Mariana Rios
As mulheres são mais vulneráveis à pobreza segundo dados das Nações Unidas. Dois terços do trabalho mundial são executados por elas, que, em contrapartida, acumulam apenas um décimo das receitas. Para tentar minimizar a situação, mulheres negras de três bairros da Península de Itapagipe estão sob o foco de um projeto inédito na América Latina: a criação do Fundo de Inclusão Educacional das Mulheres Afrodescendentes (Fiema).
Ontem, representantes dos moradores de Itapagipe participaram de uma oficina na Organização Fraternal São José, na Avenida Luís Tarquínio, para elencar os principais problemas enfrentados por essas mulheres, que sentem na pele as dificuldades da fragilidade social.
Em três anos, pretende-se mudar trajetórias de mil mulheres desenvolvendo, nos bairros de Massaranduba, Jardim Cruzeiro e Uruguai, uma formação profissional integral, que envolverá ainda questões de cidadania, gênero, raça e higiene. Dois por cento do Fundo Municipal de Educação será destinado ao Fiema, projeto resultante da cooperação técnica entre Ministério Público, prefeitura municipal, Fundo das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) e Agência Espanhola de Cooperação Internacional (Aeci).
“Nós, mulheres, somos as mais pobres e sofremos os efeitos dessa pobreza e da vulnerabilidade”, explicou a representante do Instituto de la Mujer, com sede em Madri, Isabel Castellvi, que acompanha a elaboração do projeto, nas oficinas envolvendo a Comissão de Articulação e Mobilização dos Moradores da Península Itapagipana (Cammpi). Segundo a assessora de ensino da Secretaria Municipal de Educação (Smec), Darci Xavier, o projeto está voltado para mulheres a partir de 25 anos, alfabetizadas, que receberão formação educacional, com recorte social, além de um trabalho de motivação pessoal e elevação da auto-estima.
“Essas mulheres são chefes de família, deixaram a escola cedo, e em sua maior parte trabalha na informalidade, como domésticas, lavadeiras e artesãs”, afirmou Xavier. A defasagem educacional somada à informalidade das atividades são apontadas como um dos fatores para a vulnerabilidade social das mulheres negras. Membro da Associação dos Moradores do Conjunto Santa Luzia, no Uruguai, Marilene da Conceição Nascimento, pontua que, além do ensino formal, o projeto delineia outros atrativos para aproximar essas mulheres do projeto.
“Podemos trabalhar com a educação num viés que vai proporcionar a essa mulher reinserção no mercado de trabalho com qualificação. Este é um atrativo”, declarou Marilene. Todas as sugestões dos representantes das comunidades serão discutidas até hoje. A Península de Itapagipe foi a área escolhida por concentrar mulheres afrodescendentes marginalizadas, sem acesso à escola e às oportunidades de emprego. “Estamos fazendo este levantamento. O acesso à formação educacional e profissional refletirá em questões como o violência, racismo e desigualdade social”, pontuou a assessora da Aeci, Ana Maria Mansila.
Aqui Salvador, Correio da bahia, 14.02.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador
/noticia_impressao.asp?codigo=122524
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