Saturday, August 26, 2006

Projeto Axé Capoeira faz primeiro batizado





ETNIA



Cilene Brito

Ginga e molejo eles mostram que têm de sobra. A prática da capoeira não é mais vista como lazer, mas como um sonho de profissionalização para 65 crianças e adolescentes do Projeto Axé. Ontem, eles participaram do primeiro batizado do Projeto Axé Capoeira, numa cerimônia realizada no Teatro Gregório de Mattos. A cerimônia, marcada por apresentações de roda de capoeira, contou com a participação de importantes representantes da capoeira de Salvador, como os mestres Dinho, Bamba, Lua, Bobó e Romeu.
O batizado marcou o ingresso dos meninos e meninas do projeto no universo da capoeira como profissionalização. Eles foram premiados com faixas que representam três níveis de aperfeiçoamento da capoeira. Para a profissionalização do curso, é necessário cinco níveis. A iniciativa é uma parceria entre a operadora de telefonia celular Tim, por meio do Programa Estadual de Incentivo à Cultura (Faz Cultura).
“A capoeira não é apenas uma dança, mas, sobretudo, um retorno às origens culturais para que os meninos de etnia negra descubram a sua identidade. Com a prática da capoeira, eles poderão aprender a identificar suas raízes”, disse o presidente do projeto Axé, Cesare de Florio La Rocca. Segundo ele, a capoeira foi inserida no projeto há 11 anos, mas apenas como atividade transversal. A ação tem como meta resgatar e preservar a capoeira com a oferta de cursos para crianças e adolescentes em situação de risco. “A partir de agora, eles passarão a praticar uma atividade específica, com intuito de profissionalização. Esta formação também representa uma oportunidade de fonte de renda”, disse.
Há dois anos praticando capoeira no Projeto Axé, Jones Jorge Oliveira Nascimento, 15 anos, sonha alto. “Quero ser um professor”, diz. O garoto, que recebeu a faixa de primeiro nível, se orgulha em dizer que já realizou muitas apresentações públicas, inclusive para TV. “Eu acho a capoeira maravilhosa. O meu sonho é chegar até o último nível e me tornar um professor. Quero levar a arte da capoeira para todo o mundo”, diz. Ederson Santos Nunes, 19 anos, já alcançou vôos mais altos. Há nove anos praticando a capoeira no projeto, ele recebeu ontem a faixa de terceiro nível. “Estou muito feliz e ansioso. Quero me tornar um professor”, contou o rapaz, que já fez apresentações em outros estados.
Um dos professores do projeto, mestre René diz que o objetivo do curso é valorizar a tradição africana através da música e da dança. Ele explica que durante o curso os alunos aprendem duas vertentes de capoeira: a Angola, criada pelos escravos brasileiros, com o intuito de libertação e igualdade, e a Regional, desenvolvida por mestre Bimba, na Bahia. Para ele, o curso de capoeira está dando oportunidade para a descoberta de muitos talentos. “Os nossos alunos já nascem com a capoeira no sangue. Eles têm ginga e estão agregando o aperfeiçoamento dos movimentos. O curso valoriza as raízes e a cultura africana”, diz.


Aqui Salvador, Correio da Bahia, 26.08.2006 - www.correiodabahia.com.br

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