Festival reúne as diversas religiões de matriz africana
Flávio Costa
No encerramento do Festival de Alaiandê Xirê, que reúne sacerdortes músicos das três nações de candomblê – queto, angola e jeje – será realizada a mesa-redonda As diferentes origens dos povos bantos, com especialistas no assunto. Logo após, ocorrerá a cerimônia de “dobrar os couros (homenagear)” o Terreiro do Bate Folha, onde se realiza o evento. Ontem, no segundo dia do festival, houve uma outra mesa-redonda, na qual se debateu a importância histórica do terreiro da Nação de Angola, fundado há 90 anos por Manuel Bernardino da Paixão. Além disso, as delegações de alabês (queto), xicarangomas (angola) e runtós (jeje) apresentaram os toques característicos de cada orixá ou inquices para o público presente.
Além de visar a congregação das diversas religiões de matriz afro-brasileira e reunir festivamente os mestres tocadores dos ritmos africanos, o festival se propõe a debater sobre temas ligados à africanidade. Um exemplo é a temática de hoje: a origem dos povos bantos. Esse povo, habitante da África Meridional, é representado por pessoas que falam entre 700 e duas mil línguas aparentadas, estendendo-se para o sul, logo abaixo dos limites sudaneses, até o Cabo da Boa Esperança, compreendendo as terras que vão do Atlântico ao Índico.
Os bantos trazidos para o Brasil na época da escravidão eram falantes de várias dessas línguas, principalmente da língua quilongo, falada em Congo, Cabinda e em Angola; o quimbundo, falado em Angola acima do Rio Cuanza e ao redor de Luanda; e o umbundo, falado em Angola, abaixo do rio Cuanza e na região de Benguela. Para o coordenador da mesa-redonda de hoje, o médico Luis Austregésilo Barbosa, os bantos prestaram uma contribuição decisiva para a formação da cultura popular brasileira. “A influência pode se averiguar nas próprias práticas religiosas da cultura afro-brasileira”. A nação de candomblé congo/angola é descendente direto da cultura banto.
Na manhã de ontem, o debate ocorreu sobre os 90 anos de existência do terreiro do Bate Folha, que é um candomblé de angola. O coordenador da mesa-redonda, o advogado Florivaldo Cajé, foi taxativo ao falar sobre o local. “Trata-se, sem dúvida alguma, do mais importante candomblé de angola de Salvador, e da Bahia”. Já a comandante do terreiro, a nengua guanguacessy, dona Olga se diz honrada em sediar o Alaiandê Xirê. “Considero uma celebração da união e de paz entre os povos de candomblé”, disse Dona Olfa, que afirmou também estar contente com o aumento do respeito da sociedade em relações às pessoas ligadas às religiões afro-brasileiras.
Para o ogã Gilberto de Exu, membro do terreiro Ilê Ya Mi Oxum Muiywá localizado na cidade de São Paulo, o Alaiandê Xiré é uma forma de valorizar uma classe esquecida dentro do candomblé – os sacerdortes músicos. “Este festival vem dar visibilidade a um grupo no candomblé, que recebeu pouca atenção graças aos brilhos dos babalorixas e ialorixás. Mas a música na religião afro-brasileira tem uma importância crucial, este evento vem lembrar este detalhe”.
Aqui Salvador, Correio da Bahia, 03.12.2006
www.correiodabahia.com.br
Sunday, December 03, 2006
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