente ou estranhamente a postura dessa mídia foi oposta quando do homicídio de Dorvalino Rocha.
Este índio kaiowa, das terras homologadas do Ñande Ru Marangatu (Antonio João, MS), foi assassinado a queima roupa em dezembro passado por um segurança privado a serviço de fazendeiros que se opõem à regularização da terra em benefício dos índios. A mídia aqui evitou emitir opinião unilateral e precipitada, divulgando simultaneamente a versão dos indígenas e da empregadora do autor do disparo.
Constata-se que na divulgação de notícias e formação de opinião, os meios de comunicação locais podem sopesar diferentemente as informações e assim alimentar preconceitos latentes na opinião pública; policiais, comerciantes, estudantes universitários e cidadãos refletem esse proceder e reproduzem informações da mídia colhidas junto aos produtores rurais. Quando segmentos da população regional procuram compreender os índios, seu estilo de vida, suas exigências econômicas, políticas e simbólicas, não o fazem a partir de uma aproximação minimamente científica e pautada em algum rigor descritivo e analítico, mas a partir de um corpus de informações e de valores, que são antíteses da produção erudita: o senso comum.
Não constitui novidade que o senso comum seja responsável por grande parte das ações e das opiniões manifestadas na vida social pelo cidadão comum.
Tampouco é possível pensar, ingenuamente, que essas pessoas possam se transformar em cientistas sociais, chegando a uma visão relativística da vida humana, compreendendo em detalhes a visão do mundo dos índios e suas características organizativas. Ademais, não surpreende o fato de que, com base em seus interesses econômicos e de poder local, os produtores rurais, procurem por todos os meios impedir que os ditames constitucionais sejam cumpridos. Uma analise sumária é suficiente para mostrar que o senso comum que vigora no Mato Grosso do Sul é amplamente construído a partir de uma ideologia ruralista. Nesse sentido, não há dúvida alguma sobre o fato de que para a maioria da população sul mato-grossense os índios são um obstáculo ao progresso – identificado este nos empreendimentos do agronegócio.
Como antropólogos estamos, portanto, acostumados a lidar com categorias e representações morais nativas – e o senso comum da região em pauta não constitui uma exceção. Há, porém que se constatar que nestes últimos anos o nível dos conflitos locais entre fazendeiros e índios tem-se acirrado, os primeiros procurando cada vez mais se articular para que sua própria política seja mais eficiente, enquanto que os segundos multiplicam as reivindicações para recuperar seus territórios tradicionais. Nesse processo, cujos desfechos podem ser dramáticos (como o episódio de Passo Piraju ou de Ñande Ru Marangatu), o que parece surpreendente é o papel do Estado, a falta de um posicionamento claro, enérgico e ético, para enfrentar a situação e dar solução ao problema fundiário local, respeitando a Constituição Federal. (Observe-se que para este propósito não faltou assessoria cientifica qualificada para delinear propostas apropriadas).
Muito embora há décadas tenha sido aclarado (por nós e por outros colegas) aos responsáveis pela condução da política indigenisa oficial, sobre a importância de uma ação indigenista específica, pensada e planejada, priorizando a atenção sobre a produção de alimentos e as questões fundiárias, não houve reações compatíveis às dimensões do problema por parte do Estado brasileiro.
Nos últimos tempos, como dito, a situação vem se agravando, e, de 2003 para cá, isso tem se dado em progressão geométrica, uma das razões que nos levam aqui a apresentar algumas informações e análises, no intuito de contribuir para um mais acurado entendimento da realidade local.
Cabe destacar o fato de que o problema fundiário que embasa conflitos e crises permanentes foi detectado no final da década de 1970, quando os guarani-ñandéva e guarani-kaiowa do Mato Grosso do Sul iniciaram um movimento, organizado a seu modo, de recuperar parte das terras de ocupação tradicional tomadas pela colonização da região, mais intensa a partir dos anos 1960 e sôfrega a partir do milagre brasileiro dos anos 1970. O cenário regional criado nesse processo foi determinado a partir de interesses hegemônicos relacionados ao propalado agronegócio. Como revelado em inúmeros relatórios de Identificação de Terras guarani no estado, observadores atentos da vida indígena têm apontado o fato de que nas últimas três décadas os organismos de Estado vêm, de um modo ou de outro, contribuindo para a reprodução de uma sistemática desapropriação de terras tradicionais guarani que se transformaram em fazendas e empresas agro-pecuárias, resultando na superpopulação das áreas reservadas pelo SPI no início do século passado e na ampliação de conflitos e mortes por violência e fome, dada a impossibilidade desse povo agricultor ter acesso à terra.
Observando o desempenho da Fundação Nacional do Índio, constata-se que por três ou quatro gestões se divulgou que os guarani do país e em especial os do Mato Grosso do Sul teriam atenção prioritária, reconhecendo-se formalmente, assim, a existência do problema. Da última vez, em 2003, o anúncio foi feito na presença de número representativo de índios em assembléia na Terra Indígena Jaguapire (Tacuru/ MS), organizada para receber o seu Presidente. Não houve, contudo, qualquer ação efetiva na continuidade.
A questão fundiária, ponto primordial na cadeia operativa dos problemas, se manifesta de modo flagrante. As ações dos organismos de Estado têm sido dirigidas no sentido de impedir a solução da dívida histórica para com os povos indígenas no Brasil, como determina a Constituição de garantir a ocupação de terras tradicionais. Cabe indicar que em relação aos Ñandéva e Kaiowa do Mato Grosso do Sul, não há qualquer dúvida quanto à tradicionalidade de ocupação, como revelam fontes documentais e estudos contemporâneos e recentes. Esta comprovação não exige nenhum esforço.
A morosidade administrativa em instâncias decisórias de poder, no entanto, tem sido fator relevante no acirramento de conflitos na disputa por terras entre fazendeiros e indígenas. As atitudes protelatórias do Poder Judiciário e a desconsideração tanto da especificidade étnica quanto da argumentação científica antropológica sobre os Guarani têm suscitado julgamentos sobre um universo social desconhecido, fortalecendo o senso comum e ampliando a dificuldade de administrar um país a partir da determinação de sua multiplicidade étnica.
É, assim, alarmante a atitude manifestada pelo Judiciário, do qual se esperaria um posicionamento ponderado, distante das diatribes locais, buscando informações nos acurados e aprofundados trabalhos científicos, como publicações acadêmicas, relatórios de identificação de terras indígenas e laudos periciais. Frustrando estas expectativas, mostra-se estarrecedor que sentenças judiciais possam, ao contrário, fundamentar-se exatamente no senso-comum, a partir de informações levantadas na internet, de modo descontextualizado e de credibilidade, quando menos, questionável, ou então a partir de uma declaração individual explícita de discordância com os ditames constitucionais. A propósito, resulta ser emblemática a seguinte argumentação de um Juiz Federal, retirada de sentença que emitiu liminar paralisando o processo administrativo de demarcação da terra indígena kaiowa de Jatayvary (Ponta Porã/ MS):
“Em artigo publicado [na internet] pelos antropólogos Fabio Mura e Rubem Thomaz de Almeida está escrito que os kaiowás se distribuem no Mato Grosso do Sul numa área de quarenta mil quilômetros quadrados. Esse território faz fronteira com os Terena, ao norte, ao leste e sul com os Guarani Mbya e com os Guarani Nandeva. Algumas famílias vivem nos litorais do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Os territórios ainda fazem divisas com outras áreas indígenas de países vizinhos (www.socioambiental.org). Se a tese acima for procedente, os não-índios terão que buscar refúgio em Marte.”
Aqui, o Juiz não se pergunta se as informações veiculadas pelos antropólogos estão fundamentadas cientificamente; ele apenas aceita e faz próprias as mais corriqueiras argumentações procedentes do senso comum, que equaciona a demanda indígena como pretendendo recuperar a totalidade da superfície do Brasil. Tivesse ele consultado outros trabalhos desses autores, especialmente os técnicos, referentes às terras identificadas, poderia verificar que as demandas dizem respeito a famílias indígenas concretas, originárias de lugares também concretos. Tomando-se em conta, porém, a totalidade das reivindicações fundiárias guarani-kaiowa e guarani-ñandéva, o montante calculado não alcança um quinto de seus territórios originários.
Finalizando, continuamos a insistir na necessidade premente do Estado brasileiro se envolver profundamente com o problema Guarani do Mato Grosso do Sul. É seu dever Constitucional assumir e decidir com firmeza e rigor uma dinâmica para fazer respeitar Direitos e investir na composição de uma instância específica e que unifique organismos de Estado; é seu dever viabilizar recursos financeiros e humanos, refletir e planejar estratégias que culminem em soluções efetivas aos problemas fundiários e de produção de alimentos da população aqui focada. Tais iniciativas deverão contribuir, no tempo, para melhorar a qualidade de vida dessa grande parcela do povo guarani, cujas dificuldades, cabe reiterar, se avolumam em progressão geométrica.
Por favor, divulgar o máximo possível.

