Wednesday, January 10, 2007

Vida de mulheres indígenas estão sendo mostradas na internet

Vida de mulheres indígenas estão sendo mostradas na internet - 09/01/2007

Local: Rio Branco - AC

Fonte: Página 20

Link: http://www.pagina20.com.br/

Blog criado por uma organização de mulheres indígenas é considerado uma conquista de espaço

O artesanato, pinturas no corpo e as pajelanças são as imagens mais comuns às pessoas quando o assunto se refere aos índios, mas embora os mais de 18 mil índios das 16 etnias vivam, geralmente, distantes das cidade, as propostas e lutas das mulheres indígenas do Acre, sul e noroeste do Amazonas já podem ser vistas por qualquer um em qualquer parte do mundo pela internet.

É que a organização das mulheres indígenas, Sitoakore, criou blog através do qual vem divulgando suas propostas e denúncias sobre a situação de descaso com que elas ainda são tratadas nas aldeias e até mesmo pelas autoridades públicas que, na maioria dos casos, dirigem suas ações muito mais para os homens e raramente às mulheres das comunidades atendidas.

O blog, é sim, um campo de luta por espaço, não pelo espaço dos homens, mas o espaço que existe e é merecido pelas mulheres indígenas que são mães, filhas e avós, agricultoras, tecelãs, matriarcas de todos os povos da terra.

“Neste blog estamos contando nossos trabalhos e a história de nossas lutas, mostramos nossa arte, fazemos proposta, pedimos ajuda e nos ajudamos umas às outras. Discutimos as necessidades das aldeias com o objetivo de contribuir e influência a formação de políticas públicas que também estejam voltadas para as mulheres indígenas”, esclarece Letícia Yawanawá presidente da Sitoakore, organização não governamental que representa as mulheres indígenas do Acre, noroeste de Rondônia e Sul do Amazonas.

A líder esclarece que o blog foi criado com o apoio da Secretaria Extraordinária de Mulheres e que vem surtindo bons resultados tanto na divulgação de sua luta, o que rende novos aliados interessados em contribuir para a solução de seus problemas. “Um problema preocupante é o fato de que existem muito mais treinamentos e cursos voltados para preparar os homens do que as mulheres nas aldeias. Por isso, nós mesmas temos nos preocupado em firmar parcerias com a Secretaria da Mulher, a da Saúde e Funasa para levar orientação às nossas companheiras na floresta”.

Ao longo do ano passado realizaram treinamentos para as parteiras tradicionais em Jordão e Cruzeiro do Sul, para os kaxarari de Rondônia e apurinãs de Boca do Acre, jaminawa e machineris de Assis Brasil. Lamentam que a participação das mulheres madijas (kulina) e ashaninkas (kampa) sejam as menores.

“Nosso objetivo com este ripo de treinamento, é o de diminuir a morte de mulheres durante os trabalhos de parto, como também a mortalidade infantil causadas por doenças que poderiam ser evitadas a partir de orientações simples”, explica Letícia para então esclarecer que: “Se ainda há violência contra mulheres que vivem nas cidades e há dificuldade para controlar esse problema na zona rural, também nas aldeias isso é um assunto grave e que merece atenção”.

Esse trabalho é realizado numa parceria com o governo Estadual e VigiSus. Neste início de ano estarão sendo realizados treinamentos para os madija do Alto Purus e kaxinawas da aldeia Porto Rico.

Violência cultural

Mais de 400 parteiras, agentes de saúde e pajés receberam os treinamentos oferecidos pela Sitoakore ao longo do ano de 2006. “A idéia é garantir segurança no parto tradicional ao acrescentar técnicas fundamentais de higiene e saúde. O problema é que o sistema de saúde não reconhece nossas parteiras nem os conhecimentos do pajé, mas ele é o nosso médico. São pessoas que sempre contribuíram e continuam contribuindo para nossa sobrevivência e à sobrevivência de nossa cultura”.

Uma das situações flagrantes disso é o fato de que as instituições públicas chamam os professores, as parteiras ou os agentes de saúde para participar dos treinamentos, mas não os pajés, os quais, são tratados como coisa do passado. “Esse comportamento cria uma separação de classe que não existe na sociedade indígena, até porque quando estão doentes física ou espiritualmente, a primeira pessoa que chamam é o pajé para aconselhar, se ele tiver sido treinado vai indicar a parteira ou o agente de saúde para atender o problema e todos continuarão sendo respeitados igualmente dentro da comunidade. O pajé precisa ser valorizado porque tem conhecimentos importantes que precisam ser repassados para os jovens e as mulheres”. Desbafa.

Outra forma de violência sofrida pelas mulheres indígenas acontece de maneira dissimulada e que compromete a continuidade de sua própria cultura. “São as mulheres que cuidam do roçado, fazem a comida, colhem o algodão e as sementes, tingem os fios e fazem o artesanato que acaba sendo comprado por atravessadores que pagam o que bem entendem, desvalorizando o trabalho delas. Isto vem fazendo com que muitas abandonem sua arte tradicional”.

Como solução alternativa, a sala de entrada da Sitoakore virou um improviso de loja de artesanato onde são expostas peças das várias etnias indígenas do Acre. “O artesanato é uma forma de contar e preservar nossa arte, nossa história e a nossa cultura. Os kaxinawás e ashaninka se destacam pela tecelagem, os jamamadi e marubo pela sua cerâmica. Os kaxinawá e os yawanawa também se destacam pelas armas e pelos desenhos que identificam nossos povos. Todos fazem muitos colares e adornos, mas são os apurinãs que se destacam pela quantidade e os marubo pela identidade e beleza das peças feitas com produtos da natureza”.


Juracy Xangai
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