Thursday, January 18, 2007


PROGRAMAÇÃO:


LEVANTE DOS MALÊS


“CULTURA, IDENTIDADE E RESISTÊNCIA NEGRA NO BRASIL”


"Que marca a presença e a resistência de africanos muçulmanos escravizados no Brasil no inicio do século XIX"

de 25 de janeiro a 26 de fevereiro de 2007

Dia 25/jan quinta 19h
PALESTRA: RELIGIOSIDADE ISLÂMICA E IDENTIDADE ÉTNICA NO LEVANTE DOS MALÊS

Adomair Ogunbiyi – MNU – Movimento Negro Unificado - Maranhão
Haidar Abu Talib – Sociedade Islâmica do Rio de Janeiro - Pesquisador

Dia 25/jan quinta 19h
LEVANTE DOS MALÊS:
CULTURA, IDENTIDADE E RESISTÊNCIA NEGRA NO BRASIL

Exposição de fotos, documentos e textos sobre o levante. Visitação até 26 de fevereiro, de terça a sexta, das 10h às 21h, e sábado, das 9h às 17h

26/jan sexta 20h Sexta Musical Especial:
Apresentação artística dos grupos da Associação Posse Hausa
SHOWS: ZENZELÊ E AFRO VERSO

22/fev quinta 20h
PALESTRA: OS MALÊS NA BAHIA - REVOLTAS ESCRAVAS, IDENTIDADES AFRICANAS E RELIGIÃO NO CONTEXTO DA SOCIEDADE OITOCENTISTA BRASILEIRA

Com a Dra. Cristina Wissenbach, professora de História da África - Departamento de História da FFLCH-USP.

23/fev sexta 20h
PALESTRA: CULTURA, IDENTIDADE E RESISTÊNCIA NEGRA NO BRASIL

Com a Profª Sandra Regina Nascimento Santos, doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da USP;

Prof. João Batista de Jesus Felix, doutor em Antropologia Social pelo Departamento de Antropologia da USP;

Dra. Maria Helena P.T. Machado, livre docente do Departamento de História da FFLCH-USP.

Teremos certificado de participação para cada palestra

Realização:
Departamento de Educação e Cultura da Prefeitura de São Bernardo do Campo
Associação Posse Hausa

Apoio Cultural
CDIAL – Centro de Divulgação do Islam para América Latina

Local
CÂMARA DE CULTURA ANTONINO ASSUMPÇÃO
RUA MARECHAL DEODORO, 1325 - CENTRO -
São Bernardo do Campo

Informações

(011) 4122-2400 / (011) 4332-2090 / (011) 9832-1582

www.possehausa.blogspot.com

CÂMARA MUNICIPAL DA CIDADE IRÁ COMEMORAR ANUALMENTE O LEVANTE

http://www.camarasbc.sp.gov.br/cam_jornal_materia.asp?id=3217

__._,_.___

GRUMIN encaminha petição ao Governo Lula e ao Ministério Público

À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
ATT. do Exmo. Senhor Presidente da República

O GRUMIN, ( REDE GRUMIN DE MULHERES INDIGENAS), CNPJ: 31.885.635/001-47
sito à Rua Silva Pinto 153, sala 401 (parte), Vila Isabel , Rio de Janeiro, cep: 20551-190 vem, mui respeitosamente, à presença de V. Exa., com base na Magna Carta que rege o Estado Brasileiro, na Convenção 169 da OIT (ratificada pelo Brasil em 19 de abril de 2004), bem como na Convenção Interamericana de Direitos Humanos da OEA (ratificada pelo Brasil em 25 de setembro de 1992), pelos motivos de fato e direito expostos a seguir:

DOS FATOS
A constante impunidade que envolve a violação dos direitos dos povos indígenas no Brasil configura-se em forte estímulo para que novas e cada vez mais graves violações de direitos indígenas ocorram. Como agravante, tem-se o fato da constante impunidade que acompanha os casos de violência de gênero e de racismo, os quais seguem a mesma lógica do estímulo a novas violações em face da impunidade.
Assim sendo, e bem assim, trazemos o caso dos recentes assassinatos de Marina Macedo da Etnia Baniwa (20 anos) e Kurutê Lopes da Etnia Guarani Kaiowá (70 anos) solicitando PUNIÇÃO EFETIVA para todos os responsáveis.
A seguir incluímos duas matérias de imprensa para demonstrar que as autoridades responsáveis não podem alegar desconhecimento sobre estes assassinatos

    .

    O assassinato de uma índia baniwa em São Gabriel da Cachoeira chocou a comunidade no último final de semana.

    Corpo de Marina Macedo, que era doméstica e pertencia à etnia baniwa, foi encontrado pelo próprio cônsul da Colômbia em São Gabriel da Cachoeira

    120691 1 2 - 120691 1 2

    O corpo da doméstica Marina Macedo, 20, foi encontrado estrangulado e com sinais de estupro na manhã do último domingo (7) no município de São Gabriel da Cachoeira (a 858 quilômetros de Manaus). A vítima foi encontrada em frente ao Consulado da Colômbia sediado naquela cidade pelo próprio cônsul Matias Vasquez Gonzalez por volta das 6h35. “Me preparava para fazer minha caminhada matinal e, quando abri a porta encontrei o corpo da moça no pátio. Fiquei desesperado”, relatou Gonzalez. Marina Macedo prestava serviços domésticos para o cônsul e mantinha um quarto na residência.
    De acordo com alguns populares que conheciam a moça, a indígena teria saído para se divertir numa boate em companhia de alguns amigos. Alguns deles afirmaram tê-la visto com um rapaz dançando, mas ninguém o conhecia.
    A Polícia Civil, no entanto, suspeitou do namorado, porém não obteve êxito em sua investigação porque o rapaz não estava com Marina Macedo na noite do crime. A versão foi confirmada por amigos e familiares do jovem (cujo nome a Polícia preferiu não divulgar) que, segundo eles, estava numa festa de confraternização no bairro Dabarú.
    Segundo Gonzalez, não houve vestígios de sangue ou indícios de luta corporal no local onde Marina foi encontrada. “Certamente, sabiam onde ela morava, estupraram-na e jogaram o corpo aqui, pois não tem sinal algum de sangue. Não fizeram barulho ou algo que parecesse com uma briga corporal. O quarto dela, por exemplo, está do mesmo jeito que ela deixou. Ninguém entrou no quarto”, especulou o cônsul, ao salientar também que a vítima estava vestida somente com suas peças íntimas.
    Investigações
    Enquanto os policiais civis tentavam encontrar novos suspeitos, o corpo de Marina Macedo continuava estirado no pátio do consulado. O cônsul solicitou da prefeitura uma ambulância para remover o corpo até o Hospital de Guarnição de São Gabriel, mas esbarrou com questões culturais dos Baniwa, que não permitiram que o procedimento de necropsia fosse realizado, pois entendem que a alma do índio morto escapa de seu corpo.O delegado Brizolla, da Polícia Civil, assegurou que a investigação continuará. Até o encerramento desta edição, não haviam sido apontados novos suspeitos no crime da doméstica em São Gabriel da Cachoeira.
    Fonte:Elaine Lima/Free Lancer
    Jornal A Crítica, Manaus, Amazonas,10/01/2007

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      Empregados de empresa de segurança são suspeitos de matar índia, afirma procurador
      Brasília - Para o procurador do Ministério Público Federal (MPF) em Dourados (MS) Charles Pessoa, existe “forte suspeita”
      de que o assassinato da índia guarani-kaiowá Kurutê Lopes, 70 anos, na noite de segunda-feira (8), tenha sido cometido por funcionários de uma empresa de segurança que trabalha para os proprietários da Fazenda Madama, onde ocorreu o crime.
      “É forte a suspeita. Na noite do crime, havia cinco funcionários da empresa no local, que cuida da segurança da fazenda. É o terceiro caso de assassinato envolvendo essa empresa com conflitos indígenas”, diz ele. “Nos dois primeiros, foi comprovada a participação dos seguranças. É possível, então, que tenham participado do crime, pois tomavam conta da sede da fazenda nesse dia.”.
      Os seguranças da empresa são acusados também das mortes dos índios Dorvalino Rocha, ocorrida em Nhanderu Marangatu, em dezembro de 2005, e de Dorival Benitez, em junho de 2006.
      A Polícia Federal de Ponta Porã (MS) intimou três empregados dessa empresa a prestar depoimento na próxima sexta-feira (12). O delegado Alexandre Fresneda de Almeida foi designado para acompanhar o caso. O inquérito foi aberto para apurar a morte e as lesões corporais nos indígenas que foram expulsos da fazenda “por jagunços e seguranças”. Não havia mandado judicial de reintegração de posse.
      No último sábado (6), 50 famílias guarani-kaiowá invadiram a fazenda na tentativa de retomar a área, que consideram de ocupação tradicional, chamando-a de Kurusu Amba. Dois dias depois, pistoleiros atacaram a tiros o grupo. Foi quando ocorreu a morte de Kurutê e o ferimento do índio Valdeci Gimenez, com três tiros nas pernas. Na ocasião também foram presos quatro indígenas pela Polícia Civil, sob a alegação de roubo de uma carreta.
      Segundo o coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Egon Heck, há um clima de tensão e indignação por parte dos índios desde a “brutalidade” da última segunda-feira. “Eles temem pela violência que os fazendeiros e seus braços armados impõem à região. As milícias têm agido contra os índios, que estão buscando um direito pela posse de sua terra tradicional.”.
      Para Heck, três questões são fundamentais hoje para o povo indígena da região: a apuração rigorosa e a punição dos responsáveis pelo assassinato; que seja garantido aos índios o direito de sepultarem Kurutê em Kurusu Amba, onde ocorreu o assassinato; que o governo cumpra sua “obrigação constitucional” e busque agilizar o processo de reconhecimento e demarcação da terra indígena. “Só mediante essas ações começaremos a restabelecer a justiça e a tranqüilidade nessa área”, diz Heck..
      José Carlos Mattedi
      Repórter da Agência Brasil

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    DO DIREITO
    Considerando a Convenção 169 da OIT, a qual se encontra ratificada pelo Brasil e, portanto, passível de ser recepcionada pelo artigo 5o da Magna Carta através da “Teoria da Recepção”.
    Considerando que a “Teoria da Recepção” já recepciona juridicamente o conteúdo da Convenção Interamericana de Direitos Humanos da OEA no artigo 5o e, que é perfeitamente aceitável que a Convenção 169 da OIT receba a mesma interpretação jurídica.
    Considerando o texto constitucional, com destaque para os artigos 1o, 5o e o 232o o qual textualmente afirma que:
    “Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.”
    O GRUMIN é parte legítima para peticionar junto ao Estado Brasileiro no caso em Tela.

    DO PEDIDO

    Solicitamos a punição dos responsáveis pelos assassinatos do Caso em Tela nos termos da LEI com urgência urgentíssima, como forma de refrear atos similares novos casos similares.
    Rio de Janeiro, 13 de janeiro de 2007.