Rio de Janeiro, 08 de Abril de 2006.

Rubem Thomaz de Almeida - rubem.almeida@ig.com.br
Fabio Mura - fmura@ig.com.br
Alexandra Barbosa da Silva - ale.barbosa@ig.com.br

Saturday, October 21, 2006

Indígenas ocupam antigo Museu do Índio, no Maracanã


Rio de Janeiro, 20 de outubro

Indígenas ocupam antigo Museu do Índio, no Maracanã


Indígenas de diversas etnias ocuparam nesta sexta-feira à noite, dia 20 de outubro, o prédio do antigo Museu do Índio, localizado ao lado do Estádio Maracanã e próximo ao CEFET-RJ. Os líderes reivindicam a revitalização do espaço e a sua transformação em um ponto de difusão da cultura indígena, sob a óptica indígena. Cerca de 30 indígenas de etnias como Pataxó, Guajajára, Guarani e Krahô estão neste momento no local. Eles participavam de um encontro na UERJ ocorrido pouco antes da ocupação.

Segundo as lideranças presentes no local, representando diversas etnias do Sudeste brasileiro, a FUNAI não representa a cultura indígena da forma adequada. A reivindicação é a de que, após a revitalização do antigo casarão abandonado, os indígenas possam apresentar um projeto cultural independente e trabalhar a cultura indígena junto à população local e às escolas.

Durante a ocupação, os indígenas já realizaram seu primeiro encontro, no qual tiraram as primeiras propostas para as autoridades. Por ser uma área pertencente ao Ministério da Agricultura, as lideranças indígenas buscaram ajuda junto aos deputados federais Chico Alencar (RJ) e Ivan Valente (SP). O recém eleito deputado estadual Marcelo Freixo também foi informado sobre o ocorrido e se prontificou a ajudar. Representantes da FUNAI na região já teriam se comprometido a conversar com as lideranças indígenas nesta segunda-feira, 23 de outubro, segundo fontes que estão no local.

O prédio foi inaugurado em 1953, ano em que foi criado por Darcy Ribeiro o Museu do Índio, e abandonado em 1978. Neste ano, mudou-se para a rua das Palmeiras, 55, em Botafogo, onde permanece até hoje. Em maio de 2006, o vice-governador Paulo Conde anunciou que pretende botar abaixo o prédio e ali construir um estacionamento que sirva aos torcedores.

Informações atualizadas sobre as atividades no local pelos telefones (21) 7829-6494 ou 9921-3430 (falar com Geza).

Release: 20/10/2006 ˆ 22h49
Texto: Gustavo Barreto, da Rede Nacional de Jornalistas Populares ˆ Renajorp (www.renajorp.net). Telefone: +55(21) 8141-3313 / E-mail: gb@ufrj.br

"Caetano e Chico são irresponsáveis", diz Tom Zé


20/10/2006 16:40:00 - O Dia Online

"Caetano e Chico são irresponsáveis", diz Tom Zé

Rio- Com seus 70 anos comemorados recentemente (no dia 11), Tom Zé estréia nesta sexta-feira, em São Paulo, seu novo espetáculo, baseado no disco 'DANÇ-ÊH-SÁ', Dança dos Herdeiros do Sacrifício. O show, como o CD, propõe o "enterro da canção" (nenhuma música tem letra) e o despertar da juventude brasileira. E como música apenas é bobagem para ele, o compositor não pouca ninguém. "Caetano e Chico são irresponsáveis", brada.

O compositor se refere especificamente aos novos álbuns dos ícones da MPB. "Eles são gênios. Se nossa juventude é hedonista e desinteressada pela solidariedade, esses gênios têm de se mobilizar", segue. A avaliação sobre os jovens não é de Tom Zé, mas de uma pesquisa feita pela MTV em 2005. Ela foi uma das inspirações de 'DANÇ-ÊH-SÁ'. "Ele (o disco) é uma chamada à responsabilidade de todos os nossos gênios", discursa o artista.

Mesmo sem utilizar palavras, o disco vai fundo também na política. "Tudo o que tenho de dizer está aí. Permaneço silencioso diante do que tem ocorrido na política brasileira. Na mão do político, o dicionário foi sepultado e as palavras não querem dizer mais nada", fala.

A sonoridade de 'DANÇ-ÊH-SÁ' mistura sons folclóricos e africanos com pegadas eletrônicas (ainda que quase todos os instrumentos utilizados sejam acústicos). As músicas levam, além de seus títulos, referências a batalhas envolvendo povos negros e indígenas. "Vou tentar mostrar que ainda somos um país negro nesse mundo de globanalização e capitalismo selvagem", diz Tom Zé.

Com informações do Terra
http://odia.terra.com.br/cultura/htm/geral_63106.asp
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O CD "Danç-Êh-Sá - Dança dos Herdeiros do Sacrifício",

Tom Zé, com "Danç-Êh-Sá - Dança dos Herdeiros do Sacrifício", inaugura novo estilo pessoal, diverso, diferente, dançante. Lança um CD elaborado a partir de uma pesquisa de marketing da MTV; esta revelou, na juventude, uma inesperada tendência para o hedonismo, o consumismo e a irresponsabilidade social - "Para chegar a esses jovens, mudei tudo que já produzi e segui a sugestão de Chico Buarque de que a canção acabou." São 7 Caymianas para o fim da canção. "Sejam 7, sejam 70, é muito pouco, mas logo os antropólogos, jornalistas e cineastas se mobilizarão, concorrendo para que a juventude se engaje no projeto otimista que é ser o negro que somos, herdeiros do sacrifício de várias nações africanas, cujo sangue depurou a arte e a religião de 3 Américas - vejam-se o samba, a Tropicália ou o rock, o Hip-hop e o reggae." - Tom Zé


FAIXAS


1. Uai-uai - Revolta Queto-Xambá 1832
Ludositores: Tom Zé / Paulo Lepetit
BR- TRB-06-00033
som 2. Atchim - Revolta Paiaiá 1673
Ludositores: Tom Zé / Paulo Lepetit
BR- TRB-06-00034

3. Triú-triii... - Revolta Malê 1835
Ludositores: Tom Zé / Paulo Lepetit
BR- TRB-06-00035
som 4. Cara-cuá - Revolta Nagô-Oió 1830
Ludositores: Tom Zé / Paulo Lepetit
BR- TRB-06-00036

5. Acum-mahá - Revolta Jege-Mina-Fon 1834
Ludositor: Tom Zé
BR- TRB-06-00037

6. Taka-tá - Revolta Banta 1910
Ludositor: Tom Zé
BR- TRB-06-00038

7. Abrindo as urnas - Encourados de Pedrão 1823
Ludositores: Tom Zé / Paulo Lepetit
BR- TRB-06-00039
Tomzé, Site Oficial: veja link:
http://www.tomze.com.br/pdancehsa.htm

Friday, October 20, 2006

ONGs e governo tentam impedir novos suicídios


Organizações governamentais e não governamentais se mobilizam para tentar reverter a ocorrência de novos suicídios entre os índios guaranis caiouá. Apesar dos esforços, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) considera a situação precária e delicada. Além da falta de terra e de recursos naturais enfrentada pelos índios caiouás, a perda da identidade é agravada pelas dificuldades econômicas e sociais.
Leia mais...

Notícias no portal do Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos (http://www.direitos.org.br)

Crônica de um Racismo re-velado


Crônica de um Racismo re-velado


Andréa é alemã, loura, de grandes olhos verdes. Arquiteta de profissão, há anos é casada com o angolano Agostinho Pereira dos Santos, professor. Ambos tem 3 filhos: dois meninos, de 12 e 10 anos de idade; e uma menina de 8 anos. Os filhos, por um segredo genético, apesar de parecerem muito com a mãe, puxaram na pele e nos cabelos o pai. Até aí, morreu Neves. O casal é comum na cena multicultural e social de Berlin, além dos ranços racistas que ainda persistem por aqui.

