Wednesday, January 31, 2007

Artistas promovem show em homenagem a mãe Menininha

Artistas promovem show em homenagem a mãe Menininha
IALORIXÁ

Perla Ribeiro

Se mãe Menininha estivesse viva, o Gantois seria pequeno para abrigar o número de filhos-de-santo e admiradores que iriam festejar com ela os seus 113 anos. Tido como os cantores preferidos da ialorixá, provavelmente Maria Betânia e Caetano Veloso teriam imenso prazer de cantar só para ela. Na sua ausência, os santamarenses juntam as vozes de Gal Costa, Daniela Mercury, Jerônimo, Mariene de Castro e Márcia Short para cantar em louvor a terceira mãe-de-santo da linha sucessória do terreiro do Gantois. O show acontece no dia 10 de fevereiro e o palco da celebração será a Concha Acústica. Toda a renda dos ingressos será revertida para as ações sociais do terreiro.

Ainda em comemoração à data, os filhos da casa preparam uma série de palestras, o lançamento de um livro, um selo personalizado e um carimbo comemorativo. Além da celebração da data de nascimento, toda comunidade do Gantois também estará às voltas com os preparativos para os rituais de passagem dos 21 anos de morte da ialorixá. “No candomblé, com 21 anos encerra o ciclo de celebrações fúnebres.

História - Por maior que sejam as comemorações, para os seguidores elas ainda estão aquém do que Maria Escolástica da Conceição Nazaré, nome de batismo de mãe Menininha, merece. Tida como uma mulher de força inabalável, ela ficou consagrada no candomblé baiano por saber usar as palavras para vencer a resistência policial durante a perseguição aos terreiros de candomblé, por abrir as portas do Gantois para brancos e católicos, numa época em que atitudes como esta, eram vistas com estranhamento, e, acima de tudo, por conviver harmonicamente com o sincretismo. “No dia 10 de fevereiro, Deus agraciou ela com a vida e o 13 de agosto foi o dia da missão cumprida, quando Olorum chamou ela para junto dele”, diz a ialorixá Carmem.

Na qualidade de filha, Carmem acredita que, vindo de sua boca, os adjetivos podem parecer suspeitos, mas no fundo o que ela diz só verbaliza o sentimento coletivo. “Ela foi uma pessoa singular. Dócil, meiga, dedicada, procurou servir e ajudar a todos, sempre cumpria com suas obrigações, soube cumprir bem o seu papel”, sintetiza. Não era à toa que Jorge Amado, Dorival Caymi, Vinícius de Moraes sempre que podiam iam consultá-la.

***

PROGRAMAÇÃO

08/02 - Terreiro do Gantois, a partir das 18h
Palestra com Francisco Senna
Lançamento do livro Mãe Menininha do Gantois, uma biografia


09/02 - Terreiro do Gantois, a partir das 18h
Lançamento do selo personalizado e carimbo comemorativo (com imagem de Mãe Meninha)
Mesa-redonda com o tema: Mãe Menininha - Mulher Oxum

10/02
Show na Concha Acústica, às 18h

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 01.02.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/
noticia_impressao.asp?codigo=121649

Negro estanca na escala social, diz estudo

Brasília, 30/01/2007

Em 30 anos, proporção de pretos e pardos nos diferentes estratos de renda permaneceu praticamente estável, aponta Centro de Pobreza
Crédito: SEPPIR/Divulgação
da PrimaPagina

A participação dos brasileiros de cor preta e parda nos diferentes estratos de renda permaneceu praticamente estável nos últimos 30 anos, o que indica que é pequena a mobilidade social desse grupo no Brasil, aponta um estudo do Centro Internacional de Pobreza — um braço do PNUD mantido em Brasília com apoio do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

“A posição socioeconômica dos negros tem permanecido notavelmente estável e previsível em um longo período de tempo. Se a raça não tivesse permanecido de fato um importante determinante da posição socioeconômica, era de se esperar que os não-brancos tivessem, enquanto grupo, uma mobilidade ascendente maior, mesmo que vagarosamente, nos últimos 30 anos”, afirma o pesquisador Rafael Guerreiro Osório, autor do estudo, no artigo intitulado Tem havido mobilidade social entre os não-brancos no Brasil?.

O trabalho comparou a renda per capita de brancos e não-brancos entre 1976 e 2005, a partir de dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílios). A população total do país foi dividida em 20 partes iguais, dos 5% mais pobres até os 5% mais ricos. Para cada um dos anos entre 1976 e 2005, o estudo calculou as chances de uma pessoa de cor preta ou parda estar em cada um dos estratos de renda. O resultado mostrou que, quanto menor a faixa de renda, maior a proporção de negros.

Além disso, houve uma variação muito pequena em todos os 20 grupos: entre os pobres, a classe média e os ricos, a proporção dos pretos e pardos permaneceu praticamente estável nos últimos 30 anos, apesar das mudanças ocorridas na sociedade durante esse período. Como ao longo de todo o período a tendência se manteve, é possível prever que ela pouco se altere nos próximos anos, afirma Osório.

http://www.pnud.org.br/raca/reportagens/index.php?id01=2559&lay=rac
Renata Lira
Advogada
Justiça Global


Tel.: (+55) 21 2544 2320
Celular: (+55) 21 92426809
www.global.org.br

Monday, January 29, 2007

29/01/2007 - 13:15

Ciclo de eventos celebra 113 anos de Mãe Menininha do Gantois

A Oxum mais bonita, como diria Caymmi...





A Tarde On Line

Se estivesse viva, a yalorixá Mãe Menininha, que comandou o Terreiro do Gantois por mais de 50 anos, completaria 113 de vida, no próximo dia 10. Em homenagem a data, os filhos da casa preparam palestras, lançamento de livros, selo personalizado, carimbo comemorativo e um grande show na Concha Acústica do TCA, reunindo Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso, Daniela Mercury, Jerônimo, Márcia Short e Mariene de Castro.

Neste ano, também chega ao fim um ciclo de cerimônias pós-morte, pois em 13 de agosto, a mãe de santo completará 21 anos de falecimento, data significativa para o calendário do Candomblé.

As comemorações pelo aniversário de Mãe Menininha começam no dia 8, com palestra de Francisco Senna, professor de História da Arquitetura Brasileira da Universidade Federal da Bahia (Ufba). No mesmo dia, acontece o lançamento do livro “Mãe Menininha do Gantois, uma biografia”, das autoras Cida Nóbrega e Regina Echeverria.

O livro, produzido pela Corrupio em parceria com a Ediouro, está recheado com dados históricos, relatos, frases e pensamentos da iyalorixá, depoimentos de alguns filhos da casa e registros fotográficos, que ilustram também a trajetória da sacerdotiza, que em 1922 assumiu o terreiro, aos 28 anos de idade.

Na sexta-feira, dia 09, os festejos continuam com o lançamento de um selo personalizado e um carimbo comemorativo que levam a imagem de Mãe Menininha. Será realizada também uma mesa redonda em torno do tema “Mãe Menininha - Mulher Oxum”, com a participação de Júlio Braga, Vanda Machado, Jocélio Teles, Fábio Lima e a jornalista e mestranda Cleidiana Ramos.

No sábado, dia 10, acontece o grande encontro com estrelas da música brasileira que se reúnem para cantar em louvor a mãe Menininha. No repertório, músicas que exaltam a importância e força do Candomblé. Participam do show: Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso, Daniela Mercury, Jerônimo, Márcia Short e Mariene de Castro.

O espetáculo acontece na Concha Acústica do TCA, a partir das 18h. Os ingressos custam R$ 50,00 e R$ 25,00 (meia-entrada) e estarão à venda na bilheteira do teatro. A renda arrecadada com a venda dos ingressos será destinada para as obras sociais do Gantois, realizada pela Associação de São Jorge Ebé Oxossi.

Filha de Oxum - A terceira iyalorixá da linha sucessória do Terreiro do Gantois nasceu em 1894 como Maria Escolástica da Conceição Nazareth. Neta de escravos, bisneta e sobrinha de iyalorixás, mãe Menininha conduziu durante 64 anos os destinos do terreiro fundado em 1849 pela iyalorixá Maria Júlia da Conceição Nazareth, descendente das princesas africanas que fundaram o terreiro da Casa Branca.

Nascida no século XIX, Mãe Menininha cresceu entre os homens e mulheres que preservavam e transmitiam os conhecimentos da religiosidade de matriz africana no Brasil. Com eles, ela aprendeu os antigos costumes, os rituais e a língua iorubá. Filha de Oxum, o orixá das águas doces, a yalorixá morreu aos 92 anos. Sua sucessora foi a filha Cleusa Millet - que morreu no final de 1998. Atualmente, quem comanda o terreiro do Gantois é Carmen Oliveira da Silva, Mãe Carmen, também filha de Mãe Menininha.

Campanha Guarani Kaiowá

*Entidades lançam campanha de ajuda humanitária ao povo Guarani Kaiowá*

Entidades ligadas à CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais) lançam neste sábado (27), campanha de ajuda humanitária aos Guarani Kaiowá acampados às margens da BR-289, próximo ao município de Coronel Sapucaia (MS).

O ato de lançamento da campanha acontece no centro de Campo Grande, na Rua Barão do Rio Branco, em frente ao Bar do Zé, das 9 às 11 horas. Na ocasião serão distribuídos panfletos falando sobre a situação dos indígenas e divulgados os locais para a entrega das doações. Serão arrecadados alimentos, roupas e utensílios domésticos.

*O Caso*

**No dia 3 de janeiro de 2007, cerca de 36 famílias Guarani Kaiowá retomaram a terra indígena Kurusu Ambá, hoje ocupada pela fazenda Madama. No dia 9 de janeiro milícias armadas contratadas por fazendeiros expulsaram os indígenas da área e queimaram todos os seus pertences.

A ação violenta resultou na morte de Xuretê Lopes, de 73 anos, no ferimento de Valdeci Ximenes, com três tiros e no desaparecimento de Anatalino, de 14 anos.

No dia anterior à expulsão ,quatro indígenas foram presos acusados de terem roubado um trator da fazenda Madama "Foi uma armadilha para criminalizar nossos parentes", denuncia Ortiz Lopes. Ele conta que um fazendeiro colocou o trator a disposição dos índios, e quando quatro deles saíram no veículo para buscar comida foram abordados por policiais e fazendeiros e levados para delegacia.

*Visita*

No dia 20 de janeiro representantes de entidades ligadas à CMS visitaram a área onde os indígenas estão acampados. Encontraram falta de infra-estrutura, panelas vazias, famílias sem ter o que vestir. A falta de alimentos é agravada ainda pelo fim do programa estadual Segurança Alimentar, que distribuía cesta básica à população, inclusive indígena, e que foi suspenso pelo novo governo.

Durante a visita, entidades ouviram o apelo dos indígenas e decidiram lançar uma campanha de ajuda humanitária.

Porém, mais que arrecadar alimentos, roupas e utensílios, a campanha quer mostrar para a sociedade que não há como resolver o problema dos povos indígenas do Estado sem que haja demarcação de suas terras. Dados do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) revelam que Mato Grosso do Sul possui o pior índice de terra demarcada do país.


Daniela Villas Boas
Assessoria de Impresa CDDH

Informações: 9922-7181/ 9629-4919

Sunday, January 28, 2007

II International Encontro of Sambistas


Click sobre a imagem para ver ampliado

Dear Samba Lovers,
Once again we are organizing the "II International Encontro of Sambistas" for the next Rio Carnival 2007, on 15 and 16 of february at the "Cidade do Samba" ( www.cidadedosambarj.com.br ), the newest samba dream factory in Rio de Janeiro.
This is a confraternization meeting for foreign and brazilian sambistas in Rio to talk about samba and to make interchanges about experiences in their groups, samba schools and parades in their citys. Have a look, in attachement, the II Encontro flyer.

