Tuesday, February 06, 2007

Suposta invasão policial em terreiro de Candomblé vira polêmica em BH

Suposta invasão policial em terreiro de Candomblé vira polêmica em BH

08:51

(Roberto Nogueira/Diário da Tarde)

Integrantes de vários terreiros de candomblé de Belo Horizonte e Grande BH se reúnem nesta terça-feira à tarde, em frente ao Risp (Região Integrada de Segurança Pública) na Praça Rio Branco (Praça da Rodoviária), no Centro da cidade, para fazer um protesto contra o que chamam de falta de respeito de um grupo de policiais militares que na tarde de quinta-feira, invadiu o terreiro Unzo Atim Nzaze Yia Omin , na Rua Gorutuba, 422, Bairro Santo André, região Noroeste da capital. De acordo com a coordenadora nacional de Cenarab (Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira), Makota Celinha Gonçalves, os militares tentaram explicar a trapalhada alegando que verificavam a denúncia anônima de que uma mulher estava no local em cárcere privado. Na ocasião, várias pessoas faziam cursos especializados e crianças brincavam no pátio, o que causou momentos de pânico, segundo a dirigente.

O que causou indignação, segundo Celinha, foi a forma como se deu a ação dos policiais. Segundo ela, o ato de entrar no terreiro sem estar espiritualmente preparado já é uma ofensa. Segundo ela, trata-se de um lugar sagrado e só se pode entrar quem esteja, de fato, em trabalho espiritual . Maior sacrilégio, de acordo com a coordenadora do Cenarab, foi a invasão dos PMs a uma sala especial denominada no culto africano como camarinha , considerado o lugar mais sagrado do terreiro . É onde pessoas permanecem espontaneamente fechadas durante 21 dias, em espírito de purificação , afirmou.

A atitude dos policiais causou indignação em vários setores públicos e o assunto chegou até à defensoria da Aseppir (órgão da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial), em Brasília, que vai exigir explicação do Comando da Polícia Militar de Minas Gerais. Também o promotor do Ministério Público, Mário Komich Higuchi, se manifestou exigindo que a Corregedoria da PM investigue o caso e puna os culpados.

A invasão dos militares ocorreu por volta das 14h de quinta-feira e pegou de surpresa o dirigente do templo, o babalorixá Roland Lana, de 45 anos. Ele trabalhava normalmente quando percebeu a presença de policiais militares na porta do terreiro. Ele disse que foi questionado pelos PMs sobre a acusação da prática do crime de cárcere privado. De acordo com o religioso, a tenente Dáurea de Souza Braga, do 34º Batalhão, que comandava o grupo, dizia estar investigando a denúncia de que uma mulher de nome Gabriele estaria sendo mantida em cárcere privado.

Mas, mesmo com a resposta negativa do babalorixá, os policiais invadiram o centro espírita e revistaram todos os cômodos, sem respeitar os lugares sagrados. Tal atitude, de acordo com os rituais da casa, foi uma ofensa e uma discriminação que feriu a Constituição Brasileira, que proíbe o preconceito de raças e crenças. Na verdade, segundo Roland Lana e a mãe-de-santo Fátima Lana, nunca houve ocorrência de cárcere privado no local. Os policiais confundiram os nomes. Quem estava na camarinha era Daniele e não Gabriele.

O que existe é a opção pessoal de cada membro que se priva de aparições públicas e se recolhe à camarinha, um quarto totalmente escuro, para o processo de iniciação e purificação. A pessoa fica privada de todos os acontecimentos externos como televisão, rádio, internet e outros meios de comunicação. Quando sai é uma grande festa devido ao esforço e sacrifício. Quando os militares entraram na camarinha não encontraram a tal Gabriele, e sim outras duas mulheres, que ficaram aterrorizados com a atitude deles.

De acordo com a coordenadora nacional do Cenarab, Makota Celinha Gonçalves, a casa Unzo Atim Nzaze Yia Omin funciona há mais de 20 anos, sendo um dos 170 terreiros de candomblé existentes na Grande BH. Segundo ela, quando a tenente Dáurea e seus comandados invadiram o local, Roland e Fátima teriam dito aqui é casa de religião . A policial, revoltada, teria dito em resposta: Se a gente quiser a gente entra até na casa do Papa .

http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/local/289870.html

1 comment:

Iris Prates said...

Só um esclarecimento: A camarinha não é um quarto totalmente escuro, como foi descrito na reportagem. Ao contrário, é um quarto como outro qualquer, com iluminação.