Aproveitando as férias escolares de outono, Andréa foi ao Brasil mês passado para um seminário em São Paulo e visitar um pouco o país. Levou consigo sua filha caçula. Depois de São Paulo, foi ao Pantanal, em Salvador e por fim o Rio de Janeiro. Lá ficou hospedada em casas de amigos no Flamengo, num desses edifícios de classe média meio abastada, que se acha importante. Ali também encontrou com a cunhada, irmã de seu marido, pois logo após seguiriam de volta juntas à Berlin.

Desde o primeiro dia notou que eram olhadas estranhas toda vez que entravam no elevador ou quando passavam pelo porteiro do edifício. Ela, a princípio, não entendia muito bem o que estava acontecendo. Mas um dia a ficha caiu: uma tarde quando cruzou com o porteiro, esse lhe pediu uma “palavrinha” e disse que apartir daquele dia, “a empregada” e “a filha da empregada” tinham que ter acesso só ao elevador de serviço. Andréa olhou para o porteiro e falou: “Eu não tenho empregada e aquela senhora, a Dra. Maria, é minha cunhada; e a menina é a minha filha... Com licença!!!...

Apartir daí, foi notando comportamentos estranhos em pessoas, ás vezes sutis, outras vezes mais acentuados, em vários lugares onde ia com a filha e a cunhada angolana: seja na rua, em shops, supermercados, restaurantes, bancos em que entravam para trocar dinheiro, em conduções, etc.

A gota d´água aconteceu quando foi em uma festa, levadas pelos amigos onde estavam hospedadas. A cunhada não poderia ir porque tinha encontro com amigos angolanos que moram no Rio, pois dois dias depois iriam viajar para Berlin.

Andréa chegou com a filha e momentos depois começou a reparar, toda vez que ela estava por perto, que as pessoas às vezes só comentavam assuntos sobre favela, menores perigosos nas ruas da Zona Sul, etc ... E também que algumas mulheres começaram a falar sobre adoção de crianças brasileiras por estrangeiros. Algumas deixavam no ar sutilmente, querendo saber sobre a sua “menina adotada”. Até, que uma senhora, não agüentando mais, e parecendo encarnar a curiosidade latente que estava no ar, chegou a ela e perguntou:

- A “pretinha” aí você adotou aqui no Brasil ou lá África? Como pode, você loura e bonita desse jeito... não deveria escolher uma criança mais clarinha?

Andréa não acreditou no que ouviu. E tomada de uma súbita raiva, respondeu em alto e bom som:

- A “pretinha”ali quem pariu foi o meu ventre e com muito orgulho; e não troco a minha “pretinha” ali por nenhuma de vocês aqui... E com licença!...

Levantou-se, falou com os amigos que ia embora e partiu com a sua “pretinha”...

Em, Berlin, antes de ir para Angola com a família, para um ano de trabalhos na África, telefonou-me para se despedir. Ainda sobre o impacto do que tinha acontecido, suas últimas palavras antes da despedida do “bis später” (até mais tarde), falou-me:

- Eu não sabia que o Brasil está assim não, Ras Adauto... Eu pensei que era outra coisa...

Pois é, o Brasil, em certas áreas sociais, está assim... Racista!!!!!

Ras Adauto Berlin

Ilustracao: Degas2

Margareth Menezes comemora 20 anos de carreira

19/10/2006 17:40:00

Margareth Menezes comemora 20 anos de carreira homenageado o samba-reggae

Raphael Azevedo

Raphael Azevedo

Rio- Uma baiana arretada a serviço da música. Assim pode ser definida a cantora Margareth Menezes, que comemora vinte anos de carreira, com o CD e DVD ao vivo "Margareth Menezes Brasileira" onde faz uma homenagem ao samba-reggae. Gravado em duas apresentações realizadas em agosto, no Teatro Castro Alves, em Salvador, o álbum será puxado pela música "Rastaman".

Tida como uma das maiores estrelas do carnaval da Bahia, Margareth quer imprimir outra cara a este novo trabalho. "Minha intensão era focar o samba-reggae com MPB. Pegamos a batida original e botamos uma levada mais pop. Embora esse gênero tenha raiz africana, ele é atual e urbano. Embora algumas pessoas falem de forma preconceituosa que é folclore, é música popular brasileira", revelou.

O Dia On line, 20.10.2006

Veja matéria completa no link abaixo:
http://odia.terra.com.br/cultura/htm/geral_62887.asp

Thursday, October 19, 2006

O Negro no Cinema Brasileiro: em Berlin


O negro no cinema Brasileiro

Brasilianische Filmwoche

vom 16.- 22. November 2006

Berlin

http://www.cinemanegro.de/

Links de Ódio – o racismo, o revisionismo e o neonazismo na internet

Links de Ódio – o racismo, o revisionismo e o neonazismo na internet

Adriana Dias
Mestranda em Antropologia Social

Universidade Estadual de Campinas



Há mais de oito mil sites racistas , neonazistas , e revisionistas na Internet , cerca de quinhentos em domínio brasileiro. Alguns atingem a marca de dois milhões de visitas mensais para cento e quarenta e cinco mil endereços de IP distintos. Em vários deles há mais de cento e cinqüenta links para outras URLs de discurso semelhante, tecendo uma verdadeira rede, na qual se inserem: narrativas pessoais em blogs; exaltações a símbolos específicos em fóruns; discussões; material de divulgação dos movimentos - para ser "esquecido" dentro de livros em bibliotecas públicas (NLNS, TV) ; cartoons; músicas; imagens; textos que objetivam "formar líderes arianos" (NA, ANS, RC, NLNS, AARG) ; livros para colorir a fim de permitir o "encantamento das crianças arianas com a história e a força" (NA) de sua raça; listas de discussões para ensinar as "mulheres arianas" a não se comportarem como "um bando de judias briguentas" (WAU).
À medida em que, nos últimos quatro anos, fui me aproximando deste universo singular esta teia foi se revelando um arcabouço de representações, valores e crenças, expresso nos sites por um léxico específico que coordena relações de "inclusão e exclusão, distância e proximidade e associação e dissociação" . Estas relações, ora articuladas a referências que se pretendem científicas por se valerem de uma gramática biologista associada a “verdades absolutas ” ora cifradas em códigos simbólicos demarcados numa atmosfera profundamente mítica, estabelecem condições para que seu léxico se pretenda irrefutável. Nos sites analisados, o discurso racista regula, seleciona, organiza, redistribui e articula poderes e perigos: a supremacia racial branca está no epicentro das discussões acerca dos poderes e a ameaça de sua extinção, em particular pela possibilidade de casamentos inter-raciais ou por adoção de crianças negras, emoldura as discussões a respeito dos perigos. Há um direito de falar privilegiado ou exclusivo, exercido apenas pelos responsáveis dos sites, geralmente líderes de movimentos “que lutam pelos ideais da supremacia ariana” (EM, NA, V88), ou por militantes destes movimentos, freqüentemente para narrar como se descobriram portadores do “precioso sangue” (3W) e como esta descoberta transformou sua vida, afastando-os dos perigos que envolvimentos afetivos com judeus ou negros apresentariam. Os sites delimitam tabus: qualquer tentativa de se tecer um mínimo elogio a negros e judeus , em fóruns ou listas de discussão, provoca reações fortíssimas; muitas vezes expulsões. Nos relatos, exemplos peculiares de narrativas rituais, o processo de “se descobrir ariano (HLOBO)” ganha status de iluminação, e a vida, a partir desta descoberta, um “real sentido” (JNS). Outro interdito aparece nas linhas, por vezes nas entrelinhas: é preciso cuidar para que “a liberdade de expressão não seja castigada pelo poder público” (NLNS, AARG).

No presente texto, em que situo o discurso racista no campo digital , credito aos sites escolhidos o lugar de “bons para pensar ”, porque leio a radicalização discursiva de suas apresentações hipertextuais, inserida intencionalmente por seus agentes no atual contexto de discussão acerca de diferenças. Este contexto ultrapassa os limites dos sites racistas, e pulveriza a discussão acerca de identidades raciais no campo digital, conduzindo-a para lugares não habituais para discussão do tema, como por exemplo, comunidades do Orkut formadas com outros interesses, blogs pessoais de pessoas não ligadas aos movimentos racistas ou anti-racistas, páginas de notícias, piadas, cartoons, listas de discussão diversas, fóruns que versam a respeito dos mais diversos assuntos, como, por exemplo telenovelas e jogos de futebol.

