Saturday, April 14, 2007

Índios fazem protesto contra transposição do São Francisco

Representantes de 41 tribos param tráfego em Paulo Afonso




A rejeição do projeto de transposição do Rio São Francisco se juntará à tradicional revindicação pela terra no acampamento indigenista Terra Livre, entre os próximos dias 16 a 19. A posição dos índios das 41 tribos que habitam a Bacia do Velho Chico foi reafirmada publicamente ontem, numa manifestação em Paulo Afonso que reuniu cerca de 300 índios. Na próxima semana, protestos serão realizados por toda a Bahia no chamado Abril Vermelho, promovido pelo MST.

De acordo com Roberto Saraíva, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os índios são contrários à transposição – um projeto do Ministério da Integração Nacional – porque a obra vai gerar danos ambientais, sociais e culturais aos indígenas, como a inundação de terras trukás em Pernambuco. Há um entendimento nas etnias da bacia que o projeto prejudica as demarcações de terra em andamento.

“É um momento crucial. Enquanto o governo insiste com a truculência de fazer a transposição, as etnias se únem contra o projeto”, avaliou Alzeni Thomaz, da Comissão Pastoral dos Pescadores (CPP). Participante da manifestação em Paulo Afonso, ela disse que o ato foi pacífico, ao contrário do que aconteceu no final de fevereiro, em Jauzeiro, quando parte dos manifestantes tiveram que seguir a pé por cerca de cinco quilômetros.

“Estava acontecendo uma troca de comando”, brinca Alzeni Thomaz. “Não queríamos mesmo conflitos. Quando a polícia apareceu, fomos embora”. Vindos do Terra Toré – ato indígena preparatório para grandes manifestações – os 300 índios ocuparam uma ponte em Paulo Afonso. Após a mobilização na Bahia, a comitiva de seis ônibus seguiu viagem para o Distrito Federal. O Terra Toré foi sediado em Carnaúba da Penha (PE), nas terras dos pankararés.

Paulo Afonso (BA) foi escolhida para a manifestação por causa do complexo de quatro hidrelétrica da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) instalado na cidade. Além de contrários à transposição, os povos indígenas não aceitam negociar compensações com o governo federal e desconfiam das recentes investidas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na região. Segundo Roberto Saraiva, como os canais do projeto atravessam tribos, os índios atingidos ou serão removidos ou terão que abrir mão de parte dos seus territórios. Na última quarta-feira, representantes do Ibama procuraram as lideranças dos pipipãs e foram levados a Carnaubeira da Penha para dar maiores explicações.

“A transposição tem projetos paralelos, como duas hidrelétricas, que também vão trazer impactos, principalmente aos trukás e aos tumbalalás, na Bahia”, disse o representante da Cimi, que confirmou a disposição dos índios de aderir a protestos que o conjunto de entidades e movimentos antitransposição pretendem fazer nos canteiros, caso as obras sejam iniciadas.

Fonte, Poder, Correio da Bahia, 14.04.2007
http://www.correiodabahia.com.br/poder/
noticia_impressao.asp?codigo=126271

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