    À Presidência da República
    ATT do Exmo. Senhor Presidente da República
    Eixo Monumental, Praça dos Três Poderes, Palácio do Planalto, 3o Andar
    Brasília, DF

    GRUMIN (REDE GRUMIN DE MULHERES INDÍGENAS)
    Projeto GRUMIN/REDE DE COMUNICAÇÃO INDÍGENA

    http://redegrumindemulhereindigenas.blogspot.com/

    http://redegrumindemulhereindigenas.blogspot.com/


    http://blog.elianepotiguara.org.br ( GRUMIN ON LINE)

    /Notícias Diárias

    http://www.elianepotiguara.org.br ( site da escritora)
    TEL/FAX: 021-2577 5816 / CEL. ORGANIZACIONAL: 021 –9335-5551

    Parceiros do GRUMIN:

    ASHOKA (Empreendedorismo social)
    CEDIM – Conselho Estadual dos Direitos da Mulher
    CEDOICOM (Centro de Documentação e Informação COISA DE MULHER)
    Centro de Estudos Xamânicos
    CISF (Cidadania Sem Fronteiras) (parceiro cultural)
    Comitê Intertribal de Ciência e Tecnologia
    FUNAI/Paraíba
    FUNAI/Rio de Janeiro
    FUNASA( Fundação Nacional de Saúde)
    GRUMIN/Rede de Comunicação Indígena (apoio Navajo Nation/Usa)
    INBRAPI (Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual)
    Moína Produções Artísticas e Eventos (parceiro cultural)
    Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo
    OPÇÃO BRASIL
    REDEH _ Rede de Desenvolvimento Humano
    Rede Feminista de Saúde
    Rede Povos da Floresta
    UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) (PRÓ-ÍNDIO)

    CONSELHO DE MULHERES INDÍGENAS DO GRUMIN

    1- Wilma Maria dos Santos(Potyguara)
    2- Zenilda Sateré Mawé
    3- Rosy Kariri
    4- Maria de Fátima Potiguara
    5- Daline Braga
    6- Maria Aparecida Santos(Potyguara)
    7- Lúcia Guarany
    8-Mirian Hess

    Coordenação Geral: Eliane Potiguara
    Informa: GRUMIN/REDE DE COMUNICAÇÃO INDÍGENA

Wednesday, January 17, 2007

Negros X Latinos: Violência nos EUA

Violência nos EUA

Autoridades de segurança dos Estados Unidos estão atribuindo um aumento nas taxas de criminalidade de Los Angeles à rivalidade entre as comunidades latino-americana e afrodescendente, relata matéria do jornal The New York Times nesta quarta-feira.

No ano passado, a violência entre gangues aumentou 14% na principal cidade da Califórnia e segunda maior cidade do país, em um momento em que as taxas gerais de criminalidade decaíam.

Grande parte da violência foi resultado de "rivalidades entre gangues de negros e latinos, especialmente em bairros onde a população negra está em declínio e a população latina, em ascensão", diz o jornal.

De acordo com o NYT, as confrontações entre as duas comunidades "motivam manifestações públicas e longas discussões em programas de rádio e encontros comunitários".

Um especialista de direitos humanos de Los Angeles, Rabbi Freehling, disse que a elevação da criminalidade reflete "o fracasso de representantes do governo e da comunidade em preparar os moradores (das comunidades pobres e em transição) para as mudanças sócio-econômicas".

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/
01/070117_pressreview_pu.shtml

172 Anos do Levante dos Malés



Click sobre a imagem para ver ampliado!

Monday, January 15, 2007

Declaração de bailarina provoca protesto anti-fascista em Londres

Solista do English National Ballet pede mais firmeza com imigrantes

Bailarina fascista não pode. Foi esta a mensagem gritada por manifestantes que esperaram o momento em que a bailarina Simone Clarke, do English National Ballet, entraria em cena na sexta-feira, em Londres, no papel principal em “Giselle”, para protestar.

Chamada de “BNP ballerina” — BNP são as iniciais de British National Party, o partido de extrema-direita do qual, soube-se há cerca de um mês, ela é membro de carteirinha — Simone errou feio os passos ao defender, numa entrevista, uma atitude mais firme do governo contra a imigração. Isso, apesar de seu parceiro em cena e namorado ser um cubano de origem chinesa, o também solista Yat-Sen Chang.

Simone alegou, em sua defesa, que tudo o que fez foi assumir uma posição sobre um tema que está preocupando o país.

— Fui taxada de racista e fascista porque tenho uma posição sobre a imigração, mas não é algo sobre o qual muita gente está preocupada? — disse ela. O English National Ballet não fez qualquer crítica sobre os comentários de sua solista, dizendo apenas, num comunicado, que “apóia totalmente o direito democrático das pessoas de realizarem um protesto”.

“A companhia não comenta sobre a filiação política de seus funcionários ou qualquer outro aspecto de suas vidas pessoais.

Temos orgulho da diversidade étnica e cultural da companhia”, diz ainda o comunicado da companhia, que tem, nos quadros do seu corpo de baile, bailarinos de 19 países.

O Globo Online, 15.01.2007
www.oglobo.com.br

Saturday, January 13, 2007

Aula de cultura afro

Estudantes americanos conhecem o Olodum, a Irmandade da Boa Morte e o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá

Perla Ribeiro

Teoria e prática devem caminhar sempre lado a lado. É sob esta perspectiva que um grupo de 25 estudantes americanos está em Salvador aprendendo como é possível reconstruir uma identidade racial. Como pano de fundo, a cultura afro e suas influências na sociedade local. Depois de conhecerem o trabalho do Olodum e visitar a Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, visitaram ontem, à tarde, o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá. Anfitriã da casa, Mãe Stella de Oxossi não estava presente. Ainda assim, circular pelas dependências do terreiro e conhecer o museu que conta os 96 anos de história do lugar causaram encantamento e despertaram a curiosidade dos estudantes.

O grupo é composto por estudantes das mais diversas áreas do conhecimento: sociologia, antropologia, história, entre outros. O intercâmbio é fruto de uma parceria entre o Hunter College e a Universidade do Salvador. Para alguns, a experiência representa uma oportunidade de reunir elementos para aprofundar os estudos. Para outros, o interesse é pessoal. “O programa visa na realidade mostrar que aqui está se tentando resgatar e reconstruir esta identidade africana”, explica a coordenadora de intercâmbio da Universidade do Salvador (Unifacs), Ligia Jacobsen.

Durante a visita ao terreiro, puderam conhecer as dependências externas das casas dos orixás, o Museu Ohun Lailai, viram os quadros ostentando as fotos das cinco matriarcas que ocuparam o posto de ialorixá da casa e puderam conhecer um pouco da história de luta e resistência do candomblé na Bahia. Para o coordenador do Hunter College em Salvador, James Cornell, a reconstrução da identidade racial no país tem uma abordagem diferente em termos de raça e cultura. “Para estes estudantes, o conceito de miscigenação e de sincretismo que existe aqui é algo completamente novo. Aqui, eles não vão ver a cultura afro em museus, mas na música, na dança, na cultura, no dia-a-dia do baiano”, diz.

Não só para os gringos, a Bahia desperta um olhar de desbravador. Mineira radicada em Nova York e uma das alunas do curso, Rosa Vilas Boas traduz a experiência como algo completamente novo. “É a primeira vez que venho à Bahia e para mim aqui é como outro país. Tem uma cultura e povo diferentes. O que mais me fascinou é o fato de vocês usarem a música e a religiosidade com meio de transformação social. É fantástico ver como o candomblé funciona como um meio de congregar as pessoas socialmente. Quando se fala em terreiro, a imagem que temos é como se fôssemos entrar na África”, afirma. As temáticas abordadas: religiosidade, políticas sociais, o negro na política, na literatura e, sobretudo, a cultura africana.

Em volta de insígnias de orixás, instrumentos musicais que vieram da África, a estudante de economia e políticas internacionais, Jéssica Raatz, que já tinha vivido um ano na Bahia, tinha um novo olhar sobre o lugar. “Vivi aqui durante um ano de intercâmbio, mas as experiências eram outras. Só queria saber de praia e festas e só agora estou tendo a oportunidade de aprofundar o estudo na cultura local”, disse. Entre os atrativos locais que mais lhe chamaram a atenção, ela aponta a calorosa receptividade do povo. “Aqui todos se abraçam, você se sente tão bem”, descreve a experiência, acrescentando que pretende no futuro trabalhar com o desenvolvimento político e poder colaborar para um estreitamento das relações entre os dois países.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 13.01.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/noticia_impressao.asp?codigo=120420

Friday, January 12, 2007

panafnewswire's buddy icon


Gisele Mandaila-Malamba Was Selected as Secretary
of State in Belgium in 2004
(Gisele Mandaila-Malamba, congolesa, foi escolhida Secretária
de Estado na Bélgica, em 2004)

Essa e outras tantas autoridades negras no mundo:
Veja selecao de foto em:

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Congolesa nomeada ministra da Integração na Suécia


Kinshasa, RD Congo (PANA) - Nyamko Ana Sabuni, congolesa naturalizada sueca, foi nomeada ministra da Integração e Igualdade dos Sexos no novo Governo da Suécia integrado por 21 membros e dirigido por Fredix Reinfeld do Partido Liberal Sueco, informou segunda-feira a Agência de Notícias da RD Congo (ACP).

Nascida a 31 de Março de 1969 na RD Congo, ex-Zaíre, Sabuni chegou à Suécia aos 12 anos de idade e milita no Partido Liberal pelo qual se tornou membro do Parlamento sueco em 2002 e uma das líderes em 2004.

De acordo com a mesma fonte, a nova ministra sueca tomou a decisão de se envolver na política após o assassinato dum cidadão de origem africana, Gérard Gbwyo, por sueco racista na cidade de Klippan.

Sabuni preconiza a igualdade de oportunidades de todas as comunidades residentes na Suécia e para as comunidades africanas um exame ginecológico obrigatório a todas as alunas a fim de prevenir a excisão.

A ministra vai gerir um cargo governamental que vai estatuir sobre as múltiplas tensões comunitárias prevalecentes na maioria dos países europeus e que facilitam a subida da extrema direita.

É pela primeira vez na história da Suécia que uma pessoa de ascendência africana ocupa um posto no Governo deste país.

Entretanto, uma outra cidadã originária da RD Congo, Gisèle Mandaila, é secretária de Estado para os Assuntos Humanitários da Bélgica.


Kinshasa - 24/10/2006
PanaPress
http://www.panapress.com/freenewspor.asp?
code=por002407&dte=24/10/2006

"Sou negra! Filha de preto com preta, sou preta!"

"Sou negra! Filha de preto com preta, sou preta!"


Como podemos definir alguém que, ao ouvir sua voz pelo telefone, pela primeira vez, diz logo de cara: "Eu só posso te receber em casa”. No mínimo, diríamos que esta pessoa é simpática, porém, louca. Afinal, nos dias de hoje não se abre a porta de casa para um estranho.

Pois a atriz e cantora, Maria José Motta ou Zezé Motta, como preferir, fez mais! Abriu muito mais do que sua casa, uma certificação concreta da sua carreira de sucesso, e mostrou que desde o início é muito difícil separar a artista da militante. “Não é só a questão do negro que me aflige. O que me preocupa 24 horas é a questão da injustiça com o ser humano”, desabafa Zezé que, com muito prazer e sabedoria, recebeu a galera do Instituto de Artes TEAR – Rio de Janeiro.

