Friday, November 17, 2006

Jovens Negros morrem como moscas em São Paulo

Taxa de homicídios de jovens negros é o dobro da de brancos

Periferia tem maior incidência de assassinatos

SÃO PAULO. O número de jovens negros, com idade entre 10 e 24 anos, assassinados em São Paulo nos últimos três anos foi duas vezes maior do que o de jovens brancos na mesma faixa etária. De acordo com estudo divulgado ontem pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), a incidência de homicídios entre jovens negros é de 120 óbitos para cada cem mil habitantes, enquanto que entre brancos a taxa é de 60 óbitos.

— As causas dessa diferença são basicamente a desigualdade econômica e social . Há uma grande concentração de negros na população mais pobre, e isto se reflete no acesso a melhores condições de vida— disse a socióloga Cecília Comegno, coordenadora do estudo, que se baseou nas declarações de óbitos registradas em cartórios paulistas.

As chamadas “causas externas”, que incluem homicídios, acidentes de automóvel e suicídios, entre outros, representam quase 100% das mortes de jovens e adolescentes ocorridas no estado, segundo o Seade. O estudo revela que, mesmo com a redução das taxas de homicídios no estado — que caíram de 183 para 93 por cada cem mil habitantes nos últimos sete anos —, a proporcionalidade entre os índices de assassinatos de jovens negros e brancos se manteve inalterada.

— Nesta idade, ou o jovem morre por fatores externos ou não morre. E, geralmente , a maior incidência dessas causas, como o homicídio, concentrase na periferia das grandes cidades, onde a maioria da população é negra — disse Rute Godinho, demógrafa da fundação Seade.

Entre as mulheres na mesma faixa etária, os níveis de mortalidade por causa externa também predominam, mas são relativamente iguais, de 18,1 e 17,4 a cada cem mil habitantes, entre negras e brancas, respectivamente.

Entretanto, as causas dessas mortes são diferentes: enquanto 71% das jovens brancas morrem em acidente de trânsito, 58% das negras são assassinadas. Mortes relacionadas a complicações no parto e ao câncer de mama são crescentes a partir da juventude, sendo que a maior ocorrência é registrada entre as mulheres negras.

— Existem desigualdades históricas, e em áreas como a saúde elas persistem. Quando falamos do acesso aos planos privados de saúde, apenas 25% da população negra contam com um plano particular, enquanto entre os brancos esse benefício se estende a 44% da população — disse Irineu Franco Barreto, analista de pesquisa da fundação.

Em números absolutos, São Paulo tem a maior população negra do país: são aproximadamente 12,5 milhões das 91 milhões de pessoas que se declararam negras ou pardas na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2005. Os negros representam 31% da população do estado. Em estados como a Bahia, o Amazonas e o Pará, essa proporção chega a 80% da população.

“As causas dessa diferença são a desigualdade econômica e social” CECÍLIA COMEGNO Socióloga

© CopyRight O Globo Online - 17.11.2006 - www.oglobo.com.br

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