Monday, October 30, 2006

Ilê Aiyê: Patrimônio afro


Foto: Ras Adauto Berlin
http://www.fotothing.com/rasadauto/photo/9f772cceb29d40b56f487ed0019a2a7d/start=140


Patrimônio afro
Ilê Aiyê comemora 33 anos de história com uma extensa programação cultural

Camila Vieira
O Ilê Aiyê comemora, amanhã, 33 anos de existência e os três anos de fundação da sede do grupo, a Senzala do Barro Preto. Mas a festa não se restringirá a só um dia. Durante este mês, haverá uma programação cultural extensa, com apresentações de artistas da música baiana, como Margareth Menezes, Tribahia, Mariene de Castro, além do samba-de-roda de dona Nicinha de Santo Amaro. Também acontecerá o lançamento do livro de fotografias do Ilê, caminhadas e a esperada Noite do Wa Jeum (festival de comidas africanas). É o Novembro de Azeviche.


Primeiro bloco afro da Bahia, o Ilê Aiyê iniciou sua trajetória em 1º de novembro de 1974, no Curuzu, Liberdade, bairro de maior população negra do país, com 600 mil habitantes. O presidente e criador do Ilê Aiyê, Antônio Carlos dos Santos, o Vovô, lembra o quanto foi difícil conquistar a confiança das pessoas. “A idéia de montar um bloco afro surgiu há 33 anos, quando voltava de Itapuã e sentei com meu amigo Apolônio num bar da esquina, aqui mesmo no Curuzu. No primeiro ano, naquela época da ditadura, tivemos cerca de cem pessoas no bloco. Sequer tínhamos instrumento – era só um tambor fazendo a percussão”, lembra Vovô.


O movimento rítmico musical inventado na década de 70 foi responsável por uma revolução no Carnaval baiano. A partir deste movimento, a musicalidade da folia ganhou força com os ritmos oriundos da tradição africana, favorecendo o reconhecimento de uma identidade peculiar baiana, marcadamente negra.


Hoje, o espetáculo rítmico-musical e plástico que o bloco exibe no Carnaval emociona baianos e turistas e arranca aplausos da população. O Ilê tem cerca de três mil associados e é considerado um patrimônio da cultura baiana, um marco no processo de reafricanização do Carnaval da Bahia.


Vovô recorda que muitos nomes foram selecionados antes da escolha do título Ilê Aiyê. “Pensamos em Poder Negro, Loku-du (negro forte) e Obadu (rei negro), mas as pessoas logo se apaixonaram pelo Ilê Aiyê, que significa ‘casa grande’, mundo negro”, explica.


Embora exista há 33 anos, o Ilê tem sede própria há apenas três. Quando surgiu, em 1974, funcionava na casa de mãe Hilda dos Santos, mãe de Vovô e uma das mais respeitadas ialorixás da Bahia. Depois, a banda passou a fazer os ensaios em um posto médico do bairro. A carência de um espaço adequado no Curuzu fez com que a banda realizasse seus ensaios no bairro do Santo Antônio, onde o Ilê permaneceu durante 16 anos.


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Princípios do candomblé


Ilê Axé Jitolu é nome do terreiro de candomblé de Nação Gegê-nagô comandado por mãe Hilda, que reside no bairro desde 1938. Neste espaço sagrado, em 1974, nasceu o Ilê Aiyê, que, apesar de profano, herdou os fundamentos e princípios do candomblé, como a compreensão da convivência social, o respeito aos mais velhos e o aproveitamento da simbologia para suas canções, toques, adereços e figurinos, sem ferir os fundamentos religiosos.


Como uma agremiação da comunidade negra, o Ilê firmou-se como um dos principais agentes no resgate da auto-estima e elevação da consciência da população negra na capital da Bahia, fortalecendo a cultura brasileira por meio da manutenção e difusão das raízes afro-baianas. Diferentemente de outros blocos tradicionais da Bahia, abertos a quem possa adquirir suas fantasias, o Ilê tem como objetivo a valorização do negro na formação nacional e a busca de recursos que mantenham seus projetos sociais.


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PROGRAMAÇÃO


DIA 01 (hoje)
20h - 33º Aniversário do Ilê Aiyê
Caminhada do Plano Inclinado da Liberdade ao Curuzu
22h - Show da Band’Aiyê & Tribahia
Local: Centro Cultural Senzala do Barro Preto (Curuzu)


DIA 04
22h - Ensaio especial
Atrações: Band’Aiyê, Banda Afro Men & Sorri Pra Mim


DIA 11
22h - Ensaio especial comemorativo a independência de Angola e Zimbabwe
Atrações: Band’Aiyê & Convidados


DIA 14
21h - Noite do Wa Jeum
Jantar Africano – Mais de 50 pratos (bebida inclusa)
Atrações: Band’Aiyê & Samba de Roda de Nicinha (Santo Amaro)


DIA 18
22h - Ensaio do Afro Pop Brasileiro
Atrações: Band’Aiyê, Malê Debalê, Muzenza, Olodum, Cortejo Afro & Margareth Menezes


DIA 20
Dia Nacional da Consciência Negra
Caminhada da Liberdade ao Pelourinho
311 anos de Imortalidade de Zumbi dos Palmares


DIA 25
22h - Ensaio Especial
Atrações: Band’Aiyê, Negros de Fé & Mariene de Castro
Lançamento do Livro de fotografias do Ilê Aiyê


DIA 26
I Corrida Baiana Zumbi dos Palmares
Saída : Conceição da Praia, às 9h da manhã
Chegada: Largo da Boa Viagem

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 31.10.2006
www.correiodabahia.com.br

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