Ana Paula Lisboa, Patrícia Silva, Vanessa Sant’Anna, Uiara Leão, Ana Bispo, Mabel Botelli e Raika Julie Moisés, do Rio de Janeiro (RJ)**

Em que momento você disse: “Eu quero ser atriz”? E porquê esta escolha, uma vez que, você se formou em contabilidade?
Zezé Motta: Desde que cheguei no Rio, em 1946, mesmo com dificuldades, minha família nunca desistiu dos sonhos que nós tínhamos. Aprendi a ter garra e persistência e, além disso, acho que o astral sempre conspirou ao nosso favor. Ganhei uma bolsa de estudos no Teatro Tablado e, desde então, não tive dúvidas de interpretar, representar, viver vários personagens era o que eu queria pra mim, era aquilo que eu ia exercer com amor. Além disso, meu pai era músico erudito e, por causa dele, sempre tive um contato com a música, com a arte.

E o que significa ser uma artista negra num país onde o número de artistas negros ainda é pequeno?
Zezé Motta: Você está falando desta falta de artista negros em 2006, agora imagina o que foi isso pra minha geração. Há 39 anos atrás, quase não se via atores e atrizes negras. E quando existia, era para representar papéis de submissão. O fato do Brasil ter sido o último país a abolir a escravidão tem reflexos até hoje. É por causa disso que, infelizmente, a maioria dos negros vive de forma clandestina, seja na marginalidade, na mendicância. A maneira que eu encontrei para enfrentar essa realidade foi sem mágoas e sem ressentimentos, foi com muita perseverança mesmo, com vontade. Quando eu digo isso, eu quero reforçar a importância de acreditar em si mesmo, acreditar na carreira que se quer seguir. Ser um artista negro significa ter coragem, ter crença e amor pelo que se faz.

Como você vê a Abolição da Escravatura?
Zezé Motta: Eu vejo a abolição como um ato político que interessava para a Princesa Isabel naquele momento, mas que de fato não houve. Não houve abolição porque ninguém se preocupou com o que, aqueles negros abolidos iam fazer amanhã. Não existiu um programa que garantisse dignidade para os abolidos. Eles acordaram e continuaram sem identidade, sem referencial, sem estrutura pra nada.


Você foi muito questionada sobre o seu papel na novela Sinhá Moça?
Zezé Motta: Sim, eu fui muito questionada. As pessoas me perguntam como eu, uma atriz reconhecida e tal, tenho a coragem de representar uma escrava e eu digo duas coisas. A primeira é que é disso que eu vivo. Tenho 62 anos, sou atriz, tenho contas a pagar e vivo dos personagens que represento e no momento, não tinha outra novela para eu atuar. A segunda resposta é que não dá para sermos omissos. Se o assunto vem à tona a gente tem que discutir e deixar claro que a escravidão não acabou. Eu fico feliz em saber que, um papel que eu represento faz com que as pessoas discutam e pensem mais sobre o assunto, que não fiquem convencidos que, a partir da Lei Áurea a escravidão chegou ao fim, pelo contrário, ela perpetua.

E o fato de atrizes negras representarem somente papéis específicos para atrizes negras?
Zezé Motta: Costumamos dizer que a expressão “faca de dois gumes” se transformou em “faca de dois legumes” quando começamos a brigar pela distribuição de papéis. É que a partir dali, começamos a ver atrizes brancas fazendo o papel da empregada doméstica, da cozinheira, só que ela, sempre se dava bem. Casava com o patrão, ganhava na loteria, entre outras coisas. Mas a mídia ‘dançou’ e surgiu a faca de dois legumes - isso serviu de alerta: estamos, novamente, perdendo espaço e papéis nessa briga! Aí, mudamos o discurso e começamos a exigir papéis independentes da cor. A gente queria trabalhar como todo mundo e não só para papéis pré-pensados para negros. A justificativa era que a invisibilidade do negro na mídia era uma representação da realidade, afirmando que haviam poucos negros médicos, engenheiros, etc e que a maioria era porteiro, motorista. Nós, de fato, ainda temos poucos negros ocupando profissões consideradas nobres, mas temos, eles existem ainda que em pequeno número e isso não pode ser esquecido. O que eu lamento é que, quando algum ator negro faz um outro papel de relevância, geralmente, ele representa um mau-caráter, sem crédito. Ainda que sejam bons atores, eles fazem papéis de f.d.p.

Você já vivenciou situações de preconceito/discriminação no ambiente de trabalho?
Zezé Motta: Se eu for falar do passado, vamos passar a noite toda conversando. Mas por exemplo, na época do sucesso e da repercussão do filme “Xica da Silva”, saiu uma reportagem na revista Vogue dizendo que a atriz escolhida para representar a Xica da Silva era uma negra feia, porém exótica. Embora eu não seja uma pessoa vaidosa e nem estivesse preocupada em ser bonita, mas sim em ser do bem, eu me perguntava o porquê daquilo. Porque eles me expunham de maneira tão agressiva.

E hoje?
Zezé Motta: Hoje, eu vivencio o respeito, o reconhecimento da minha militância e do meu trabalho artístico. A única briga que vou ter que comprar de agora em diante é a questão do salário. Isso é dado estatístico: o homem ganha mais do que a mulher, o homem branco ganha mais do que o homem negro, a mulher branca ganha mais que a mulher negra. Ou seja, a mulher negra está ferrada! E eu vou falar sem nenhum pudor que vejo atrizes despreparadas ganhando três, quatro, cinco vezes mais do que eu. Eu agradeço a Deus por estar nesta profissão por amor e por sobreviver com o que eu faço, não posso reclamar da vida, vivo muito bem. Mas esse fato me revolta! Estas atrizes ganham muito dinheiro e nem sabem o que estão fazendo lá. Me pergunto, qual é o critério pra essa diferença?

Você já recusou papéis?
Zezé Motta: Eu me lembro que uma vez, há bastante tempo atrás, a TV Globo me convidou para fazer a minissérie “Festa de Aniversário”, com texto da Clarisse Lispector e eu tive coragem de dizer não. Eu disse não, porque tinha acabado de ganhar todos os prêmios que existe no Brasil para cinema com o filme “Xica da Silva” e não achei justo, naquele momento esquecer o meu discurso de que para se ter sucesso, para se alcançar os objetivos não precisamos ser brancos ou bonitos, aliás, você pode até ser feio, mas isso não poder ter a ver com a sua cor de pele. O que tem que estar em jogo é sua competência, a paixão com que você desenvolve seu trabalho.

O que significou fazer “Xica da Silva”?
Zezé Motta: Significou o início do reconhecimento do meu trabalho e do meu talento. Mostrei que não estava ali por brincadeira e não deixei para trás minha militância. Pela primeira vez, uma negra brasileira era considerada símbolo sexual, isso, naquele momento ultrapassava qualquer barreira de vaidade e atingia a militante Zezé Motta, uma das fundadoras do movimento negro. Independente do que os outros pensavam, aquilo servia de resposta pra mim mesma de que eu era capaz!

Em algum momento na sua carreira, teve um processo de auto-reconhecimento? De você saber exatamente o que representava ser negra, ser atriz?
Zezé Motta: Essa pergunta é muito boa! Como sempre fui moradora da zona sul do Rio de Janeiro, sempre vivi num contexto diferente da maioria dos negros. Estudei num bom colégio, meu primo e eu éramos os únicos negros que estudavam no Teatro Tablado por tínhamos bolsa e eu era a única aluna negra do CCAA (escola de idiomas). Então, quando eu me olhava, nem sempre me reconhecia. Na adolescência, eu sonhei em fazer plástica no nariz, colocar lentes verdes e até, fazer plástica na bunda. Porque eu era diferente de todos, era a exceção. Cheguei a usar uma peruca lisa, com corte chanel. Mas aí, chega uma hora que caiu a ficha. Fui pros Estados Unidos com o Teatro de Arena, junto com Augusto Boal. Íamos apresentar “Arena conta Zumbi” e “Arena conta Bolívar”. No Teatro de Arena nós revezávamos e todos, em algum momento, faziam Zumbi. E eu, dei a bobagem de chegar no Halley (bairro estadunidense) com aquela peruca lisa. Todo mundo questionava. Eu fui chamada de alienada, Augusto e eu éramos loucos porque não sabíamos ou não víamos que a minha falta de identificação era tão chocante assim. Mas essa experiência foi legal porque a partir daí, eu comecei a me aceitar. Eu me vi. Cheguei no camarim, tirei aquela peruca e foi como um batismo. Eu me vi como eu realmente era.

E o processo de embranquecimento que alguns atores são submetidos?
Zezé Motta: O negro passou a ser aceito na mídia a partir da mulata. O negro pelo negro, antes, não era aceito. Ele tinha que passar por um processo de embraquecimento. Mas, uma vez fiz uma empresária, na novela “Corpo Dourado”, e alisei o cabelo. As pessoas me questionavam sobre isso, sobre este possível “embranquecimento” mas a produção decidiu que uma empresária negra não precisa ter o cabelo trançado ou black-power. E, naquele momento, eles tinha razão. Eu não precisava me vestir de negra. Não era necessária nenhuma fantasia. Eu sou o que eu sou. O problema não é ter o cabelo liso, o duro é você alisar o cabelo para embranquecer. Você alisar o cabelo pra agradar o outro, isso não pode. E isso vale pra qualquer um, não só pro negro. Tem que ser pra si mesmo, pra sua vaidade.



E a questão da militância?
Zezé Motta: Uma vez ouvi o Gilberto Gil comentar sobre isso e ele tinha razão. Ele dizia que para ser militante não significa se vestir de bata africana e turbante ou cabelo black-power. Você não precisa se fantasiar de militante ou se é, ou não é. O que você precisa ter é consciência política do que se está exercendo, é saber que seu discurso não pode ser em vão, tem que estar de acordo com suas ações e não com sua aparência. Eu por exemplo, não tenho paranóia de ser negra. Não estou preocupada 24 horas por dia só com a questão do negro. Estou preocupada com a questão da injustiça que o negro e que o ser humano é submetido. Eu fui predestinada pra levantar a bandeira do movimento negro. Antes de criar o Cidan*, a minha proposta era um sindicato para as empregadas domésticas. Minha militância tem a justiça como base, como eixo.

Você acredita que o Brasil pode superar a discriminação?
Zezé Motta: Sim, a gente tem que acreditar nas coisas boas, no bem, tem que perseverar. Acho que o primeiro passo, é a gente reconhecer o outro como ser humano, independente do que ele esteja vestindo, da crença ou da cor de sua pele. Você tem que me ver como ser, antes de ver a Zezé Motta, atriz e negra. A gente tem que se respeitar, tem que ser justo com o outro e claro, tem que se ver como se é e se agradar, manter a própria identidade.

