Friday, July 14, 2006


QUILOMBOS NEWS

Um novo Blog dos Quilombos

Um novo Blog entrou na luta: O "Quilombos News"
É o reforço concentrado dos Quilombos de Hamburg
e Berlin para divulgação de material e notícias que nesse
momento estão rolando sobre a "guerra" das cotas no Brasil.



1 comment:

Quilombo Gerais said...

Africanos querem implantar SUS para combater Aids

Por Nelson Rocha


"Nos últimos anos, o nosso continente perdeu cerca de 20 milhões de pessoas, que morreram contaminadas pelo vírus da Aids sem mesmo ter a chance de chegar a um hospital. É preciso adotar um sistema de saúde unificado para combater essa situação”. A proposta do membro do Departamento de Saúde Global da Nigéria, Chinua Akukwe, integrou uma das discussões de maior destaque durante o segundo dia da II Conferência de Intelectuais da África e da Diáspora (II Ciad). Para Akukwe, o SUS brasileiro é uma experiência positiva que pode ser bem-sucedida no continente africano. Entre os debates ocorridos no Centro de Convenções da Bahia, durante a manhã de ontem, os desafios da cooperação entre África e Diáspora na área da saúde e da economia tiveram um maior aprofundamento. Baseados na troca de idéias e experiências, os visitantes africanos pretendem levar para a África exemplos brasileiros para o desenvolvimento do continente.
O representante nigeriano lembrou do Sistema Único de Saúde (SUS) que tratou como “um avanço para o povo brasileiro” e completou: “Na África, muitos dos nossos países utilizam sistemas de saúde diferenciados o que, talvez, contribuiu para um atraso de mais de 12 anos para o início das discussões a despeito do problema com a Aids”.
O presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), Marcelo Cerqueira, também participou das discussões relacionadas a área de saúde e apontou a pobreza e a falta de campanhas direcionadas como fator diretamente responsável pela proliferação das doenças entre as comunidades negras. “A maior parte das campanhas de prevenção exclui os negros. Enquanto não houver um direcionamento diferenciado para as comunidades quilombolas, os negros continuarão sofrendo com as epidemias”.
Desafios quanto aos aspectos econômicos das sociedades africanas também foram debatidos. “Se entendermos que a pobreza passa por duas realidades, a da satisfação de mercado e a tradução da imagem do indivíduo, poderemos acelerar as ações de melhorias econômicas e, com isso, melhorar a situação dos povos africanos”, defendeu o historiador senegalês Mamadou Lamine Diallo.
Durante o segundo dia das discussões promovidas pela II Conferência de Intelectuais da África e da Diáspora, os eventos culturais dividiram espaço com as mesas-redondas e, com africanos ainda mais próximos e bastante à vontade entre os brasileiros, os intervalos das discussões puderam ser traduzidos num encontro de “irmãos”.
No Brasil há quase cinco anos, a estudante Artemise Monteiro, nascida na Guiné Equatorial, definiu o evento como uma importante ponte de ligação entre os povos africanos e a diáspora. Para ela, além de definir soluções para as nações do seu continente, a II Ciad traz para o Brasil um pedaço da África. “É interessante termos a realidade africana no Brasil porque, por mais que já exista uma forte formação afrodescendente, eu percebo que o Brasil ainda cultua uma África muito mística”.
Ao lado do amigo moçambicano, a estudante falou do respeito pela Bahia e da admiração pela forma com que os afrodescendentes “adotaram” a cultura africana. “A segmentação da nossa cultura por aqui é muito interessante. Os negros baianos têm as suas particularidades e, por mais que seja um pouco diferenciado do que encontramos na África, os admiro muito porque fazem parte da diáspora de um modo muito natural”.
Representante da Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu – Acbantu, o militante Raimundo Konmannanjy também acompanhou as discussões do segundo dia da Ciad. “Uma parte da nossa matriz, nossos irmãos e pais, estão aqui e isso significa um diálogo com a diáspora. É sempre muito curioso tudo que eles têm a nos dizer. O interessante é perceber o que separa a África dos nossos pensamentos da realidade desse povo”.
O ator Antônio Pitanga, que participa do filme “Filhas do Vento” incluído na programação do evento, acompanhou alguns dos debates e não escondeu a satisfação quanto ao encontro com os povos africanos. “A gente não só faz uma visita a nossa história como também traça um olhar para o futuro”, disse o ator.
Sem esquecer do principal objetivo dos encontros, o ator disse ainda que espera que as discussões possam trazer soluções para os países da África e da Diáspora. “É preciso que esses debates busquem o alcance da igualdade entre os povos e as correções tanto para o Brasil tanto para as nações africanas. A Bahia, com sua imensa população negra, é um perfeito espaço para isso”.


Esperança de paz encerra encontro


Hoje, último dia dos debates, a discussão terá como tema “A necessidade de um pacto político entre a África e a Diáspora pela paz, democracia e desenvolvimento”. Os trabalhos serão iniciados às 10 horas, no auditório Yemanjá do Centro de Convenções e terá a participação do ministro da Cultura, co-presidente da II Ciad, Gilberto Gil.
O ministro irá integrar uma mesa composta por intelectuais e autoridades do continente africano. Participarão ainda o co-presidente da II Ciad e ex-presidente parlamentar da África do Sul, Frene Guiala, o vice-presidente da Comissão da União Africana, Patrick Mazimhaka, dentre outros. Laureada com o Prêmio Nobel da Paz, a queniana Wangari Maathai, que também participou da cerimônia de abertura da II Ciad, deverá se destacar entre os convidados homenageados.