As ciberepresentações em torno da temática “raça” (nas quais proliferam elementos gráficos, tecnológicos e textuais), se relacionam com outras dimensões do campo digital, por meio do link. Navegando pelos links, de qualquer ponto do campo digital em que se discuta raça, se chegará, em algum momento, a um dos sites apresentados no presente discurso, ainda que a totalidade do universo expressa pelos sites racistas seja desconhecida pela grande maioria dos internautas . Ao mesmo tempo o link interliga, intercomunica, interdita e intersecciona. Garante multidimensionalidade, pois fornece a possibilidade da conexão de qualquer ponto a qualquer outro ponto, mas ao mesmo tempo em que isto significa expansão, também pode significar limitação, pela impossibilidade de abarcar-se o todo, partindo-se de qualquer ponto. O todo, no campo digital, não existe: milhões de links são criados todos os dias, apontando para páginas que existem ou não, para páginas que serão criadas, para páginas que já saíram do ar, numa bifurcação contínua que frustra qualquer intenção totalizadora. Qualquer análise do ciberespaço deve levar em conta esta descontinuidade expressa no link , a Scheerazade do mundo virtual, e haverá sempre mais uma história, uma outra narrativa, e outra ainda, num fluir que apenas aponta a imensidão do oceano. Neste oceano encontrei os sites racistas, as ilhas em que venho desenvolvendo a etnografia que dá origem ao presente texto.

Biologia e Nazismo Esotérico: estratégias discursivas para definir o lugar da raça

Tomando estes sites, seus discursos e os internautas que neles interagem como “informantes”, pretendo, sob o olhar antropológico, discutir os sites pesquisados, suas representações, e apresentar como constroem identidades para si e para seu Outro (o Judeu e o Negro), e como, para empreender tal tarefa se valem de duas estratégias: a primeira, fundamentada num discurso que se pretende científico e biológico e a segunda em articulações míticas e rituais. É importante, salientar, no entanto, que estas estratégias se articulam formando estereótipos e “lugares” raciais que se pretendem tanto científicos, históricos e biológicos, como espirituais, míticos, esotéricos. Neste sentindo tais estratégias buscam uma “simplificação” das relações sociais no sentido em que Homi K Bhabha a utiliza o termo: não como uma falsa representação da realidade, mas como “uma forma presa, fixa, de representação ”. Nos sites racistas muitas vezes as idéias são emolduradas desta forma:

“É simples: nosso mundo é hierárquico.” (WAU);

“Nós nos vemos como parte integral de um mundo único à nossa volta, que evolui de acordo com as leis naturais.Nas palavras mais simples: Há somente uma realidade, a qual nós chamamos de Natureza; não a ‘minha realidade’ e ‘sua realidade’. ” (NA)

“Raça é o conjunto de indivíduos que compartilham entre si as mesmas características genéticas, culturais e históricas. [...] Nenhuma mestiçagem é boa, miscigenação significa suicídio racial, representa o fim das características de ambos os elementos raciais envolvidos e o surgimento de uma criatura sem identidade alguma. A natureza é sábia e colocou cada raça em um continente, isto não ocorreu por acaso. [...] Cremos firmemente que a Raça Branca Ariana é superior as demais raças, mas isto não deve ser visto como algo que vá contra a natureza, pois a superioridade de certas espécies sobre outras é parte da hierarquia natural.” (V88)

Esta tentativa de “simplificar” a realidade social, posiciona a idéia de raça como um “lugar”, dado por uma “natureza sábia” (V88), uma “realidade metassocial ou física ”, e valida nos sites em questão, como diferenças "naturais, biológicas" (NA) entre os grupos sociais por ela definidos, diferenças estas que se estenderiam a partir de origens “genômicas” (NA, WAU, JNS, V88, SWP, 3W) a aspectos culturais, sociais, políticas, psíquicas, morais e comportamentais. Esta “simplificação” é necessária, para preencher a idéia de “raça” possibilitando-a como força articuladora de legitimações de sentido e justificativa primeira das práticas sugeridas aos agentes, lhes emprestando o contorno que assegure a legitimidade e a reprodutibilidade que seu discurso crê como premissa. Neste sentido, refletem um "conteúdo previamente conhecido e fixo ", expresso por uma “essência particular, sujeita a certas regularidades que serão entendidas como regras ou leis da natureza. ” Para cada “essência particular”, estereotipada numa “raça” existiria, advogam os sites em questão, um lugar “natural”, no “nosso mundo naturalmente hierárquico” (NA). Os sites afirmam explicitamente:

“Não existe Nação.” (NA, Nar, ANS, V88, NLNS, LEANDRO)

“O Brasil não é uma nação, visto que seu povo não possui identidade comum alguma. Nossa nação é nossa raça. Lutamos pela sobrevivência e desenvolvimento da mesma, independentemente de circunscrições territoriais.” (V88)

“Também sempre frisamos a importância de pararmos de pensar em termos de país (Brasil) e começarmos a raciocinar exclusivamente em cima da questão racial. NOSSA RAÇA É NOSSA NAÇÃO.” (V88)

“Nação e pátria estão diretamente relacionados a laços culturais e raciais. Os judeus por exemplo sabem muito bem disso e onde quer que vivam, sempre consideram Israel como sua pátria.” (V88)
Esta espacialização da idéia de raça, expressada na idéia de que “nação possui uma conotação racial e cultural” e que ambas derivam de uma “realidade genética ”, desembocam no "fato" (NA) de que “as classificáveis raças humanas” (JNS, 3W) se hierarquizariam intelectual, moral, cultural, psíquica, espiritual e fisicamente. Esta hierarquização é defendida, nos sites analisados, alicerçando-se num discurso "naturalizante". Esta hierarquia, definida pelos sites racistas, e neles emoldurada como "natural e mítica" (NA, WAU, NSWP, 3W, V88) constrói-se num discurso que se arvora científico por valer-se de uma abordagem biológica evolucionista. Privilegiando estas definições, geram-se relações conceituais e para as mesmas os sites defendem uma agenda: projetos sociais, posturas políticas, engajamentos ideológicos. Esta "adoção de uma visão equivocada da biologia humana estabelece, para os sites analisados, uma justificativa para a subordinação permanente de outros indivíduos e povos e, no limite, para, elimina-los, se necessário, utilizando-se de “todos os meios para manter um espaço branco” (NA):

Cada um de nós é membro da raça Ariana (ou Européia), (...) e desenvolveu suas características especiais ao largo de milhares de anos, (...) a fez avançar pelo seu caminho evolucionário. [para] (...) sobreviver a um inverno requeria planejamento e autodisciplina, avançaram mais rapidamente no desenvolvimento de suas faculdades mentais mais elevadas -- incluindo as habilidades para conceptualizar, resolver problemas, fazer planos para o futuro e adiar a gratificação -- do que aqueles que permaneceram em um clima relativamente invariável dos trópicos. [as] as raças variam hoje em suas capacidades para construir e manter uma sociedade civilizada e, mais em geral, em suas habilidades para ter uma mão consciente à Natureza na tarefa da evolução. (...) somos conscientes de nossa própria natureza e nossas relações com o resto do mundo, nós temos uma inevitável hierarquia de obrigações e responsabilidades. A natureza tem refinado e polido as qualidades especiais corporizadas na raça Ariana para que pudéssemos ser mais capazes de cumprir totalmente a missão que nos foi designada. (...) Finalmente, nós temos uma responsabilidade com nós mesmos de sermos os melhores e mais fortes indivíduos que possamos ser. Nós nos vemos como parte da Natureza, sujeitos às leis da Natureza. Nós reconhecemos as desigualdades que se produzem como conseqüências do processo evolucionário e que são essenciais ao progresso em cada esfera da vida. Nós aceitamos as responsabilidades como homens e mulheres Arianos de lutarmos para o avanço de nossa raça a serviço da Vida, e de sermos os instrumentos mais adequados que possamos ser para esse propósito. (NA)

