Wednesday, February 14, 2007

Do reggae, um salto para o fado

Do reggae, um salto para o fado

Peter Barcelos

Chico Buarque, Caetano Veloso, Chico Anysio e agora Toni Garrido. O vocalista do Cidade Negra é o mais recente integrante brasileiro de Fados, o novo filme do celebrado diretor espanhol Carlos Saura - autor dos clássicos Carmem, Sevillanas, Flamenco, Tango no me dejes nunca e Salomé. O novo longa-metragem mostra a visão do cineasta sobre a dança típica portuguesa, desde as origens até as influências nascidas nas colônias lusitanas.

Na produção, que vem sendo filmada em Lisboa, Garrido apresenta o Lundum - uma das ramificações do fado no Brasil - cantando a música Menina que você tem, numa versão adaptada pelo próprio músico em seu estúdio no Brasil.

- Meu ganha pão é a música, mas sou aberto a desafios, a novas formas de interpretar. Minha relação com as artes cênicas é algo delicado, frágil. Nas vezes em que participei de filmes, o personagem está sempre na aura da musica. Sem a participação da voz eu ainda não tenho essa rapidez, essa sagacidade - observa Garrido.

Apesar da ressalva, o cantor-ator não é estreante no ofício. Em 1998, participou de Como ser solteiro, de Rosane Svartman. Além de atuar, também compôs a canção tema do filme. No ano seguinte, em Orfeu, de Cacá Diegues (longa que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro), encarnou o personagem-título. Outro convite de Cacá, em 2003, levou Garrido a viver São Pedro, padroeiro dos pescadores, em Deus é brasileiro.

- Agora, em Fados, aconteceu como no Orfeu, quando havia outros cem negros fazendo testes para o papel. Não peguei logo o personagem principal. Fiz teste para servir cafezinho no filme até resolverem me dar o Orfeu - lembra Garrido - Muita sorte minha? Muita luz? Foi. Da mesma forma que com o Saura. Não tenho nenhum agente em Hollywood ou em Bollywood (a fértil indústria cinematográfica da Índia) para me colocar em filmes internacionais.

Prestes a completar 40 anos, Garrido prepara novidades também na carreira musical. Envolvido com a divulgação de Direto, décimo primeiro CD do Cidade Negra, Toni ainda trabalha em projetos, ao lado de outro artistas, pela revitalização de uma MPB um tanto esquecida pelo público.

- Ainda quando era integrante da Banda Bel, participei da All Star Black Band, onde não tinhamos o objetivo de ganhar dinheiro, a coisa era só diversão mesmo; mais recentemente, ao lado de Sandra de Sá e Zé Ricardo, iniciamos o projeto Música Preta Brasileira que participou ativamente da recuperação e relançamento dos discos Tim racional, pérola do Tim Maia e, A tábua de esmeralda, do Jorge Benjor - conta Toni, que prepara paralelamente um disco em que só cantará sambas.

JB On Line, 14.02.2007

http://jbonline.terra.com.br/editorias/cultura/papel/
2007/02/14/cultura20070214003.html

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