* CIDAN: Centr Brasileiro de Informação e Documento do Artista Negro.
Fundando em 1984 pela atriz Zezé Motta, o CIDAN visa a promoção e a inserção dos artistas negros no mercado de trabalho. Além disso, realiza e promove cursos visando a promoção de jovens atores bem como a reciclagem de artistas e técnicos. Outras informações: www.cidan.org.br

**Ana Paula Lisboa, Patrícia Silva, Vanessa Sant’Anna, Uiara Leão, Ana Bispo, Mabel Botelli e Raika Julie Moisés também são integrantes do Instituto de Arte TEAR, parceiro da Vira

Thursday, January 11, 2007

Musical 'Besouro Cordão-de-Ouro' conta história de lendário capoeirista

Daniele Cristina

Foto Divulgação

Rio - Velas, caixões e quilombolas servindo cachaça em homenagem ao morto "Besouro Mangangá". Estranho? Não se o assunto em questão fosse a história de um dos maiores capoeiristas de todos os tempos da Bahia.

O musical "Besouro Cordão-de-Ouro", que tem texto, músicas e letras do compositor Paulo César Pinheiro, conta em uma roda de capoeira a história de Waldemar de Tal, baiano de Santo Amaro da Purificação também conhecido por Besouro Mangangá, uma lenda na capoeira.

Leia matéria completa em: http://odia.terra.com.br/cultura/htm/geral_76322.asp

O Dia Online, 12.01.2007

Lavagem do Bomfim: Feijoada é prato obrigatório no rito profano


Feijoada é prato obrigatório no rito profano

Por Flávio Costa

Feijoada é o prato do dia. A afirmação está na boca dos veteranos da Lavagem do Bonfim, que não dão um passo em direção à Colina Sagrada sem antes provarem a iguaria. Para eles, ir ao tabuleiro mais próximo e provar da suculenta mistura de carnes e grãos é tão sagrado quanto amarrar a fitinha no adro da igreja. E opções não faltam: em todos os cantos do percurso de 8km há um tabuleiro, bar ou até mesmo uma casa aberta, onde é possível se deliciar com a comida mais famosa do país.

Há aqueles que antes de se dirigir à Igreja Nossa Senhora da Conceição da Praia preferem comer sua feijoada em casa mesmo, sem se arriscar com os temperos alheios encontrados nas barracas durante a caminhada. Não é o caso do policial rodoviário aposentado, Valdemiro Marcelino dos Anjos, 60 anos, que largou o descanso de Eunapólis, onde vive, para vir à capital baiana apenas com desejo de participar da Lavagem do Bonfim, o que ocorre, sem interrupções, há 25 anos. Valdemiro não consegue conceber a idéia de iniciar a caminhada rumo à Colina Sagrada, sem antes “forrar o estômago” com uma deliciosa feijoada. Ele não agüentaria percorrer os 8km do cortejo se não o fizesse. “Não há possibilidade de iniciar o circuito, de barriga vazia, sem comer um feijãozinho. É ele que dá a base necessária para a gente se sustentar durante o caminho. É tradição”, afirma Valdemiro, que devora seu prato preferido num dos tabuleiros montados no Mercado Modelo.

Ao lado do ex-policial, estava seu companheiro de festas de largo, o portuário Moacir José, 45 anos, que, munido de talheres, traçava ferozmente os pedaços de carne que restavam de seu prato. Os dois amigos, devidamente trajados de branco, como reza a tradição, afirmavam que feijoada do Bonfim tem que ser completa, sendo um ingrediente mais fundamental que os outros. “Não pode faltar mocotó”, dizia Moacir, ávido para repetir o prato.

No beco do Ministério da Fazenda, no Comércio, onde pelo menos seis barracas disputam a primazia da melhor feijoada, o técnico em montagem, Jacilai Souza, 35 anos, estava em dúvida onde comer. “Um feijãozinho no Bonfim é sagrado, agora tem que ter cuidado para o tiro não sair pela culatra”, afirmava Jacilai, ao fazer alusão a uma eventual dor de barriga que poderia lhe advir se comesse num lugar errado. “Mesmo com este risco, eu vou ter que comer. Sem beliscar um mocotó, acompanhado de uma cervejinha é impossível ter gás para chegar à igreja e fazer minhas preces”.

Para quem vende a feijoada no Bonfim, não há diversão. O trabalho começa pelo menos um dia antes do início da festa. A cozinheira Marinalva dos Santos dormiu às portas do Mercado Modelo para começar a labuta bem cedo. Às 5h, ela já atendia os primeiros fregueses. “Eu espero vender uns 200 pratos”, calculava a comerciante, que é moradora da Fazenda Grande do Retiro. “Na minha feijoada não tem mistério. É tudo muito limpinho, e feito apenas com produtos naturais, não gosto destas coisas artificiais. Todos os meus temperos são naturais”, declarava.

Já a comerciante Dália Ribeiro investiu na feijoada carioca, aquela que leva o grão preto e laranja. Assídua freqüentadora da lavagem, este ano ela preferiu abrir seu bar no Largo de Roma a cair na gandaia. Lá, um prato para duas pessoas saía ao preço módico de R$5. “Eu adoro a Lavagem do Bonfim, no ano passado não trabalhei apenas para curtir a festa, mas o fregueses sentiram saudade do meu feijão, tive que trabalhar este ano”. Quem não diz o que usa para deixar a feijoada mais saborosa é a vendedora Cristiane Souza, 30 anos, que possui um restaurante no bairro do IAPI e há três anos trabalha durante a Lavagem do Bonfim. “Cozinheira que se preze não revela seu segredo”.

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Safári etílico embriaga foliões

Na Lavagem do Bonfim, o sagrado e o profano se encontram como em nenhuma outra festividade na Bahia de todos os santos e orixás. Enquanto uns enfrentam o calor intenso e um longo trajeto numa verdadeira profissão de fé, outros só querem saber é de farrear. Regados a fartas libações alcoólicas, estas pessoas que vão à cidade baixa, na segunda quinta-feira de janeiro, nem cogitam a possibilidade de subir a Colina Sagrada. Mas há aqueles que conseguem juntar os dois lados e cumprem o ritual ao mesmo tempo em que caem na gandaia em diversos pontos dos trajeto.

Quando as baianas começavam a sair da Igreja Nossa Senhora da Conceição da Praia, o músico Macblai Ferreira, 28 anos, já tinha avançado em muito a sua odisséia etílica. Visivelmente embriagado, ele não dava a menor pelota para o desfile oficial que congregava baianas, autoridades, afoxé Filhos de Gandhy e fiéis. Reunido com os amigos no Mercado Modelo, a primeira parada de seu cortejo particular, ele só queria saber de curtição. “Só volto para casa tarde da noite. Onde estiver vendendo cerveja, a gente vai parar”, dizia sem qualquer indicação que se aproximaria da Igreja do Bonfim.

Dona de barraca na Ribeira, Neide Magalhães, 30, também só queria saber de festa, ele tinha percorrido os oito quilômetros que separam a Colina Sagrada do Comércio, fazendo a rota inversa, ao nascer do sol. Agora de acordo com ela, necessitava de “combustível” para realizar o caminho de volta. “Bonfim é uma festa para você reunir os amigos, reecontrar aqueles que você não via há muito tempo, enfim, curtir mesmo”. Fé que é bom? Necas.

Um dos pontos mais requisitados pela turma do álcool é o beco que fica ao lado do prédio do Ministério da Fazenda. Lá a velha guarda das lavagens passadas se reúne para contar estórias de outrora, enquanto a “birita” corre solta. Entre eles está o industriário José Borges, que há 25 anos marca presença na festa, sempre acompanhado de sua esposa.

'Nós temos 25 anos de casados e estamos completando também bordas de prata na Lavagem do Bonfim”. Enquanto provava a feijoada costumeira, José planeja encontrar um grupo de amigos na Calçada, num beco de nome impublicável. “Bonfim é antes um acontecimento de alegria. E não precisa ter pressa para chegar na Colina. Parar aqui no beco do Ministério é sagrado, faz parte da tradição. Parando numa barraquinha ali, em outra acolá, todo mundo acaba chegando”.

Há quem prefira encarar o cortejo na cadência do samba, mas sem perder o objetivo maior que é chegar ao templo. Em Água de Meninos, a vendedora de acarajé Jorgina Abreu, 55, seguia a passos ritmados os grupos de pagode que passavam por ela, enquanto chegava cada vez mais perto de seu objetivo, que era alcançar o templo. “Eu estou me divertindo sem ter deixado de cumprir minha obrigação”, declarou.

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Sem hora para a farra acabar

Muitos apenas olharam de longe o cortejo seguir em direção à Colina Sagrada. Outros fizeram questão de acompanhar todo trajeto de cerca de 8km. Mas, no final de todo o ritual religioso, uma multidão continuou concentrada ao longo de toda a cidade baixa em ritmo de festa profana. Para muitos, a homenagem ao Senhor do Bonfim foi apenas um pretexto para beber com os amigos e cair na folia.

Pelas ruas do Comércio, o cenário era composto por dezenas de mesas e gente bebendo no meio pista. A festa parecia não ter hora para acabar. Lá, pequenos carros de som arrastavam um público que não estava preocupado com o horário de voltar para casa. “A festa está apenas começando. Isso aqui é uma maravilha. É a festa do povo baiano”, disse a comerciante Marinalva Abreu, 34 anos, que conseguiu uma folga no trabalho para participar da festa. Na mesma empolgação estava a estudante Priscila Santiago, 19 anos, que acompanhava o arrastão das mulheres solteiras. “Hoje eu só saio depois que acabar tudo. Não tenho nada melhor para fazer hoje na cidade. Quem está aqui tem mais é que aproveitar”, disse.

Por todo o caminho da cidade baixa, os sinais deixados pela multidão era de uma festa que não tinha nada de santa. Em todas as ruas, o que se via era muita bebida regada a ritmos nada religiosos. Pagode, axé, arrocha e até reggae tomaram conta da festa e não deixou ninguém parado. Com coreografias improvisadas, as mulheres que dançavam no meio da rua, atraíam fãs na multidão.

Ao pé da Colina Sagrada a festa não tinha hora para acabar. Depois de uma longa caminhada, muita gente não desanimou, nem mostrou sinal de cansaço. Para recarregar as forças valeu de tudo, principalmente recorrer às tradicionais feijoadas que eram servidas nos bares espalhados por toda a rua. No Bar do Bira, o prato custava R$5 e era considerado “levanta defunto”. “Isso aqui é uma maravilha. Só mesmo um prato de feijão para rebater o cansaço”, afirmou o motorista Jair Sacramento dos Santos, 41 anos, sem se preocupar com os efeitos da ressaca do dia seguinte. (CB)

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Axé music, paquera e suor

Por Cilene Brito

Acordar cedo e seguir o cortejo de cerca de 8 m, da Conceição da Praia até o Bonfim, não estava nos planos do dia. Para muita gente, o ponto alto da festa do Bonfim eram as festas fechadas, bem longe do povão. A data religiosa foi apenas um pretexto para mais uma prévia do Carnaval. Na Avenida Contorno, o tradicional Bonfim Light reuniu um público jovem e descolado no Bahia Marina, um dos espaços mais concorridos da cidade. Muitos sequer sabiam o significado da festa, mas aproveitaram o dia para cair na folia e paquerar.

Em sua décima edição, a festa foi animada pelas bandas Rapazzolla, Jammil e Uma Noites e Asa de Águia. Para ter acesso à festa a turma formada principalmente por “patricinhas” e “mauricinhos” desembolsou R$80. Investimento, que para eles, era mais que justificável. “Comprei há quase um mês para garantir o meu. Para mim essa é a melhor festa do Verão depois do Carnaval. Estava contando os dias”, disse a psicóloga Renata Campos, 24 anos, fã da banda Asa de Águia.