Esse é um dos nossos objectivos, mostrar a todos que as diferenças entre Homem e Mulher são necessárias porque guerreiros e mães são necessários para todas as sociedades. Ao longo da história, ambos, guerreiros e mães, lutaram para o mesmo fim, proteger a nossa terra, o nosso lar e o mais precioso de tudo, as nossas crianças, o nosso futuro. (WAU)

Há uma luta para manter a própria natureza em estado evolucionário e hierárquico (estabelecido pela hierarquia entre raças), luta esta construída de maneira também hierárquica (diferentemente para homens e mulheres) a fim de garantir às “desigualdades que se produzem como conseqüências do processo evolucionário” (portanto naturais e legitimáveis), o seu direito de se reproduzirem como desiguais. Este direito se coloca “a serviço da Vida” e, neste sentido, pretende-se o “ariano” como “instrumento” que serve a tal “propósito”. O discurso fala de uma “Vida” que “deseja a si mesma”, e que em seu desejo “hierárquico” utiliza as “desigualdades naturais entre raças” para atingir seu êxtase evolucionista . Deste êxtase participam “homens e mulheres arianos”, necessariamente nesta ordem, não como sujeitos desta “vida hierarquizada”, mas como seus objetos, reificados por uma vida imersa em fetichismo. A eles, o lugar de guerreiros; a elas, o lugar de mães. A ambos o dever de preservar o futuro: a criança branca. "Devemos assegurar a existência do nosso povo e um futuro para as crianças brancas!" Estas 14 palavras, construídas por David Lane , se repetem em praticamente todos os sites e adquirem a forma de mantra. A defesa desta criança portadora da “raiz mitocontrial ariana” (SWP) se aloja na pauta de discussão acerca de identidades, emoldurada na contemporaneidade pela volta ao biologismo, no qual o léxico genômico se destaca. O discurso racista privilegia o evolucionismo e a genômica determina a pauta dos fóruns:

Pergunta: [...] meu primo tem características genéticas italianas e portuguesas, mas também indígenas (em pequena quantidade). Ele possui pele branca e tem características predominantemente européias, porém, sei que ele também possui genes provenientes dos povos indígenas, devido a impurificação de sua mãe.

Resposta: [...] a pessoa em questão seria 1/8 indígena, em geral os traços de miscigenação costumam aparecer até a 4ª ou 5ª geração, [...] só podemos considerar ariano o que apresentar menos de 32% de material genético não ariano.

[...] Indivíduos com evidentes traços de mestiçagem foram taxados pelo suspeito teste de DNA como tendo 98 ou 99% de origem caucasiana, a nosso ver isto é simplesmente impossível. Não sabemos se o erro foi do teste ou se houveram distorções na redação e edição da matéria (é sabido que Veja se vendeu a mídia judaica), é possível que o teste utilizado na época fosse falho. (V88)

Sou filho de brancos, neto de brancos, sou caucasiano, eu posso ter uma mitocôndria negra? ou talvez um gameta negro, ou células negras? (CORK – Poder Branco)

Não seria melhor pra humanidade evitar a reprodução de genes ruins (como os meus) e incentivar a reprodução de pessoas com genes bons? (CORK Biologia vc Racismo)

Paradoxalmente, o racismo - discriminar o outro por critérios raciais - pode ter surgido pelos mecanismos evolucionários de seleção de comportamento. Num ambiente ancestral em que éramos organizados em bandos disputando os mesmos recursos, fazia sentido identificar quem fosse diferente do bando, e tratá-lo de forma diferenciada. Acredito que esses mesmos mecanismos estejam presentes na organização do nosso cérebro atual, e que estejam intimamente ligados ao racismo. (CORK Biologia vc Racismo)

Outro mecanismo articulado pelos sites, para validar sua agenda de lutas é o de se amparar numa moldura mítica para configurar um espaço de incorporação de regras, valores, gostos, idéias, símbolos. Neste sentido, expressam de forma elucidativa o processo que depende das "tomadas de posição pela intermediação do espaço de disposições, ou do habitus ; ou, em outros termos, ao sistema de separações diferenciais " validados pelos mitos reproduzidos inúmeras vezes e por rituais que asseguram sua manutenção. Estes mitos e rituais nascem de classificações, originadas, segundo Cornelia Essner, no “dogma racial nórdico” de Hans F. K. Günther, principal ideólogo do racismo nacional-socialista e antigo membro da “Liga para a Germanidade Pura”. Günther, segundo a historiadora da Universidade de Berlim, obteve a articulação entre a ciência denominada por ele de “biologia social” e idéias que incorporavam princípios de eugenia. Nesta articulação, o “Sangue Nórdico” restava como “portador da imortalidade simbólica ” trazida pelo povo alemão em suas veias. A carne e o sangue nórdicos, por herança, se transubstanciariam na raça alemã, perpetuando-a. Esta eternidade virtual só se materializaria, no entanto, se “o Sangue” permanecesse puro: o que garantiria a evolução “da Raça’. O “Reich” seria a força transcendente que garantiria esta imortalização. Nos sites observados o “Sangue” verte no vermelho das suásticas e por ele está disposto a morrer: “Ou o Estado nacionalista, ou nossos cadáveres”(RH, TV). É o sacrifício da carne, mantendo vivo o sangue. O novo Pão e o novo Vinho: a carne dos soldados e o sangue nórdico de suas veias.

Deste modo, o “Terceiro Reich” comunicou, sacralizou e legitimou a idéia de “imortalidade do Sangue”, que, vertido, fertilizaria a ascensão da “raça ariana”: uma raça de "imortais". A morte pelo ideal racial não seria real. Real seria a imortalidade por ela concedida. No amanhecer, o Estado Nacional Socialista. O futuro apontaria para isto, acreditavam os soldados de Hitler. E continuam acreditando, demonstram-nos os sites analisados.

No que consistia, contudo, a crença no “Sangue” ? Em seu texto mais conhecido, A Raciologia do Povo Alemão, Hans Günther defende a idéia de que todos os povos da Europa se construíram da mistura de três raças: a nórdica, a alpina e a mediterrânea. A raça nórdica conservaria o melhor material genético, conservando em si “a própria vida’, afirmava Günther. Para os biólogos sociais seria dever do Estado proteger e melhorar o patrimônio genético social, e para isto seriam convenientes políticas eugênicas claras; pois a mestiçagem seria o que mais de prejudicial poderia acontecer ao “povo ariano” pois impediria que a própria Vida , que corre em “Sangue” continuasse seu caminho evolutivo. Para traçar esta teoria, busca no Ensaio sobre a Desigualdade entre as Raças Humanas, de Arthur de Gobineau, sua principal fonte de informação.

A idéia de Günther pretende solucionar a crise de Gobineau, para quem o Ocidente estava se deteriorando, na medida em que sua essência se dilui na mestiçagem, propondo que o “processo de desnordificação” europeu seja interrompido, o que, no limite, significaria "salvar" a própria civilização. Aspirava ele um aumento significativo do sangue nórdico no povo alemão, processo que denominou Aufnordung (renordificação) . No entanto, esta teoria, ainda que servisse, em parte, aos interesses do Reich, foi em parte também recusada por ele: como era possível ler na cultura nórdica uma “natureza superior” se a “alta cultura renascentista” nascera à beira do Mediterrâneo? Era preciso repensar os mitos e amalgamá-los a outros para emoldurar a proposta do Reich: a isto serviu, de maneira inusitada, o debate acerca da “mestiçagem humana” de Eugen Fischer, geneticista e fundador do Instituto Imperador Guilherme: em sua teoria, o crânio humano se transforma em artefato cultural e sua forma determina o grau de nobreza da raça. Preservar a raça seria garantir esta nobreza de alma racial, incorporada ao formato de seu cérebro.

As diversas teorias raciais lutavam por poder e legitimidade dentro do partido nazista. Interpretadas e reinterpretados por vários intelectuais alemães, as teorias de Günther e Fischer eram vistas como certezas absolutas ou censuradas por seu absolutismo, que exilava às condições do meio sobre as disposições genéticas. Foi com Karl Saller que a defesa da “raça alemã” uniu várias tradições de pesquisas, da antropometria à eugenia. Em seu pensamento a idéia de povo, que abrange o conceito de cultura, aproxima-se da idéia de raça sem explicitar esta aproximação. Ao publicar A Biologia do Corpo alemão, em 1934, Saller oferece ao Estado nazista o conceito de “raça alemã”. Neste livro, Saller se debruça sobre a questão judaica e nega aos judeus qualquer vestígio de germanidade. A repercussão seria evidente: em 1935 decreta-se, a 15 de setembro, a “lei de proteção do sangue”, que interditava o casamento entre judeus e alemães, evitando-se, assim, a “mestiçagem que poderia destruir toda a harmonia interior do povo alemão”(V88).

