Friday, January 26, 2007

Etnias aproximadas

Povos indígenas visitam sede do Ilê Aiyê para traçar estratégias de integração com os negros

Cilene Brito

A associação entre os povos de herança africana e indígena não está apenas ligada à forte manutenção da ancestralidade, através dos traços culturais, religiosos e musicais. Embora tenham grande contribuição no processo de miscigenação da nação brasileira, ambos os povos ainda representam a parcela menos favorecida na sociedade. Um passo importante para a aproximação e parceria das duas raízes foi dado ontem durante a visita de indígenas das etnias baianas kiriri e pataxó, e do Centro-Oeste, xavante e karajá, à sede do bloco afro Ilê Aiyê, na Liberdade.

O encontro informal foi a primeira parada dos indígenas que estão em Salvador para apresentar o projeto Rito de Passagem, que tem como objetivo estreitar as relações entre os indígenas, negros e brancos, através das danças utilizadas em rituais de diferentes etnias. Promovido pelo Instituto das Tradições Indígenas (Ideti), o evento acontece de hoje a domingo, no Solar do Unhão, Avenida Contorno.

“Para nós, essa integração é muito importante. São dois povos diferentes que mantêm fortes traços da ancestralidade, mas que sofrem o mesmo processo de discriminação. Com essa visita, eles tiveram a oportunidade de ver que, apesar das dificuldades, é possível concretizar os objetivos”, afirmou o diretor do Ilê Aiyê, Roberto Rodrigues. Ele afirma que já se comprometeu em manter relação entre o bloco e os povos para fortalecer o processo de desenvolvimento das nações indígenas. “A troca de informações é importante para que eles vejam que, com muita luta, hoje estamos muito mais organizados. É uma oportunidade para diminuir as diferenças”, pontuou o presidente do afro do Curuzu, Vovô do Ilê.

Durante a visita, as tribos conheceram as instalações da Senzala do Barro Preto, onde funciona os projetos sociais do Ilê, e se mostraram motivados ao assistir a um vídeo que mostra a história da instituição. “Nós ficamos felizes e emocionados em ver que eles têm um projeto social que funciona e recebe muitos incentivos. Nós também temos alguns projetos, mas não recebemos apoio para continuar”, lamentou o presidente do Ideti, Jurandir Siridiwê, da tribo xavante.

Para a coordenadora cultural do Ideti, Ângela Pappiani, o encontro entre as duas etnias é importante para que sejam intensificadas as lutas pela criação de políticas públicas unificadas voltadas para minorias. “Quando há alguma política pública separada, os índios nunca são beneficiados. Através dessa união, eles estarão juntando forças e fortalecendo idéias”, considerou.

Proximidade–Criado há oito anos, durante a abertura das comemorações dos 500 anos do Brasil, o projeto Rito de Passagem já percorreu cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia, Brasília e Fortaleza. A escolha por Salvador se deu justamente pela proximidade dos traços culturais entre índios e afrodescendentes. Durante as apresentações, os povos indígenas pretendem abrir um importante canal de diálogo entre os demais povos, capazes de estabelecer um novo relacionamento e resultar numa maior compreensão sobre as diversidades culturais.

“Temos levado esse ritual de beleza das aldeias para diversas cidades, para mostrar que mesmo com todas as diferenças também podemos nos organizar. Os índios são patrimônio da cultura do Brasil e também merecem respeito’, diz Siridiwê. O xavante afirmou que existem hoje no Brasil 700 mil índios e 170 línguas distribuídos em 230 povos indígenas.

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Rito celebra transição de idades

Siridiwê alertou, no entanto, que as apresentações no Solar do Unhão não serão shows nem espetáculos, e sim um ritual importante para os indígenas, transportado do pátio cerimonial das aldeias para um espaço. Ele explica que a dança apresentada pelos índios é utilizada durante o ritual de passagem da adolescência para a fase adulta, que varia de idade para cada etnia. A dança é a última etapa de todo processo de transição.

Quando alcança uma determinada idade, os adolescentes são excluídos da vida em sociedade e ficam reclusos no meio da mata, onde recebem importantes ensinamentos dos índios mais velhos e experientes, sobre os segredos da vida na natureza e conhecimentos astronômicos. “O tempo de reclusão varia para cada etnia. Alguns ficam um ano, outros seis meses. No caso da xavante, o adolescente sai com 9 anos e só retorna com 17”, contou.

Durante os três dias do projeto, o público também poderá conhecer e adquirir artesanatos típicos das tribos, como bandejas de fibra trançada, bonecas de madeira, colares e pulseiras, acessórios feitos com sementes, cestas e cerâmicas, entre outros, na feira de artesanato aberta ao público no Solar do Unhão. Já o Ideti vai comercializar livros, documentários, postais temáticos, CDs e camisetas do instituto. Os ingressos estão à venda no local a partir das 16h. A inteira custa R$6, e a meia, R$3.

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Programação:

Hoje:
Das 9h às 11h – Visita ao Projeto Axé, no Pelourinho.
A partir das 16h – Feira de Artesanato Indígena no Solar do Unhão.
Às 20h – Apresentação do projeto Rito de Passagem no Solar do Unhão.

Amanhã
A partir das 16 – Feira de Artesanato Indígena no Solar do Unhão.
Às 20h – Apresentação do projeto Rito de Passagem no Solar do Unhão.

Domingo
A partir das 16 – Feira de Artesanato Indígena no Solar do Unhão.
Às 20h – Apresentação do projeto Rito de Passagem no Solar do Unhão.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 26.01.2006
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador
/noticia_impressao.asp?codigo=121221

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