O clima de paquera tomou conta da Avenida Contorno antes mesmo do início da festa. “Olha só para isso aqui. Não saio daqui solteiro”, comentou empolgado o estudante Felipe Rezende. Solteiro e acompanhado por mais dois amigos, ele tentava conseguir uma companhia antes mesmo de entrar na festa.

O clima de axé também tomou conta do ensaio do Ara Ketu, no Trapiche Barnabé, no Comércio. A festa O Banho de axé atraiu um público menos teen, que curtiu as bandas Domix, Olodum e Ara Ketu e contou com a participação especial do cantor Cetano Veloso. Lá, o passaporte custou R$40 e o público também não escondia a satisfação de estar num espaço fechado com grandes nomes da música baiana. “Pagaria até mais. Depois da parte religiosa, todo mundo cai na festa. Para mim, aqui é o melhor lugar para curtir o lado profano da Lavagem do Bonfim”, disse a bancária Ângela Martins Dias, 32 anos.

***

Acordes dissonantes

Engana-se quem pensa que festa Popular em Salvador é sinônimo de axé e pagode. Numa das transversais do lado da Igreja do Bonfim, na Rua Travasso de Fora, o som que atraía a multidão era produzido por guitarra e bateria. Como ocorre há 12 anos, bandas de rock de Salvador realizaram o Bonfim Hard, também conhecido como Lavagem do Beco do Morotó. O evento reuniu grandes bandas do cenário rocker baiano, como Retrofoguetes, Cascadura, Mizeravão, Efeito Joule e Nancyta.

Num palco improvisado na varanda da residência do guitarrista da banda Retrofoguetes, Morotó Slim, o rock’n roll rolou solto e atraiu uma multidão de roqueiros e curiosos. A idéia, segundo Morotó, começou como uma brincadeira de três amigos roqueiros e hoje está consolidada. “Morávamos no Bonfim e sempre acompanhamos a lavagem, mas sentíamos a necessidade de fazer a festa do nosso modo. O primeiro ano fizemos no chão e hoje já temos um público fiel que cobra a gente pela festa todos os anos”, conta. Para Rex, o baterista da banda, o festival é uma forma de interação com o público. “Nossa intenção não é competir com os outros. Queremos mostrar que a festa é para todos os gostos e todos têm direito de participar de seu jeito”, disse.

O som começou às 16h e não deixou ninguém parado. Roqueiros vestidos de preto com camisas das bandas de sua preferência assistiam às apresentações das bandas que invadiram a noite. O clima, que contrastava com as danças rebolativas do axé e do pagode, era de paz e animação. A idéia deu certo e é aprovada por todos da área. “Eu não perco um ano. Acho a idéia maravilhosa. Quem gosta de rock em Salvador nem sempre encontra um espaço para ouvir uma boa música”, disse o estudante Vinícius Augusto Xavier, 22 anos. Até mesmo aqueles que não se consideram roqueiros participaram da platéia. “Acho a idéia diferente. Acho que festa popular deve ter espaço para todos. O som deles é bom e todo mundo gosta”, disse Mário Fernando da Silva, 25 anos, morador do bairro. (CB)

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 12.01.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/noticia_
impressao.asp?codigo=120390

Wednesday, January 10, 2007

Vida de mulheres indígenas estão sendo mostradas na internet

Vida de mulheres indígenas estão sendo mostradas na internet - 09/01/2007

Local: Rio Branco - AC

Fonte: Página 20

Link: http://www.pagina20.com.br/

Blog criado por uma organização de mulheres indígenas é considerado uma conquista de espaço

O artesanato, pinturas no corpo e as pajelanças são as imagens mais comuns às pessoas quando o assunto se refere aos índios, mas embora os mais de 18 mil índios das 16 etnias vivam, geralmente, distantes das cidade, as propostas e lutas das mulheres indígenas do Acre, sul e noroeste do Amazonas já podem ser vistas por qualquer um em qualquer parte do mundo pela internet.

É que a organização das mulheres indígenas, Sitoakore, criou blog através do qual vem divulgando suas propostas e denúncias sobre a situação de descaso com que elas ainda são tratadas nas aldeias e até mesmo pelas autoridades públicas que, na maioria dos casos, dirigem suas ações muito mais para os homens e raramente às mulheres das comunidades atendidas.

O blog, é sim, um campo de luta por espaço, não pelo espaço dos homens, mas o espaço que existe e é merecido pelas mulheres indígenas que são mães, filhas e avós, agricultoras, tecelãs, matriarcas de todos os povos da terra.

“Neste blog estamos contando nossos trabalhos e a história de nossas lutas, mostramos nossa arte, fazemos proposta, pedimos ajuda e nos ajudamos umas às outras. Discutimos as necessidades das aldeias com o objetivo de contribuir e influência a formação de políticas públicas que também estejam voltadas para as mulheres indígenas”, esclarece Letícia Yawanawá presidente da Sitoakore, organização não governamental que representa as mulheres indígenas do Acre, noroeste de Rondônia e Sul do Amazonas.

A líder esclarece que o blog foi criado com o apoio da Secretaria Extraordinária de Mulheres e que vem surtindo bons resultados tanto na divulgação de sua luta, o que rende novos aliados interessados em contribuir para a solução de seus problemas. “Um problema preocupante é o fato de que existem muito mais treinamentos e cursos voltados para preparar os homens do que as mulheres nas aldeias. Por isso, nós mesmas temos nos preocupado em firmar parcerias com a Secretaria da Mulher, a da Saúde e Funasa para levar orientação às nossas companheiras na floresta”.

Ao longo do ano passado realizaram treinamentos para as parteiras tradicionais em Jordão e Cruzeiro do Sul, para os kaxarari de Rondônia e apurinãs de Boca do Acre, jaminawa e machineris de Assis Brasil. Lamentam que a participação das mulheres madijas (kulina) e ashaninkas (kampa) sejam as menores.

“Nosso objetivo com este ripo de treinamento, é o de diminuir a morte de mulheres durante os trabalhos de parto, como também a mortalidade infantil causadas por doenças que poderiam ser evitadas a partir de orientações simples”, explica Letícia para então esclarecer que: “Se ainda há violência contra mulheres que vivem nas cidades e há dificuldade para controlar esse problema na zona rural, também nas aldeias isso é um assunto grave e que merece atenção”.

Esse trabalho é realizado numa parceria com o governo Estadual e VigiSus. Neste início de ano estarão sendo realizados treinamentos para os madija do Alto Purus e kaxinawas da aldeia Porto Rico.

Violência cultural

Mais de 400 parteiras, agentes de saúde e pajés receberam os treinamentos oferecidos pela Sitoakore ao longo do ano de 2006. “A idéia é garantir segurança no parto tradicional ao acrescentar técnicas fundamentais de higiene e saúde. O problema é que o sistema de saúde não reconhece nossas parteiras nem os conhecimentos do pajé, mas ele é o nosso médico. São pessoas que sempre contribuíram e continuam contribuindo para nossa sobrevivência e à sobrevivência de nossa cultura”.

Uma das situações flagrantes disso é o fato de que as instituições públicas chamam os professores, as parteiras ou os agentes de saúde para participar dos treinamentos, mas não os pajés, os quais, são tratados como coisa do passado. “Esse comportamento cria uma separação de classe que não existe na sociedade indígena, até porque quando estão doentes física ou espiritualmente, a primeira pessoa que chamam é o pajé para aconselhar, se ele tiver sido treinado vai indicar a parteira ou o agente de saúde para atender o problema e todos continuarão sendo respeitados igualmente dentro da comunidade. O pajé precisa ser valorizado porque tem conhecimentos importantes que precisam ser repassados para os jovens e as mulheres”. Desbafa.

Outra forma de violência sofrida pelas mulheres indígenas acontece de maneira dissimulada e que compromete a continuidade de sua própria cultura. “São as mulheres que cuidam do roçado, fazem a comida, colhem o algodão e as sementes, tingem os fios e fazem o artesanato que acaba sendo comprado por atravessadores que pagam o que bem entendem, desvalorizando o trabalho delas. Isto vem fazendo com que muitas abandonem sua arte tradicional”.

Como solução alternativa, a sala de entrada da Sitoakore virou um improviso de loja de artesanato onde são expostas peças das várias etnias indígenas do Acre. “O artesanato é uma forma de contar e preservar nossa arte, nossa história e a nossa cultura. Os kaxinawás e ashaninka se destacam pela tecelagem, os jamamadi e marubo pela sua cerâmica. Os kaxinawá e os yawanawa também se destacam pelas armas e pelos desenhos que identificam nossos povos. Todos fazem muitos colares e adornos, mas são os apurinãs que se destacam pela quantidade e os marubo pela identidade e beleza das peças feitas com produtos da natureza”.


Juracy Xangai
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Participe do Grupo de Diálogo "Literatura Indígena",
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Índia baniwa é estuprada e estrangulada em São Gabriel


Corpo de Marina Macedo, que era doméstica e pertencia à etnia baniwa,
foi encontrado pelo próprio cônsul da Colômbia em São Gabriel da Cachoeira


Jornal A Crítica, Manaus, Amazonas,10/01/2007

A revista VEJA "armou" contra o Paykán, colocando em sua capa a foto dele com a palavra SELVAGEM. Não foi o caso, porque sabemos hoje que não houve estupro, mas se um índio é acusado de estupro, isso é matéria nacional, de capa de revista. Se uma índia é estuprada, merece uma nota apenas nos jornais locais.
Bessa
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Índia baniwa é estuprada e estrangulada em São Gabriel

Elaine Lima/Free Lancer

Corpo de Marina Macedo, que era doméstica e pertencia à etnia baniwa, foi encontrado pelo próprio cônsul da Colômbia em São Gabriel da Cachoeira

O assassinato de uma índia baniwa em São Gabriel da Cachoeira chocou a comunidade no último final de semana. O corpo da doméstica Marina Macedo, 20, foi encontrado estrangulado e com sinais de estupro na manhã do último domingo (7) no município de São Gabriel da Cachoeira (a 858 quilômetros de Manaus). A vítima foi encontrada em frente ao Consulado da Colômbia sediado naquela cidade pelo próprio cônsul Matias Vasquez Gonzalez por volta das 6h35. "Me preparava para fazer minha caminhada matinal e, quando abri a porta encontrei o corpo da moça no pátio. Fiquei desesperado", relatou Gonzalez. Marina Macedo prestava serviços domésticos para o cônsul e mantinha um quarto na residência.

De acordo com alguns populares que conheciam a moça, a indígena teria saído para se divertir numa boate em companhia de alguns amigos. Alguns deles afirmaram tê-la visto com um rapaz dançando, mas ninguém o conhecia.

A Polícia Civil, no entanto, suspeitou do namorado, porém não obteve êxito em sua investigação porque o rapaz não estava com Marina Macedo na noite do crime. A versão foi confirmada por amigos e familiares do jovem (cujo nome a Polícia preferiu não divulgar) que, segundo eles, estava numa festa de confraternização no bairro Dabarú.