Valendo-se de simbolismos diversos da mitologia nórdica, o discurso associa a idéia de sangue a uma herança espiritual definida. Valhalla, nome de um dos maiores sites neonazistas brasileiros, nomeia o grande palácio em Asgard no qual os guerreiros mortos em batalha, levados pelas Valquírias, passam os dias em lutas entre si e as noites banqueteando-se no grande salão, supervisionados pelo próprio Odin. O Valhalla é descrito como o palácio mais maravilhoso de toda Asgard. Guerrear pela preservação da raça é garantir um lugar no paraíso nórdico. Tais elaborações simbólicas se articulam ao discurso racial, pretendo incorporar um significado místico a luta, seus poderes e perigos. Genômica e Nazismo Esotérico unidos para garantir a eficácia discursiva.




Abrindo o debate

Embora tenha apenas esboçado aqui o quanto o discurso dos sites analisados utiliza léxicos genômicos e místicos, creio que este esboço é suficiente para demonstrar o quanto tais léxicos servem para expor a idéia de raça como uma condição de lugar e, portanto, como espaço de apreensão de um modo de vida, demarcado por “propensões para pensar, sentir e agir ”.

Em Razões Práticas – sobre a teoria da ação, Pierre Bourdieu advoga a idéia de que “os ‘sujeitos’ são, de fato, agentes que atuam e que sabem, dotados de um senso prático ” (grifo no original), no interior do campo. Este senso prático é, ao mesmo tempo, “um sistema adquirido de preferências de visão e divisão, [...] de estruturas cognitivas duradouras, [...] de esquemas de ação que orientam a percepção da situação e a resposta adequada”, e a esta espécie de senso prático, Bourdieu denomina habitus. O conceito de habitus de Pierre Bourdieu interessa-nos por ser capaz de demonstrar como as disposições discursivas se estruturam; neste conceito, o “sistema de preferências” delimita o sentir, “o que chamamos de gosto”, afirma Bourdieu, enquanto as “estruturas cognitivas duradouras” essencializando o “produto da incorporação de estruturas objetivas” dando formato às idéias e, por fim, os “esquemas de ação” legalizam “a direção e seu movimento” reproduzindo “sua vocação”. Bourdieu enfatiza que o “discurso enquanto opus operatum encobre por meio de suas significações reificadas o momento constitutivo da prática ”, explicitando, portanto, a gênese do processo de significação cultural. Esta característica do campo digital de revelar escondendo e esconder revelando, é conveniente aos sites racistas, por acolher o universo dicotômico de sua possibilidade discursiva: este misto de grito de ódio e silêncio criminoso.

Neste campo, o habitus racista circunscreve sua estratégia de produção, legitimação e reprodução do pensar, sentir e agir discriminatórios em sua particular lógica gramática de classificar, desclassificar e reclassificar. Discutida por Bhabha como “discurso estereotipado do colonialismo” esta argumentação, presente freqüentemente nos sites racistas, revela-se ainda mais nos momentos de recrutamento:

Ha falta de europeus empreendedores e audazes. Não se trata de apoderar-se de um boccado da Africa, mas sim de resolver o problema africano. Se esperarmos que comece a inevitavel luta na Asia, será tarde demais. A supermacia dos brancos na Africa estará em perigo. (CORK Raça Branca)

Outro dos nossos principais objectivos é a educação das mulheres brancas para que estas despertem para os perigos que as rodeiam, perigos estes que sabemos que mais ninguém as alertará para eles. Achamos fundamental que a mulher branca acorde e que consiga finalmente ver que não é crime amar, querer preservar a sua cultura e o seu povo, e que é desse modo que deve educar os seus filhos, os nossos futuros guerreiros, pois está nas mãos das mulheres a educação daqueles que um dia serão, provavelmente, os heróis do nosso povo. (ANS, FE, NW)

A prática racista se torna um elemento a ser incorporado à medida que se desperte para o valor da “grande raça” (TV, NA) e para o perigo da “ameaça negra e judia” (NA, WAU, JNS). Nos sites, textos são oferecidos, aos milhares, para facilitar a conscientização que tal incorporação exigiria. Os internautas, desde que tenham certeza de uma origem absolutamente não mestiça, são convidados a se perceberem como arianos e a desejarem o status de superiores, num ciclo formativo que envolve o reconhecimento de determinados atributos físicos, espirituais, morais, cognitivos, sociais, culturais e a, paulatinamente, reconhecerem nos membros de outras raças, perigo e inferioridade. São convidados a ter “quatro filhos loiros” (CORK – Quero ter quatro filhos loiros), a se desenvolverem em células de luta (V88), a aprenderem o esporte da caça para justificar porte de armas (JNS), a ler "livros arianos" (NA), a imprimir material e divulga-lo (todos os sites). Enfim, espera-se do ariano que visita o site, que se torne um “ativista político” (V88) do movimento, consciente de que a luta pode exigir “medidas extremas” (NA).

Ao afirmar que “(...) nada, no estado atual da ciência, permite afirmar a superioridade ou a inferioridade intelectual de uma raça em relação a outra (...). ” Levi-Strauss defendeu as raízes da universalidade humana, discutindo o fenômeno cultural a partir de processos de dispersão, diferenciação, contato e isolamento dos grupos humanos. No debate que se faz necessário diante da proliferação geométrica do extremismo racial do qual os sites da Internet são apenas a ponta do iceberg , a ponderação do grande mestre francês permanece no centro de qualquer discussão científica como um dado de verdade, embora os sites analisados pareçam descartar esta informação, mantendo-se fiéis à tendência de “repudiar pura e simplesmente as formas culturais, morais, religiosas, sociais e estéticas mais afastadas daquelas com que nos identificamos ”, mesmo que a distância física destas formas se reduzam “na faculdade ou no trabalho em que você é obrigado a conviver com a corja negra, mestiça e judia” (V88). Tal etnocentrismo encontra, no contexto contemporâneo preenchido por debates acerca de semelhanças e diferenças, revolução de paradigmas gerada e gerida pela genômica, demandas nacionalistas e neocolonialistas, um espaço para se revitalizar e difundir.

Desenvolvendo um mapa da atual configuração do neonazismo no Brasil e no mundo, a socióloga e jornalista Helena Salem adverte que embora os grupos neonazistas, politicamente, se configurem como pequenos, em termos de força política, denunciam uma realidade filosófica e histórica mais ampla . Na Internet, estes grupos desenvolvem sites racistas, neonazistas e revisionistas, posicionando-se contra judeus, negros e mestiços construindo para seus objetos de ódio identidades e classificações. Enquanto o faz, cada agente destes grupos arquiteta também para si uma moldura: distintiva, demarcada pelo desejo de segurança e que busca responder ao apelo de individualismo e reconhecimento dos novos tempos, moldura que determina o que ele deve pensar, sentir e como deve agir para efetivar sua identidade. Esta identidade, é, segundo Sartre, fruto de uma paixão, ainda que “certamente apresente-se sob forma de proposição teórica ”. Esta paixão faz do anti-semita “tudo menos homem ” e persuade ao racista de que seu verdadeiro lugar no mundo, aquele a que tem direito a ocupar, foi alienado pelo judeu.

