Saturday, January 13, 2007

Aula de cultura afro

Estudantes americanos conhecem o Olodum, a Irmandade da Boa Morte e o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá

Perla Ribeiro

Teoria e prática devem caminhar sempre lado a lado. É sob esta perspectiva que um grupo de 25 estudantes americanos está em Salvador aprendendo como é possível reconstruir uma identidade racial. Como pano de fundo, a cultura afro e suas influências na sociedade local. Depois de conhecerem o trabalho do Olodum e visitar a Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, visitaram ontem, à tarde, o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá. Anfitriã da casa, Mãe Stella de Oxossi não estava presente. Ainda assim, circular pelas dependências do terreiro e conhecer o museu que conta os 96 anos de história do lugar causaram encantamento e despertaram a curiosidade dos estudantes.

O grupo é composto por estudantes das mais diversas áreas do conhecimento: sociologia, antropologia, história, entre outros. O intercâmbio é fruto de uma parceria entre o Hunter College e a Universidade do Salvador. Para alguns, a experiência representa uma oportunidade de reunir elementos para aprofundar os estudos. Para outros, o interesse é pessoal. “O programa visa na realidade mostrar que aqui está se tentando resgatar e reconstruir esta identidade africana”, explica a coordenadora de intercâmbio da Universidade do Salvador (Unifacs), Ligia Jacobsen.

Durante a visita ao terreiro, puderam conhecer as dependências externas das casas dos orixás, o Museu Ohun Lailai, viram os quadros ostentando as fotos das cinco matriarcas que ocuparam o posto de ialorixá da casa e puderam conhecer um pouco da história de luta e resistência do candomblé na Bahia. Para o coordenador do Hunter College em Salvador, James Cornell, a reconstrução da identidade racial no país tem uma abordagem diferente em termos de raça e cultura. “Para estes estudantes, o conceito de miscigenação e de sincretismo que existe aqui é algo completamente novo. Aqui, eles não vão ver a cultura afro em museus, mas na música, na dança, na cultura, no dia-a-dia do baiano”, diz.

Não só para os gringos, a Bahia desperta um olhar de desbravador. Mineira radicada em Nova York e uma das alunas do curso, Rosa Vilas Boas traduz a experiência como algo completamente novo. “É a primeira vez que venho à Bahia e para mim aqui é como outro país. Tem uma cultura e povo diferentes. O que mais me fascinou é o fato de vocês usarem a música e a religiosidade com meio de transformação social. É fantástico ver como o candomblé funciona como um meio de congregar as pessoas socialmente. Quando se fala em terreiro, a imagem que temos é como se fôssemos entrar na África”, afirma. As temáticas abordadas: religiosidade, políticas sociais, o negro na política, na literatura e, sobretudo, a cultura africana.

Em volta de insígnias de orixás, instrumentos musicais que vieram da África, a estudante de economia e políticas internacionais, Jéssica Raatz, que já tinha vivido um ano na Bahia, tinha um novo olhar sobre o lugar. “Vivi aqui durante um ano de intercâmbio, mas as experiências eram outras. Só queria saber de praia e festas e só agora estou tendo a oportunidade de aprofundar o estudo na cultura local”, disse. Entre os atrativos locais que mais lhe chamaram a atenção, ela aponta a calorosa receptividade do povo. “Aqui todos se abraçam, você se sente tão bem”, descreve a experiência, acrescentando que pretende no futuro trabalhar com o desenvolvimento político e poder colaborar para um estreitamento das relações entre os dois países.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 13.01.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/noticia_impressao.asp?codigo=120420

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