Segundo Gonzalez, não houve vestígios de sangue ou indícios de luta corporal no local onde Marina foi encontrada. "Certamente, sabiam onde ela morava, estupraram-na e jogaram o corpo aqui, pois não tem sinal algum de sangue. Não fizeram barulho ou algo que parecesse com uma briga corporal. O quarto dela, por exemplo, está do mesmo jeito que ela deixou. Ninguém entrou no quarto", especulou o cônsul, ao salientar também que a vítima estava vestida somente com suas peças íntimas.

Investigações

Enquanto os policiais civis tentavam encontrar novos suspeitos, o corpo de Marina Macedo continuava estirado no pátio do consulado. O cônsul solicitou da prefeitura uma ambulância para remover o corpo até o Hospital de Guarnição de São Gabriel, mas esbarrou com questões culturais dos Baniwa, que não permitiram que o procedimento de necropsia fosse realizado, pois entendem que a alma do índio morto escapa de seu corpo.

O delegado Brizolla, da Polícia Civil, assegurou que a investigação continuará. Até o encerramento desta edição, não haviam sido apontados novos suspeitos no crime da doméstica em São Gabriel da Cachoeira.

 

Tuesday, January 09, 2007

Índia é morta a tiros por grupo armado em Mato Grosso do Sul

09/01/2007 - 20h24

Índia é morta a tiros por grupo armado em Mato Grosso do Sul

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u88483.shtml

HUDSON CORRÊA

da Agência Folha, em Campo Grande


Uma índia de 70 anos, guarani ou caiuá (a etnia ainda não é conhecida), foi morta a tiro hoje por homens armados dentro de uma fazenda invadida em Amambaí (480 km de Campo Grande), segundo relato feito à Polícia Civil por um índio, ferido no confronto.

Hoje à tarde, a Polícia Federal começou a investigar o assassinato. Valdeci Ximenes, 22, levou três tiros nas pernas. Ele afirmou que os índios foram retirados da fazenda por um grupo armado que matou a índia.

Os policiais encontraram o corpo de Zulita Lopes, 70, próximo a uma aldeia indígena, em Coronel Sapucaia (MS) na fronteira com o Paraguai.

O corpo estava com o grupo de cerca de cem índios retirados da fazenda, que foi invadida no fim da semana passada. No local, a polícia também encontrou Ximenes ferido que foi levado ao hospital.

Os índios dizem que a fazenda faz parte de uma área indígena e, por isso, invadiram as terras.

A reportagem não conseguiu localizar o dono da fazenda Madama, onde aconteceu o conflito.

Pela manhã, a Polícia Civil havia prendido quatro índios acusados de roubar um trator da propriedade.

Violência

Após uma conversa ontem com o secretário da Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, Wantuir Jacini, cerca de 300 índios guaranis, caiuás e terenas liberaram uma rodovia estadual em Dourados (210 km de Campo Grande).

Assassinatos cometidos por índios, consumo de bebidas alcoólicas, de cocaína e maconha até por crianças, prostituição, casos de estupros e brigas levaram lideranças indígenas da reserva indígena de Dourados a bloquear a rodovia.

Com 3.470 hectares, a área abriga cerca de 12 mil índios guaranis, caiuás e terenas. Praticamente transformada em cidade, a reserva é marcada por casos de violência. O presídio de Dourados abriga ao menos 50 índios que cumprem pena por tráfico de drogas e homicídio.

"A nossa reserva está virando uma baderna. Tem armas de fogo. O índio não pode usar armas porque é igual uma criança e atira fácil", afirmou o capitão (líder) guarani Luciano Arévalo, 52.

"Vendem cachaça dentro da reserva. Se não têm dinheiro para comprar bebida, os índios trocam comida pela cachaça", acrescentou o capitão.

"Entra droga também. A maior parte usada por adolescentes e crianças. Hoje a gente não sabe para quem reclamar. O índio vai acabar desse jeito", disse ainda Arévalo. Renato Souza e Getúlio Oliveira, outros dois líderes, confirmam que crianças e adolescentes usam drogas e tomam bebidas alcoólicas.


M. Marcos Terena
Presidente do Comitê Intertribal – ITC
Coordenador da www.viatan.org
Central de Informações Indígenas

 

"Salvador Negroamor"

"Salvador Negroamor" leva mais de 1500 imagens às ruas da capital baiana Da Redação

Sérgio Guerra/ Divulgação

Retrato de Sérgio Guerra na exposição Salvador Negroamor

Retrato de Sérgio Guerra na exposição Salvador Negroamor

Uma exposição individual, em lugares públicos em diferentes "eixos" de Salvador, de 8/1 a 16/2, marca o lançamento de um movimento pela valorização da cultura africana e da auto-estima dos afro-descendentes no Brasil. Como parte do projeto "Salvador Negroamor", painéis, outdoors, muros, praças e fachadas exibirão 1501 retratos, tirados por Sérgio Guerra, de anônimos e líderes culturais e religiosos da capital baiana.

As fotos foram selecionadas por Alberto Pitta, artista plástico e presidente do Cortejo Afro, a partir de um repertório de 16 mil imagens de Guerra, colhidas nos últimos meses. O fotógrafo pernambucano, que divide seu tempo entre Angola, onde cuida de um escritório de comunicação do governo, e a Bahia, já havia realizado no começo de 2006 a exposição "Lá e Cá", que retratava as semelhanças entre o cotidiano da Feira de São Paulo, em Luanda, e a de São Joaquim, em Salvador.

O projeto "Salvador Negroamor" inclui a criação de uma ONG, de um portal na internet dedicado a informações e serviços para o público negro e de um CD com músicas de Virgínia Rodrigues, Lazzo Matumbi, Margareth Menezes, Arnaldo Antunes e outros. A meta do movimento é criar, em 2009, um fórum mundial e permanente de assuntos relacionados à África, com sede em Salvador
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Célebres anônimos

Pessoas retratadas pelo fotógrafo Sérgio Guerra não escondem a alegria e o orgulho de ver suas imagens pela cidade

Flávio Costa

Ela nunca sorriu para fotos porque ficava sempre tensa e tímida diante de uma máquina fotográfica. A exceção veio numa manhã de outubro quando ao lado do tio, o professor de teatro Alessandro Barreto, e a prima Stephanie Santos Silva, a estudante Fernanda Conceição, 14 anos, posou para lentes de Sérgio Guerra. Os sorrisos sinceros dos três são vistos no enorme frontlight localizado num dos principais cartões-postais de Salvador, o Farol da Barra. Ao ver seu retrato na manhã de ontem, a garota não pôde conter a sensação de alegria misturada com um pontinha de orgulho. “Nunca iria imaginar que teria uma foto minha aqui. O pessoal lá da minha rua fica dizendo que agora a gente vai aparecer na novela”, afirma Fernanda, que é moradora da Saramandaia.

Fernanda, Stephani e Alessandro são célebres anônimos dentre as centenas de outros que posaram para exposição a céu aberto Salvador negroamor, do fotógrafo Sérgio Guerra. A idéia é valorizar e resgatar a auto-estima de pessoas afrodescendentes, que constituem a maioria da população da cidade soteropolitana. As 1.501 fotos selecionadas de um grupo de 16 mil retratam o cotidiano das pessoas comuns da cidade, ao mesmo tempo que chamam a atenção para a situação de invisibilidade que elas vivem na capital baiana. Até 16 de fevereiro, as imagens estarão espalhadas em postêres, postes, outdoors, estruturas fixas de grande visibilidade, estações de transbordo, painéis em ônibus coletivos em seis circuitos de Salvador: o turístico, praias, bairros espaços populares, grandes avenidas, subúrbio.

Para o professor de teatro que posou ao lado das sobrinhas, o mais importante da exposição é que ela dá a oportunidade da própria cidade olhar para si mesma, o que não ocorre por conta do preconceito racial. “A reação das pessoas da Saramandaia foi de orgulho porque elas começaram a se ver ali, quando viram minha foto, ou seja, se reconheceram. Elas estão acostumadas a serem marginalizadas por conta do lugar onde moram e pela cor de sua pele. Esta exposição pode ser um pontapé para uma mudança deste quadro”, afirma Alessandro, que realiza trabalho sociais em vários bairros periféricos de Salvador.

Cidadania - Sua fala encontra sintonia com o pensamento do próprio Sérgio Guerra, que, em reportagem publicada no caderno Folha da Bahia, declarou: “Salvador é a maior cidade negra fora da África e precisa legitimar isso. Nós temos a capacidade de ser a capital mundial da diáspora africana. Mas é uma cidade dividida, preconceituosa e, muitas vezes, racista. É preciso entender que a sociedade não é a Pituba, a Barra, é muito maior do que isso e tem que ser pensada de uma forma geral, não só pelos políticos, mas pela sociedade civil. Como cidadão, tenho que entender que o problema de Cajazeiras, Fazenda Coutos, Nova Brasília tem a ver com o ‘meu’ problema da Barra”. Ele percorreu, ao longo de 2006, comunidades como Plataforma, Periperi, Paripe, Alto de Coutos, Bate Coração, entre outros, para registrar situações cotidianas destes lugares e promover uma ligação entre o centro e a periferia.

A professora de história carioca, Cláudia Mara Souza, 49 anos, fez questão de tirar foto com o trio que estava no Farol da Barra. Fazendo pós-graduação em história do povo africano no Brasil, ela se diz maravilhada com a idéia da exposição. “É uma grande sacada e uma excelente homenagem para a cidade e seu povo”. Ela e o marido – o analista de sistema Róbson Souza, 45 – chegaram na segunda-feira na cidade e já tinham visto fotos da exposição na orla. “Quando eu vi as imagens, pensei: ‘puxa, eles dão destaques às pessoas que fazem realmente a cidade que ela é, pessoas anônimas e simples’”, afirmou Róbson.

Moradora do bairro de Fazenda Coutos, subúrbio da cidade, a vendedora ambulante, Sônia Machado, 47 anos, se dizia feliz com a exposição, da qual não participou. “E por que não deveria sentir isso? Afinal, é meu povo, a minha cor que está sendo mostrada. Eu acho muito importante que uma coisa dessas aconteça”, dizia Sônia enquanto observava as fileiras de fotos no Campo Grande.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 11.01.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/noticia_impressao.asp?codigo=120278





Monday, January 08, 2007

Blocos afros vão cobrar na Justiça dívida da prefeitura

Coletivo de Entidades Negras denuncia calote de R$110 mil e ameaça fazer protesto na Lavagem do Bonfim

Por Cilene Brito

O Coletivo de Entidades Negras (CEN), que representa 46 grupos carnavalescos da cidade, pretende entrar com uma ação na Justiça para cobrar dívida de R$110 mil da prefeitura, referente ao Carnaval de 2006. Endividados, eles ameaçam fazer uma grande manifestação durante a Lavagem do Bonfim, na próxima quinta-feira, caso a Empresa de Turismo S/A – Emtursa não quite o débito pendente até hoje. A decisão foi tomada ontem durante assembléia realizada na sede do CEN, no Pelourinho.

