Wednesday, September 27, 2006

Antonia - O filme



O filme "Antonia" da cineasta Tata Amaral teve sua primeira exibição na semana passada no Festival Internacional de Cinema, em Toronto (Canadá), o longa da cineasta fala sobre o universo feminino dentro do Hip Hop a partir de quatro meninas negras da periferia de São Paulo, que são interpretadas por Negra Li (Preta), Cindy (Lena), Leilah Moreno (Barbarah) e Quelynah (Mayah)...
Segundo saiu ontem na Folha de S.Paulo (13/09), o publico aplaudiu de pé após a apresentação.
ANTONIA será lançado aqui no Brasil no começo do ano que vem, mas antes disso estreia na TV Globo como seriado, as gravações estão acontecendo e além das 4 garotas protagonistas, o filme conta também com o rapper Thaide.
É aguardar para conferir o filme e o seriado, sucesso a todos envolvidos.

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Antonia
(Antonia, Brasil, 2007)

Gênero: Drama
Duração: 90 min
Tipo: Longa-metragem / Colorido
Distribuidora: Downtown Filmes
Produtora(s): Coração da Selva

Diretor(es): Tata Amaral
Roteirista(s): Tata Amaral, Roberto Moreira

Elenco: Chico Andrade, Barão, Cindy, Nathalye Cris, Valney Damasceno, Ezequiel da Silva, Thobias da Vai-Vai, Sandra de Sá

Sinopse
''Antonia'' é um grupo de rap formado por Preta, Bárbarah, Mayah e Lena, que moram na Vila Brasilândia, zona norte de São Paulo. Elas se conhecem desde pequenas e têm o sonho de viver de música. O filme conta a batalha dessas mulheres negras e pobres da periferia para sobreviver num ambiente musical dominado pelos homens.

Estréia em 09.02.2007
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audiovisual
FILMAGENS

A rima feminina na tela
Por Alan de Faria


MC Cindy, Leilah Moreno e Negra Li durante filmagem de "Antônia", de Tata Amaral
Marcelo Vigneron/Divulgação

“Antônia”, novo filme de Tata Amaral, conta a trajetória de um grupo de rap formado apenas por mulheres

Pouco tempo atrás o movimento hip hop rompeu as barreiras da periferia e chegou aos centros e aos bairros mais ricos das grandes cidades brasileiras através de suas músicas, como “Diário de um Detento”, dos Racionais MC’s, e “Qual é”, de Marcelo D2. Agora será a vez de o cinema dar exibir essa cultura. No lugar, porém, de vozes masculinas em primeiro plano, serão as mulheres que ditarão o ritmo das rimas a cada cena de “Antônia”, o mais novo filme da diretora Tata Amaral.

“Antônia” vai contar a história de um grupo de quatro garotas da periferia de São Paulo que tentam sobreviver cantando rap. Para fazerem isso, elas lutam contra o preconceito e o machismo que existem dentro da cultura hip hop.

Tata conta que a idéia de um longa-metragem que abordasse a juventude da periferia surgiu em 1998, quando o jornalista Altair Moreira a convidou para realizar uma filme sobre a cena do hip hop no ABC. Em 2001, persistindo no mesmo tema, ela e Francisco César Filho dirigiram o videodocumentário “Vinte Dez”. Enquanto fazia o filme, Tata escreveu o primeiro tratamento de “Antônia”.

Não será a primeira vez que o hip hop estará nas telas do cinema brasileiro. No documentário “Fala Tu”, de Guilherme Coelho, e no longa “Como uma Onda no Ar”, de Helvécio Ratton, a realidade de quem vive da música rap foi mostrada direta ou indiretamente. Para Tata, o fato de os filmes terem em comum a periferia não quer dizer que sejam iguais. “Não me preocupo em diferenciar ‘Antônia’ de ‘Como uma onda no ar’ ou de ‘Fala Tu’, mas em fazer o filme que eu quero fazer, contar a história que eu quero contar, sem necessidade de ser definitiva”, diz.


As palavras certas do rap

Para “Antônia”, Tata Amaral, diferentemente dos outros filmes que realizou (os premiados “Um Céu de Estrelas” e “Através da Janela”), escolheu trabalhar basicamente com atores não-profissionais. “A escolha se deu, em primeiro lugar, por um desejo meu de trabalhar com improvisações. Depois que escrevi o primeiro tratamento e decidi que o filme iria tratar do universo musical, determinei que iria filmar com jovens músicos”, diz. Ela ainda conta que foi influenciada pelo trabalho feito no filme “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, com atores iniciantes, que viviam em ambientes parecidos aos dos personagens.

