Cortejo Afro leva cultura popular às ruas
A expressão das raízes regeu mais uma vez o Cortejo Afro, no primeiro desfile de Carnaval este ano. No respeito às origens do bloco, o grupo levou para a avenida, na noite de sexta-feira, o tema Rezas, benzeduras e simpatias. Por causa disso, o diferencial foi a presença das 200 benzedeiras, que, à frente do cortejo, com folhas e trajes de tons esverdeados, simbolizavam as orações, simpatias e benzeduras. A simbologia da reza foi também representada no repertório e nas estampas das roupas dos associados. Já o figurino de soldados romanos dos 200 músicos e da banda teve inspiração em Santo Expedito, padroeiro das causas impossíveis. Atrasado em pouco mais de três horas, o Cortejo desfilou com fantasias brancas e azuis.
Tira mau-olhado e maresia. É a medicina de orixá foi uma das primeiras canções a serem entoadas pelo grupo. Também Negro é a raiz da liberdade! foi cantada por Aloísio Meneses, com o timbre de voz inconfundível. Já a cantora cubana Liena Centena, 27 anos, esperava só o microfone para entoar canções como La Bilirrubina. Segundo a diretoria do bloco, o objetivo é mostrar as práticas culturais trazidas pelos africanos e colonizadores, e influenciadas pelos povos indígenas. Portanto, nada mais original e expressivo do que trazer para o circuito do Campo Grande a simbologia do candomblé, base da fundação do Cortejo em 1989, no bairro de Pirajá.
A primeira ala, que vinha antes das benzedeiras, era formada por 50 albinos, considerados filhos de Oxalá. As 50 baianas vinham após as rezadeiras, seguidas pelos 2.500 foliões. Por último, o trio, com 200 músicos. Nesta ala, o Cortejo Afro mais uma vez misturou profissionais baianos e estrangeiros que vêm exclusivamente para participar do desfile. Dos 200, 50 eram europeus. O cantor Gerônimo marcou presença.
Se a preferência é unânime para quem desfila no bloco, as razões são inúmeras. Para a artista plástica Vânia Souza, 43 anos, a escolha pelo Cortejo Afro se dá pelo caráter “verdadeiro” e político do bloco. Para a costureira Telma Santos, 36 anos, o motivo era muito mais bairrista. “Eu gosto deste bloco porque ele nasceu no meu bairro, em Pirajá”, afirmou, com orgulho.
Histórico – O Cortejo Afro nasceu em 1989, no bairro de Pirajá, fruto da iniciativa do artista plástico Alberto Pitta. O objetivo do artista era resgatar a identidade negra da comunidade e apontar caminhos através da arte. De oficinas de dança, música e serigrafia, surgiu o bloco que estreou no Carnaval de Salvador em 1999. O grupo nasceu de um dos mais tradicionais terreiros de candomblé de Salvador, o Ilê Axé Oiá, orientado espiritualmente pela sacerdotisa mãe Santinha. Segundo a diretoria do bloco, ele representa o resgate de uma identidade que se perdeu durante os últimos anos, quando o axé passou a predominar no Carnaval. A banda que leva o mesmo nome do bloco foi criada posteriormente, margeando os ritmos de origem negra, como samba, reggae, afoxé, ijexá e originários dos terreiros de candomblé e rodas de capoeira.
A banda é hoje composta por quatro vocalistas - Aloísio Meneses, Marquinhos Marques, Portela e Walmir Brito, que se apresentam com os percussionistas. Com oito anos de fundação, dois CDs foram gravados e apresentações foram feitas na Colômbia e Chile. Além disso, há sete anos, durante o Verão, o Cortejo Afro apresenta, todas as segundas-feiras, os ensaios pré-carnavalescos no Largo Tereza Batista, no Pelourinho. Segundo os dirigentes do bloco, o Cortejo sai amanhã, às 21h, no circuito Dodô(Barra-Ondina) e na segunda-feira, às 21h, no circuito Dodô(Barra-Ondina). (CA)
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Mais postos de trabalho
A batida dos tambores e o colorido das fantasias dos blocos afros levam para os circuitos do Carnaval de Salvador muito mais que a cultura herdada dos seus ancestrais africanos. Em conjunto eles respondem pela geração de mais de 10 mil empregos diretos durante o período da festa e, pelo menos, 3 mil postos de serviços permanentes, durante todo o ano, além de manterem ações sociais que atendem a cerca de 5 mil pessoas de comunidades carentes da capital baiana.
“O Carnaval é uma vitrine que nos ajuda a capitalizar os recursos necessários para mantermos o nosso trabalho social e gerar empregos nas nossas comunidades”, avalia Walmir França, coordenador geral do Fórum de Entidades Negras da Bahia, que agrega entre os seus filiados, os principais blocos afros baianos.
Os dois mais conhecidos blocos afros, o Ilê Aiyê e o Olodum, estão entre os filiados do fórum. Juntos, eles garantem empregos a mais de 3 mil pessoas durante o Carnaval. Entre os postos de trabalho gerados nos três dias de desfile do Olodum estão as contratações de 1.200 seguranças, 350 pessoas para confeccionar as suas 5 mil fantasias e 220 músicos, que formam a que é considerada a maior banda de percussão do mundo. O Ilê utiliza 1.050 homens na segurança dos seus 3 mil foliões, 115 músicos e mais de 150 pessoas nos serviços de apoio.