Sem qualquer posicionamento da prefeitura, os pequenos blocos afros e afoxés, que tradicionalmente desfilam no Carnaval de Salvador, estão ameaçados de não desfilar na folia deste ano. De acordo com o coordenador financeiro do CEN, Ari Sena, a dívida é referente às duas últimas parcelas do convênio assinado com a Emtursa em fevereiro do ano passado, no valor de R$700 mil. O projeto dos desfiles dos blocos afros e afoxés no Carnaval foi aprovado pela lei Rouanet, de incentivo à cultura e foi entregue à Emtursa em agosto de 2005. O documento previa orçamento de R$1,65 milhão, mas os custos foram reduzidos para mais da metade.

Ele conta que a prefeitura, através da Emtursa, só efetuou o pagamento da primeira parcela, no valor de R$350 mil, um dia antes da abertura do Carnaval.

O restante da quantia foi dividido em cinco parcelas, sendo as duas últimas com vencimento em novembro e dezembro de 2006. “Eles sempre depositaram um mês depois do vencimento, mas até o presente momento não honraram com as duas últimas prestações”, denunciou. Ele afirma que todas entidades estão endividadas. A maioria dos seus dirigentes está com saldo negativo e devendo a todos os funcionários que trabalharam na festa.

Discriminação - Para o coordenador do CEN, Marcos Rezende, esta é uma postura racista do coordenador do Carnaval da Emtursa, Misael Tavares. “Ele vem maltratando as entidades negras que participam do Carnaval com sua postura racista e discriminatória. Ele valoriza apenas os grandes grupos e esquece que os pequenos grupos é que fazem o Carnaval do povo”, afirma. Ele denuncia ainda que até hoje a prefeitura não abriu nenhum canal de diálogo com o CEN para discutir o convênio do Carnaval deste ano que traz dez novas entidades. Com essa postura, os 46 blocos afros e afoxés estão com o futuro indefinido na próxima folia, já que a maioria deles é formada em bairros carentes e com poucos recursos para garantir a sua participação autônoma na festa.

Entre algumas entidades estão o bloco Skareggae, do Centro Histórico, bloco Afro Alabê, do Curuzu, Beleza Afro, da Liberdade, bloco Filhos de Marujo, de Pau da Lima e bloco Impacto Sonoro, do Nordeste de Amaralina. “Fazemos parte do Conselho do Carnaval, mas até hoje eles não nos deram oportunidade de discutir como gostaríamos que o nosso Carnaval fosse feito. É sempre do jeito que eles querem e impõem”, denuncia. A reportagem entrou em contato com o coordenador do Carnaval na Emtursa, Misael Tavares, mas a assessoria de imprensa do órgão informou que ele estava viajando.

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Combate à exploração sexual será maior

Por Mariana Rios

Em um ano, dobraram as denúncias de violência sexual envolvendo crianças e adolescentes na Bahia. A intenção dos setores voltados para o enfrentamento à questão é ampliar a sensibilização da comunidade no Carnaval. Para uma propagação ainda maior, artistas e foliões serão convocados para participar da campanha “Não brinque nesse bloco!”, lançada ontem pelo Ministério Público da Bahia (MP).

A expectativa é de que mensagens sejam passadas em pontos estratégicos dos circuitos carnavalescos para incitar denúncias, alertar a comunidade e informar sobre as penalidades do crime. Representantes de mais de 20 blocos e entidades carnavalescas acompanharam o pedido da promotora Lícia Maria de Oliveira, que coordena o Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça da Infância e da Juventude. “Nossa proposta é de seja feito um trabalho junto aos artistas, que em pontos de maior visibilidade façam esse apelo para tentar erradicar essa forma perversa de exploração”, declarou Oliveira, na sede do MP, no bairro de Nazaré.

As denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes saltaram de 225, em 2005, para 448, no ano passado. A solicitação aos artistas já havia sido feita no último Carnaval. “Ivete falou, chamou a atenção para a questão. Estamos tentando entender de que forma, efetivamente, o artista vai atuar”, disse o representante da Caco de Telha Produções e Eventos, Eduardo Scott, que assinou o termo de compromisso.

Frases como “Exploração sexual de crianças e adolescentes é crime punido com pena de reclusão de quatro a dez anos”, além dos telefones 0800 284 5551 (estadual) ou 100 (nacional) serão transmitidos pelas potentes caixas de som dos trios elétricos. No circuito Osmar (Campo Grande), as frases de alerta devem ser ditas em pontos de grande concentração como camarotes, na Piedade e Casa d’Itália. Já na Barra (circuito Dodô), o alerta deve ser dado no Farol da Barra, Clube Espanhol e camarotes. Em 60 dias, após o Carnaval, será realizada uma nova reunião de avaliação.

Para o coordenador executivo do Centro de defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan (Cedeca), Waldemar Oliveira, houve redução no turismo sexual envolvendo o público infanto-juvenil mas ainda falta muito. “Faltam ações preventivas dos governos estadual e municipal,

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Apenas um infrator detido

Mesmo com tantos casos de denúncia, apenas um explorador está preso, e, segundo Oliveira, o número de processos é insignificante, se comparada à grave realidade das crianças, geralmente meninas, afrodescendentes, entre 14 e 17 anos e moradora da periferia. O Cedeca coordena o Comitê de Enfrentamento à Violência Sexual contra a Criança e o Adolescente, que reúne 76 entidades.

Hoje pela manhã, uma reunião sobre definições de atuação para o Carnaval acontece na sede da instituição, no Pelourinho. “O artista precisa ser um cidadão engajado e ele pode contribuir muito nessa luta e na qualificação de nosso Carnaval”, afirmou Oliveira.

O diretor-executivo da Associação dos Produtores de Axé (ApaBahia), André Luiz Simões, assegurou que, dos inúmeros pedidos que recebem, o da campanha do ministério terá prioridade, mas solicitou às entidades um plano de comunicação mais eficaz. Mas, para o juiz da Infância e da Juventude, Salomão Resedá, a campanha deveria ser iniciada já nos ensaios carnavalescos.



Aqui Salvador, Correio da Bahia, 09.01.2006
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/noticia_
impressao.asp?codigo=120177

Sunday, January 07, 2007

Preocupacao no Xingu!


7/1/2007 11:11:00

Autor de documentários sobre o Xingu aponta cenário preocupante no parque indígena

Brasília - Depois de mostrar os costumes dos povos do Xingu em 1984, o jornalista Washington Novaes voltou, em 2006, às terras dos Waurá, Kuikuro, Mentuktire, Panará (ex- Kreen-Akarôre) e Yawalapiti para saber como estão essas etnias. As mudanças foram muitas, dentro e fora das aldeias. O desmatamento e as plantações de soja já chegaram aos limites do Parque Indígena do Xingu.

Na década de 80, Novaes chamou de Xingu – A Terra Mágica a série de documentários exibida na televisão. Agora, intitula a nova série de Xingu – A Terra Ameaçada. “O parque do Xingu é hoje uma ilha de vegetação cercada por um mar de soja e de pastagem”, disse o jornalista.

A construção de seis hidrelétricas na região é outra questão. As obras de uma delas, a Paranatinga 2, já começaram. A construtora informou que construirá uma escada para que os peixes subam, mas especialistas alertam que algumas espécies não conseguirão subir o rio para desovar. “Os índios não se conformam e dizem que não vão aceitar isso”, relatou.

Em mais de 100 horas de gravação, Novaes registrou o desaparecimento da tradição e a invasão da cultura branca. Motos, televisão, antena parabólica, tênis e roupas são realidade nas tribos e encantam os mais jovens. “Os velhos dizem que os jovens não querem mais saber dos costumes. Eles querem andar vestidos e ser como os jovens brancos”, disse.

Uma das preocupações é que os jovens não querem ser pajés. Os Yawalapiti, por exemplo, possuem apenas um pajé e não há interesse de outros, segundo Novaes. As tribos dedicam mais tempo ao artesanato (colares, esteiras), vendido nas cidades e fonte de renda para a compra de tratores, bicicletas, chuteiras e calção.

Campanhas de vacinação e mudança de costumes contribuíram para o aumento na população indígena. “Mulher solteira que tinha filho costumava sacrificar o filho. Isso não acontece mais", exemplificou. A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) passou a construir poços artesianos nas aldeias para evitar a poluição dos rios e transmissão de doenças no período das cheias.

O Kuarup, homenagem tradicional aos mortos ilustres do Xingu, também sofre a influência dos brancos. O jornalista contou que a última cerimônia foi registrada por sete equipes de televisão, entre elas, a emissora inglesa BBC, que levou quatro lutadores (boxe, judô e jiu-jitsu) para disputar com os índios o huka-huka, luta que integra o Kuarup.

De acordo com Novaes, a empresa pagou os indígenas, o que provocou discussão. “Os Kamayurá não receberam pagamento e não queriam deixar gravar”, contou. Assim como em 1984, Washington pagou pelo uso das imagens dos índios. “É justo”, afirmou.

Para tentar resgatar a tradição, o jornalista disse que os Panará realizam trabalho de recuperação da língua, desenhos, histórias e mitos da etnia. A série Xingu – A Terra Ameaçada tem veiculação prevista para abril, na TV Cultura de São Paulo.

As informações são da Agência Brasil
http://odia.terra.com.br/brasil/htm/geral_75536.asp

Foto: © Copyright 2000-07, Rota Brasil Oeste

Thursday, January 04, 2007

"Em Direção ao Sul"

São Paulo, quinta-feira, 04 de janeiro de 2007
Folha Ilustrada, Folha S.P.


CONTARDO CALLIGARIS

"Em Direção ao Sul" A desigualdade produz, nas elites, a fantasia de estar num harém de corpos escravos