Para não nos determos no cinismo e na indiferença que sangra abundantemente dos sites analisados, e nos focarmos apenas em como elaboram suas práticas discursivas, é possível perceber, rapidamente, o quanto em sua declaração acerca de que “ou a raça ariana ou a praga judia terminará neste embate final, a evolução assim o exige” (V88) é demarcada por um paradigma biológico, análogo ao debate evolucionista que emoldurou a instituição da antropologia moderna como disciplina acadêmica. Defendendo um descartar de qualquer forma de relativismo cultural (“não existe a sua verdade, ou a minha verdade, mas a verdade, única e racial” – NA; “este relativismo é uma magia judaica que desviou a humanidade de sua evolução natural” – V88), e atribuindo um sentido racial a todos os processos históricos (“as demais raças, não são capazes de criar ou evoluir longe da influência Ariana” - V88), os sites analisados postulam equivalências diretas entre aspectos genéticos e traços culturais, ignorando a complexidade dos sistemas de classificação da natureza ou as elaboradas técnicas de produção de artefatos que preenchem milhares de páginas de relatos etnográficos. O etnocentrismo e toda a crítica antropológica a suas demarcações aparecem no site; o primeiro como verdade absoluta, a segunda como fabricação de “mentalidades judias torpes, como de certos antropólogos judeus” (V88). Considero urgente que a antropologia se mantenha fiel à herança de auto-reflexão, filosófica, moral e politicamente, denunciando os hiatos do discurso racista e auxiliando na defesa da totalidade humana . Nesta reflexão, as críticas foucaultianas acerca da microfísica do poder, da arqueologia do saber, o antiesteticismo de Baudrillard, as contribuições teóricas de Derrida, Guatarri e Deleuze, encontraram um lugar importante, por proporcionarem à Antropologia uma análise de sua participação nos processos colonialistas e elucidarem muitas discussões atuais. O projeto de uma nova visão antropológica que nasce destas discussões acerca das quais há milhares de páginas para ler e pensar, deve abarcar também, acredito, uma resposta às questões deflagradas pela análise dos sites pesquisadas, que espero ter, minimamente, esboçada neste artigo.



Sites analisados, mirrors e URLs.

Exceto quando explicitamente informado, todos os últimos acessos aos sites datam de junho de 2005. Quando não informo o número de mirrors (sites que copiam o código fonte e republicam o conteúdo na Internet), isto se deve ao fato de não ter localizado nenhum para o site em questão, sendo perfeitamente possível, até provável, que exista. Os mirrors foram localizados por mim utilizando diversas ferramentas de programação.

14W (14 Words) (2 mirrors)
3W (White Power! White Pride! White Honour!) (6 mirrors)
AARG (Aaargh , Revisionismo da II Guerra Mundial, Campaign For Radical Truth In History) (2 mirrors)
ANS (Anillo Nacional Socialista) (4 mirrors)
EM (Escola Neonazista) (2 mirrors)
FE (Filhas Da Europa) (2 mirrors)
HLOBO (Blog de um internauta de nickname Homem Lobo Último Acesso em maio de 2006.
HM (Holocausto A Mentira Do Século) (2 mirrors)
JNS (Juventude Nacional Socialista) (6 mirrors)
LEANDRO (Site Pessoal Do Leandro)
NA (National Alliance)
NAr (Nações Arianas) (3 mirrors)
NLNS ( Nazi Lauck Nsdap/Ao) (2 mirrors)
NSEC (Ns Education Center) (2 mirrors)
NW (Northern Women // The Aryan Sisterhood) (2 mirrors)
RC (Resistência Cultural!) (8 mirrors; ele próprio é um mirror do antigo site da Editora Revisão, retirado do ar pela justiça brasileira)
RH (Revisão Histórica) Último Acesso em janeiro de 2004.
SWP (Stormfront White Pride World Wide)
TV (O Triunfo Da Vontade) (2 mirrors)
V88 (Valhalla88) Último Acesso em maio de 2006.
WAU (Women for Aryan Unity) (3 mirrors) Último Acesso em maio de 2006.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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NOTAS

No presente texto, consideramos site um grupo de páginas que se articulam entre si, disponíveis em um mesmo endereço eletrônico principal, ainda que subdivididas em diretórios distintos, com um tema comum. Consideramos portal um grupo de sites que pertença a um mesmo domínio. Como as citações dos sites, embora muitas, são necessárias, convenciono as seguintes abreviações: NA (National Alliance), WAU (Women for Aryan Unity), RH (Revisão Histórica) NAr (Nações Arianas), RC ( Resistência Cultural!), ANS (Anillo Nacional Socialista), EM (Escola Neonazista) NSEC (Ns Education Center), NLNS ( Nazi Lauck Nsdap/Ao), TV (O Triunfo Da Vontade), 3W (White Power! - White Pride! - White Honour!), LEANDRO ( Site Pessoal Do Leandro), JNS ( Juventude Nacional Socialista), HM (Holocausto A Mentira Do Século), NW (Northern Women // The Aryan Sisterhood), SWP ( Stormfront White Pride World Wide), AARG (Aaargh , Revisionismo Da II Guerra Mundial, Campaign For Radical Truth In History) , HLOBO ( Blog de um internauta de nickname Homem Lobo, 14W (14 Words), FE (Filhas Da Europa) V88 ( Valhalla88). Embora o universo pesquisado seja infinitamente maior, selecionei estes sites por se encontrarem entre os mais visitados, receberem o maior número de links de outros sites e, no conjunto, incluírem diversas formas de manifestação digitalizada, como fóruns, debates, posts, discussões, imagens, narrativas pessoais, textos para estudo.
O termo racista, na presente discussão, abarca as duas dimensões de racismo, definidas por Kwame Apiah: o racismo extrínseco e o racismo intrínseco. O primeiro advoga a existência de "distinções morais entre os membros das diferentes raças". Portanto, nesta concepção "a essência racial implica certas qualidades moralmente relevantes". Irrefutável a qualquer prova da inexistência destas distinções, nenhum racismo é unicamente extrínseco. Complementa-o o racismo intrínseco, demarcado por "pessoas que estabelecem diferenças morais entre os membros das diferentes raças" , pois para as mesmas, "cada raça tem um status moral diferente, independentemente das características partilhadas por seus membros".
Site que privilegia o disponibilizar de material teórico e/ou de propaganda demarcado por exaltar líderes, símbolos ou discursos relacionados ao partido nazista alemão. O termo neonazista é utilizado também em algumas fontes para designar os movimentos políticos de extrema direita, defensores do anti-semitismo. Cf. VIZENTINI, P. F. O ressurgimento da extrema direita e do neonazismo: a dimensão histórica e internacional, In Neonazismo, Negacionismo e Extremismo Político, livro digital disponível na Internet em http://www.derechos.org/nizkor/brazil/libros/neonazis/index.html . Último acesso em 20 de junho de 2005.
O termo revisionista identifica os sites cujo discurso direciona-se para negar a veracidade histórica do Holocausto, seu número de mortos, a perseguição e morte dos judeus, enfim que pretende uma revisão da história.
Esses números se referem aos rastreáveis em motores de busca, como o disponibilizado pelo Google em http://www.google.com
O número de visitas abarca todas as vezes que um site foi aberto num navegador, e a análise que se refere aos endereços de IP, aos acessos únicos por computador registrado na rede. Fonte: Alexa, disponível em http://www.alexa.com
Como anônima, jamais me identifiquei num site racista.
Cf. BOURDIEU, P. 1971, p1255-6
Refiro-me a uma afirmação de Mircea Eliade 1992, p. 108: “ ‘Dizer’ um mito, é proclamar o que se passou ab origine. Uma vez ‘dito’, quer dizer revelado, o mito torna-se verdade apodíctica: funda a verdade absoluta.”
Embora haja nos sites menções negativas à outras minorias como ciganos, armênios, e aos homossexuais, estes últimos tratados como deficientes morais, este trabalho se centra na análise que os sites fazem do judeu e do negro, seu objeto de ódio privilegiado. Acerca da homossexualidade, transcrevo um texto, retirado do Valhalla 88: “Homossexualismo é uma perversão repugnante que infelizmente passou a ser aceita na sociedade politicamente correta (leia-se idiotizada) em que vivemos, qualquer pessoa com um mínimo de inteligência constata, sem muito esforço, que este é um comportamento completamente antinatural. Não fossem os anos de domínio judaico dos meios de comunicação, certamente o homossexualismo ainda seria encarado como uma doença.
Cf. a reflexão de Pierre Bourdieu que descreve "campo social como um espaço multidimensional de posições tal que qualquer posição atual pode ser definida em função de um sistema multidimensional de coordenadas cujos valores correspondem aos valores das diferentes variáveis pertinentes: os agentes distribuem-se assim nele, na primeira dimensão, segundo o volume global do capital que possuem, e na segunda dimensão, segundo a composição do seu capital - quer dizer, segundo o peso relativo das diferentes espécies no conjunto das suas posses." (Cf. BOURDIEU, P. Espaço Social e Gênese de Classes, in O Poder Simbólico Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. p. 135). Utilizo-me do conceito de campo para abarcar os espaços multidimensionais configurados pela Internet, e pelo sistema particular de coordenadas por ele disponibilizado, por suas formas específicas de apropriação de sentido, valores, discursos, pela regras de sociabilidade que privilegia e interdita, pelas técnicas e conhecimentos que exige de quem dele participa.
LÉVI-STRAUSS, C. Totemismo hoje. São Paulo, Abril Cultural, Coleção "Os Pensadores", 1976
Constatei mais de cinqüenta vezes, por exemplo, em fóruns, blogs ou comunidades, alguém postar um link para um dos sites pesquisados com um comentário fortemente marcado pelo estranhamento, como por exemplo: “vejam que absurdo que eu encontrei na Net hoje”. Muitas vezes, ao contatar o postante me apresentando como pesquisadora do tema encontrei reações surpresas à enormidade do fenômeno.
Realizei uma primeira discussão acerca da investigação antropológica no ciberespaço (DIAS, 2005), a partir da intervenção de James Boon, 1982, pensando a relação entre método de investigação e cultura, já que estes, e ainda a história, "se comunicam discursivamente", utilizando-se "de um paradoxo semiótico". É preciso lembrar os próprios métodos de investigação como "produtos de culturas que se transformam no tempo".
A técnica da heroína consiste basicamente em introduzir novos narradores a cada história. Cada história, por sua vez, está dentro de uma outra, e assim por diante.
"O estereótipo não é uma simplificação porque é uma falsa representação de uma dada realidade. É uma simplificação porque é uma forma presa, fixa, de representação que, ao negar o jogo da diferença (que a negação através do Outro permite), constitui um problema para a representação do sujeito em significações de relações psíquicas e sociais." BHABHA, Homi K. Local da Cultura. B.H.: UFMG, 1998; p. 117.
Guimarães, 1999 p.215
Cf. BHABHA, , 1998.
Cf. CRAPANZANO, 1985.
Cf. o afirmado num dos sites pesquisados: “[...] o comportamento amoral, desprovido de ética e pervertido, traço marcante dos judeus, trata-se de um fator genético”.
GUIMARÃES, 1999 p. 211 et seq.
Esta concepção sociobiológica, segundo Donna Haraway baseia-se numa visão informatizada dos corpos, que ela denomina visão higth-tech do corpo. Cf. Haraway, 2000, p. 81
Membro da Ordem, grupo neonazista americano, David Lane cumpre prisão perpétua por sua participação no assassinato de um comentarista de rádio judeu em Denver. Cf. GOODRICK-CLARKE, 2004, pp 68.
Manteve-se como registrado no site.
É pertinente observar que Tomás de Aquino, em seu Comentário ao Livro V da Ética a Nicómaco, de Aristóteles, traduz a idéia de héxis para o conceito de habitus em latim. Provavelmente construiu essa conceituação em fontes diversas, porque não lia grego. O texto de Aquino que introduz o conceito escolástico de habitus é "Respondeo dicendum quod, sicut supra dictum est, habitus non diversificantur nisi ex hoc quod variat speciem actus, omnes enim actus unius speciei ad eundem habitum pertinent. Cum autem species actus ex obiecto sumatur secundum formalem rationem ipsius, necesse est quod idem specie sit actus qui fertur in rationem obiecti, et qui fertur in obiectum sub tali ratione, sicut est eadem specie visio qua videtur lumen, et qua videtur color secundum luminis rationem". Uma tradução possível seria algo como: Respondo dizendo que, como foi dito acima, os hábitos não se diversificam a não ser que mude o tipo de ação, de fato, todas as ações da mesma espécie pertencem ao mesmo hábito. Sendo que a espécie da ação deriva do objeto segundo sua razão formal, é necessário que a ação seja da mesma espécie que se liga à razão do objeto, e que se ligue ao objeto sob tal razão, como é da mesma espécie a vista pela qual se vê a luz e pela qual se ver a cor dependendo da razão da luz. Estas "ações da mesma espécie" compõem a héxis descrita por Aristóteles como uma "disposição prática", permanente e costumeira, automática, e muito provavelmente desapercebida, pertencente a um plano ontogenético. Acerca da disposição argumentada por Aristóteles, cf. ARISTÓTELES Ética a Nicômaco. , 2002, p. 135. Bourdieu localiza no conceito de habitus o "primado da razão prática", "uma disposição incorporada, quase postural... o lado ativo do conhecimento prático que a tradição materialista, sobretudo com a teoria do reflexo tinha abandonado". (BOURDIEU, P. Ibid, p. 61). Em A Dominação masculina, a construção do habitus é explicada por Bourdieu da seguinte forma: o "... produto de um trabalho social de nominação e de inculcação ao término do qual uma identidade social instituída por uma dessas 'linhas de demarcação mística', conhecidas e reconhecidas por todos, que o mundo social desenha, inscreve-se em uma natureza biológica e se torna um habitus, lei social incorporada". Cf. BOURDIEU, P. 2003, p 64.
BOURDIEU, P. Razões Práticas – Sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 2004 p 21