So, if you know some sambistas who is coming to the next Rio Carnival 2007 and who would like participate as speaker in this II Encontro, let me know. replaying me this e-mail, asap.

The complete list of Encontro speakers will be ready and accessible on next thusday (1 of february), at site www.sambaglobal.net/encontro2

Thanks,

Jair Martins de Miranda
Samba Global Project Coordinator

Saturday, January 27, 2007

RITUAIS INDÍGENAS

Karajás apresentam ritos de passagem no Solar do Unhão

RITUAIS INDÍGENAS
Mariana Rios

Wajurema Karajá, 90 anos, é cacique e nunca tinha saído da aldeia no Parque Indígena do Araguaia, Ilha do Bananal, Tocantins, a 400km de Palmas. Há quatro dias, em Salvador, pela primeira vez em sua vida viu o mar. Senta, cruza as pernas, tira o pequeno cachimbo do bolso, com fumo, e acende. Nas maçãs do rosto, dois círculos tatuados. Nos vincos da face, traz ainda traços negros, que identificam sua etnia. Pergunta, misturando português e o karajá, se o artesanato trazido será comercializado na feirinha montada no Solar do Unhão. Ali, amanhã, às 19h, o rito de passagem que marca seu povo será apresentado, em projeto com patrocínio da Petrobras, tendo como pano de fundo o mar da Baía de Todos os Santos. A entrada custa R$6, e a meia R$3.

Desde sexta-feira, o solar sedia o projeto Ritos de Passagens – Canto e Dança Ritual Indígena, cuja proposta é aproximar e estabelecer um novo contato entre a tradição nativa do Brasil e seu povo urbano. Apenas olhar seu Wajurema Karajá é identificar os “brasis” perdidos na imensidão de desconhecimento de seu próprio povo. Sua visita é para apresentar-se:

“Awire, saúda”. Ele veio apresentar seu povo, quem são, como vivem e como mantêm, após 200 anos de contato, cerimônias como o hetohoky, quando os índios cobrem o corpo com o sumo do jenipapo e celebram.

Ontem à noite, duas aldeias apresentaram-se: o povo kiriri, da aldeia Mirandela, localizada entre os municípios de Banzaê e Quinjingue, norte do estado, e o povo pataxó, da aldeia Mãe da Barra Velha, no Parque Nacional de Monte Pascoal, em Porto Seguro. À tarde, fizeram uma prévia para o público presente, que pôde conferir a juventude na linha de frente para a manutenção do conhecimento e da cultura de seu povo. A voz grave e forte do jovem Raoni Pataxó, 20 anos, puxava o coro, acompanhado também por delicados pés femininos na encenação da cerimônia do Awê.

Nela a comunidade busca forças para enfrentar os desafios da vida e Inawã Brás, 18 anos, com traços e riso delicados, afirmou emocionar-se toda vez que dança com o grupo, cuja média de idade é de 20 anos. “É uma força que brota, danço desde os 5 anos e toda vez não faço sem lembrar minha ancestralidade. É uma homenagem”, explicou a jovem Pataxó. Hoje, às 20h, o público pode conferir a apresentação do povo xavante, vindos do Mato Grosso. Conscientes do seu papel, também no discurso coerente com a preservação dos seus espaços, os índios querem ser sujeitos ativos nesse novo processo. Sabem da importância de manter a floresta e o cerrado intactos para garantir a existência futura de seu povo e tradição.

***

Aldeia sustentável

O cacique xavante da aldeia Wederã, a 700km de Cuiabá, Mato Grosso, explica, com propriedade, que é possível tornar a aldeia sustentável com a floresta e o cerrado em pé. “É uma coisa nova para gente e para o governo focar novas políticas públicas. Mas é viável explorar de forma sustentável o meio ambiente”, afirmou Cipassé Xavante, 38 anos, que aos 9 deixou a aldeia por determinação do seu avô, o então cacique Apow?, para estudar em Ribeirão Preto. Atualmente, nenhum índio precisa deixar a aldeia para ter acesso à educação formal, garante Cipassé.

A sobrevivência da aldeia está apoiada do tripé produção de subsistência, artesanato e turismo ecológico – este último, a aposta da nova geração em sustentabilidade. “Estamos testando um projeto-piloto e investigando a melhor forma de fazê-lo com o mínimo impacto. Por isso, todo cuidado”, garantiu Cipassé, que já recepcionou na aldeia três grupos, formados por dez pessoas, em geral de professores e estudantes universitários.

A programação, explicou, dura três dias e compreende recepção e acompanhamento da rotina na aldeia, uma aula indígena sobre o cerrado e as relações com o povo Xavante, além de acompanhar, pelo Rio das Mortes, a busca pela base da dieta da aldeia – a caça. A preocupação de Wajurema, do início desta história, com a venda do artesanato, tem tudo para se tornar secundária, se a população indígena ocupar de fato o posto de representante e defensora de nossas maiores riquezas.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 27.01.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/
Snoticia_impressao.asp?codigo=121303

Friday, January 26, 2007

Muros: diminuem as migrações ou alteram-se as rotas?

Luiz Bassegio

Será que a Europa um dia compreenderá que não se trata de muros, baias, sistema de vigilância, patrulhas, centros de internamento, etc., mas sim de se investir e gerar trabalho nos países de origem para que a migração seja uma opção e não uma decisão forçada?

No dia 18 de dezembro, data da aprovação da "Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e Membros de suas Famílias", diversos países das Américas celebraram o Dia Mundial do Imigrante. No entanto, mais do que celebrar, as mobilizações mostraram que há muito por lutar e exigir para a promoção e o respeito aos direitos humanos e à cidadania universal dos migrantes. Exemplo da dura e triste realidade migratória aconteceu na véspera da data, quando 102 pessoas que partiram da África em "cayucos" (caiaques) tentando chegar às Ilhas Canárias, Espanha, morreram após tentar percorrer mais de 1200 quilômetros no mar, para chegar as ilhas.

Desde que se intensificaram os fluxos migratórios da África, rumo a Europa, nos últimos 5 anos, calcula-se que morreram mais de 6 mil imigrantes afogados nas águas do Atlântico e mais de 200 mil foram devolvidos aos países da África.

A busca de uma vida melhor dos africanos de Marrocos, África subsahariana - Malí, Serra Leoa, Guiné e Senegal -, em contingentes massivos, teve início há mais de dez anos. A princípio através das "pateras" (barcos) que partiam de seu país, atravessavam o Mediterrâneo e chegavam à Espanha, ou melhor, no sul do país. Aos poucos, porém, foram colocadas "baias" nas cidades de Ceuta e Melila, norte de Marrocos, câmeras de vigilância, radares e patrulhas no Mar Mediterrâneo. Mas nada disso tem impedido o fluxo migratório.

Nova rota de Imigrantes

Após uma promessa de 40 milhões de euros por parte da União Européia, a título de "Desenvolvimento", o governo de Marrocos colocou o exército para impedir a passagem dos migrantes. Também foi instalado ao longo da costa Norte da África o chamado SIVE (Sistema Intensivo de Vigilância Externa).

Agora, a nova rota de imigrantes para chegar à Europa torna-se ainda mais longa e perigosa. Trata-se de empreender uma longa e perigosa viagem passando pela Mauritânia, parte do Deserto do Saara, para chegar ao Senegal, por terra. Daí, por mar, os migrantes sobem pela costa africana até a altura das Ilhas Canárias. Quando chagam, são levados para os Centros de Internamento do sul da Espanha. Permanecem nos centros por 40 dias e depois são repatriados ou soltos na rua. Uma boa parte deles acaba trabalhando nas colheitas das frutas da região, em condições de semi-escravidão.

Se por um lado os muros não são suficientes para deter os imigrantes, além de tornar a viagem mais longa e perigosa tanto por terra como por mar, por outro, percebe-se que a iniciativa estimula o aumento das migrações. Os Senegaleses, que até então quase não migravam para as Ilhas, ao verem as pessoas de outros países passando pelo território do Senegal, começaram a seguir os mesmos caminhos. Assim, a vigilância e os muros do Mediterrâneo fizeram eclodir outro fluxo migratório, dos senegaleses para a Europa.

Para repatriar os que chegam às Ilhas Canárias, a Espanha, sempre a título de "Apoio ao Desenvolvimento", deu 35 milhões de euros ao Senegal. Em troca, este país teve que aceitar a repatriação de 5 mil imigrantes - teoricamente senegaleses, mas como boa parte não tem documentos, nesta cota são repatriados migrantes da Mauritânia, Serra Leoa, etc.

A perversa tática da União Européia

A externalização de fronteiras cria mecanismos pelos quais a possibilidade de se chegar à Europa torna-se mais difícil e mais perigosa e o local de partida dos migrantes cada vez mais distante do destino. Se antes eram apenas algumas dezenas de quilômetros através do Mediterrâneo, agora são 1500 km para se chegar ao Senegal e outros tantos ou mais, por mar, para se chegar às Ilhas Canárias, em "cayucos".

Mas não é só isso, a Europa serve-se de outros artifícios. São os próprios países de origem que devem exercer o controle através da polícia e da dificuldade de se conseguir visto; muitos pedidos de asilo passam a ser feitos nos países de trânsito, o que é muito difícil; há policiais da Europa nos aeroportos dos países de origem que fazem o controle mais rigoroso e as próprias empresas aéreas são obrigadas a ser rigorosas no controle, sob pena de multas. E mais, com a criação de "zonas de espera" nos países de trânsito, estes acabam se tornando país de destino.

Serão estas as soluções?

Como já dissemos muitas vezes, a migração é denúncia e anúncio. Denúncia de um modelo concentrador excludente e anúncio de outro mundo, outra política, onde além do direito de emigrar deve haver também o direito de não migrar, com condições de vida digna para se fixar no lugar de origem.

Será que a Europa um dia compreenderá que não se trata de muros, baias, sistema de vigilância, patrulhas, centros de internamento, etc., mas sim de se investir e gerar trabalho nos países de origem para que a migração seja uma opção e não uma decisão forçada, uma busca por melhores condições de vida e de trabalho. Além do mais, quando perceberão os europeus que os imigrantes rejuvenescem sua população, criam riquezas, cuidam de suas crianças e seus idosos e, além de tudo, alegram a vida dos países de destino?

A solução não está nos muros, mas no desenvolvimento sustentável dos países de origem.

Luiz Bassegio é secretário executivo do Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), da CNBB.

Cinema: Irmãs de cor


26/1/2007 01:12:00

Cinema: Irmãs de cor

‘Antônia’, que estréia dia 9, e ‘Dreamgirls’, em cartaz a partir do dia 16 e na disputa de oito Oscars, trazem grupos de meninas que querem vencer no mundo da música

Zean Bravo

Rio - Uma das quatro protagonistas do filme e da série de TV ‘Antônia’, Quelynah não quer mais saber de pintar o cabelo de louro. “Não pode ter negra loura cantando que chamam de Beyoncé”, explica a cantora e atriz, que agora terá nova razão para ouvir comparações com a popozuda americana. Com estréia marcada para o dia 9, o filme de Tata Amaral traz um grupo de mulheres negras batalhando por um lugar no mercado musical. Enredo parecido com o de ‘Dreamgirls — Em Busca de Um Sonho’, protagonizado por ninguém menos que Beyoncé Knowles. No filme, que chega dia 16 aos cinemas ostentando oito indicações ao Oscar, ela forma (isso mesmo!) um grupo vocal feminino atrás do estrelato.

Leia matéria completa em...

Fonte: O Dia Online

Etnias aproximadas

Povos indígenas visitam sede do Ilê Aiyê para traçar estratégias de integração com os negros

Cilene Brito

A associação entre os povos de herança africana e indígena não está apenas ligada à forte manutenção da ancestralidade, através dos traços culturais, religiosos e musicais. Embora tenham grande contribuição no processo de miscigenação da nação brasileira, ambos os povos ainda representam a parcela menos favorecida na sociedade. Um passo importante para a aproximação e parceria das duas raízes foi dado ontem durante a visita de indígenas das etnias baianas kiriri e pataxó, e do Centro-Oeste, xavante e karajá, à sede do bloco afro Ilê Aiyê, na Liberdade.

