Wednesday, October 18, 2006

Ecumenismo e Polícia Militar em Salvador

PM realiza congresso e combate preconceito religioso na corporação

ECUMENISMO




Babalorixá do terreiro Oxumaré, o soldado da Polícia Militar Silvanilton Mata sempre enfrentou preconceito religioso na corporação. Há cinco anos, chegou a ser impedido pelo superior imediato de participar de um culto do seu terreiro de candomblé. “Ele me disse que eu não pertencia a uma religião e sim a uma seita. Por isso, ele deixava aqueles que eram evangélicos ou católicos participarem da missa e dos seus cultos”, afirma Silvanilton, que obteve a permissão desejada para participar da cerimônia após falar com o comandante do quartel.

Para evitar situações como a vivida pelo soldado e babalorixá, e amenizar conflitos entre membros da corporação de diferentes tendências religiosas, o comando geral da PM realizou, na manhã de ontem, o II Congresso Religioso da instituição, no Centro de Convenções da Bahia. Além de palestras com teólogos sobre questões de fé, o evento teve a apresentação do Núcleo de Religiões de Matriz Africana da PM, que juntou-se aos outros três já existentes: Católico, Evangélico, Espírita. Os quatro núcleos formam o Comitê de Religião da corporação, iniciativa única entre as PMs de todo o país.

Coordenador do Núcleo de Religião de Matriz Africana, o sargento Eurico Alcântara afirmou que, apesar de haver atualmente uma maior tolerância, os policiais adeptos ao candomblé ainda sofrem discriminação dentro da PM. “Não chegamos ainda a um patamar ideal de tolerância e respeito às religiões de matriz africana na corporação”. Contudo, Eurico admite que no passado, a situação era bem pior. “Antigamente, um PM não poderia dizer que pertencia a um determinado terreiro de candomblé que era logo acusado de ‘ter pacto com o demônio’”, diz o sargento, que está na corporação há 26 anos. Por isso, ele considera a realização do congresso religioso como um primeiro passo para o fim da discriminação religiosa na PM. Atualmente, 256 policiais militares, de diversas patentes, fazem parte do núcleo. “Com certeza o número é muito maior”, declara Eurico.

Correio da Bahia, Aqui Salvador, 19.10.2006 - www.correiodabahia.com.br

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