NO FIM de semana passado, São Paulo estava deserta.
Nos faróis, até a turma habitual de pedintes, saltimbancos e vendedores ambulantes era reduzida ao mínimo.
Na sexta à noite, mostrando a cidade a um turista europeu (meu conhecido), parei na esquina da Estados Unidos com a Nove de Julho. Uma moça, muito bonita e habilidosa, fez seus malabarismos só para nós. Dei-lhe alguns reais (merecidos) e lhe desejei feliz Ano Novo.
Meu hóspede fez um comentário que queria ser engraçado: "Poderíamos convidá-la para casa...".
Covardemente, reagi no estilo esperado (o do clube do Bolinha). Resmunguei "pois é...", num tom entre incerto e maroto.
Mais tarde, fui assistir a "Em Direção ao Sul", de Laurent Cantet, que estreava naquele dia. O filme (excelente) é inspirado em uma série de contos do haitiano Dany Laferrière ("Vers le Sud"). O pano de fundo é o Haiti dos anos 70: miséria e poder ilimitado da gangue de papa Doc.
Três mulheres brancas e maduras do hemisfério norte (duas americanas e uma canadense) passam suas férias num hotel na beira da praia; elas procuram o sol e, sobretudo, os garotos negros, que namoram e transam com elas e que elas pagam em dinheiro e presentes.
Numa cena do filme, as mulheres se perguntam por que não gostam tanto dos negros de seus países de origem. A pergunta vale para o turismo sexual em geral: por que ir tão longe? Afinal, nas cidades do primeiro mundo, há uma ampla escolha de amores à venda. A troca é mais barata no Haiti, no Brasil ou nas Filipinas, mas (considerando o custo da viagem) o argumento financeiro não se sustenta sozinho.
Os "tristes trópicos" de quem vive no terceiro mundo são a condição necessária para que existam os trópicos alegres do turista sexual. Mas a razão disso não é só econômica.
Explico. Na vida erótica, funciona uma espécie de proporção: para desejar sexualmente, é como se precisássemos, ao menos por um momento, despojar o outro de sua dignidade subjetiva, considerá-lo apenas como corpo. É por isso que, para alguns, é impossível desejar e amar o mesmo outro. É por isso que a maioria, na hora do sexo, não sussurra palavras de carinho, mas solta "injúrias" que rebaixam a parceira ou o parceiro, ou seja, que o transformam em carne entregue ao desejo. Nada de "meu anjo". Na cama, é "puta" e "cafajeste".
Nos lugares preferidos pelo turismo sexual, essa configuração banal da vida amorosa está, por assim dizer, realizada de antemão: o turista encontra sujeitos que já são reduzidos a seu corpo. Se não bastasse o passado colonial ou escravagista, a desigualdade brutal prepara os corpos tropicais para o festim do turista sexual. Laferrière, num outro livro ("La Chair du Maître", a carne do dono), escreve: "É simples: um pequeno grupo de pessoas possui, neste país, todo o dinheiro disponível.
Como se sabe, com o dinheiro dá para comprar tudo: os seres e as coisas". E os seres, nesse caso, podem se tornar objetos eróticos sem empecilhos: destituídos de cidadania, eles são, se não coisas, carne.
Por exemplo, Legba, o jovem negro que, no filme, é objeto de desejo das senhoras, pode ser uma espécie de felino que elas querem acariciar e mimar porque já foi transformado em bicho pela miséria social e política de seu país.
Com os negros do Norte, não é tão fácil. Certo, eles são descendentes de escravos e ainda assombram os sonhos sexuais das elites brancas do Norte, mas a diminuição da desigualdade e a conquista de direitos políticos efetivos os tornaram cidadãos. Para lidar com seus corpos, é necessário lidar também com suas pessoas.
Saindo do cinema, pensei no comentário de meu conhecido sobre a jovem malabarista de farol. Tanto faz que ele fosse europeu: o Brasil tem dois mundos suficientemente separados para que seja possível praticar turismo sexual sem sair do país. Pela força do passado e pela distribuição de riqueza que o preserva, somos divididos em gente e bichos, sujeitos e vira-latas que talvez seja possível levar para casa, oferecendo um biscoito.
Algo resiste ao fim de uma desigualdade que priva os desfavorecidos de cidadania e os reduz a seu corpo. E não são apenas dificuldades administrativas e econômicas. A desigualdade é também uma fonte, talvez envergonhada, de prazer erótico; ela alimenta, nas elites, a fantasia (apenas e mal reprimida) de estar, o tempo todo, num harém de corpos escravos.

Tuesday, January 02, 2007

Ano regido por Exu pode ter mudanças importantes


Orixá da comunicação em nada se assemelha ao diabo cristão, com quem é associado



Adriana Jacob

E se você soubesse que o ano de 2007 será regido pela divindade africana que mais se aproxima da personalidade humana? Houve quem estranhasse, mas a consulta ao ifá, feita nas primeiras horas do ano nos terreiros de candomblé, confirmou: Exu e Omolu vão mesmo guiar a vida dos mortais nos próximos 364 dias. Apelidado de Homem das Encruzilhadas, Exu costuma agir exatamente como os homens. Quando bem tratado, retribui com carinho e atenção, mas quando é contrariado, não há quem escape de suas traquinagens. O que pouca gente sabe é que o Senhor dos Caminhos, orixá da comunicação, em nada se assemelha ao diabo cristão, com quem é tão freqüentemente associado. Ao contrário, tem papel fundamental na dinâmica do universo e, por isso mesmo, impulsiona grandes transformações.

“A sociedade pode passar por transformações importantes neste período, já que Exu é um provocador de mudanças. É ele quem impulsiona a vida e cria as condições dialéticas necessárias para a existência”, afirma o antropólogo, professor universitário e babalorixá Júlio Braga. De acordo com essa visão, Exu seria o responsável por promover a percepção do contrário e mostrar o outro lado de uma questão.

“Exu não é apenas o orixá das encruzilhadas, mas o Senhor dos Caminhos, em um sentido mais amplo, que vai desde a circulação sangüínea, passando por tudo o que se movimenta, até as relações infinitas das esferas celestes no universo”, explica o historiador Jaime Sodré. “Logo, não se pode ter uma visão reducionista, de achar que ele é o diabo”, ressalta o pesquisador.

Equilíbrio - Conhecedora dos mistérios dos orixás, a egbomi Cici, uma das antigas mães do Terreiro Ilê Axé Opô Aganju, localizado em Lauro de Freitas, destaca que as pessoas devem ter atenção redobrada para a ligação de Exu com o equilíbrio.
“Pode ser um ano de muita confusão, já que Exu governa o equilíbrio. No mesmo instante em que você está no alto, você pode cair. No mesmo momento que está cercado de coisas positivas, podem aparecer outras negativas. Tudo vai depender do seu procedimento: é preciso ter cuidado com o que se fala, o que se faz e o que se pensa”, afirma. Como Exu está associado ao movimento cotidiano, seja nas feiras, nas festas ou mesmo nas ruas, de acordo com a egbommi Cici, é importante ouvir, a cada dia, com muito cuidado, a própria intuição. “Ele é o orixá mais similar ao ser humano, com todas as suas paixões, defeitos e qualidades”, sintetiza.

Talvez devido à polêmica que cerca a imagem do orixá, ainda é difícil ver, nas mais antigas casas de candomblé, iniciados que sejam filhos e filhas de Exu. Mas aqueles que têm o orixá como divindade protetora garantem que o Senhor dos Caminhos só lhes traz alegrias. “Tenho orgulho de ser filho de Exu. Logo que descobri, achei um pouco estranho, mas depois que tomei a decisão de ser iniciado, ele só me deu forças. Hoje, me sinto outra pessoa. E todos os que me ajudaram também tiveram prosperidade”, afirma o babalorixá Edgar Costa de Carvalho, 32 anos, o único filho de Exu do Terreiro Ilê Axé Opô Aganju.

Cheio de admiração pela divindade africana, Edgar acredita que 2007 será um ano de prosperidade, mas exigirá cuidados especiais. “Como Exu adora o movimento, ele deixa os caminhos abertos, então pode haver muita briga. Exu gosta de alegria e de barulho”, diz. Edgar compara o espírito do orixá ao de uma criança: “Se você der uma oferenda de coração, ele aceita. Mas cuidado com o que prometer, porque ele vai cobrar”.

Omolu - O Senhor dos Caminhos vai reinar em 2007 ao lado de Omolu, o Senhor da Terra, orixá associado às doenças. “Ele pode estar ligado às endemias, mas também atua como um condutor das curas, o que pode ser um prenúncio do fim de alguns males”, analisa Júlio Braga. “Como está ligado à terra, dominando a natureza, pode ser que este seja um período de fartura”, diz o babalorixá.

Já a egbommi Cici conta que a mitologia de Omolu, associada ao seu oriki, diz que ele é o único escultor da carne humana, dono de todos os tipos de doenças, inclusive as deformantes e viroses. “É ele que espalha essas doenças. As pessoas devem, então, tomar cuidado e ser precavidas. Também podem prestar oferendas para Oxalá, que atrai a calma, a paz e a tranqüilidade”, aconselha.

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JORGE AMADO

Amante dos mistérios da Bahia e do candomblé, Jorge Amado – e também artistas como Mário Cravo e Tati Moreno – se encantou com a personalidade de Exu. Para o orixá, escreveu: “Exu come tudo que a boca come, bebe cachaça, é um cavalheiro andante e um menino reinador. Gosta de balbúrdia, senhor dos caminhos, mensageiro dos deuses, correio dos orixás, um capeta. Por tudo isso sincretizaram-no com o diabo: em verdade ele é apenas um orixá do movimento, amigo de um bafafá, de uma confusão, mas, no fundo, uma excelente pessoa. De certa maneira, é o não onde só existe o sim; o contra em meio do a favor; o intrépido e o invencível”.

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Tradição foi criada no Brasil

A escolha de um orixá, inquice ou vodun para reger o ano não está entre as tradições herdadas da África. De acordo com pesquisadores, essa foi uma das modificações que a religião de matriz africana adotou para se adequar às necessidades do novo mundo. “A religião é dinâmica, evolui e adquire novos hábitos. Nas antigas casas, as pessoas não recorriam aos búzios para saber o orixá do ano, ele era regido pelo conjunto de orixás”, explica o historiador Jaime Sodré.

Na opinião do pesquisador, a demanda por previsões fez com que passasse a ser adotado o critério do dia da semana em que se iniciasse o ano para definir que divindades regeriam seus 12 meses. Dessa forma, se o ano começa por uma segunda-feira, seus regentes serão Exu e Omolu, orixás homenageados toda segunda. “Curiosamente, trata-se de uma influência do calendário gregoriano, já que a semana africana só tinha quatro dias”, diz Sodré.

Na opinião do antropólogo, professor e babalorixá Júlio Braga, o atual modelo foi uma solução encontrada para adequar os mais de cinco mil terreiros de candomblé à demanda por uma divindade que “governe” o ano. “Na África, absolutamente, isso não existe. Lá, há um orixá protetor para cada cidade: Oxum, em Osobgó, Iemanjá, em Agbeokutá, e Iansã em Irá, são alguns exemplos”, enumera o pesquisador, que viveu por dez anos no continente africano.

Para determinar o regente do ano, outros terreiros fazem o jogo no dia 1o de janeiro, independente da coincidência com o calendário. “Muitas vezes, considera-se que essas divindades vão reger apenas o espaço interno daquela casa e sua relação com o mundo, e não todo o país”, compara Jaime Sodré.

Os dois pesquisadores, entretanto, enfatizam o respeito às novas práticas, fruto da adequação da prática religiosa a uma nova realidade, espacial e temporal. “O elemento importante é que se colocou no cotidiano a possibilidade de uma maior veiculação das divindades africanas. É uma oportunidade de conhecer, com mais clareza e menos preconceitos, a natureza de cada orixá, inquice ou vodun”, afirma Jaime Sodré.

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MEDIADOR

O sistema religioso do candomblé está baseado na comunicação, através da troca do axé, que possibilita a harmonia da existência. A oferenda é o fator de equilíbrio, e todo desequilíbrio é recomposto por uma oferta. Como Exu é o mediador, é através dele que a oferta é levada ao orixá. Nesse sistema, Exu é a figura-chave, já que somente através dele pode acontecer a troca de axé. Todas as cerimônias religiosas do candomblé são iniciadas com o despacho a Exu. Trata-se de uma reverência, já que ele é o único capaz de abrir os caminhos para que homens e orixás possam se comunicar. Por isso, é ele que deve ser homenageado primeiro, em todas as festas, antes de qualquer outra divindade. Para a saudação aos outros orixás começar, é preciso contar com a proteção de Exu. Nas casas de nação Angola, Exu é chamado de Izila. Já na nação Jeje ele é Elegbara.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 02.01.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/noticia_impressao.asp?codigo=119717