Sunday, December 03, 2006

Festival de Alaiandê Xirê

Festival reúne as diversas religiões de matriz africana

Flávio Costa

No encerramento do Festival de Alaiandê Xirê, que reúne sacerdortes músicos das três nações de candomblê – queto, angola e jeje – será realizada a mesa-redonda As diferentes origens dos povos bantos, com especialistas no assunto. Logo após, ocorrerá a cerimônia de “dobrar os couros (homenagear)” o Terreiro do Bate Folha, onde se realiza o evento. Ontem, no segundo dia do festival, houve uma outra mesa-redonda, na qual se debateu a importância histórica do terreiro da Nação de Angola, fundado há 90 anos por Manuel Bernardino da Paixão. Além disso, as delegações de alabês (queto), xicarangomas (angola) e runtós (jeje) apresentaram os toques característicos de cada orixá ou inquices para o público presente.

Além de visar a congregação das diversas religiões de matriz afro-brasileira e reunir festivamente os mestres tocadores dos ritmos africanos, o festival se propõe a debater sobre temas ligados à africanidade. Um exemplo é a temática de hoje: a origem dos povos bantos. Esse povo, habitante da África Meridional, é representado por pessoas que falam entre 700 e duas mil línguas aparentadas, estendendo-se para o sul, logo abaixo dos limites sudaneses, até o Cabo da Boa Esperança, compreendendo as terras que vão do Atlântico ao Índico.

Os bantos trazidos para o Brasil na época da escravidão eram falantes de várias dessas línguas, principalmente da língua quilongo, falada em Congo, Cabinda e em Angola; o quimbundo, falado em Angola acima do Rio Cuanza e ao redor de Luanda; e o umbundo, falado em Angola, abaixo do rio Cuanza e na região de Benguela. Para o coordenador da mesa-redonda de hoje, o médico Luis Austregésilo Barbosa, os bantos prestaram uma contribuição decisiva para a formação da cultura popular brasileira. “A influência pode se averiguar nas próprias práticas religiosas da cultura afro-brasileira”. A nação de candomblé congo/angola é descendente direto da cultura banto.

Na manhã de ontem, o debate ocorreu sobre os 90 anos de existência do terreiro do Bate Folha, que é um candomblé de angola. O coordenador da mesa-redonda, o advogado Florivaldo Cajé, foi taxativo ao falar sobre o local. “Trata-se, sem dúvida alguma, do mais importante candomblé de angola de Salvador, e da Bahia”. Já a comandante do terreiro, a nengua guanguacessy, dona Olga se diz honrada em sediar o Alaiandê Xirê. “Considero uma celebração da união e de paz entre os povos de candomblé”, disse Dona Olfa, que afirmou também estar contente com o aumento do respeito da sociedade em relações às pessoas ligadas às religiões afro-brasileiras.

Para o ogã Gilberto de Exu, membro do terreiro Ilê Ya Mi Oxum Muiywá localizado na cidade de São Paulo, o Alaiandê Xiré é uma forma de valorizar uma classe esquecida dentro do candomblé – os sacerdortes músicos. “Este festival vem dar visibilidade a um grupo no candomblé, que recebeu pouca atenção graças aos brilhos dos babalorixas e ialorixás. Mas a música na religião afro-brasileira tem uma importância crucial, este evento vem lembrar este detalhe”.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 03.12.2006
www.correiodabahia.com.br

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