Com esse objetivo, Tata foi atrás das palavras que poderiam resultar em uma boa rima para seu filme e escolheu Negra Li, Leilah Moreno, Cindy e Quelynah -meninas da cena hip hop brasileira- para serem as protagonistas de “Antônia”.

Negra Li, que vive a personagem Preta, diz que vai carregar para o resto da vida a experiência de atuar em um longa. “Participar de um filme era algo que eu sempre quis, mas que não pensava que ia acontecer tão cedo”, diz.

Quelynah (que faz a personagem Mayah, em homenagem à sua filha, no filme) nunca tinha pensado em fazer cinema. Já Leilah Moreno conta que ficou surpresa ao saber que havia sido selecionada para o papel de Bárbara. “Fui chamada para fazer o teste. Nem sabia o que era direito. Fiz testes para o papel durante três meses e fui passando, passando, até a Tata dizer que eu seria umas das quatro protagonistas.” Ela ainda diz que a família e os amigos só acreditaram que iria fazer um filme quando sua mãe também foi convidada para um teste e passou. “Minha mãe faz parte do coral da personagem da Sandra de Sá”, diz.

Tata revela que o seu modo de dirigir muda bastante pelo fato de trabalhar com atores não-profissionais. “Não dá para marcá-los como se fossem atores profissionais. No entanto, o trabalho de compressão, de construção, de apropriação, de vivência que todo ator deve fazer em relação aos personagens que encarnam é o mesmo.” As meninas estão juntas desde outubro de 2004, e Tata garante que já considera todas elas atrizes.


O rap canta a verdade

Pelo fato de elas pertencerem à cena hip hop e o filme narrar a história de meninas que buscam a realização profissional e pessoal no rap, Negra Li e companhia contam que, durante algumas cenas de “Antônia”, parecem estar representando as suas próprias vidas. “É quase uma autobiografia”, diz Negra Li. Para ela, a única diferença é que desde que entrou no movimento hip hop, há nove anos, não tinha convivido com mulheres.

Cindy, que interpreta Lena, pensa que sua personagem apresenta algumas características parecidas. “A Lena é aquela que sempre está levando a bandeira do canto falado e isso é algo que eu sempre faço.” Aliás, essa mistura realidade-ficção era uma das intenções da diretora: “A idéia foi trazer para o filme o frescor da realidade dos atores, encarnando personagens que têm muito a ver com sua trajetória”. Mas Tata pondera: “Não se pode esquecer que o filme é uma representação, não é um documentário, nem uma reportagem”.

Essa semelhança da vida real com a ficção, pelo menos no início, confundiu a cabeça de algumas atrizes do filme. Quelynah diz que realizou várias cenas em que ela parecia mais consigo mesma do que com a sua personagem, Mayah. “Até cheguei a pensar que estava desvirtuando as idéias, que estava interpretando errado, que estava misturando. Me perguntava: ‘estou sendo eu? Será que é para eu não ser eu?’.”

Outra dificuldade para Quelynah, que é cantora e bailarina, foi a câmera. Ela diz que “é difícil você estar com uma pessoa ao seu lado e ter que imaginar que essa pessoa não está lá. Tive dificuldade de não olhar para a câmera”.

Já para Negra Li uma cena em especial foi muito complicada: a de um beijo. “Foi um desafio bacana, mas foi uma experiência que fiz, olhei, não pretendo fazer mais”, diz. Por conta dessa cena, seu namorado terminou o relacionamento. Mas Negra Li já o reconquistou e os dois estão juntos novamente.

A personagem de Cindy também tem que beijar um cara, mas para ela isso não é problema algum. “É lógico que é difícil beijar uma pessoa que você não gosta, que você não ama, mas para dar vida à sua personagem você tem que fazer! Na hora, como um ‘plin’’, eu esqueço a Cindy e dou uma vida para a Lena.”

De acordo com Cindy, sua maior dificuldade é tornar verdadeiras situações pelas quais nunca passou na vida, como uma gravidez precoce (sua personagem fica grávida e tem que contar ao namorado). “Foi muito difícil, pois nunca passei por isso, mas foi muito prazeroso. Quando você termina de fazer a cena e vê a felicidade da Tata, é gratificante. É como se ganhasse o Oscar”, diz.