O encontro informal foi a primeira parada dos indígenas que estão em Salvador para apresentar o projeto Rito de Passagem, que tem como objetivo estreitar as relações entre os indígenas, negros e brancos, através das danças utilizadas em rituais de diferentes etnias. Promovido pelo Instituto das Tradições Indígenas (Ideti), o evento acontece de hoje a domingo, no Solar do Unhão, Avenida Contorno.

“Para nós, essa integração é muito importante. São dois povos diferentes que mantêm fortes traços da ancestralidade, mas que sofrem o mesmo processo de discriminação. Com essa visita, eles tiveram a oportunidade de ver que, apesar das dificuldades, é possível concretizar os objetivos”, afirmou o diretor do Ilê Aiyê, Roberto Rodrigues. Ele afirma que já se comprometeu em manter relação entre o bloco e os povos para fortalecer o processo de desenvolvimento das nações indígenas. “A troca de informações é importante para que eles vejam que, com muita luta, hoje estamos muito mais organizados. É uma oportunidade para diminuir as diferenças”, pontuou o presidente do afro do Curuzu, Vovô do Ilê.

Durante a visita, as tribos conheceram as instalações da Senzala do Barro Preto, onde funciona os projetos sociais do Ilê, e se mostraram motivados ao assistir a um vídeo que mostra a história da instituição. “Nós ficamos felizes e emocionados em ver que eles têm um projeto social que funciona e recebe muitos incentivos. Nós também temos alguns projetos, mas não recebemos apoio para continuar”, lamentou o presidente do Ideti, Jurandir Siridiwê, da tribo xavante.

Para a coordenadora cultural do Ideti, Ângela Pappiani, o encontro entre as duas etnias é importante para que sejam intensificadas as lutas pela criação de políticas públicas unificadas voltadas para minorias. “Quando há alguma política pública separada, os índios nunca são beneficiados. Através dessa união, eles estarão juntando forças e fortalecendo idéias”, considerou.

Proximidade–Criado há oito anos, durante a abertura das comemorações dos 500 anos do Brasil, o projeto Rito de Passagem já percorreu cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia, Brasília e Fortaleza. A escolha por Salvador se deu justamente pela proximidade dos traços culturais entre índios e afrodescendentes. Durante as apresentações, os povos indígenas pretendem abrir um importante canal de diálogo entre os demais povos, capazes de estabelecer um novo relacionamento e resultar numa maior compreensão sobre as diversidades culturais.

“Temos levado esse ritual de beleza das aldeias para diversas cidades, para mostrar que mesmo com todas as diferenças também podemos nos organizar. Os índios são patrimônio da cultura do Brasil e também merecem respeito’, diz Siridiwê. O xavante afirmou que existem hoje no Brasil 700 mil índios e 170 línguas distribuídos em 230 povos indígenas.

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Rito celebra transição de idades

Siridiwê alertou, no entanto, que as apresentações no Solar do Unhão não serão shows nem espetáculos, e sim um ritual importante para os indígenas, transportado do pátio cerimonial das aldeias para um espaço. Ele explica que a dança apresentada pelos índios é utilizada durante o ritual de passagem da adolescência para a fase adulta, que varia de idade para cada etnia. A dança é a última etapa de todo processo de transição.

Quando alcança uma determinada idade, os adolescentes são excluídos da vida em sociedade e ficam reclusos no meio da mata, onde recebem importantes ensinamentos dos índios mais velhos e experientes, sobre os segredos da vida na natureza e conhecimentos astronômicos. “O tempo de reclusão varia para cada etnia. Alguns ficam um ano, outros seis meses. No caso da xavante, o adolescente sai com 9 anos e só retorna com 17”, contou.

Durante os três dias do projeto, o público também poderá conhecer e adquirir artesanatos típicos das tribos, como bandejas de fibra trançada, bonecas de madeira, colares e pulseiras, acessórios feitos com sementes, cestas e cerâmicas, entre outros, na feira de artesanato aberta ao público no Solar do Unhão. Já o Ideti vai comercializar livros, documentários, postais temáticos, CDs e camisetas do instituto. Os ingressos estão à venda no local a partir das 16h. A inteira custa R$6, e a meia, R$3.

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Programação:

Hoje:
Das 9h às 11h – Visita ao Projeto Axé, no Pelourinho.
A partir das 16h – Feira de Artesanato Indígena no Solar do Unhão.
Às 20h – Apresentação do projeto Rito de Passagem no Solar do Unhão.

Amanhã
A partir das 16 – Feira de Artesanato Indígena no Solar do Unhão.
Às 20h – Apresentação do projeto Rito de Passagem no Solar do Unhão.

Domingo
A partir das 16 – Feira de Artesanato Indígena no Solar do Unhão.
Às 20h – Apresentação do projeto Rito de Passagem no Solar do Unhão.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 26.01.2006
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador
/noticia_impressao.asp?codigo=121221

Wednesday, January 24, 2007

Britânica defende escravidão em reality show

Integrantes do reality show 'Shipwrecked'
Lucy Buchanan (na extremidade direita) foi descrita como "ingênua
Uma participante de um reality show britânico causou polêmica no país ao defender a escravidão e ofender os negros durante o programa.

"Sou a favor do império britânico e estas coisas. Sou a favor da escravidão, mas isso nunca vai voltar", disse Lucy Buchanan, uma das participantes do reality show Shipwrecked (“Náufragos”, em tradução livre), transmitido pelo canal de televisão Channel 4.

Buchanan, de 18 anos, também disse que pessoas negras são "realmente ruins", condenou o multiculturalismo existente na Grã-Bretanha e chamou as lésbicas de "sinistras".

"A Grã-Bretanha é uma bagunça total. Eu simplesmente não gosto de pessoas chegando ao nosso país e assumindo a nossa cultura", disse a jovem.

Mais de 430 pessoas já registraram reclamações sobre as declarações de Buchanan no órgão regulador de TV britânico Ofcom.

"Ingênua"

A Comissão de Igualdade Racial do país disse que está analisando o programa e que os telespectadores deveriam enviar reclamações ao Channel 4.

O canal tentou minimizar a polêmica veiculando gravações posteriores em que Buchanan voltou atrás em algumas de suas afirmações.

Os pais da jovem, David e Nicola Buchanan, divulgaram uma nota com "as mais sinceras desculpas" pelas declarações da filha.

"Nós acreditamos que Lucy, como uma adolescente ingênua, fez estas afirmações bobas e extremamente infelizes por causa de sua ansiedade em estar participando de Shipwrecked", disseram na nota.

O Channel 4 foi também alvo de milhares de reclamações e críticas na semana passada ao veicular cenas de três integrantes de outro reality show, o Celebrity Big Brother (Big Brother de Celebridades) ridicularizando a atriz indiana Shilpa Shetty, o que foi considerado racismo por muitos telespectadores.

BBC Brasil- 24.01.2007
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/
2007/01/070124_defensora_escravidaoaw.shtml

Monday, January 22, 2007

Rastafáris apresentam ao MP queixa contra música

margareth menezes


As associações culturais rastafári Nova Flor e Aspiral do Reggae apresentaram ao Ministério Público Estadual uma queixa contra a cantora Margareth Menezes e os compositores Augusto Conceição e Fábio Alcântara. Tudo por causa da música Rasta man cujo conteúdo do refrão (“Rasta man meio maluco, mas um homem bom”) é classificado como pejorativo, na opinião dos seguidores do movimento, difundido musicalmente por Bob Marley. Na tentativa de chamar a atenção, as entidades levaram, na terça-feira, a reclamação à 2ª Promotoria de Justiça da Cidadania e Combate ao Racismo.

No termo, é solicitado que a cantora se retrate e que Rasta man pare de ser veiculada nos meios de comunicação “por comprometer a história do movimento Rastafári”. O protesto daqueles que defendem os preceitos do imperador Haile Selassie I foi feito à reportagem do Correio da Bahia, durante o II Seminário Municipal Inter-religioso de Combate à Intolerância, realizado ontem na Casa do Benin, no Pelourinho.

“Foi uma leitura infeliz e estamos tomando essa iniciativa para que nossa cultura não seja descaracterizada”, explicou o integrante da Associação Cultural Nova Flor, Sidney Rocha, estudioso do rastafarianismo. Quando ouviu na rua a letra da música, Jussara Santana, integrante do movimento, gostou da letra, mas o refrão a chocou. “Tenho conhecimento do movimento e não concordo com isso. Não podemos contribuir com essa difusão equivocada”, declarou Jussara.

A cantora Margareth Menezes falou, por telefone, à reportagem que respeita a interpretação, mas o refrão, garante, não foi feito para agredir. Bem humorada, completou: “Eu também sou meio maluca. Adoro a música e acho que ela faz uma homenagem ao ser humano, à pessoa que tem liberdade de viver, que vai atrás de seu sonho e não obedece a uma sociedade enquadrada. A música é do bem. Uma homenagem também ao radialista Lino Almeida, que me apresentou ao reggae”, defendeu Maga.

Presente ao seminário, o promotor de justiça Almiro Sena Soares Filho afirmou que só terá acesso ao documento no próximo dia 1º, quando retornará de férias. “Vou ouvi-los formalmente e, depois disso, analisar para decidir os encaminhamentos”, explicou. O receio é que a música contribua para a desinformação e, mesmo à intolerância, em relação ao movimento, que é uma filosofia de vida e não uma religião. “(Na música) não existe a busca do entendimento. Nosso povo precisa ser respeitado. Não vemos como uma virtude ‘ser maluquinho, mas ser bom’”, concordou Kamaphew Tawa, 40 anos, que desde os 19, explicou, se dedica ao movimento rastafári.

A tentativa do grupo é mostrar que, por exemplo, os dreadlocks na cabeça são o símbolo de união com Jah (Deus) e pela busca por uma vida natural e justa. “Como mulher, como negra e rasta, me senti ofendida. Se ficarmos calados, vamos estar legitimando um processo de alienação”, defendeu Dina Lopes, que também congrega os ensinamentos do rastafarianismo, movimento internacional de repatriação negra, que ganhou notoriedade e responsabilidade cultural com o legado da escravidão e colonialismo na Jamaica. Música de trabalho, que está no mais recente CD e também no DVD da cantora, Rasta man, defende Margareth, traz o homem que tem domínio do que quer. “Não conheço um rasta que não seja meio maluco. A nação rastafári tem todo o meu respeito e vou continuar cantando”. (MR)

Fonte: Correio da Bahia, 23.01.2006
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/
noticia_impressao.asp?codigo=121051

Foto Bob Marley: http://www.marleyoncanvas.com/

Sunday, January 21, 2007

Jornal conta ligação de Naomi com seita brasileira 'bizarra'

Jornal conta ligação de Naomi com seita brasileira 'bizarra'
Naomi Cambell
O jornal investiga a ligação da modelo com o Candomblé
O jornal britânico Mail on Sunday publicou um artigo neste domingo analisando a ligação da modelo Naomi Cambell e o pai-de-santo brasileiro Tuca Franchini.

O jornal diz que a modelo "problemática" estaria "apaixonada pela bizarra seita brasileira", se referindo ao Candomblé.

A publicação cita uma entrevista exclusiva com Franchini na qual ele confirma que a modelo londrina "ficou muito interessada pelo Candomblé".

"Ela não o pratica como religião, mas me escuta quando eu conto a sua história porque ela é apaixonada pelas raízes da nossa cultura africana."

Embaixadora

O jornal menciona rumores de que Frachini seria um ‘guia espiritual’ de Naomi e ela teria buscado a ajuda de espíritos do Candomblé para conter seus acessos de raiva.