Cf. ESSNER, C. et CONTE. E. A Demanda da Raça – Uma Antropologia do Nazismo. Lisboa: Instituo Piaget, Coleção Epistemologia e Sociedade, 1995.
Ibid. p. 20.
Ibid. p 78.
WACQUANT. L. Esclarecer o Habitus. [on-line] Disponível na Internet via WWW. URL: sociology.berkeley.edu/faculty/ WACQUANT/wacquant_pdf/ESCLARECEROHABITUS.pdf -. Arquivo acessado em 15 de maio de 2004.
BOURDIEU, P. Razões Práticas: Sobre a Teoria da Ação. São Paulo: Papirus, 1997, p. 42.
Cf. BOURDIEU, P. A Economia das Trocas Lingüísticas: O Que Falar Quer Dizer. São Paulo: EDUSP, 1996, p. 130-132
LÉVI-STRAUSS, C. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
Acerca do tema ver EZEKIEL, R. S. The Racist Mind, New York, Penguin Books, 1995; HOCKENOS, P. Livres para Odiar – Neonazistas: Ameaça e Poder São Paulo, Scritta, 1995; SALEM, H. As Tribos do Mal – o neonazismo no Brasil e no mundo. São Paulo, Atual, 1995 e GOODRICK-CLARKE, N. Sol Negro: Cultos Arianos, Nazismo Esotérico e Políticas de Identidade. São Paulo, Madras, 2004
LÉVI-STRAUSS, C. Raça e História, in Antropologia Estrutural Dois. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976.
SALEM, H. As Tribos do Mal – o neonazismo no Brasil e no mundo. São Paulo, Atual, 1995, p. 81 a 83.
SARTRE. J.P. Reflexões sobre o racismo. São Paulo, Difusão Européia do livro, 1968, p.6
SARTRE. J.P. Ibid. p.31
Acerca deste posicionamento, um excelente exemplo está no documento da ABA em 2003, que discute a negação do habeas corpus negado a editor Sigfried Ellwanger Castan pelo STF: “Nesse sentido, a noção de ´raça´ correntemente utilizada constitui tão somente uma construção sociocultural que se aplica a grupos populacionais detentores de características físicas e, eventualmente, culturais comuns. Identidades culturais, étnicas e, ou, ´raciais´ devem ser, pois, entendidas como sendo elaboradas no âmbito de processos políticos, econômicos e sociais inscritos em contextos espaço-temporais particulares, constituídos conforme distintas características locais, regionais, nacionais e transnacionais. As identidades e suas representações são tão mutáveis quanto o são os processos, contextos e as dimensões particulares que lhes servem de suporte. É desse modo que as identidades indígenas, africanas, ítalo-brasileiras e etc. são, simultaneamente, cindidas e fundidas, incorporadas e desincorporadas, transpostas e reconfiguradas dentro de campesinatos rurais, centros urbanos, comunidades imigrantes e arenas nacionais.” Na oportunidade a Associação Brasileira de Antropologia - ABA manifestou o seu irrestrito apoio à decisão da Alta Corte e salientou como “tarefa prioritária o desafio anunciado, há exatos 51 anos, pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss, no âmbito dos esforços então desenvolvidos pela UNESCO para combater o racismo, de enfrentarmos, e superarmos, os problemas decorrentes das desigualdades sociais, econômicas e políticas prevalecentes entre as culturas humanas.” Disponível na Internet em http://www.abant.org.br/informacoes/documentos/documentos_019.shtml

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