“Nosso compromisso não é apenas o de fazer um lindo Carnaval, mas principalmente o de contribuir para melhorar a qualidade de vida das nossas comunidades e isso nós fazemos nos 365 dias do ano”, explica o diretor do Ilê Aiyê, Osvaldísio do Espírito Santo. A contribuição para a melhoria da qualidade de vida das comunidades em que estão sediados os blocos afros de Salvador – entre as mais pobres da capital baiana – é dada através de uma rede de ações sociais que prioriza a educação e a cultura. No Olodum, há 24 anos funciona a Escola Criativa, a primeira em todo o país a utilizar uma pedagogia identificada com as raízes africanas. “Criamos uma escola que hoje é referência em todo o Brasil, que tem uma identidade real com as crianças afrodescendentes”, afirma o presidente do Olodum, João Jorge Rodrigues.
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Saída do Olodum atrai turistas ao Centro Histórico
Performance percussiva do tradicional bloco afro foi captada pela lente das câmaras no Pelourinho
Carmen Azevêdo
Eram mais de 50 flashes por minuto. Máquinas fotográficas e filmadoras por todos os lados. No meio da multidão, se o olhar variasse de sentido, via-se mais e mais imagens em movimento nas câmeras de centenas de turistas que foram ao Pelourinho, na noite de sexta-feira, na expectativa de ver a saída do Olodum. O rufar dos tambores mais uma vez mostrou que, apesar das dificuldades financeiras – peculiar aos blocos afros de Salvador –, os percussionistas e bailarinos marcaram mais uma vez a história da música afro no Carnaval. Este ano, a embaixadora do Marrocos no Brasil, Farida Jaidi, presenciou o evento. Além dela, o cantor e compositor Caetano Veloso, a empresária Paula Lavigne e o cantor sertanejo Zezé di Camargo marcaram presença na Casa do Olodum. O governador Jaques Wagner e o secretário da Cultura da Bahia Márcio Meirelles também estiveram lá.
Os integrantes do bloco fizeram mais uma vez jus ao nome Olodum Maré, composição que, em iorubá, significa Senhor Criador. Inovando no quesito criatividade, eles vestiam trajes visivelmente mais simples – quando comparados às épocas áureas do bloco -, mas nem por isso menos criativos. Enquanto a bermuda era de cor vermelha, as camisas que se assemelhavam aos abadás dos blocos eram também simples e de cor verde, trazendo as cores do Marrocos, o homenageado deste ano, com o tema Marrocos o país dos sentidos.
Já as mulheres que dançavam na primeira fileira do grupo levavam véus azuis, enquanto os dançarinos colocaram sobre a cabeça peças semelhantes aos turbantes marroquinos. A espontaneidade no estilo ficava ainda mais clara e, no mínimo, alucinante, na última fileira da percussão, em que estilosos músicos chamavam mais a atenção de máquinas fotográficas e fãs, pela estética diferenciada e as “manobras” no toque dos tambores.
Com malabarismos, eles jogavam para o alto as baquetas e as trocavam entre si ao capturá-las. Um show, principalmente para quem nunca tinha assistido. A câmera da brasiliense Nádia Ramos, 34 anos, não deixava nenhuma imagem escapar. “Estou fazendo uma pesquisa para o doutorado em música afro e, aqui, venho pesquisar o Olodum”, disse, já contente com o material capturado.
Um dos principais alvos dos olhares das mais ardorosas fãs pelo estilo levado às ruas era o “Grande do Olodum”, como é conhecido Edilson Neiva, 37 anos, antigo percussionista do bloco, já com 20 anos de casa. “Eu adoro ele, é muito lindo, muito diferente”, disse a paulista Carla Menezes, 23 anos, acostumada a vir para o Carnaval soteropolitano. Fã da percussão, ela adora o estilo diferenciado de alguns que integram o bloco. No caso do “Grande”, é fácil saber o porquê.
Com 560 elásticos no cabelo, ele “sofre” por cerca de 12 horas até ficar pronto para as apresentações. Neste Carnaval, os elásticos foram das cores vermelha e verde combinando com o traje. “Esse cabelo, eu comecei a usar desde a copa de 2002, desde então ele foi aceito pela galera”, contou. Os óculos coloridos e reluzentes também integraram o visual de alguns percussionistas, nas cores rosa e laranja.
Multidão – A saída do Olodum este ano ocorreu quase que pontualmente, tendo como base as previsões de o bloco de sair às 21h (no site da prefeitura, o horário programado era às 17h40). Cerca de meia-hora depois, já se podia ouvir o som forte e alto dos tambores vindo direto da Rua das Laranjeiras, onde está a Casa do Olodum. Em frente à sede, e descendo a Rua Gregório de Mattos, em direção ao Terreiro de Jesus, eles fizeram um show à parte. O sucesso foi tanto que o bloco foi incensado – de mão em mão, o defumador ia passando pelo grupo.
Durante o desfile no Centro Histórico, apesar da multidão que seguia os passos da Banda, o clima era de tranqüilidade. Só quem incomodava, vez ou outra, eram os fãs mais ardorosos ou curiosos que disputavam os espaços mais próximos dos percussionistas. O clima de Carnaval light do Pelourinho perdurou durante o desfile que desembocou no Campo Grande para a alegria de quem estava lá.
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DESFILES DO OLODUM
Hoje, às 16h, no circuito Dodô (Barra-Ondina)
Amanhã, às 15h, desfile do Olodum Mirim, no circuito Batatinha (Pelourinho)
Terça-feira, às 19h, no circuito Osmar (Campo Grande-Avenida)
Aqui Salvador, Correio da Bahia, 18.02.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/
noticia_impressao.asp?codigo=122755
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