Na semana passada, a modelo se declarou culpada de ter agredido uma ex-funcionária com um telefone celular. Ela foi condenada a prestar serviços comunitários em Nova York.

No que chama de primeiro comunicado público de Franchini sobre sua amizade com a britânica, o jornal diz que ele considerou apenas coincidência o fato de ela ter voado da cidade americana direto para o Rio de Janeiro.

"Ela visitou o Rio porque estava se tornando embaixadora da cidade no exterior e para festejar meu aniversário de 36 anos como amiga", disse ele.

Um porta-voz da modelo negou que Naomi Cambell se identifique com alguma religião específica e rejeitou categoricamente que ela tenha se consultado com Franchini por causa dos acontecimentos em Nova York.

BBC Brasil

http://www0.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story
/2007/01/070121_rionaomicambelrc.shtml

Saturday, January 20, 2007

NOTA EM APOIO À QUESTÃO INDÍGENA

NOTA EM APOIO À QUESTÃO INDÍGENA

Kaiowá Guarani: pela vida e não violência, justiça e demarcação

A COORDENAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS vem manifestar a sua preocupação em relação à violência contra o povo indígena Kaiowá Guarani no Estado de Mato Grosso do Sul dado a característica de genocídio verificada ao longo dos anos.

É o que podemos constatar, mais uma vez, quando ocorrem o assassinato de Xuretê Julita Lopes, o desaparecimento de Anatalino, 14 anos, e o ferimento de Valdecir Ximenes, com três tiros, ao amanhecer do dia 9 de janeiro, por milícias armadas contratadas por fazendeiros, que retiraram à força um grupo que havia retornado ao seu tekoha (terra tradicional), hoje ocupado pela fazenda Madama, no município de Coronel Sapucaia, MS. Quatro índios continuam presos, após incidente resultado de um ataque da milícia armada, no dia anterior.

Além dessa violência física, a comunidade foi duramente atingida por uma longa espera: aguardou cinco dias por uma autorização judicial para o enterro de Julita, rezadora de 73 anos, no local em que foi assassinada. As decisões da Justiça Federal em Ponta Porã e do Tribunal Federal Regional, em São Paulo, negaram aos índios o direito de sepultar a anciã no local em que tombou.

Enquanto os Kaiowá Guarani, no amanhecer do dia 9 estavam fazendo seu ritual de reza em seu tekohá, foram brutalmente atingidos por balas dos pistoleiros que chegaram em 12 carros atirando nos indígenas ali reunidos. A nhandesi(rezadora) com mbaracá na mão, foi atingida mortalmente, ficando estirada ao chão. Todos foram forçados a entrar num ônibus e caminhão ali trazidos de um dos donos de agronegócio da região, e despejados na beira da estrada.

Nos unimos aos Kaiowá Guarani de Korusu Ambá e demais terras indígenas deste povo em sua heróica luta por seus direitos, e sua diversas formas de externar sua revolta e indignação, exigindo justiça e demarcação, seja em seus rituais de esperança, seja nas praças e ruas como ocorreu em Dourados, dia 12 de janeiro.

Denunciamos as ações de fazendeiros, que contratam jagunços, seguranças privados e pistoleiros para resolverem à força disputas sobre terras. Os Kaiowá Guarani nada mais buscam do que seu o direito constitucional às terras das quais foram expulsos. Repudiamos essa mentalidade que concebe como“direito natural” a expropriação de terras indígenas, negando a reprodução da vida a inúmeras famílias que se sustentam através da terra, com base em culturas milenares.

É assustadora a certeza da impunidade com que vêm agindo esses grupos armados. Os matadores continuam soltos, enquanto dezenas de índios estão presos. É preciso uma ação enérgica e eficaz da Polícia Federal e da Justiça para que não continuem sendo estimulados tais atos criminosos.

Toda essa situação só começará a mudar se houver uma ação rápida do governo Federal para regularizar e garantir aos Kaiowá Guarani suas terras. É uma afronta constatar que quase todos os processos de regularização das terras indígenas no Estado estão paralisadas por ações judiciais e que a Funai tem se omitido sistematicamente a criar grupos de trabalho para identificar mais de uma centena de tekohas (terras tradicionais) que aguardam por essa providência.

A situação é de insegurança, pois todos temem por suas vidas e, principalmente, a insegurança alimentar que não está sendo garantida por nenhuma esfera estatal. Portanto, se faz urgente que o governo estadual e federal tomem providências para manutenção da segurança física e alimentar da comunidade expulsa da fazenda Madama, no Município de Coronel Sapucaia.

Todos aqueles que buscam a justiça e fraternidade, desde a população local, regional, nacional e internacional, estão sendo convocados por este apelo para por fim a essa violência sistemática e generalizada contra o povo Guarani Kaiowá.

Campo Grande, 19 de janeiro de 2007

CMS – Coordenação dos Movimentos Sociais do Mato Grosso do Sul

Aumenta violência entre ianomamis

19/01/2007

Local: Brasília - DF
Fonte: Correio Braziliense
Link: http://www.correioweb.com.br/

Segundo a Funai, Polícia Federal vai realizar operação para retirar garimpeiros da reserva dos Ianomami

Os índios ianomamis da Serra das Surucucus, em Roraima, estão se aniquilando. A baixa é “patrocinada” e atende aos interesses de garimpeiros. De olho nas áreas de mineração das terras indígenas, eles fornecem armas de fogo aos índios há mais de duas décadas, contribuindo para a intensificação de conflitos intercomunitários, característicos da etnia. O sistema de agressões entre os ianomamis é sociocultural. Está relacionado às relações de parentesco, à ocupação do espaço e à definição de unidades sociais. Mas, por causa da interferência do homem branco, o homicídio tornou-se, a partir de meados da década de 1990, uma das principais causa de mortalidade entre os índios. Diferentemente dos tempos onde apenas as flechas, além dos rituais de feitiçaria guerreira, eram usadas como munição contra o “inimigo.”

Das 54 mortes violentas registradas na última década, 22 homicídios (41%) foram causados por armas de fogo. No início desta década, os casos de morte violenta se intensificaram. Das 30 registradas entre 2000 e 2003, 70% foram em decorrência do uso de armas de fogo, enquanto apenas 30% envolveram exclusivamente a utilização de outras armas. O número de ianomamis em território brasileiro chega a mais de 10 mil.

Os dados fazem parte do estudo Niyayou – antagonismo e aliança entre os Yanomami da Serra das Surucucus (RR). De autoria do antropólogo Rogério Duarte do Pateo, da Universidade de São Paulo, a pesquisa denuncia o oportunismo do garimpo que, diante da falta de atuação do Estado para garantir efetivamente os direitos dos índios, se aproveita da desarticulação do governo federal e invade as terras dos ianomamis.

Operação da PF O pesquisador da USP lembra que a situação é conhecida das autoridades brasileiras desde os anos 70. “O poder público está deixando a desejar. Falta continuidade na fiscalização. Até a Polícia Federal já fez recolhimento de armas, mas a permanência da fonte fornecedora dentro da área indígena persiste”, denuncia.

A última investida ocorreu em dezembro de 2005. Agentes federais e funcionários da Funai sobrevoaram a Serra das Surucucus para ver se procediam as denúncias de invasão pelos garimpeiros. O presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, afirma que a operação está sendo planejada e vai acontecer nos próximos meses, mas não dá detalhes.

Para Pateo, as ações da Funai são em vão e as que conseguem êxito não funcionam por muito tempo. Ele cita a Operação Yanomami, desencadeada em 1996, como um caso clássico de inoperância. Houve o recadastramento de aeronaves e a intensificação da fiscalização sobre os vôos clandestinos, com a desativação de postos de combustíveis não regularizados e a fiscalização das distribuidoras de combustível.

Segundo o antropólogo, esse conjunto de procedimentos — controle rígido das vias de acesso aos garimpos, falta de mantimentos e combustível para as máquinas — tornou inviável a presença dos invasores, potencializando a eficiência da operação, se mostrou eficaz. Mas não perdurou. E os invasores voltaram.

‘É preciso aumentar a união de idéias do povo negro’

KURT L. SCHMOKE/‘É preciso aumentar a união de idéias do povo negro’

Pingue-pongue

Aos 57 anos, o advogado americano Kurt L. Schmoke é conhecido na comunidade negra internacional como um homem de sucesso. Formado pela respeitada universidade de Yale e Oxford, foi o primeiro prefeito negro eleito da cidade de Baltimore. Nesse período, desenvolveu políticas inovadoras nas áreas de habitação, educação e saúde pública, especialmente na redução de danos para dependentes químicos. Numa cidade com 55% de negros, Schmoke não teve medo de parecer segregacionista e desenvolveu muitas ações pela comunidade afrodescentente, que o elegeu mais duas vezes. Deixada a carreira política, passou a ocupar, em 2003, a cadeira de reitor da Escola de Direito da Universidade de Howard, que formou muitos negros enquanto os Estados Unidos viviam seu próprio apartheid. À frente da escola, continua trabalhando para criar mais líderes negros que se espalhem pelo mundo. Shmocke não fala de um poder agressivo, mas cobra atitudes. Sobre a situação dos negros no Brasil, o advogado acredita que falta reconhecermos que há um problema. “Se você achar que as coisas não estão tão ruins, não vai tomar uma decisão firme de mudança”.

Ana Carolina Araújo

Correio da Bahia - O senhor acredita no black power (poder negro)?

Kurt Schmoker - Para algumas pessoas, o poder negro é uma forma de se sentirem melhores e mais fortes mas, para outras, o termo significa divisão e as aborrece, se sentem ameaçadas. Meus alunos, que têm de 22 a 26 anos, fizeram este ano uma conferência na faculdade com o título O que é negro?. Eu achei muito interessante porque eu não tive isso há 35 anos. Para eles, parte da comunidade ainda precisa aprender a ver o negro de uma maneira mais positiva e forte, mesmo que algumas pessoas pensem nisso como uma divisão. Foram diferentes reações sobre o evento, mas eu acho que num país de diversidade racial, é preciso mandar a mensagem black is beautiful (negro é lindo), e não algo negativo. É preciso balancear e deixar claro que não se está tentando dividir ninguém, mas associar coisas positivas ao fato de ser negro.

Leia a entrevista completa em...

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 20.01.2007
www.correiodabahia.com.br

Thursday, January 18, 2007

Morre líder mística de rebeldes de Uganda

Morre líder mística de rebeldes de Uganda
Alice Lakwena
Lakwena garantia proteção a seus seguidores em batalhas
A mulher que iniciou a longa insurgência no norte de Uganda, Alice Lakwena, de 50 anos, morreu no exílio em um campo de refugiados no Quênia.

A causa da morte não foi revelada, mas Lakwena estaria padecendo de alguma doença há vários dias.

A auto-proclamada profetiza fundou o Movimento do Espírito Santo, nos anos 80.

Seus seguidores acreditavam que poções mágicas os protegiam nas batalhas, mas eles acabaram sendo derrotados pelas forças do governo do país.

Depois disso, vários seguidores de Lakwena formaram o Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em inglês), liderado por seu primo, Joseph Kony.

Lakwena ainda mantinha muitos seguidores, que acreditavam que ela tinha poderes para curar doenças, como a AIDS.

O LRA realiza negociações com o governo para encerrar o conflito de 20 anos na região.

Mais de 1,5 milhão de pessoas abandonou suas casas por causa do conflito e milhares de crianças foram seqüestradas pelo LRA.