Paciência para compor

No último dia 4 de março, estive na Vila Brasilândia, zona norte da cidade de São Paulo, para acompanhar as filmagens de “Antônia”. Eram um pouco mais das dez da manhã, quando cheguei ao Centro Educacional Esportivo da Vila Brasilândia, um conjunto formado por um pequeno ginásio e uma quadra descoberta, onde as cenas do dia seriam gravadas.

Reunidos desde as primeiras horas da manhã, Tata, os atores e a equipe se preparavam para filmar a cena de um jogo de futebol entre jovens da comunidade. Além dos atores Ezequiel (Robinho) e Chico Andrade (Duda), alguns garotos da própria Brasilândia participaram da cena como figurantes.

Júlia Campos, produtora de figurantes do filme e moradora da Vila Brasilândia, conta que “o pessoal do bairro tem tratado a equipe de filmagem com enorme respeito”. Tata confirma: “A receptividade tem sido maravilhosa. A Brasilândia é muito acolhedora”.

À uma hora da tarde, a equipe e os atores decidiram almoçar. Era apenas uma pausa, pois uma outra cena ainda precisava ser gravada. Em duas vans, foram todos para a base operacional do filme, localizada a uns dez minutos do Centro Esportivo da Brasilândia. Lá, foi servido o almoço.

Nesse momento, todos se misturavam. Atores, a diretora Tata Amaral, a produção do filme, assistentes e estagiários sentavam juntos em uma garagem e se alimentavam de carne, macarrão, salada, arroz e feijão. Alguns moradores da Brasilândia passavam e cumprimentavam a equipe.

Entre essas pessoas, estava a mãe de Negra Li, moradora da Brasilândia, que nessas semanas de gravação tinha ganhado três hóspedes: Leilah, Quelynah e Cindy passaram a morar em sua casa. “A produção tinha pensado em deixar as meninas em um hotel, mas aqui na Brasilândia não tem. Então, meu irmão e eu demos a idéia de as meninas ficarem em um cômodo que estou montando em casa, mas que está sem móveis ainda. A produção arranjou beliches e elas estão ficando por lá”, conta Negra Li, que está curtindo a companhia das companheiras de filme.

Duas e meia da tarde, todos voltaram para o Centro Esportivo da Brasilândia. Era a hora de filmar a última cena do dia: o ensaio das meninas do grupo dentro do ginásio. Enquanto a equipe arrumava o cenário e ajustava a câmera e o som direto, Negra Li e Cindy se maquiavam, Leilah se concentrava e Quelynah brincava com a menina Nathalie Lourenço, de quatro anos, que interpreta a filha de Negra Li em “Antônia”.

Cenário arrumado, equipe em seus lugares, três horas da tarde. Tata começa a dizer às meninas onde devem se posicionar e para onde devem ir no decorrer da cena. O primeiro “som, câmera, ação” da tarde é dito. Mas Tata quer repetir a cena e pede atenção para as meninas não falarem ao mesmo tempo.

Alguns outros problemas fazem com que a gravação seja interrompida. O filme da câmera é trocado, nuvens tampam a luz do sol, necessária para a cena, e o barulho externo, provocado por um jogo de futebol na quadra, atrapalha a captação de som dentro do ginásio.

Tudo é feito com muito cuidado e nada passa despercebido: desde um objeto que não faz parte da cena até a ação de uma das atrizes que não seria captada, mas que foi percebida pela diretora e passa a ser focalizada pela câmera. Definitivamente, o cinema é a arte da espera e da observação.

PS: Além de Negra Li, Quelynah, Leilah Moreno e Cindy, “Antônia” tem no elenco Sandra de Sá, Thaíde, Thobias da Vai- Vai, Kamau, Chico Andrade, Ezequiel, Macário, entres outros. O diretor de fotografia é Jacob Samento Solitrenick. A montagem está a cargo de Idê Lacreta. O filme conta ainda com Rafael Ronconi (direção de arte) e Sérgio Penna (preparação de elenco), entre outros. A data de estréia do filme ainda não está definida.

link-se

Tata Amaral entrevista Fernando Meirelles - http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/1605,1.shl

Namoro zen: Antônia e Negão, um conto de Tata Amaral - http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/1676,1.shl

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Alan de Faria
É jornalista.
http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2554,1.shl

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