Sunday, September 03, 2006

Ato da Central de Favelas com Lula vira comício


Dimmi Amora e Paula Autran  RIO. Em tom de comício, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou de um evento da Central Única de Favelas (Cufa) ontem à tarde, na escola de samba Mocidade Unida de Jacarepaguá, na Cidade de Deus, com a presença de artistas, oito ministros e do candidato ao governo estadual do Rio pelo PT, Vladimir Palmeira. Apesar de os organizadores terem dito que não seria um evento de campanha e apoio ao candidato, havia uma estrutura de comício montada, e os próprios organizadores pediram votos ao presidente.

Lula discursou por 20 minutos, e evitou se comprometer com as reivindicações de uma carta-compromisso entregue pela Cufa no evento. Seis jovens de programas sociais do governo, incluindo três de outros estados, deram testemunhos e pediram votos a Lula.

Durante o discurso, Lula usa novo boné dado por MV Bill A rapper Nega Gizza abriu o evento, chamando um grupo de grafiteiros da Cufa, que entregaram um quadro ao presidente com sua imagem grafitada. No palco, o rapper MV Bill, um dos fundadores da Cufa, pediu ao presidente atenção especial a dois pontos da carta: redução da violência policial contra jovens da periferia e cotas raciais nas universidades. MV Bill repetiu o gesto que fez ao se encontrar com o presidente no Palácio da Alvorada em 2004, quando deu a ele um boné: entregou outro boné a Lula, com a inscrição “100% Favela”, que o presidente usou no discurso.

Ao lado dos ministros Dilma Roussef, Luiz Dulci, Tarso Genro, Mares Guia, Celso Amorim, Gilberto Gil, Matilde Ribeiro e Orlando Silva Jr., Lula enfocou a educação em seu discurso: — Construir sala de aula é mais barato que cela de cadeia.

É mais barato cuidar do jovem estudando do que do Fernandinho Beira-Mar. Nosso compromisso é com a educação.

Lula criticou o governo anterior, dizendo que em 1998 Fernando Henrique sancionou uma lei passando a estados e municípios a responsabilidade pelas escolas técnicas. Ele disse ter conseguido a revogação da lei e, até dezembro, entregará 32 destas escolas. Mais uma vez, usou um exemplo de sua vida para justificar a medida: — Tenho oito irmãos e fui o único que tive profissão. Por isto, fui o primeiro a ter casa própria, carro e TV, e a ganhar mais de um salário mínimo.

Leci Brandão, Cidade Negra, Otto, Dudu Nobre, Rappin Hood e Rômulo Costa foram alguns dos artistas presentes.

Mais aplaudida que Lula — que não teve uma recepção das mais calorosas do público — Leci, integrante do conselho Nacional de Igualdade Racial, defendeu a política de cotas e pediu que a polícia “não mate tantos jovens negros”.

Otto, que também foi ao encontro de artistas com o presidente na casa do ministro Gilberto Gil há cerca de duas semanas, disse ser “fã de Lula”.

— Mais um mandato vai ser justo — afirmou o cantor, antes de comentar as declarações de Wagner Tiso e Paulo Betti na saída do evento com Gil, sobre a ética no governo PT. — Eles tiveram azar nas declarações, mas cada um tem que fazer seu próprio julgamento. Já acompanhei vários governos e nenhum saiu ileso. Neste momento, acho que Lula é a melhor opção.

Antes do início do evento, MV Bill explicou que todos os quatro principais candidatos à presidência foram convidados pela Cufa para ouvirem as reivindicações dos jovens das periferias.

Geraldo Alckmin (PSDB) já confirmou presença para o próximo dia 23. O rapper afirmou que houve avanços no diálogo entre o presidente e as entidades de cultura da periferia desde seu encontro com Lula, em 2004: — Mas a carta que entregamos a Lula mostra que é preciso avançar muito mais.  ARTISTAS LIGADOS ao movimento negro acompanham o evento.

O Globo Digital, 03.09.2006
http://www.experimenteoglobo.com.br/flip/

Na Foto: O Rapper MBVILL, Fundador do Cufa (Central Única de Favelas)

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