BBC Brasil

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/
2007/01/070118_reuniaomercosul1dg_cg.shtml


PROGRAMAÇÃO:


LEVANTE DOS MALÊS


“CULTURA, IDENTIDADE E RESISTÊNCIA NEGRA NO BRASIL”


"Que marca a presença e a resistência de africanos muçulmanos escravizados no Brasil no inicio do século XIX"

de 25 de janeiro a 26 de fevereiro de 2007

Dia 25/jan quinta 19h
PALESTRA: RELIGIOSIDADE ISLÂMICA E IDENTIDADE ÉTNICA NO LEVANTE DOS MALÊS

Adomair Ogunbiyi – MNU – Movimento Negro Unificado - Maranhão
Haidar Abu Talib – Sociedade Islâmica do Rio de Janeiro - Pesquisador

Dia 25/jan quinta 19h
LEVANTE DOS MALÊS:
CULTURA, IDENTIDADE E RESISTÊNCIA NEGRA NO BRASIL

Exposição de fotos, documentos e textos sobre o levante. Visitação até 26 de fevereiro, de terça a sexta, das 10h às 21h, e sábado, das 9h às 17h

26/jan sexta 20h Sexta Musical Especial:
Apresentação artística dos grupos da Associação Posse Hausa
SHOWS: ZENZELÊ E AFRO VERSO

22/fev quinta 20h
PALESTRA: OS MALÊS NA BAHIA - REVOLTAS ESCRAVAS, IDENTIDADES AFRICANAS E RELIGIÃO NO CONTEXTO DA SOCIEDADE OITOCENTISTA BRASILEIRA

Com a Dra. Cristina Wissenbach, professora de História da África - Departamento de História da FFLCH-USP.

23/fev sexta 20h
PALESTRA: CULTURA, IDENTIDADE E RESISTÊNCIA NEGRA NO BRASIL

Com a Profª Sandra Regina Nascimento Santos, doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da USP;

Prof. João Batista de Jesus Felix, doutor em Antropologia Social pelo Departamento de Antropologia da USP;

Dra. Maria Helena P.T. Machado, livre docente do Departamento de História da FFLCH-USP.

Teremos certificado de participação para cada palestra

Realização:
Departamento de Educação e Cultura da Prefeitura de São Bernardo do Campo
Associação Posse Hausa

Apoio Cultural
CDIAL – Centro de Divulgação do Islam para América Latina

Local
CÂMARA DE CULTURA ANTONINO ASSUMPÇÃO
RUA MARECHAL DEODORO, 1325 - CENTRO -
São Bernardo do Campo

Informações

(011) 4122-2400 / (011) 4332-2090 / (011) 9832-1582

www.possehausa.blogspot.com

CÂMARA MUNICIPAL DA CIDADE IRÁ COMEMORAR ANUALMENTE O LEVANTE

http://www.camarasbc.sp.gov.br/cam_jornal_materia.asp?id=3217

__._,_.___

GRUMIN encaminha petição ao Governo Lula e ao Ministério Público

À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
ATT. do Exmo. Senhor Presidente da República

O GRUMIN, ( REDE GRUMIN DE MULHERES INDIGENAS), CNPJ: 31.885.635/001-47
sito à Rua Silva Pinto 153, sala 401 (parte), Vila Isabel , Rio de Janeiro, cep: 20551-190 vem, mui respeitosamente, à presença de V. Exa., com base na Magna Carta que rege o Estado Brasileiro, na Convenção 169 da OIT (ratificada pelo Brasil em 19 de abril de 2004), bem como na Convenção Interamericana de Direitos Humanos da OEA (ratificada pelo Brasil em 25 de setembro de 1992), pelos motivos de fato e direito expostos a seguir:

DOS FATOS
A constante impunidade que envolve a violação dos direitos dos povos indígenas no Brasil configura-se em forte estímulo para que novas e cada vez mais graves violações de direitos indígenas ocorram. Como agravante, tem-se o fato da constante impunidade que acompanha os casos de violência de gênero e de racismo, os quais seguem a mesma lógica do estímulo a novas violações em face da impunidade.
Assim sendo, e bem assim, trazemos o caso dos recentes assassinatos de Marina Macedo da Etnia Baniwa (20 anos) e Kurutê Lopes da Etnia Guarani Kaiowá (70 anos) solicitando PUNIÇÃO EFETIVA para todos os responsáveis.
A seguir incluímos duas matérias de imprensa para demonstrar que as autoridades responsáveis não podem alegar desconhecimento sobre estes assassinatos

    .

    O assassinato de uma índia baniwa em São Gabriel da Cachoeira chocou a comunidade no último final de semana.

    Corpo de Marina Macedo, que era doméstica e pertencia à etnia baniwa, foi encontrado pelo próprio cônsul da Colômbia em São Gabriel da Cachoeira

    120691 1 2 - 120691 1 2

    O corpo da doméstica Marina Macedo, 20, foi encontrado estrangulado e com sinais de estupro na manhã do último domingo (7) no município de São Gabriel da Cachoeira (a 858 quilômetros de Manaus). A vítima foi encontrada em frente ao Consulado da Colômbia sediado naquela cidade pelo próprio cônsul Matias Vasquez Gonzalez por volta das 6h35. “Me preparava para fazer minha caminhada matinal e, quando abri a porta encontrei o corpo da moça no pátio. Fiquei desesperado”, relatou Gonzalez. Marina Macedo prestava serviços domésticos para o cônsul e mantinha um quarto na residência.
    De acordo com alguns populares que conheciam a moça, a indígena teria saído para se divertir numa boate em companhia de alguns amigos. Alguns deles afirmaram tê-la visto com um rapaz dançando, mas ninguém o conhecia.
    A Polícia Civil, no entanto, suspeitou do namorado, porém não obteve êxito em sua investigação porque o rapaz não estava com Marina Macedo na noite do crime. A versão foi confirmada por amigos e familiares do jovem (cujo nome a Polícia preferiu não divulgar) que, segundo eles, estava numa festa de confraternização no bairro Dabarú.
    Segundo Gonzalez, não houve vestígios de sangue ou indícios de luta corporal no local onde Marina foi encontrada. “Certamente, sabiam onde ela morava, estupraram-na e jogaram o corpo aqui, pois não tem sinal algum de sangue. Não fizeram barulho ou algo que parecesse com uma briga corporal. O quarto dela, por exemplo, está do mesmo jeito que ela deixou. Ninguém entrou no quarto”, especulou o cônsul, ao salientar também que a vítima estava vestida somente com suas peças íntimas.
    Investigações
    Enquanto os policiais civis tentavam encontrar novos suspeitos, o corpo de Marina Macedo continuava estirado no pátio do consulado. O cônsul solicitou da prefeitura uma ambulância para remover o corpo até o Hospital de Guarnição de São Gabriel, mas esbarrou com questões culturais dos Baniwa, que não permitiram que o procedimento de necropsia fosse realizado, pois entendem que a alma do índio morto escapa de seu corpo.O delegado Brizolla, da Polícia Civil, assegurou que a investigação continuará. Até o encerramento desta edição, não haviam sido apontados novos suspeitos no crime da doméstica em São Gabriel da Cachoeira.
    Fonte:Elaine Lima/Free Lancer
    Jornal A Crítica, Manaus, Amazonas,10/01/2007

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      Empregados de empresa de segurança são suspeitos de matar índia, afirma procurador
      Brasília - Para o procurador do Ministério Público Federal (MPF) em Dourados (MS) Charles Pessoa, existe “forte suspeita”
      de que o assassinato da índia guarani-kaiowá Kurutê Lopes, 70 anos, na noite de segunda-feira (8), tenha sido cometido por funcionários de uma empresa de segurança que trabalha para os proprietários da Fazenda Madama, onde ocorreu o crime.
      “É forte a suspeita. Na noite do crime, havia cinco funcionários da empresa no local, que cuida da segurança da fazenda. É o terceiro caso de assassinato envolvendo essa empresa com conflitos indígenas”, diz ele. “Nos dois primeiros, foi comprovada a participação dos seguranças. É possível, então, que tenham participado do crime, pois tomavam conta da sede da fazenda nesse dia.”.
      Os seguranças da empresa são acusados também das mortes dos índios Dorvalino Rocha, ocorrida em Nhanderu Marangatu, em dezembro de 2005, e de Dorival Benitez, em junho de 2006.
      A Polícia Federal de Ponta Porã (MS) intimou três empregados dessa empresa a prestar depoimento na próxima sexta-feira (12). O delegado Alexandre Fresneda de Almeida foi designado para acompanhar o caso. O inquérito foi aberto para apurar a morte e as lesões corporais nos indígenas que foram expulsos da fazenda “por jagunços e seguranças”. Não havia mandado judicial de reintegração de posse.
      No último sábado (6), 50 famílias guarani-kaiowá invadiram a fazenda na tentativa de retomar a área, que consideram de ocupação tradicional, chamando-a de Kurusu Amba. Dois dias depois, pistoleiros atacaram a tiros o grupo. Foi quando ocorreu a morte de Kurutê e o ferimento do índio Valdeci Gimenez, com três tiros nas pernas. Na ocasião também foram presos quatro indígenas pela Polícia Civil, sob a alegação de roubo de uma carreta.
      Segundo o coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Egon Heck, há um clima de tensão e indignação por parte dos índios desde a “brutalidade” da última segunda-feira. “Eles temem pela violência que os fazendeiros e seus braços armados impõem à região. As milícias têm agido contra os índios, que estão buscando um direito pela posse de sua terra tradicional.”.
      Para Heck, três questões são fundamentais hoje para o povo indígena da região: a apuração rigorosa e a punição dos responsáveis pelo assassinato; que seja garantido aos índios o direito de sepultarem Kurutê em Kurusu Amba, onde ocorreu o assassinato; que o governo cumpra sua “obrigação constitucional” e busque agilizar o processo de reconhecimento e demarcação da terra indígena. “Só mediante essas ações começaremos a restabelecer a justiça e a tranqüilidade nessa área”, diz Heck..
      José Carlos Mattedi
      Repórter da Agência Brasil

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    DO DIREITO
    Considerando a Convenção 169 da OIT, a qual se encontra ratificada pelo Brasil e, portanto, passível de ser recepcionada pelo artigo 5o da Magna Carta através da “Teoria da Recepção”.
    Considerando que a “Teoria da Recepção” já recepciona juridicamente o conteúdo da Convenção Interamericana de Direitos Humanos da OEA no artigo 5o e, que é perfeitamente aceitável que a Convenção 169 da OIT receba a mesma interpretação jurídica.
    Considerando o texto constitucional, com destaque para os artigos 1o, 5o e o 232o o qual textualmente afirma que:
    “Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.”
    O GRUMIN é parte legítima para peticionar junto ao Estado Brasileiro no caso em Tela.

    DO PEDIDO

    Solicitamos a punição dos responsáveis pelos assassinatos do Caso em Tela nos termos da LEI com urgência urgentíssima, como forma de refrear atos similares novos casos similares.
    Rio de Janeiro, 13 de janeiro de 2007.

    À Presidência da República
    ATT do Exmo. Senhor Presidente da República
    Eixo Monumental, Praça dos Três Poderes, Palácio do Planalto, 3o Andar
    Brasília, DF

    GRUMIN (REDE GRUMIN DE MULHERES INDÍGENAS)
    Projeto GRUMIN/REDE DE COMUNICAÇÃO INDÍGENA

    http://redegrumindemulhereindigenas.blogspot.com/

    http://redegrumindemulhereindigenas.blogspot.com/


    http://blog.elianepotiguara.org.br ( GRUMIN ON LINE)

    /Notícias Diárias

    http://www.elianepotiguara.org.br ( site da escritora)
    TEL/FAX: 021-2577 5816 / CEL. ORGANIZACIONAL: 021 –9335-5551

    Parceiros do GRUMIN:

    ASHOKA (Empreendedorismo social)
    CEDIM – Conselho Estadual dos Direitos da Mulher
    CEDOICOM (Centro de Documentação e Informação COISA DE MULHER)
    Centro de Estudos Xamânicos
    CISF (Cidadania Sem Fronteiras) (parceiro cultural)
    Comitê Intertribal de Ciência e Tecnologia
    FUNAI/Paraíba
    FUNAI/Rio de Janeiro
    FUNASA( Fundação Nacional de Saúde)
    GRUMIN/Rede de Comunicação Indígena (apoio Navajo Nation/Usa)
    INBRAPI (Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual)
    Moína Produções Artísticas e Eventos (parceiro cultural)
    Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo
    OPÇÃO BRASIL
    REDEH _ Rede de Desenvolvimento Humano
    Rede Feminista de Saúde
    Rede Povos da Floresta
    UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) (PRÓ-ÍNDIO)

    CONSELHO DE MULHERES INDÍGENAS DO GRUMIN

    1- Wilma Maria dos Santos(Potyguara)
    2- Zenilda Sateré Mawé
    3- Rosy Kariri
    4- Maria de Fátima Potiguara
    5- Daline Braga
    6- Maria Aparecida Santos(Potyguara)
    7- Lúcia Guarany
    8-Mirian Hess

    Coordenação Geral: Eliane Potiguara
    Informa: GRUMIN/REDE DE COMUNICAÇÃO INDÍGENA

Wednesday, January 17, 2007

Negros X Latinos: Violência nos EUA

Violência nos EUA

Autoridades de segurança dos Estados Unidos estão atribuindo um aumento nas taxas de criminalidade de Los Angeles à rivalidade entre as comunidades latino-americana e afrodescendente, relata matéria do jornal The New York Times nesta quarta-feira.

