Friday, September 15, 2006

Questão racial é tema de encontro na Uneb

Cilene Brito

A implantação da política de cotas em universidades públicas foi uma das principais ações afirmativas voltadas para os afrodescendentes, nos últimos anos. Embora a reserva de vagas para segmentos específicos da população tenha representado maior oportunidade de ingresso nas instituições de nível superior, apenas 30 unidades, em todo o país, já adotaram o sistema. A luta de entidades ligadas à questão racial para ampliação das políticas de cotas foi um dos alvos das discussões do IV Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros (IV Copene), que acontece no campus I da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), no Cabula.

O evento foi aberto na noite de anteontem e prossegue até amanhã, reunindo cerca de 1.500 pessoas entre palestrantes estrangeiros, intelectuais e estudantes de várias regiões do Brasil. O encontro, promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (Abpn), tem o apoio dos ministérios da Educação e Cultura e visa ampliar as discussões sobre as atividades de pesquisa e intercâmbio em torno das temáticas étnico-raciais. O tema deste ano é O Brasil negro e suas africanidades: produção e transmissão de conhecimentos.

De acordo com o presidente do congresso e vice-presidente da Abpn, o pró-reitor de Pesquisa e Ensino de Pós-Graduação da Uneb, Wilson Roberto de Mattos, o evento tem o propósito de reunir pesquisadores de várias áreas de conhecimento para possibilitar a troca de experiências e a articulação das pesquisas de questões raciais. “O encontro é uma possibilidade de poder sistematizar as pesquisas e aumentar a sua eficácia junto às agências de fomento à pesquisa”, afirmou.

O pró-reitor salienta que uma das principais discussões é em favor da aprovação do Projeto de Lei 3.198/00, que cria o Estatuto da Igualdade Racial e prevê que pelo menos 20% das vagas de universidades públicas sejam destinadas à população negra. Ele afirma que estudos realizados nas universidades que adotam o sistema de cotas, sobre o desempenho dos estudantes, apontaram que os cotistas demonstraram, em algumas instituições, rendimento igual ou superior aos não-cotistas. “Isso demonstra que o nível das instituições não caiu como muitos diziam”, afirmou.

Segundo o professor Nilo Rosa, da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), além da reserva de vagas para afrodescendentes em universidades públicas, as discussões serão ampliadas para a políticas de cotas em serviços públicos. “Não há nenhuma estatística que comprove a desvantagem dos negros nos serviços públicos, mas a situação é evidente. Assim como os estudantes negros encontram barreiras para ingressar nas instituições de nível superior, há também grande desvantagem na concorrência de uma vaga de emprego, principalmente nos maiores cargos”, afirmou.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 15.09.2006 - www.correiodabahia.com.br

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