Monday, August 28, 2006

Atlas resgata a história e cultura dos negros no país



EDUCAÇÃO



Jony Torres

Uma cardápio de informações para recuperar e valorizar a ação da colonização africana no Brasil. É desta forma que o antropólogo Raul Lody define a sua mais recente obra, o Atlas Afro-Brasileiro Cultura Popular, a ser lançado hoje, às 19h, na livraria Siciliano, Shopping Barra, uma publicação das Edições Maianga. O livro tem 84 páginas, nas quais textos, desenhos, gráficos e fotografias se unem para oferecer ao leitor um panorama amplo de como a cultura brasileira guarda em suas origens o tempero dos irmãos negros do além-mar. As ilustrações são de Humberto Araújo e as fotografias de Sérgio Guerra.
O livro não é dirigido especificamente aos estudantes, mas vai facilitar o cumprimento da Lei nº10.639, de 9 de janeiro de 2003, que prevê a obrigatoriedade no currículo oficial da rede de ensino, da história e cultura afro-brasileira. Sem se aprofundar em demasiado, a publicação tem leitura leve e, como em qualquer atlas, privilegia a informação gráfica, e funciona como um guia para professores, muitos sem a formação básica o suficiente para tratar do assunto com os alunos nas escolas. “Acho que consegui chegar ao ponto desejado. Ele tanto serve como suporte para o trabalho dos educadores, como é uma porta para quem quiser mergulhar no amplo universo afro-brasileiro”, acredita Lody.
Raul utiliza das mais variadas manifestações culturais presentes nas cinco regiões do país para traçar a trajetória das culturas trazidas e aqui disseminadas em diferentes formas. A culinária, a música, as religiões, o vestuário e a estética do povo negro são pontuados por todo o livro e revelam, por exemplo, mais de 70 tipos diferentes de tambores ainda hoje encontrados e todos de origem africana. “O recorte da cultura popular e a forma pontuada são elementos fundamentais para atrair a atenção do leitor e causar uma identificação imediata, um chamado para instigar o pensar e a curiosidade sobre o tema”, justifica Lody.
Um universo que, segundo o autor, começa bem antes do início da onda imigratória estimulada pelo comércio de escravos para o labor nas lavouras do Brasil Colônia. “O homem moderno, em suas origens, saiu da África e aparentemente colonizou o planeta”. Deste pressuposto baseado em análises científicas, colocado logo na abertura do primeiro capítulo, Lody espera não deixar espaços para atitudes preconceituosas.
“Minha carreira na antropologia é marcada, entre outros aspectos, pela luta contra o racismo, e desta maneira apresento a todos como filhos da mãe África, numa desconstrução de qualquer tipo de preconceito”, acentua o autor. Entre livros, artigos, filmes e páginas na internet, o carioca Raul Lody já publicou mais 500 obras. Nascido em 1952, é antropólogo, estudou em Portugal, Senegal e se formou doutor em etnologia na França.




Aqui Salvador, Correio da Bahia, 29.08.2006 - www.correiodabahia.com.br

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