No ano passado, a violência entre gangues aumentou 14% na principal cidade da Califórnia e segunda maior cidade do país, em um momento em que as taxas gerais de criminalidade decaíam.

Grande parte da violência foi resultado de "rivalidades entre gangues de negros e latinos, especialmente em bairros onde a população negra está em declínio e a população latina, em ascensão", diz o jornal.

De acordo com o NYT, as confrontações entre as duas comunidades "motivam manifestações públicas e longas discussões em programas de rádio e encontros comunitários".

Um especialista de direitos humanos de Los Angeles, Rabbi Freehling, disse que a elevação da criminalidade reflete "o fracasso de representantes do governo e da comunidade em preparar os moradores (das comunidades pobres e em transição) para as mudanças sócio-econômicas".

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/
01/070117_pressreview_pu.shtml

172 Anos do Levante dos Malés



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Monday, January 15, 2007

Declaração de bailarina provoca protesto anti-fascista em Londres

Solista do English National Ballet pede mais firmeza com imigrantes

Bailarina fascista não pode. Foi esta a mensagem gritada por manifestantes que esperaram o momento em que a bailarina Simone Clarke, do English National Ballet, entraria em cena na sexta-feira, em Londres, no papel principal em “Giselle”, para protestar.

Chamada de “BNP ballerina” — BNP são as iniciais de British National Party, o partido de extrema-direita do qual, soube-se há cerca de um mês, ela é membro de carteirinha — Simone errou feio os passos ao defender, numa entrevista, uma atitude mais firme do governo contra a imigração. Isso, apesar de seu parceiro em cena e namorado ser um cubano de origem chinesa, o também solista Yat-Sen Chang.

Simone alegou, em sua defesa, que tudo o que fez foi assumir uma posição sobre um tema que está preocupando o país.

— Fui taxada de racista e fascista porque tenho uma posição sobre a imigração, mas não é algo sobre o qual muita gente está preocupada? — disse ela. O English National Ballet não fez qualquer crítica sobre os comentários de sua solista, dizendo apenas, num comunicado, que “apóia totalmente o direito democrático das pessoas de realizarem um protesto”.

“A companhia não comenta sobre a filiação política de seus funcionários ou qualquer outro aspecto de suas vidas pessoais.

Temos orgulho da diversidade étnica e cultural da companhia”, diz ainda o comunicado da companhia, que tem, nos quadros do seu corpo de baile, bailarinos de 19 países.

O Globo Online, 15.01.2007
www.oglobo.com.br

Saturday, January 13, 2007

Aula de cultura afro

Estudantes americanos conhecem o Olodum, a Irmandade da Boa Morte e o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá

Perla Ribeiro

Teoria e prática devem caminhar sempre lado a lado. É sob esta perspectiva que um grupo de 25 estudantes americanos está em Salvador aprendendo como é possível reconstruir uma identidade racial. Como pano de fundo, a cultura afro e suas influências na sociedade local. Depois de conhecerem o trabalho do Olodum e visitar a Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, visitaram ontem, à tarde, o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá. Anfitriã da casa, Mãe Stella de Oxossi não estava presente. Ainda assim, circular pelas dependências do terreiro e conhecer o museu que conta os 96 anos de história do lugar causaram encantamento e despertaram a curiosidade dos estudantes.

O grupo é composto por estudantes das mais diversas áreas do conhecimento: sociologia, antropologia, história, entre outros. O intercâmbio é fruto de uma parceria entre o Hunter College e a Universidade do Salvador. Para alguns, a experiência representa uma oportunidade de reunir elementos para aprofundar os estudos. Para outros, o interesse é pessoal. “O programa visa na realidade mostrar que aqui está se tentando resgatar e reconstruir esta identidade africana”, explica a coordenadora de intercâmbio da Universidade do Salvador (Unifacs), Ligia Jacobsen.

Durante a visita ao terreiro, puderam conhecer as dependências externas das casas dos orixás, o Museu Ohun Lailai, viram os quadros ostentando as fotos das cinco matriarcas que ocuparam o posto de ialorixá da casa e puderam conhecer um pouco da história de luta e resistência do candomblé na Bahia. Para o coordenador do Hunter College em Salvador, James Cornell, a reconstrução da identidade racial no país tem uma abordagem diferente em termos de raça e cultura. “Para estes estudantes, o conceito de miscigenação e de sincretismo que existe aqui é algo completamente novo. Aqui, eles não vão ver a cultura afro em museus, mas na música, na dança, na cultura, no dia-a-dia do baiano”, diz.

Não só para os gringos, a Bahia desperta um olhar de desbravador. Mineira radicada em Nova York e uma das alunas do curso, Rosa Vilas Boas traduz a experiência como algo completamente novo. “É a primeira vez que venho à Bahia e para mim aqui é como outro país. Tem uma cultura e povo diferentes. O que mais me fascinou é o fato de vocês usarem a música e a religiosidade com meio de transformação social. É fantástico ver como o candomblé funciona como um meio de congregar as pessoas socialmente. Quando se fala em terreiro, a imagem que temos é como se fôssemos entrar na África”, afirma. As temáticas abordadas: religiosidade, políticas sociais, o negro na política, na literatura e, sobretudo, a cultura africana.

Em volta de insígnias de orixás, instrumentos musicais que vieram da África, a estudante de economia e políticas internacionais, Jéssica Raatz, que já tinha vivido um ano na Bahia, tinha um novo olhar sobre o lugar. “Vivi aqui durante um ano de intercâmbio, mas as experiências eram outras. Só queria saber de praia e festas e só agora estou tendo a oportunidade de aprofundar o estudo na cultura local”, disse. Entre os atrativos locais que mais lhe chamaram a atenção, ela aponta a calorosa receptividade do povo. “Aqui todos se abraçam, você se sente tão bem”, descreve a experiência, acrescentando que pretende no futuro trabalhar com o desenvolvimento político e poder colaborar para um estreitamento das relações entre os dois países.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 13.01.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/noticia_impressao.asp?codigo=120420

Friday, January 12, 2007

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Gisele Mandaila-Malamba Was Selected as Secretary
of State in Belgium in 2004
(Gisele Mandaila-Malamba, congolesa, foi escolhida Secretária
de Estado na Bélgica, em 2004)

Essa e outras tantas autoridades negras no mundo:
Veja selecao de foto em:

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Congolesa nomeada ministra da Integração na Suécia


Kinshasa, RD Congo (PANA) - Nyamko Ana Sabuni, congolesa naturalizada sueca, foi nomeada ministra da Integração e Igualdade dos Sexos no novo Governo da Suécia integrado por 21 membros e dirigido por Fredix Reinfeld do Partido Liberal Sueco, informou segunda-feira a Agência de Notícias da RD Congo (ACP).

Nascida a 31 de Março de 1969 na RD Congo, ex-Zaíre, Sabuni chegou à Suécia aos 12 anos de idade e milita no Partido Liberal pelo qual se tornou membro do Parlamento sueco em 2002 e uma das líderes em 2004.

De acordo com a mesma fonte, a nova ministra sueca tomou a decisão de se envolver na política após o assassinato dum cidadão de origem africana, Gérard Gbwyo, por sueco racista na cidade de Klippan.

Sabuni preconiza a igualdade de oportunidades de todas as comunidades residentes na Suécia e para as comunidades africanas um exame ginecológico obrigatório a todas as alunas a fim de prevenir a excisão.

A ministra vai gerir um cargo governamental que vai estatuir sobre as múltiplas tensões comunitárias prevalecentes na maioria dos países europeus e que facilitam a subida da extrema direita.

É pela primeira vez na história da Suécia que uma pessoa de ascendência africana ocupa um posto no Governo deste país.

Entretanto, uma outra cidadã originária da RD Congo, Gisèle Mandaila, é secretária de Estado para os Assuntos Humanitários da Bélgica.


Kinshasa - 24/10/2006
PanaPress
http://www.panapress.com/freenewspor.asp?
code=por002407&dte=24/10/2006

"Sou negra! Filha de preto com preta, sou preta!"

"Sou negra! Filha de preto com preta, sou preta!"


Como podemos definir alguém que, ao ouvir sua voz pelo telefone, pela primeira vez, diz logo de cara: "Eu só posso te receber em casa”. No mínimo, diríamos que esta pessoa é simpática, porém, louca. Afinal, nos dias de hoje não se abre a porta de casa para um estranho.

Pois a atriz e cantora, Maria José Motta ou Zezé Motta, como preferir, fez mais! Abriu muito mais do que sua casa, uma certificação concreta da sua carreira de sucesso, e mostrou que desde o início é muito difícil separar a artista da militante. “Não é só a questão do negro que me aflige. O que me preocupa 24 horas é a questão da injustiça com o ser humano”, desabafa Zezé que, com muito prazer e sabedoria, recebeu a galera do Instituto de Artes TEAR – Rio de Janeiro.

Ana Paula Lisboa, Patrícia Silva, Vanessa Sant’Anna, Uiara Leão, Ana Bispo, Mabel Botelli e Raika Julie Moisés, do Rio de Janeiro (RJ)**

Em que momento você disse: “Eu quero ser atriz”? E porquê esta escolha, uma vez que, você se formou em contabilidade?
Zezé Motta: Desde que cheguei no Rio, em 1946, mesmo com dificuldades, minha família nunca desistiu dos sonhos que nós tínhamos. Aprendi a ter garra e persistência e, além disso, acho que o astral sempre conspirou ao nosso favor. Ganhei uma bolsa de estudos no Teatro Tablado e, desde então, não tive dúvidas de interpretar, representar, viver vários personagens era o que eu queria pra mim, era aquilo que eu ia exercer com amor. Além disso, meu pai era músico erudito e, por causa dele, sempre tive um contato com a música, com a arte.

E o que significa ser uma artista negra num país onde o número de artistas negros ainda é pequeno?
Zezé Motta: Você está falando desta falta de artista negros em 2006, agora imagina o que foi isso pra minha geração. Há 39 anos atrás, quase não se via atores e atrizes negras. E quando existia, era para representar papéis de submissão. O fato do Brasil ter sido o último país a abolir a escravidão tem reflexos até hoje. É por causa disso que, infelizmente, a maioria dos negros vive de forma clandestina, seja na marginalidade, na mendicância. A maneira que eu encontrei para enfrentar essa realidade foi sem mágoas e sem ressentimentos, foi com muita perseverança mesmo, com vontade. Quando eu digo isso, eu quero reforçar a importância de acreditar em si mesmo, acreditar na carreira que se quer seguir. Ser um artista negro significa ter coragem, ter crença e amor pelo que se faz.

