Friday, August 18, 2006

Moradores de quilombos urbanos são capacitados






Numa iniciativa do Instituto Brasileiro de Administração para o Desenvolvimento (Ibrad), em parceria com a Secretaria Municipal da Reparação (Semur) e a Fundação Cultural Palmares, moradores de comunidades negras e periféricas, consideradas quilombos urbanos de Salvador, estão recebendo formação técnica para elaboração de projetos e gestão cultural.
Com a participação de mais de 40 entidades afro-brasileiras ligadas à questão racial, o curso de elaboração de projetos culturais e convênios está acontecendo esta semana, no prédio da Semur. O encerramento será hoje. Além de Salvador, o treinamento deverá ser aplicado em outras quatro capitais brasileiras: Aracaju, Recife, Macapá e Belém.
Segundo Gilmar Santiago, secretário municipal da Reparação, este curso é uma importante ação de reparação, prevista no planejamento estratégico da Semur, mas que só foi possível pela parceria estabelecida com as entidades promotoras (Ibrad e Fundação Palmares). “Ele é importante por possibilitar às instituições participantes a formação técnica para elaboração de projetos, facilitando o acesso aos recursos provenientes tanto dos setores públicos quanto da iniciativa privada”, avalia.
Para Ivonildes Evangelista, mais conhecida como dona Nêga, do Grupo de Mulheres da Jaqueira do Carneiro, a importância do treinamento é permitir a qualificação dos líderes comunitários para que tenham uma visão melhor de como desenvolver projetos dentro das comunidades.
Cada módulo é dividido em duas etapas, uma de elaboração de projetos, ministrada pelo professor Altair Lyra, coordenador de ações de reparação da Semur, e outra de Gestão de Contratos de Convênios, a cargo da instrutora Marisa Soares. Ao final do módulo realizado em Salvador, os alunos apresentarão para a Fundação Palmares cinco projetos. Cada grupo possui vários integrantes, um por comunidade. Dos trabalhos apresentados, um será escolhido e receberá o financiamento de até R$50 mil para aplicação.
Fórum - De acordo com Altair Lyra, a melhor proposta deverá ser implantada em todas as comunidades que participam do projeto. “O prêmio será repassado para uma instituição e dividido posteriormente entre as comunidades participantes”, anunciou. A equipe de Marcos Sitael, da Casa dos Olhos do Tempo, intitulado Quilombo das Estrelas, é formada por componentes de terreiros de candomblé de denominações específicas. A proposta desenvolvida pelo grupo é de criação de um fórum permanente para discussão de questões relacionadas à intolerância religiosa e preservação de áreas sagradas em Salvador. “Nosso objetivo maior é que haja uma sociabilidade entre a comunidade e os terreiros de candomblé, diminuindo a falta de informação que gera intolerância e violência”, disse Marcos. Através deste tema, eles pretendem promover a inclusão digital nas comunidades trabalhadas.
Mais quatro projetos estão concorrendo. Estética Negra, focando na valorização e preservação da auto-estima dos portadores de anemia falciforme; Terno de Reis, que visa o resgate dessa importante tradição de bairros de Salvador; Projeto de Cultura, Capacitação e Comunicação Afro-brasileira, e por fim, Resgate da Memória Sociocultural, voltado para o mercado de trabalho e renda.
Para Inês Correa, representante do Núcleo Omi Dudu (Água Negra), do bairro da Liberdade, independente de qual seja o trabalho escolhido, o importante é participar e aprender a elaborar projetos. Ela espera que a proposta vencedora beneficie o seu bairro e outras comunidades participantes.
Participam do evento o Grupo Pé de Moleque, do bairro de Castelo Branco; o Colégio Maria Amélia, de São Marcos; a Escola de Informática e Cidadania, do Bairro da Paz; a Comunidade Nova Aliança, de Praia Grande; o Pró-Fórum Entidades do Nordeste, do Nordeste de Amaralina; a Associação Baiana de Pessoas com Doenças Falciformes (Abradaf); a Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae), de São Joaquim; o Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba); o Instituto Cultural Ibasore Yia, da Liberdade; o Fórum de Entidades do Subúrbio (Fes); o Instituto de Mídia Étnica, além de mais outras 30 entidades da sociedade civil organizada.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 18.08.2006 - www.correiodabahia.com.br

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