Wednesday, November 15, 2006

Adeptos do culto afro fazem caminhada pela paz

Adeptos do culto afro fazem caminhada pela paz

Povo-de-santo denuncia intolerância religiosa que leva evangélicos a agredir seguidores do candomblé



Ciro Brigham

Poderiam, no feriado, ter se recolhido à aparente paz do lar. Preferiram, no entanto, reivindicar o direito à paz de todos, na rua. Gente de mais de 30 terreiros do Engenho Velho da Federação e de outros bairros se vestiu de branco e saiu em caminhada, pelo direito à liberdade de crença religiosa e contra a violência. “Não àqueles que não respeitam a escolha livre por uma religião. Somos contra toda a forma de preconceito e discriminação. Nós acreditamos nos inquices e nos orixás, e temos o direito de expressar essa crença”, dizia a voz que, de cima do carro de som, emprestava o verbo à causa.

Embaixo, chuva de arroz e milho, sobre as cabeças de quem adere à motivação.
Dentre os participantes da II Caminhada pela Paz e Contra a Intolerância Religiosa, representantes do povo de santo, militantes negros e muitas crianças. Das mãos de sete delas, voaram pombos brancos decretando o início da marcha. A caminhada percorreu o Engenho Velho da Federação até a Avenida Cardeal da Silva, seguiu em direção às avenidas Garibaldi e Vasco da Gama, e retornou ao bairro.

Cada espaço religioso situado no percurso foi celebrado com fogos e palmas. Unidos, os terreiros de candomblé expuseram as agressões a que têm sido submetidos, segundo eles, por representantes de igrejas evangélicas neopentecostais. “Eles vão para a porta dos terreiros menores nos desrespeitar, dizer que nós somos o povo do demônio. No candomblé, a gente aprende a respeitar qualquer tipo de crença e que todo o mundo é irmão e igual, independente da religião escolhida. Mas eles acham que Deus só existe dentro da igreja deles e nos agridem”, denuncia a líder do Terreiro do Cobre, mãe Valnísia de Ayrá.

“Realmente alguns cultos protestantes têm sido intolerantes, agressivos, indutores de uma violência desnecessária, e que as religiões de matriz africana repudiam. Queremos que as pessoas compreendam que podemos ter diálogo e respeito mútuo, baseados na liberdade que cada um tem de praticar seu culto”, defende o professor de sociologia da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Valdélio Santos Silva.

Na conclamação à cultura de cidadania, a II Caminhada pela Paz e Contra a Intolerância Religiosa também se voltou para a questão da violência que assola as ruas dos bairros periféricos e que transforma em vítimas, principalmente, pobres e negros. A mensagem que ganhou as ruas tinha como alvo especial os que ainda estão em formação. “Nossos jovens precisam tomar gosto por uma convivência pacífica, por uma cultura de paz”, finaliza Valdélio Silva.

Aqui Salvador, Correio da bahia, 16.11.2006
www.correiodabahia.com.br

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