Wednesday, November 22, 2006

Salvador Negritude



Ubiratan Castro recebe a medalha




Jony Torres

Um dos maiores defensores da igualdade racial no país foi homenageado ontem à noite, na Câmara Muncipal de Salvador. O professor e historiador Ubiratan Castro de Araújo, presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), recebeu a Medalha Zumbi dos Palmares. A solenidade realizada no plenário Cosme de Farias que ficou lotado de estudantes, líderes de entidades de combate ao racismo, vereadores e autoridades, além de artistas e representantes de religiões de matriz africana.

Entusiasta de diversas atividades em defesa dos direitos dos negros, Ubiratan recebeu a honraria por iniciativa da vereadora Aladilce Souza (PCdoB). Ela justifica a homenagem como um reconhecimento do trabalho de um homem que iniciou os estudos ainda na década de 60 e nunca fugiu do compromisso que ele próprio estabeleceu com sua gente. “Ele sempre se debruçou sobre questões relacionadas à negritude e através da sua atuação profissional garantiu maior visibilidade à cultura negra e popular brasileira”, afirmou a vereadora.

Em meio a tantas pessoas que representam e colaboram com o seu trabalho, Ubiratan declarou se sentir muito honrado em ser lembrado pelo trabalho, realizado muito em função de sua paixão pela cultura afro-baiana. “Não poderia estar mais feliz em receber um presente tão belo de uma cidade como Salvador”, afirmou o membro da Academia de Letras da Bahia, que ocupa a cadeira 33, cujo patrono é o poeta Castro Alves. O carinho pela primeira capital do Brasil e o fascínio pela sua história, o motivaram a escrever os livros Salvador era assim e Memórias da Cidade.

Autor de dezenas de artigos publicados em revistas e coletâneas em diversas partes do mundo, Castro sempre se dedicou aos estudos como forma de mostrar a importância da contribuição negra na formação da nação brasileira. Com extenso currículo acadêmico, Ubiratan é doutor em história pela Université Paris IV-Sorbone, mestre em história pela Université Paris X-Nanterre, licenciado em história pela Universidade Católica de Salvador e bacharel em direito pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), atua ainda como professor e presidente do Centro de Estudos Afro-orientais da Ufba.

Premiado por diversas instituições ao longo da vida, é na FCP, mantida pelo Ministério da Cultura, que ele concentra suas atividades atualmente. Defendendo através de uma metáfora, a reinstalação do quilombo dos Palmares no coração da república, procura alternativas para a plena cidadania da população negra e, por isso, foi um dos mais ferrenhos defensores da inclusão do ensino da cultura africana em todas as escolas brasileiras. “Ainda há o problema da falta de livros, mas vamos continuar apostando na idéia e promovendo a produção do material necessário”, lembrou Castro.

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Negritude em cartões-postais


Peças do Museu Tempostal servem de base para livro que inaugura coleção da editora P555



Ana Cristina Pereira

Com quatro anos de existência, a editora P555 avança na tradução da cultura local com o lançamento da coleção EtnoBahia, hoje, a partir das 18h, no Museu Afro (Terreiro de Jesus). O primeiro título, Bahia negra na coleção do Museu Tempostal, leva assinatura dos antropólogos baianos Jeferson Bacelar e Cláudio Pereira, também responsáveis pela coordenação da série.

Como o título indica, os autores mergulharam no acervo do Museu Tempostal, que funciona no Pelourinho e exibe a impressionante coleção de cartões-postais de Antonio Marcelino dos Santos. A novidade é o olhar que os pesquisadores lançaram ao material, selecionando cerca de 60 flagrantes que retratam o negro nas ruas da cidade entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX.

As imagens, explica Jeferson Bacelar, ajudam a compreender a presença ou ausência do homem negro na sociedade de então, como foi visto por brancos brasileiros e estrangeiros no período final da escravidão ou logo após a abolição. “Eles estão sempre em situação de trabalho e, muitas vezes, são meros acessórios para o postal. Como se fossem invisíveis”, afirma Jeferson. Os registros mostram carregadores, vendedores, e estivadores mal vestidos ou quase sem roupa, descalços, sempre em situações desfavoráveis.

Jeferson destaca um único postal em que um senhor aparece distintamente trajado – paletó, chapéu e gravata – tendo ao fundo a bela paisagem da Cidade Baixa. Além das leituras sobre Salvador, diz o autor, os postais também informam um pouco da fixação do negro do interior do estado, já que há exemplares de Cachoeira, Vitória da Conquista, Castro Alves, entre outros. O livro traz textos de Bacelar e Pereira analisando a presença do negro na iconografia brasileira, no nosso estado e na própria coleção do Tempostal. Também faz um pequeno histórico sobre a fotografia e os cartões-postais.

A EtnoBahia terá seguimento com a publicação, em dezembro, de Candomblé – Tradição e mudança, do antropólogo Júlio Braga. Para o ano que vem, adianta Jeferson, está programado um livro de ensaio de Antonio Risério e relançamentos de estudos na área antropológica. A P555 já conta com uma outra coleção de perfil semelhante: a A/C Brasil, parceria com o Theatro XVIII e que tem resgatado importantes textos fora de catálogo ou restritos a pesquisadores. A editora tem a coleção Cadernos do Vila, co-edição com o Teatro Vila Velha, e linhas editoriais dedicada à poesia e prosa de ficção.

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ficha

Livro: Bahia negra na coleção do Museu Tempostal
Autores: Jeferson Bacelar e Cláudio Pereira
Editora: P555
Lançamento: amanhã, às 18h, no Museu Afro (Antiga Faculdade de Medicina – Terreiro de Jesus)
Preço: R$15 (à venda na Civilização Brasileira, Galeria do Livro e Espaço do Autor Baiano)


Aqui Salvador, Correio da Bahia, 24.11.2006
www.correiodabahia.com.br

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