Como você vê a Abolição da Escravatura?
Zezé Motta: Eu vejo a abolição como um ato político que interessava para a Princesa Isabel naquele momento, mas que de fato não houve. Não houve abolição porque ninguém se preocupou com o que, aqueles negros abolidos iam fazer amanhã. Não existiu um programa que garantisse dignidade para os abolidos. Eles acordaram e continuaram sem identidade, sem referencial, sem estrutura pra nada.


Você foi muito questionada sobre o seu papel na novela Sinhá Moça?
Zezé Motta: Sim, eu fui muito questionada. As pessoas me perguntam como eu, uma atriz reconhecida e tal, tenho a coragem de representar uma escrava e eu digo duas coisas. A primeira é que é disso que eu vivo. Tenho 62 anos, sou atriz, tenho contas a pagar e vivo dos personagens que represento e no momento, não tinha outra novela para eu atuar. A segunda resposta é que não dá para sermos omissos. Se o assunto vem à tona a gente tem que discutir e deixar claro que a escravidão não acabou. Eu fico feliz em saber que, um papel que eu represento faz com que as pessoas discutam e pensem mais sobre o assunto, que não fiquem convencidos que, a partir da Lei Áurea a escravidão chegou ao fim, pelo contrário, ela perpetua.

E o fato de atrizes negras representarem somente papéis específicos para atrizes negras?
Zezé Motta: Costumamos dizer que a expressão “faca de dois gumes” se transformou em “faca de dois legumes” quando começamos a brigar pela distribuição de papéis. É que a partir dali, começamos a ver atrizes brancas fazendo o papel da empregada doméstica, da cozinheira, só que ela, sempre se dava bem. Casava com o patrão, ganhava na loteria, entre outras coisas. Mas a mídia ‘dançou’ e surgiu a faca de dois legumes - isso serviu de alerta: estamos, novamente, perdendo espaço e papéis nessa briga! Aí, mudamos o discurso e começamos a exigir papéis independentes da cor. A gente queria trabalhar como todo mundo e não só para papéis pré-pensados para negros. A justificativa era que a invisibilidade do negro na mídia era uma representação da realidade, afirmando que haviam poucos negros médicos, engenheiros, etc e que a maioria era porteiro, motorista. Nós, de fato, ainda temos poucos negros ocupando profissões consideradas nobres, mas temos, eles existem ainda que em pequeno número e isso não pode ser esquecido. O que eu lamento é que, quando algum ator negro faz um outro papel de relevância, geralmente, ele representa um mau-caráter, sem crédito. Ainda que sejam bons atores, eles fazem papéis de f.d.p.

Você já vivenciou situações de preconceito/discriminação no ambiente de trabalho?
Zezé Motta: Se eu for falar do passado, vamos passar a noite toda conversando. Mas por exemplo, na época do sucesso e da repercussão do filme “Xica da Silva”, saiu uma reportagem na revista Vogue dizendo que a atriz escolhida para representar a Xica da Silva era uma negra feia, porém exótica. Embora eu não seja uma pessoa vaidosa e nem estivesse preocupada em ser bonita, mas sim em ser do bem, eu me perguntava o porquê daquilo. Porque eles me expunham de maneira tão agressiva.

E hoje?
Zezé Motta: Hoje, eu vivencio o respeito, o reconhecimento da minha militância e do meu trabalho artístico. A única briga que vou ter que comprar de agora em diante é a questão do salário. Isso é dado estatístico: o homem ganha mais do que a mulher, o homem branco ganha mais do que o homem negro, a mulher branca ganha mais que a mulher negra. Ou seja, a mulher negra está ferrada! E eu vou falar sem nenhum pudor que vejo atrizes despreparadas ganhando três, quatro, cinco vezes mais do que eu. Eu agradeço a Deus por estar nesta profissão por amor e por sobreviver com o que eu faço, não posso reclamar da vida, vivo muito bem. Mas esse fato me revolta! Estas atrizes ganham muito dinheiro e nem sabem o que estão fazendo lá. Me pergunto, qual é o critério pra essa diferença?

Você já recusou papéis?
Zezé Motta: Eu me lembro que uma vez, há bastante tempo atrás, a TV Globo me convidou para fazer a minissérie “Festa de Aniversário”, com texto da Clarisse Lispector e eu tive coragem de dizer não. Eu disse não, porque tinha acabado de ganhar todos os prêmios que existe no Brasil para cinema com o filme “Xica da Silva” e não achei justo, naquele momento esquecer o meu discurso de que para se ter sucesso, para se alcançar os objetivos não precisamos ser brancos ou bonitos, aliás, você pode até ser feio, mas isso não poder ter a ver com a sua cor de pele. O que tem que estar em jogo é sua competência, a paixão com que você desenvolve seu trabalho.

O que significou fazer “Xica da Silva”?
Zezé Motta: Significou o início do reconhecimento do meu trabalho e do meu talento. Mostrei que não estava ali por brincadeira e não deixei para trás minha militância. Pela primeira vez, uma negra brasileira era considerada símbolo sexual, isso, naquele momento ultrapassava qualquer barreira de vaidade e atingia a militante Zezé Motta, uma das fundadoras do movimento negro. Independente do que os outros pensavam, aquilo servia de resposta pra mim mesma de que eu era capaz!

Em algum momento na sua carreira, teve um processo de auto-reconhecimento? De você saber exatamente o que representava ser negra, ser atriz?
Zezé Motta: Essa pergunta é muito boa! Como sempre fui moradora da zona sul do Rio de Janeiro, sempre vivi num contexto diferente da maioria dos negros. Estudei num bom colégio, meu primo e eu éramos os únicos negros que estudavam no Teatro Tablado por tínhamos bolsa e eu era a única aluna negra do CCAA (escola de idiomas). Então, quando eu me olhava, nem sempre me reconhecia. Na adolescência, eu sonhei em fazer plástica no nariz, colocar lentes verdes e até, fazer plástica na bunda. Porque eu era diferente de todos, era a exceção. Cheguei a usar uma peruca lisa, com corte chanel. Mas aí, chega uma hora que caiu a ficha. Fui pros Estados Unidos com o Teatro de Arena, junto com Augusto Boal. Íamos apresentar “Arena conta Zumbi” e “Arena conta Bolívar”. No Teatro de Arena nós revezávamos e todos, em algum momento, faziam Zumbi. E eu, dei a bobagem de chegar no Halley (bairro estadunidense) com aquela peruca lisa. Todo mundo questionava. Eu fui chamada de alienada, Augusto e eu éramos loucos porque não sabíamos ou não víamos que a minha falta de identificação era tão chocante assim. Mas essa experiência foi legal porque a partir daí, eu comecei a me aceitar. Eu me vi. Cheguei no camarim, tirei aquela peruca e foi como um batismo. Eu me vi como eu realmente era.

E o processo de embranquecimento que alguns atores são submetidos?
Zezé Motta: O negro passou a ser aceito na mídia a partir da mulata. O negro pelo negro, antes, não era aceito. Ele tinha que passar por um processo de embraquecimento. Mas, uma vez fiz uma empresária, na novela “Corpo Dourado”, e alisei o cabelo. As pessoas me questionavam sobre isso, sobre este possível “embranquecimento” mas a produção decidiu que uma empresária negra não precisa ter o cabelo trançado ou black-power. E, naquele momento, eles tinha razão. Eu não precisava me vestir de negra. Não era necessária nenhuma fantasia. Eu sou o que eu sou. O problema não é ter o cabelo liso, o duro é você alisar o cabelo para embranquecer. Você alisar o cabelo pra agradar o outro, isso não pode. E isso vale pra qualquer um, não só pro negro. Tem que ser pra si mesmo, pra sua vaidade.



E a questão da militância?
Zezé Motta: Uma vez ouvi o Gilberto Gil comentar sobre isso e ele tinha razão. Ele dizia que para ser militante não significa se vestir de bata africana e turbante ou cabelo black-power. Você não precisa se fantasiar de militante ou se é, ou não é. O que você precisa ter é consciência política do que se está exercendo, é saber que seu discurso não pode ser em vão, tem que estar de acordo com suas ações e não com sua aparência. Eu por exemplo, não tenho paranóia de ser negra. Não estou preocupada 24 horas por dia só com a questão do negro. Estou preocupada com a questão da injustiça que o negro e que o ser humano é submetido. Eu fui predestinada pra levantar a bandeira do movimento negro. Antes de criar o Cidan*, a minha proposta era um sindicato para as empregadas domésticas. Minha militância tem a justiça como base, como eixo.

Você acredita que o Brasil pode superar a discriminação?
Zezé Motta: Sim, a gente tem que acreditar nas coisas boas, no bem, tem que perseverar. Acho que o primeiro passo, é a gente reconhecer o outro como ser humano, independente do que ele esteja vestindo, da crença ou da cor de sua pele. Você tem que me ver como ser, antes de ver a Zezé Motta, atriz e negra. A gente tem que se respeitar, tem que ser justo com o outro e claro, tem que se ver como se é e se agradar, manter a própria identidade.

* CIDAN: Centr Brasileiro de Informação e Documento do Artista Negro.
Fundando em 1984 pela atriz Zezé Motta, o CIDAN visa a promoção e a inserção dos artistas negros no mercado de trabalho. Além disso, realiza e promove cursos visando a promoção de jovens atores bem como a reciclagem de artistas e técnicos. Outras informações: www.cidan.org.br

**Ana Paula Lisboa, Patrícia Silva, Vanessa Sant’Anna, Uiara Leão, Ana Bispo, Mabel Botelli e Raika Julie Moisés também são integrantes do Instituto de Arte TEAR, parceiro da Vira

Thursday, January 11, 2007

Musical 'Besouro Cordão-de-Ouro' conta história de lendário capoeirista

Daniele Cristina

Foto Divulgação

Rio - Velas, caixões e quilombolas servindo cachaça em homenagem ao morto "Besouro Mangangá". Estranho? Não se o assunto em questão fosse a história de um dos maiores capoeiristas de todos os tempos da Bahia.

O musical "Besouro Cordão-de-Ouro", que tem texto, músicas e letras do compositor Paulo César Pinheiro, conta em uma roda de capoeira a história de Waldemar de Tal, baiano de Santo Amaro da Purificação também conhecido por Besouro Mangangá, uma lenda na capoeira.

Leia matéria completa em: http://odia.terra.com.br/cultura/htm/geral_76322.asp

O Dia Online, 12.01.2007

Lavagem do Bomfim: Feijoada é prato obrigatório no rito profano


Feijoada é prato obrigatório no rito profano

Por Flávio Costa

Feijoada é o prato do dia. A afirmação está na boca dos veteranos da Lavagem do Bonfim, que não dão um passo em direção à Colina Sagrada sem antes provarem a iguaria. Para eles, ir ao tabuleiro mais próximo e provar da suculenta mistura de carnes e grãos é tão sagrado quanto amarrar a fitinha no adro da igreja. E opções não faltam: em todos os cantos do percurso de 8km há um tabuleiro, bar ou até mesmo uma casa aberta, onde é possível se deliciar com a comida mais famosa do país.

Há aqueles que antes de se dirigir à Igreja Nossa Senhora da Conceição da Praia preferem comer sua feijoada em casa mesmo, sem se arriscar com os temperos alheios encontrados nas barracas durante a caminhada. Não é o caso do policial rodoviário aposentado, Valdemiro Marcelino dos Anjos, 60 anos, que largou o descanso de Eunapólis, onde vive, para vir à capital baiana apenas com desejo de participar da Lavagem do Bonfim, o que ocorre, sem interrupções, há 25 anos. Valdemiro não consegue conceber a idéia de iniciar a caminhada rumo à Colina Sagrada, sem antes “forrar o estômago” com uma deliciosa feijoada. Ele não agüentaria percorrer os 8km do cortejo se não o fizesse. “Não há possibilidade de iniciar o circuito, de barriga vazia, sem comer um feijãozinho. É ele que dá a base necessária para a gente se sustentar durante o caminho. É tradição”, afirma Valdemiro, que devora seu prato preferido num dos tabuleiros montados no Mercado Modelo.

