Wednesday, October 18, 2006

Apelo do Cimi às pessoas e entidades solidárias

Após 19 anos, aCUSADOS PELO ASSASSINATO DE Vicente Cañas sentarão no banco dos RÉUS. Precisamos garantir a divulgação deste julgamento e de posições de apoio às acusações para garantir que esta impunidade tenha fim.

O Cimi entra em contato com as entidades e pessoas que lutam por justiça no Brasil e em outros países para pedir apoio a esta luta contra a impunidade de crimes contra pessoas que lutam pela terra e pela vida dos povos. Sugerimos o envio desta carta para jornais do Mato Grosso, com cópia para o procurador da República em Cuiabá, Mario Lucio Avelar, responsável pela acusação no julgamentoÀs redações dos veículos de comunicação do Mato Grosso

Ao Procurador da República em Mato Grosso, Mario Lucio Avelar (MPF-MT)

redacao@folhadoestado.com.br; red.jornal@gazetadigital.com.br; redacao@diariodecuiaba.com.br; pauta@band.com.br; marioavelar@prmt.mpf.gov.br; imprensa@cimi.org.br


Após 19 anos sentarão no banco dos réus um mandante e dois executores do bárbaro assassinato de Vicente Cañas Costa, missionário jesuíta que vivia com o povo Enawenê-Nawê naquele estado. O julgamento está marcado para 24 de outubro, às 8 horas, no Auditório da Justiça Federal de Cuiabá e pode significar um grande avanço na luta contra a impunidade.

Cañas foi assassinado porque lutava pela demarcação da terra Enawenê-Nawê e trabalhava pela saúde deste povo.

Serão julgados pelo Tribunal do Júri, pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, mediante pagamento e em emboscada, Ronaldo Antônio Osmar, ex-delegado de polícia de Juína, município do crime, José Vicente da Silva e Martinez Abadio da Silva, um conhecido pistoleiro da região. O ex-delegado foi também o primeiro delegado da Polícia Civil responsável pela investigação do caso. As penas para homicídio qualificado podem variar de doze a trinta anos de reclusão.

Dois mandantes denunciados pelo Ministério Púbico já morreram (Pedro Chiquetti e Camilo Carlos Obici). A ação contra o terceiro acusado de mandante, o fazendeiro Antonio Mascarenhas Junqueira, prescreveu pela sua idade avançada.

Por que mataram Vicente Cañas?

Vicente Cañas viveu com os Enawenê por dez anos. Participou dos primeiros contatos do grupo com não-índios, em 1974. Ele os acompanhava em suas atividades tradicionais de pesca, agricultura e na vida cotidiana. Em uma região onde contaminação por verminoses era comum, atuou na prevenção destas doenças. Manteve constantes vacinações para prevenir doenças infecto-contagiosas como sarampo, que dizimaram tantos outros grupos indígenas no Brasil. A população dos Enawenê-Nawê era de 97 pessoas quando foram contatados. Hoje, são 430.

Madeira e terras eram cobiçadas pelos fazendeiros que se instalavam na região. Cañas lutava pela demarcação das terras tradicionais e pelo respeito à cultura tradicional dos Enawenê-Nawê. Ele participava oficialmente de um grupo de trabalho da Funai para identificação do território indígena. Por esta razão, a competência para o julgamento dos acusados foi transferida para a Justiça Federal.

Violência

Ameaçado de morte por seu comprometimento com a sobrevivência do povo Enawenê-Nawê, Vicente Cañas foi vítima da ambição e violência dos fazendeiros, que o mataram a facadas em 1987, quando se preparava para atender a uma aldeia, levando medicamentos. Após ser morto, foi abandonado à porta de seu barraco, pelos assassinos que fugiram pelas picadas abertas na mata, em direção à fazenda de um dos mandantes.

Seu corpo foi encontrado cerca de quarenta dias depois da morte, por dois missionários do Cimi, com o abdômen perfurado. Seu barraco, em desordem, apresentava sinais de luta; seus óculos foram quebrados por uma porretada em seu rosto. Seus instrumentos de trabalho, como o cesto onde levava medicamentos, além de lanterna, espingarda e facão, já estavam na voadeira (barco) com a qual iria até as aldeias, como havia avisado por rádio dias antes do assassinato.

O inquérito policial tramitou durante seis anos. Apesar de ser voz corrente na região sobre o envolvimento dos acusados no crime, a população de Juína e das aldeias indígenas conviveram e ainda convivem com medo de represálias e atentados às suas vidas, calando-se em relação aos mandantes e executores deste crime. A revelação do envolvimento dos acusados só se deu por testemunhos de indígenas da etnia Rikbaktsa (canoeiros), habitantes das terras vizinhas à dos Enawenê-Nawê.


Contato:
Priscila D. de Carvalho
Cimi - Assessoria de Comunicação
(61) 2106 1650/ 9979 6912
www.cimi.org.br

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