Ao lado do ex-policial, estava seu companheiro de festas de largo, o portuário Moacir José, 45 anos, que, munido de talheres, traçava ferozmente os pedaços de carne que restavam de seu prato. Os dois amigos, devidamente trajados de branco, como reza a tradição, afirmavam que feijoada do Bonfim tem que ser completa, sendo um ingrediente mais fundamental que os outros. “Não pode faltar mocotó”, dizia Moacir, ávido para repetir o prato.

No beco do Ministério da Fazenda, no Comércio, onde pelo menos seis barracas disputam a primazia da melhor feijoada, o técnico em montagem, Jacilai Souza, 35 anos, estava em dúvida onde comer. “Um feijãozinho no Bonfim é sagrado, agora tem que ter cuidado para o tiro não sair pela culatra”, afirmava Jacilai, ao fazer alusão a uma eventual dor de barriga que poderia lhe advir se comesse num lugar errado. “Mesmo com este risco, eu vou ter que comer. Sem beliscar um mocotó, acompanhado de uma cervejinha é impossível ter gás para chegar à igreja e fazer minhas preces”.

Para quem vende a feijoada no Bonfim, não há diversão. O trabalho começa pelo menos um dia antes do início da festa. A cozinheira Marinalva dos Santos dormiu às portas do Mercado Modelo para começar a labuta bem cedo. Às 5h, ela já atendia os primeiros fregueses. “Eu espero vender uns 200 pratos”, calculava a comerciante, que é moradora da Fazenda Grande do Retiro. “Na minha feijoada não tem mistério. É tudo muito limpinho, e feito apenas com produtos naturais, não gosto destas coisas artificiais. Todos os meus temperos são naturais”, declarava.

Já a comerciante Dália Ribeiro investiu na feijoada carioca, aquela que leva o grão preto e laranja. Assídua freqüentadora da lavagem, este ano ela preferiu abrir seu bar no Largo de Roma a cair na gandaia. Lá, um prato para duas pessoas saía ao preço módico de R$5. “Eu adoro a Lavagem do Bonfim, no ano passado não trabalhei apenas para curtir a festa, mas o fregueses sentiram saudade do meu feijão, tive que trabalhar este ano”. Quem não diz o que usa para deixar a feijoada mais saborosa é a vendedora Cristiane Souza, 30 anos, que possui um restaurante no bairro do IAPI e há três anos trabalha durante a Lavagem do Bonfim. “Cozinheira que se preze não revela seu segredo”.

***

Safári etílico embriaga foliões

Na Lavagem do Bonfim, o sagrado e o profano se encontram como em nenhuma outra festividade na Bahia de todos os santos e orixás. Enquanto uns enfrentam o calor intenso e um longo trajeto numa verdadeira profissão de fé, outros só querem saber é de farrear. Regados a fartas libações alcoólicas, estas pessoas que vão à cidade baixa, na segunda quinta-feira de janeiro, nem cogitam a possibilidade de subir a Colina Sagrada. Mas há aqueles que conseguem juntar os dois lados e cumprem o ritual ao mesmo tempo em que caem na gandaia em diversos pontos dos trajeto.

Quando as baianas começavam a sair da Igreja Nossa Senhora da Conceição da Praia, o músico Macblai Ferreira, 28 anos, já tinha avançado em muito a sua odisséia etílica. Visivelmente embriagado, ele não dava a menor pelota para o desfile oficial que congregava baianas, autoridades, afoxé Filhos de Gandhy e fiéis. Reunido com os amigos no Mercado Modelo, a primeira parada de seu cortejo particular, ele só queria saber de curtição. “Só volto para casa tarde da noite. Onde estiver vendendo cerveja, a gente vai parar”, dizia sem qualquer indicação que se aproximaria da Igreja do Bonfim.

Dona de barraca na Ribeira, Neide Magalhães, 30, também só queria saber de festa, ele tinha percorrido os oito quilômetros que separam a Colina Sagrada do Comércio, fazendo a rota inversa, ao nascer do sol. Agora de acordo com ela, necessitava de “combustível” para realizar o caminho de volta. “Bonfim é uma festa para você reunir os amigos, reecontrar aqueles que você não via há muito tempo, enfim, curtir mesmo”. Fé que é bom? Necas.

Um dos pontos mais requisitados pela turma do álcool é o beco que fica ao lado do prédio do Ministério da Fazenda. Lá a velha guarda das lavagens passadas se reúne para contar estórias de outrora, enquanto a “birita” corre solta. Entre eles está o industriário José Borges, que há 25 anos marca presença na festa, sempre acompanhado de sua esposa.

'Nós temos 25 anos de casados e estamos completando também bordas de prata na Lavagem do Bonfim”. Enquanto provava a feijoada costumeira, José planeja encontrar um grupo de amigos na Calçada, num beco de nome impublicável. “Bonfim é antes um acontecimento de alegria. E não precisa ter pressa para chegar na Colina. Parar aqui no beco do Ministério é sagrado, faz parte da tradição. Parando numa barraquinha ali, em outra acolá, todo mundo acaba chegando”.

Há quem prefira encarar o cortejo na cadência do samba, mas sem perder o objetivo maior que é chegar ao templo. Em Água de Meninos, a vendedora de acarajé Jorgina Abreu, 55, seguia a passos ritmados os grupos de pagode que passavam por ela, enquanto chegava cada vez mais perto de seu objetivo, que era alcançar o templo. “Eu estou me divertindo sem ter deixado de cumprir minha obrigação”, declarou.

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Sem hora para a farra acabar

Muitos apenas olharam de longe o cortejo seguir em direção à Colina Sagrada. Outros fizeram questão de acompanhar todo trajeto de cerca de 8km. Mas, no final de todo o ritual religioso, uma multidão continuou concentrada ao longo de toda a cidade baixa em ritmo de festa profana. Para muitos, a homenagem ao Senhor do Bonfim foi apenas um pretexto para beber com os amigos e cair na folia.

Pelas ruas do Comércio, o cenário era composto por dezenas de mesas e gente bebendo no meio pista. A festa parecia não ter hora para acabar. Lá, pequenos carros de som arrastavam um público que não estava preocupado com o horário de voltar para casa. “A festa está apenas começando. Isso aqui é uma maravilha. É a festa do povo baiano”, disse a comerciante Marinalva Abreu, 34 anos, que conseguiu uma folga no trabalho para participar da festa. Na mesma empolgação estava a estudante Priscila Santiago, 19 anos, que acompanhava o arrastão das mulheres solteiras. “Hoje eu só saio depois que acabar tudo. Não tenho nada melhor para fazer hoje na cidade. Quem está aqui tem mais é que aproveitar”, disse.

Por todo o caminho da cidade baixa, os sinais deixados pela multidão era de uma festa que não tinha nada de santa. Em todas as ruas, o que se via era muita bebida regada a ritmos nada religiosos. Pagode, axé, arrocha e até reggae tomaram conta da festa e não deixou ninguém parado. Com coreografias improvisadas, as mulheres que dançavam no meio da rua, atraíam fãs na multidão.

Ao pé da Colina Sagrada a festa não tinha hora para acabar. Depois de uma longa caminhada, muita gente não desanimou, nem mostrou sinal de cansaço. Para recarregar as forças valeu de tudo, principalmente recorrer às tradicionais feijoadas que eram servidas nos bares espalhados por toda a rua. No Bar do Bira, o prato custava R$5 e era considerado “levanta defunto”. “Isso aqui é uma maravilha. Só mesmo um prato de feijão para rebater o cansaço”, afirmou o motorista Jair Sacramento dos Santos, 41 anos, sem se preocupar com os efeitos da ressaca do dia seguinte. (CB)

***

Axé music, paquera e suor

Por Cilene Brito

Acordar cedo e seguir o cortejo de cerca de 8 m, da Conceição da Praia até o Bonfim, não estava nos planos do dia. Para muita gente, o ponto alto da festa do Bonfim eram as festas fechadas, bem longe do povão. A data religiosa foi apenas um pretexto para mais uma prévia do Carnaval. Na Avenida Contorno, o tradicional Bonfim Light reuniu um público jovem e descolado no Bahia Marina, um dos espaços mais concorridos da cidade. Muitos sequer sabiam o significado da festa, mas aproveitaram o dia para cair na folia e paquerar.

Em sua décima edição, a festa foi animada pelas bandas Rapazzolla, Jammil e Uma Noites e Asa de Águia. Para ter acesso à festa a turma formada principalmente por “patricinhas” e “mauricinhos” desembolsou R$80. Investimento, que para eles, era mais que justificável. “Comprei há quase um mês para garantir o meu. Para mim essa é a melhor festa do Verão depois do Carnaval. Estava contando os dias”, disse a psicóloga Renata Campos, 24 anos, fã da banda Asa de Águia.

O clima de paquera tomou conta da Avenida Contorno antes mesmo do início da festa. “Olha só para isso aqui. Não saio daqui solteiro”, comentou empolgado o estudante Felipe Rezende. Solteiro e acompanhado por mais dois amigos, ele tentava conseguir uma companhia antes mesmo de entrar na festa.

O clima de axé também tomou conta do ensaio do Ara Ketu, no Trapiche Barnabé, no Comércio. A festa O Banho de axé atraiu um público menos teen, que curtiu as bandas Domix, Olodum e Ara Ketu e contou com a participação especial do cantor Cetano Veloso. Lá, o passaporte custou R$40 e o público também não escondia a satisfação de estar num espaço fechado com grandes nomes da música baiana. “Pagaria até mais. Depois da parte religiosa, todo mundo cai na festa. Para mim, aqui é o melhor lugar para curtir o lado profano da Lavagem do Bonfim”, disse a bancária Ângela Martins Dias, 32 anos.

***

Acordes dissonantes

Engana-se quem pensa que festa Popular em Salvador é sinônimo de axé e pagode. Numa das transversais do lado da Igreja do Bonfim, na Rua Travasso de Fora, o som que atraía a multidão era produzido por guitarra e bateria. Como ocorre há 12 anos, bandas de rock de Salvador realizaram o Bonfim Hard, também conhecido como Lavagem do Beco do Morotó. O evento reuniu grandes bandas do cenário rocker baiano, como Retrofoguetes, Cascadura, Mizeravão, Efeito Joule e Nancyta.

Num palco improvisado na varanda da residência do guitarrista da banda Retrofoguetes, Morotó Slim, o rock’n roll rolou solto e atraiu uma multidão de roqueiros e curiosos. A idéia, segundo Morotó, começou como uma brincadeira de três amigos roqueiros e hoje está consolidada. “Morávamos no Bonfim e sempre acompanhamos a lavagem, mas sentíamos a necessidade de fazer a festa do nosso modo. O primeiro ano fizemos no chão e hoje já temos um público fiel que cobra a gente pela festa todos os anos”, conta. Para Rex, o baterista da banda, o festival é uma forma de interação com o público. “Nossa intenção não é competir com os outros. Queremos mostrar que a festa é para todos os gostos e todos têm direito de participar de seu jeito”, disse.

O som começou às 16h e não deixou ninguém parado. Roqueiros vestidos de preto com camisas das bandas de sua preferência assistiam às apresentações das bandas que invadiram a noite. O clima, que contrastava com as danças rebolativas do axé e do pagode, era de paz e animação. A idéia deu certo e é aprovada por todos da área. “Eu não perco um ano. Acho a idéia maravilhosa. Quem gosta de rock em Salvador nem sempre encontra um espaço para ouvir uma boa música”, disse o estudante Vinícius Augusto Xavier, 22 anos. Até mesmo aqueles que não se consideram roqueiros participaram da platéia. “Acho a idéia diferente. Acho que festa popular deve ter espaço para todos. O som deles é bom e todo mundo gosta”, disse Mário Fernando da Silva, 25 anos, morador do bairro. (CB)

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 12.01.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/noticia_
impressao.asp?codigo=120390